A filosofia e a prática Print
Written by Administrator   
Wednesday, 18 July 2018 22:33

Caros Amigos, eventualmente, nos emails que recebemos e que vem direcionados a mim, alguns vem sempre questionando porque os títulos das minhas colunas e suas introduções são tão “filosóficas” (esta palavra veio em alguns dos emails assim mesmo, entre aspas) para só depois de alguns parágrafos eu entrar no assunto da semana propriamente dito.

 

Apesar de ser formado em ciências exatas – sou Analista de Sistemas formado pela UFMG – a filosofia sempre foi um campo de grande interesse meu, especialmente os filósofos gregos, quando a humanidade atingiu um nível de excelência de pensamento que nos dias de hoje, mesmo com todos os recursos técnicos, educacionais e financeiros, a humanidade não consegue chegar minimamente próximo.

 

O assunto desta semana poderia ser bem descrito com uma sentença atribuída ao grande Sócrates; “Só sei que nada sei”! No caso, a sentença se completa quando ele teria afirmado que “o fato de saber disso o coloca em vantagem sobre aqueles que acham alguma coisa”. Realmente, quanto mais eu penso que estou conseguindo compreender alguma coisa sobre o que acontece no mundo do automobilismo em geral e da Fórmula 1 em particular, toda a minha linha de raciocínio acaba sendo jogada por terra!

 

Algumas semanas atrás eu comemorei, alegremente, mas sem grande euforia, a surpreendente vitória da FIA e da FOM na reunião do grupo de estratégia no final de abril quando, com o voto das equipes, havia sido dada a possibilidade de que a regra dos motores da categoria sofresse importantes e consideráveis modificações para a temporada de 2021, permitindo que houvesse uma redução no custo de produção destas unidades motrizes, uma simplificação das mesmas, o que beneficiaria a todas as equipes na minha inocente análise feita exatamente três meses atrás nesta coluna.

 

Para minha completa surpresa, os quatro construtores das unidades motrizes, Mercedes, Ferrari, Renault e Honda, declararam não querer mudanças substanciais no regulamento das mesmas. Mas o que poderia estar passando pela cabeça dos diretores destas grandes empresas, especialmente nos casos da Renault e Honda, que poderia se beneficiar com uma possível alteração no jogo de forças entre elas, que há anos correm atrás de Mercedes e Ferrari?

 

Relembrando o que havia sido proposto por Ross Brawn, o diretor responsável pela área técnica da categoria, as unidades motrizes manteriam a configuração 1,6 litro, V-6, turbo. O limitador de giros subiria dos atuais 15mil para 18 mil RPM, o que iria gerar mais potência e, consequentemente, mais ruído (uma queixa desde que estas unidades motrizes foram adotadas em 2014). O sistema de recuperação de energia térmica, MGU-H, seria excluído, permanecendo sistema de recuperação cinético, MGU-K, com condições de prover mais do que os atuais 160 cv atuais. Além disso, as baterias acumuladoras seriam padronizadas, algo que traria um impacto financeiro considerável devido ao valor das mesmas.

 

Uma das apostas do Grupo Liberty Media com este conjunto de simplificações tecnológicas e redução de custos era uma possível entrada de novas montadoras, fossem como equipe ou apenas como fornecedoras de unidades motrizes. Nas reuniões para discutir o novo regulamento das unidades motrizes para 2021 estiveram presentes representantes da Porsche, Jaguar e Aston Martin, contudo, nenhuma destas – ou outra – montadora decidiu, ainda, se vai investir na criação de um programa para a F1, algo que demanda que demanda tempo e capital. Neste caso, os eventuais interessados já deveriam ter feito algum tipo de comunicado sobre alguma decisão.

 

Esta cascata de acontecimentos negativos são um verdadeiro balde de água fria nos esforços do Grupo Liberty Media em criar uma Fórmula 1 com menos custos para todos e uma menor diferença técnica entre as equipes, o que poderia – potencialmente – proporcionar maiores chances de vitórias e pódios para as outras equipes do grid. Do início da temporada de 2016 até o GP da Inglaterra, em apenas quatro oportunidades tivemos um piloto de outra equipe que não Mercedes, Ferrari ou Red Bull ocupando um lugar no pódio. Em três destas 4 oportunidades, o fato se deu no GP disputado em Baku, no Azerbaijão, onde tem ocorrido provas suis generis, para dizer o mínimo. O outro pódio foi em Mônaco, 2016.

 

Este está sendo um duro golpe nos planos do Grupo Liberty Media em fazer uma Fórmula 1 mais igualitária e um sinal do que vai ter que enfrentar daqui há pouco mais de dois anos (ou menos) quando tiverem que ser decididas quais medidas serão postas efetivamente em prática para o próximo “Pacto da Concórdia”.

 

Estou me sentindo o mais desorientado dos homens sobre a face da terra.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva 

Last Updated ( Thursday, 19 July 2018 17:21 )