Um olhar sobre a segurança Print
Written by Administrator   
Wednesday, 13 June 2018 23:16

Caros Amigos, todas as modalidades do esporte a motor onde um piloto – ou mais de um integrante esteja dentro do veículo participante da competição – independente de qual modalidade for, haverá sempre um considerável nível de risco, que irá variar entre um e outro esporte, conforme as condições de disputa e o local onde o mesmo esteja sendo disputado.

 

Já há alguns dias não consigo parar de pensar em como a família do jovem espanhol Andreas Pérez está conseguindo lidar com a precoce morte deste adolescente que tinha consigo o sonho de se tornar um grande astro da motovelocidade. Por mais riscos que um esporte possa ter, ainda mais se tratando do motociclismo, onde o esportista se expõe a altíssimas velocidades e um aparato de proteção que eu chamaria de prosaico, diante do nível de risco envolvido no motociclismo.

 

Alguns anos atrás, o nosso entrevistado foi o maior nome do Brasil na Motovelocidade: Alexandre Barros. Em nossa entrevista, entre diversos aspectos abordados, uma fala do piloto que já dividiu curvas e freadas com nomes como Kevin Schwantz, Valentino Rossi, Michael Doohan entre outros chamou minha atenção na época e voltou-me à mente: Alexander Barros disse que um circuito construído para receber competições de motovelocidade é um circuito seguro o suficiente para receber qualquer competição de automobilismo. Contudo, a recíproca não é verdadeira.

 

Certamente a palavra de um piloto que esteve disputando campeonatos e vencendo corridas na principal categoria do motociclismo mundial precisa ser ouvida e considerada. O que mais remete a uma preocupação no sentido da segurança em termos de local de competição e que o palco da fatalidade com Andreas Pérez não é “uma pistinha qualquer”, mas simplesmente um autódromo com graduação FIA 1, palco de diversas das maiores competições de carros e motos a nível mundial: o circuito de Montmelo, em Barcelona.

 

Da mesma forma que não se pode colocar (toda) a culpa pelo acidente e pela fatalidade em um suposto ímpeto de um adolescente (Andreas Pérez tinha apenas 14 anos de idade). Nos últimos três anos este já é o terceiro acidente fatal no Circuito da Catalunha em apenas três anos. Luis Salom, piloto de Moto2, morreu depois de um acidente durante o Mundial de Moto2 e o mesmo aconteceu a Enric Sauri, durante as 24 Horas da Catalunha de 2017.

 

Há alguns anos também publicamos em nosso site uma matéria sobre a escola de pilotos da Superbike Brasil, a Honda Junior Cup, onde mostramos alguns pilotos de menos de 10 anos de idade indo para uma disputa em um autódromo FIA 3 (ainda era quando fizemos a matéria), no caso o Autódromo de Curitiba. Se em um autódromo FIA 1 acidentes fatais ocorreram, qual o nível de risco que um autódromo como o do Paraná pode levar a uma criança pilotando uma moto?

 

Ao contrário do automobilismo, onde a categoria escola – o kart – tem suas corridas disputada em pistas apropriadas, dimensionadas, para promover disputas e aprendizado de alto nível para quando os jovens chegarem aos 16 anos (segundo o regulamento da FIA) passarem a poder pilotar carros de corrida em autódromos. E o que nós vemos no caso do motociclismo?

 

Não existem pistas ou motos em tamanho reduzido para os pilotos passarem de uma categoria para as outras, sendo a limitação apenas pelo porte da moto e sua cilindrada... até um certo ponto. O que vemos em eventos no Brasil e pelo mundo inteiro são meninos de 12 anos pilotando motos de até 500 centímetros cúbicos em autódromos que nem sempre são considerados “realmente seguros”, inclusive para carros.

 

O esporte a motor está de luto. Andreas Pérez foi um dos destaques da última edição da Taça de Talentos Europeus, no ano passado, tendo alcançado a quarta posição na classificação geral, com duas vitórias e duas pole positions. Andreas Pérez estreou-se no Mundial de Moto3 no ano passado e participou nas rondas de Jerez de la Frontera e Valência. 

 

Foi o piloto escolhido para integrar o escalão de Moto3 da equipe de MotoGP Avintia Racing, mas não disputou a corrida de abertura devido a uma lesão. Esteve presente nas quatro corridas seguintes e neste ano tinha sido também estava competindo no Campeonato do Mundo Júnior pela equipe espanhola.

 

Andreas Pérez competia na quarta etapa do Campeonato do Mundo Júnior, na categoria Moto3, quando se perdeu o controle da moto e acabou caindo na curva número seis do circuito catalão, tendo sido atingido por outros pilotos num acidente que envolveu cinco motos na segunda corrida da etapa. Após o acidente, o jovem espanhol ainda recebeu assistência médica na pista, mas foi rapidamente transferido de helicóptero para o Hospital de Sant Pau (Barcelona), no qual passou as últimas horas nos cuidados intensivos.

 

Foi a própria assessoria de imprensa da equipe Avintia que comunicou a morte de Andreas Pérez. A equipe espanhola revelou que o piloto espanhol foi “admitido no hospital com sérios danos cerebrais e pouco depois foi diagnosticado com morte cerebral”. “Ainda que o coração continuasse a bater e depois de muitos esforços, os médicos não puderam fazer nada para evitar a sua morte. Ele não ganhou esta corrida”.

 

É preciso que as categorias de motociclismo pensem formas de como lidar com esta situação. Crianças morrendo nas pistas não é algo que comunicados emotivos ou a busca pelo olimpo dos campeões pague.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva