Ação e não omissão: dura, necessária e exemplar. Print
Written by Administrator   
Wednesday, 20 December 2017 14:17

Caros Amigos, mencionar o nome de Pierre de Frédy não vai dizer muita coisa para a maioria dos meus estimados leitores, mas este é o nome do Barão de Coubertin, o homem que trouxe de volta os jogos olímpicos, no final do século XIX. Entre suas diversas falas, uma delas ficou eternizada até os dias de hoje – “O importante não é vencer, mas competir. E com dignidade” – algo apesar de ser honrado é raramente visto no competitivo mundo do esporte, que há muito virou mais negócio do que esporte.

 

desde o final do ano passado, um canal de esportes por assinatura começou a transmitir eventos de kart ao vivo. Eventos oficiais, em parceria com a Confederação Brasileira de Automobilismo. Um avanço e uma iniciativa excelente para mostrar a base do automobilismo.

 

Mesmo antes disso, por interesses e acordos comerciais, o mesmo canal de televisão já vinha transmitindo eventos comemorativos, contando com a participação de grandes pilotos do automobilismo nacional e internacional. De certa forma, uma maneira positiva de mostrar o esporte.

 

Neste último sábado, mais uma destas “corridas entre amigos” foi, em parte, transmitida pelo mesmo canal por assinatura e eu, como muitos fãs de automobilismo, sentou-se em frente a TV para assistir aquela festa e disputa, como fãs de futebol assistem aqueles jogos de “amigos de fulano x amigos de beltrano”... mas o que se viu foi algo bastante diferente.

 

Mesmo em outros “eventos festivos sobre rodas” envolvendo karts e pilotos famosos, com karts carenados e repletos de marcas de patrocinadores, os toques entre os competidores nas disputas de posição sempre foram “coisas de corrida”. Pilotos não levam disputas na brincadeira, mesmo quando deveria ser uma “brincadeira entre amigos”. E quando existe uma disputa de verdade?

 

A 21ª edição das 500 Milhas de Kart, que voltou a ser disputada na Granja Viana, kartódromo da família Giaffone, uma das mais tradicionais do automobilismo nacional, um espaço excelente, bastante estruturado e que tem atividades praticamente diárias todos os dias e os Giaffone foram os idealizadores desta corrida, disputada pela primeira vez em 1997.

 

Com o tempo a disputa foi ficando mais séria, com a montagem de verdadeiros esquadrões para a disputa. Muitas vezes estas equipes estreladas travaram ao longo das, aproximadamente, 12 horas de corrida, grandes disputas, envolvendo jogos de estratégia, jogos de equipe com mais de um carro correndo sob as mesmas cores e com uns “protegendo” aos outros para garantir que um dos carros da equipe seja o vencedor.

 

Na edição deste ano, desde a primeira hora de corrida, transmitida ao vivo pelo referido canal por assinatura, foi possível ver a “estratégia” das equipes de forma evidente: garantir a vitória dos pilotos estrelados, que angariaram polpudos patrocínios para a carenagem dos seus karts, macacões, capacetes e andar na frente era o retorno garantido da exibição destes patrocinadores.

 

Os últimos 30 minutos de corrida voltaram a ser transmitidos e, de forma incrédula, fui testemunha ocular de uma das cenas mais dantescas já exibidas no automobilismo, especialmente se formos considerar que esta corrida não faz parte de nenhum campeonato e é chancelada pela Liga Paulista de Automobilismo, entidade reconhecida pela CBA.

 

As cenas que todos vimos e como os pilotos envolvidos se pronunciaram (exceto Rodrigo Dantas, que não deu entrevista e foi “protegido” pelos mecânicos da equipe) resultaram na desclassificação das duas equipes – no caso os karts que até então protagonizavam a disputa pela liderança, pilotados por Tuka Rocha e Felipe Massa – e renderam notas oficiais de repúdio por parte da LPA e CBA.

 

A Liga Paulista de Automobilismo vem a público manifestar repúdio aos fatos ocorridos na prova denominada “500 Milhas de Kart Granja Viana 2017”, realizada neste último dia 16 de dezembro.

Durante a prova pilotos de equipes concorrentes procederam de forma irregular e antidesportiva, culminando com cenas lamentáveis e que denigrem o esporte, a competição e a imagem dos pilotos como um todo.

Como entidade legítima, organizada e constituída formalmente para administrar provas e campeonatos, com a aprovação da CBA (Confederação Brasileira de Automobilismo), a Liga Paulista de Automobilismo faz questão de vir a público e esclarecer que todas as medidas necessárias e ao seu alcance serão tomadas, sempre respeitado o direito à ampla defesa, ao devido processo legal e ao contraditório.

O desagradável episódio amplamente divulgado pela mídia denigre a imagem do esporte, ainda mais em um evento clássico e importante do calendário nacional. Além de seu caráter festivo, celebrando a competição e a velocidade com mais de 300 pilotos, todos federados e incluindo grandes nomes do automobilismo mundial, com passagens pela F-1, Indy etc, a 500 Milhas de Kart sempre foi um evento de confraternização entre pilotos, mote principal que foi deixado em segundo plano por alguns poucos competidores envolvidos.

Seguindo o mesmo estatuto da CBA, que por sua vez segue as mesmas normas desportivas da FIA (Federação Internacional de Automobilismo), as equipes envolvidas foram desclassificadas. Depois da prova, outros procedimentos e punições poderão ser adotadas à luz dos fatos e provas, o que passa a ser competência do Tribunal de Justiça Desportiva da L.P.A.

Lamentando o ocorrido, a L.P.A. permanece à disposição para quaisquer esclarecimentos.

Marcello Hirsch
Presidente
Liga Paulista de Automobilismo

 

A Confederação Brasileira de Automobilismo vem a público manifestar seu total repúdio ao aviltante fato ocorrido durante as 500 Milhas de Kart Granja Viana. Cenas como as vistas neste último sábado, 16, desonram qualquer apaixonado por velocidade e lesam de forma contundente a imagem do nosso esporte.

Atitudes assim não podem, sob nenhuma hipótese, passar incólumes. Pelo bem da nossa modalidade, exigimos que a Liga Paulista de Automobilismo e seu tribunal tomem atitudes enérgicas contra os personagens que geraram tão inqualificável episódio.

Ainda que o evento tenha sido realizado por uma instituição independente, ou seja, não subordinada às instâncias jurídicas da CBA, nós, como entidade máxima do automobilismo, daremos todo o apoio necessário para que a LPA possa fazer justiça junto aos envolvidos. Já nesta próxima segunda, 18, enviaremos um ofício a sua diretoria solicitando que sejam aplicadas todas as medidas cabíveis.

Por fim, qualquer que seja a punição aplicada, esperamos que todos os profissionais envolvidos possam enxergar e compreender o desserviço que prestaram ao nosso esporte e que fatos como esse nunca mais voltem a ocorrer em nossas pistas.

Waldner Bernardo “Dadai”

Presidente da Confederação Brasileira de Automobilismo

 

Lamento a dureza das minhas palavras, mas não tenho escolha: estas “notas de repúdio” são muito pouco diante do acontecido. A punição ao piloto Rodrigo Dantas precisa ser exemplar, mas não a única. Não posso acreditar que trataram-se de ações individuais. É evidente que foram ações coletivas e os responsáveis pelas equipes precisam ser também exemplarmente punidos. Discursos diante das câmeras condenando o ocorrido depois do de tudo o que se viu reverberam, na ótica deste colunista, uma imensa hipocrisia.

 

Independente do que fizer a LPA, não posso aceitar a CBA apenas espere uma ação do tribunal da LPA. Todos os envolvidos são filiados à CBA e uma investigação dos fatos, a abertura de um inquerito e a posterior suspensão exemplar aos envolvidos daria ao Sr. Presidente Waldner uma ferramenta moral para mostrar aos que viram as terríveis cenas exibidas que a entidade máxima do automobilismo brasileiro não apenas repudia, mas age energicamente contra aqueles que denigrem o esporte.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva