A teoria da relatividade Print
Written by Administrator   
Wednesday, 14 November 2018 21:58

Caros Amigos, como uma pessoa formada na área de exatas, costumo rir quando as pessoas se apropriam da “teoria da relatividade” de Albert Einstein para tentar justificar as coisas mais absurdas e que nada tem a ver com o trabalho deste gênio da humanidade. Digo que é “extrapolar na licença poética”.

 

Mais uma vez tivemos uma excelente corrida de Fórmula 1 no Autódromo Internacional José Carlos Pace, em Interlagos. Mesmo com seu traçado encurtado no final dos anos 80, o circuito ainda é capaz de proporcionar boas corridas para o público que sofre com a pouco eficiente mobilidade urbana da maior cidade do país para comparecer ao evento.

 

Ameaçado pelo empenho do ex-prefeito da capital e atual governador do estado em seu desejo de privatizar o bem público que é o único autódromo FIA 1 do país (e eu só acredito que vai aparecer um investidor para fazer um autódromo no Rio de Janeiro quando o mesmo estiver pronto, especialmente naquele local), Interlagos vai sobrevivendo e, recentemente, uma notícia alentadora foi transmitida pela própria administração do autódromo.

 

Foi  anunciado, com base nos contratos firmados para o espaço público, hoje sob a gestão da autarquia SPObras, que o Autódromo de Interlagos fechará o ano com um lucro em torno de 3 milhões de reais, com sua receita bruta atingindo a marca dos 10 milhões. Uma vez que o custeio anual consome R$ 7 milhões, este lucro serve como combustível para aqueles que defendem a manutenção do autódromo como ele está, sendo mantido sem intervenções em seu traçado.

 

A Comissão Pró-autódromo, liderada pelo nosso colunista e diretor de provas da CBA, Sergio Berti – a o lado do empresário Orlando Sgarbi – que vem travando esta verdadeira guerra contra o lobby que quer mudar o plano diretor da região e transformar o maior autódromo do país em um empreendimento imobiliário (inclusive, o atual presidente da Câmara de Vereadores já declarou que quer ver 100 mil pessoas morando onde hoje é o autódromo) tem este número nas mãos para argumentar contra o desejo dos que crescem o olho na especulação imobiliária. Infelizmente, este é um número pequeno.

 

Apesar do fato do secretário municipal de turismo, Orlando Faria, ter declarado que tem planos para ampliar a realização de eventos no autódromo, garantindo fazer isso sem prejuízo de datas para o esporte a motor, por mais que se consigam novos eventos e uma ocupação “em tempo integral” para o espaço, em quanto se conseguiria ampliar esta receita é uma icógnita. Ainda assim, dificilmente seria algo capaz de gerar um grande aumento deste montante.

 

Meu primo, colunista aqui no Site dos Nobres do Grid, Mauricio Paiva, é corretor de imóveis e desde que o processo de tentativa de privatização  e quando recebemos a notícia deste superávit sua reação foi dizer que isso era “um trocado”, perto do que a prefeitura iria arrecadar com a privatização da área e, para exemplificar, usou apenas os valores do IPTU, pago anualmente e que, uma vez sendo o Autódromo de Interlagos um bem da prefeitura (e do cidadão paulistano).

 

Usando o site da própria prefeitura e o valor que o atual governador informou na época do lançamento do projeto de lei 705/2017, de que o autódromo valeria para os cofres da prefeitura 2,7 bilhões de reais. Pela fórmula de cálculo, o valor do IPTU, baseado no valor colocado pelo ex-prefeito, o autódromo arrecadaria mais de 51 milhões de reais do jeito que ele está, sem um prédio sequer. É um valor 17 vezes maior do que o lucro gerado pelo autódromo este ano.

 

A questão do projeto viário que permitirá a mudança do plano diretor também está na câmara dos vereadores e o atual prefeito, Bruno Covas, não tem demonstrado intenções de tirar o projeto da privatização do autódromo da pauta de votações da casa, que por conta desta movimentação das eleições nacionais e estaduais deu uma desacelerada.

 

Com o contrato com a empresa proprietária dos direitos comerciais da Fórmula 1 indo até 2020, ainda tem o restante das obras a serem executadas. Outros 43 milhões, parte daqueles 160 milhões de reais liberados pelo governo federal em 2014, estarão disponíveis para a conclusão das obras, que vai construir, entre outras coisas, novos boxes e um paddock coberto em frente à reta de chegada, o que concluirá o pacote de obras exigidas pela então gestão de Bernie Ecclestone para Interlagos continuar recebendo a Fórmula 1.

 

A única dúvida que eu tenho em relação aos valores descritos como “custeio” é se as obras anuais para que Interlagos receba a Fórmula 1, sem incluir as obras de modernização que são exigidas, estariam dentro deste montante de 7 milhões de reais informados pelo administrador do autódromo. Afinal, se este valor referente as obras de pista, sem incluir estas grande obras de prédios e outras grandes estruturas, mas apenas envolvendo a manutenção das condições do asfalto e dos itens de segurança.

 

Precisamos não esquecer o estado que Interlagos ficou nos anos 80, quando não recebia as obras e os investimentos que eram aplicados no Rio de Janeiro, então sede do GP Brasil de Fórmula 1. Evidentemente que eram outros tempos, valores menores, solicitações mais modestas e que as atuais. Acreditar que, com o automobilismo nacional e regional, é possível manter um autódromo com o padrão de qualidade que temos em Interlagos é uma ilusão. Precisamos ter estes grandes eventos como o WEC e a Fórmula 1 (se fosse possível, ter mais um outro seria interessante) para atrair não apenas público para o autódromo, mas também turistas e consumidores de serviços para a cidade.

 

A manutenção de Interlagos como autódromo passa por diversas condicionantes. A permanência dos grandes eventos, a locação de espaços para grandes eventos fora do esporte a motor e uma gestão séria e responsável podem fazer com que, se não 100% equivalente em relação a arrecadação de impostos, mas o suficiente para que a sociedade paulistana não abra mão da sua existência. É uma questão de relatividade.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva