A triste volta às origens da Williams Print
Written by Administrator   
Wednesday, 10 January 2018 23:47

Caros Amigos, quando comecei a pensar a coluna desta semana, ainda no início da semana passada, levei em consideração o fato de ser a primeira semana do ano, pós-festas e que, talvez, esperar mais uns dias para fazer uma outra abordagem seria algo mais interessante para os estimados leitores que acessam a minha coluna.

 

Lamentavelmente – e digo isso com grande pesar por considerar uma falta de respeito com os fãs da equipe – a Willians segue em seu silêncio e é a única equipe que ainda não anunciou quem será seu outro piloto (uma vez que um deles é o canadense Lance Stroll) para a temporada de 2018 do mundial de Fórmula 1.

 

Desde o final de 2016 o público que acompanha a Fórmula 1 estava ciente da nova “cara” da equipe inglesa de tantos títulos nos anos 80 e 90 com a chegada do piloto canadense – e seu enorme aporte financeiro – para a temporada de 2017. Assim como tantas outras equipes do grid, a Williams estabelecia sua política de ter ao menos um “piloto pagante” em sua dupla, aliviando assim parte das despesas correntes da equipe na temporada.

 

Contudo, o volume financeiro envolvido na chegada da família Stroll a Williams e os detalhes não expostos nesta associação chamou atenção pelo tamanho da influência do pai do piloto, o empresário Lawrence Stroll, sobre as decisões da equipe, tendo no ano passado vetado o uso do carro de testes que seu filho usava para um outro piloto utilizá-lo.

 

Para quem acompanha a Fórmula 1 há mais tempo, desde o início das transmissões das corridas para o Brasil e olhou para o fundo do grid, via por lá um cidadão esguio, um pouco calvo e muito atencioso. Era Frank Williams, que dava seus primeiros passos como dono de equipe, com carros fabricados pela March, desatualizados – em um tempo que equipes privadas podiam comprar carros de outros construtores – e alugando-os para pilotos pagantes. José Carlos Pace chegou a correr para ele em 1972. Antes de 1975 a equipe nem usava o sobrenome de seu fundador como nome do time.

 

A Williams era uma equipe pequena, que pontuava eventualmente, de orçamento apertado e corpo técnico limitado. Foi apenas quando o engenheiro mecânico e um estudioso em aerodinâmica Patrick Head juntou-se ao time qie as coisas tomaram um novo rumo. Em 1976 Frank Williams conseguiu atrair Patrick Head para ter as primeiras conversas, mas o engenheiro só concordou fazer parte do projeto de Frank Williams em 1977.

 

Até aquele ano, Frank Willians ficou fora de quase duas temporadas e neste interin fundou, junto com Patrick Head, a Williams Grand Prix Engineering, empresa fundada por ambos, mas com o engenheiro sendo proprietário de trinta por cento da empresa. No meio da temporada de 1977 a equipe voltou a correr um chassi March, mas o primeiro projeto estava em curso e em 1978, com o apoio da Saudi Airlines e tendo assinado o australiano Alan Jones, a Willians apresentava seu primeiro carro.

 

O FW06, projetado por Patrick Head, fez sua primeira aparição. Apesar de não ter dinheiro, e com o próprio Williams frequentemente forçado a realizar negócios a partir de uma cabine telefônica, Head ainda conseguiu projetar um carro respeitável, que conseguiu largar algumas vezes entre os 10 primeiros. No final do ano, Alan Jones conquistou o primeiro pódio da equipe na penúltima corrida do campeonato, nos EUA. A Williams marcou 11 pontos do campeonato mundial terminando no 9º lugar no campeonato de construtores.

 

Na temporada seguinte, Williams encontrou o caminho. O FW07 estreou na Espanha, início da temporada europeia. Marcou seus primeiros pontos no GP da França e depois de alguns ajustes, dominou o final da temporada, com Alan Jones vencendo 4 das 6 últimas corridas do ano. Caso a equipe tivesse “encontrado o carro” antes, o título da temporada poderia ter ficado em suas mãos.

 

A partir daí a Williams virou equipe grande, andando na ponta, tendo alguns dos melhores pilotos do mundo para ela, desenvolvendo avanços tecnológicos. E tornou-se um grande conglomerado na área de tecnologia, com a equipe sendo uma vitrine no início do processo e depois passando a ser uma das empresas da holding que faturou quase 110 milhões de libras em 2016.

 

A última grande temporada da Williams foi 2007, quando ainda era parceira da BMW, mas com decisões erradas, pilotos errados e a posterior saída da BMW, trocada pela Toyota, que equipavam seus carros. Em 2010, tendo que usar os motores Cosworth, a equipe perdeu o caminho. Com a parceria com a Mercedes, houve uma esperança de retomada do caminho vitorioso em 2014, mas após o primeiro ano de parceria, ano após ano a equipe foi ficando para trás perante as rivais entre as equipes médias.

 

Estamos em meados de janeiro e todos os sinais apontam para um segundo piloto pagante, com um enorme volume de dinheiro, vindo para o time. Sergey Sirotkin mostrou-se um piloto de performances medianas, terminando duas vezes em terceiro lugar a GP2 em 2015 e 2016. A aposta da Williams em um retorno de Robert Kubica parece ter se esvaído no teste do polonês em Abu Dhabi logo após o encerramento da temporada.

 

De esforçado alugador de carros a homem com título de Cavaleiro da Coroa Britânica, Frank Williams construiu uma história, um império e hoje, rico e poderoso, será que a sua equipe deveria estar passando pelo que está passando? Como pode, depois de tudo e de toda a estrutura construída, voltar a ser uma equipe que “aluga carros para pilotos com dinheiro”?

 

É... certamente sou um destes puristas que não se conformam.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva