Respeitar o público Print
Written by Administrator   
Wednesday, 08 August 2018 22:50

Caros Amigos, Lembro-me com certa saudade dos meus anos de criança quando aguardava, ansioso, pela chegada do maior espetáculo da terra.

 

Todos os anos, nas férias de julho, Belo Horizonte recebia o Gran Circo Orlando Orfei. Circo que levava o nome de seu proprietário, um domador que tornou-se um grande empresário do ramo circense e um herói para mim.

 

Durante mais de duas horas a platéia que lotava e se espremia sob a lona do circo assistia os saltos maravilhosos dos trapezistas, a habilidade e coragem dos motociclistas no globo da morte, os shows com os animais (hoje execrado pelo politicamente correto), o mágico e sua assistente (nós olhávamos para o mágico e os nossos pais e tios para as assistentes) e os insuperáveis palhaços.

 

Soube há alguns anos que ele, Orlando Orfei, havia morrido, mas aquelas férias que se repetiam a cada infância ficarão guardadas para sempre na minha memória. É isso que um grande espetáculo produz nos seus fãs: ele torna se parte, eternamente, das vidas daqueles que vivenciaram aquelas experiências e que marcaram nossas vidas. Este princípio serve para todos os espetáculos, inclusive o do automobilismo!

 

Por exemplo, falando sobre eventos no Brasil, nos últimos 10 anos, quais foram os espetáculos que mais as pessoas lembram? Certamente os Grandes Prêmios de 2008, onde Felipe Massa por muito pouco não se sagrou campeão do mundo e o de 2016, onde com quase três horas entre chuvas, trovoadas e rodadas, a despedida emocionante de Felipe Massa, o Show de Max Verstappen e de Felipe Nasr nas condições adversas de pista.

 

Foram grandes espetáculos que o automobilismo nacional pode e deve repetir. Na minha coluna da semana passada, aplaudi de pé a competência do promotor da Porsche GT3 Cup Challenge e o sucesso do evento em Interlagos, com a abertura da arquibancada para o público, com a venda de ingressos a preços acessíveis e a oportunidade de se assistir uma grande espetáculo com carros maravilhosos e grandes pilotos.

 

No último domingo tivemos a Corrida do Milhão da Stock Car, disputada – criativamente – pelo anel externo do autódromo de Goiânia (gostaria de lembrar aos meus estimados leitores que o uso de anel externo era algo comum por parte da categoria no autódromo de Curitiba. Contudo, diante do que vimos na corrida da abril, temo que a capital paranaense não volte a ter corridas da categoria), algo que a Stock car nunca fez naquele circuito.

 

O formato da prova se mostrou muito interessante (no papel). Duas paradas obrigatórias, uma para troca de pneus e outra para abastecimento, daria um dinamismo extra para a corrida. Contudo, a exibição da corrida sendo feita pelo canal de sinal aberto da emissora que detém os de transmissão deixa a categoria e seus promotores amarrados a ter que realizar uma das provas mais importantes do campeonato (junto com a corrida de duplas e a corrida final, da decisão do campeonato) limitada a só poder ocupar 40 minutos da grade do programa esportivo dominical da emissora, que não apenas deixa de exibir o pódio e a comemoração da equipe, mas que este ano, em seguida à bandeirada, entrou com uma “interessantíssima” matéria sobre jogadores de futebol aposentados que disputaram um campeonato de divisão de base com Ronaldo, o fenômeno, na seleção brasileira e que não tiveram o mesmo sucesso que ele.

 

Honestamente, por mais que o Brasil seja o país do futebol, se um programa tem em seu nome a palavra Esporte, para que se faça um programa realmente espetacular deveriam ter um tratamento condigno com outros esportes, ao menos dos que tem relevância e história no país. Com as entradas do carro de segurança na pista devido aos acidentes ocorridos, tivemos menos de 30 minutos de corrida, efetivamente falando.

 

Segundo relatos de leitores do site, o autódromo estava bastante cheio, o público estava entusiasmado, enfrentaram um engarrafamento enorme para chegar ao autódromo e no final terem apenas 40 minutos de corrida é um desrespeito tanto com o fã de automobilismo que foi ao autódromo como com o que ficou em casa para assistir a corrida. Um evento como este deveria ter no mínimo uma hora de corrida, para obrigar os carros a realmente fazer um reabastecimento, para que planejamentos e estratégias fossem mesmo diferenciais que pudessem fazer a diferença entre vencer ou não.

 

Caso fosse exibida pelo canal por assinatura, talvez a corrida tivesse estes 60 minutos, como foi a corrida de duplas no início do ano, em um sábado, em Interlagos. Mas esta é a visão do torcedor, do fã de automobilismo. Provavelmente – talvez certamente seja a palavra correta – para os patrocinadores da categoria, a exibição por menos tempo em um canal de sinal aberto dê uma maior visibilidade do que uma corrida mais longa com a limitação do canal por assinatura.

 

Quando Orlando Orfei falava “Respeitável Público” para nós sob a lona do seu circo, ele demonstrava ter mais sensibilidade do que estes que hoje exibem “espetáculos-relâmpago” sem pensar no público que o assiste.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva