A política tem mais curvas que Hungaroring Print
Written by Administrator   
Wednesday, 15 May 2019 19:57

Caros Amigos, o assunto da coluna desta semana é algo que eu não gostaria de estar me estendendo, uma vez que não aprecio tratar de assuntos de ordem política neste espaço que deveria ser voltado para um momento de lazer dos meus estimados leitores em sua maioria.

Minha intenção era retomar a coluna que eu publicaria na semana passada e que pretendo poder fazê-lo o quanto antes, apesar desta ser um assunto que não está presa a uma data ou período, mas que entendo ser um tema interessante para nossas conversas de quintas-feiras.

Infelizmente o assunto que volta a pauta é o GP Brasil de F1, que nas últimas duas semanas vem ocupando um bom espaço da mídia esportiva, em um universo em que o esporte a motor tem tido uma projeção cada vez menor ao passar dos anos e, quando volta a ter este espaço, não é para tratar propriamente de esporte, mas sim de política.

 

Após o anúncio do presidente Jair Bolsonaro de que o GP Brasil de Fórmula 1 iria de São Paulo para um novo autódromo a ser construído no Rio de Janeiro em sua próxima edição, no ano de 2020, com a promessa de que o autódromo seria construído em 6 ou 7 meses. Assunto que foi levado ao conhecimento dos diretores do Grupo Liberty Media, empresa que controla a categoria, durante os treinos para o GP da Espanha, inclusive com a abordagem dos diretores por parte da jornalista que faz a cobertura televisiva para a emissora que detém os direitos de transmissão no Brasil.

 

Não posso classificar com algum adjetivo menor que “embaraçosa” a situação para a jornalista e para os entrevistados. Sean Bratches, diretor da parte comercial do Grupo Liberty Media disse – categoricamente – que nada muda por enquanto e que existe um contrato assinado com os promotores do Grande Prêmio para a realização da corrida não apenas em 2019 como também em 2020 (o que, teoricamente seria bom para o Rio de Janeiro, uma vez que teriam mais tempo para construir o autódromo e “testar o equipamento” antes de uma “prova de fogo” como seria uma etapa da Fórmula 1). O CEO do Grupo Liberty Media falou menos e foi ainda mais direto, dizendo que não há nada relativo a uma mudança de local do GP Brasil para 2020 e que as bases do contrato após esta data seriam negociadas, sem se alongar no assunto.

 

Uma das diversas “versões” que tem sido difundidas na mídia é que a etapa paulistana seria a única do campeonato que não pagaria nenhuma taxa para receber a Fórmula 1. Esta benesse seria obra de um contrato que Bernie Ecclestone teria assinado, formando uma parceria comercial com o promotor do GP Brasil, Tamas Rohonyi, onde ambos também teriam outros negócios em comum. Este acordo “entre amigos” valeria para 2018, 2019 e 2020, algo que – numericamente, talvez – faça algum sentido uma vez que o promotor declarou em anos anteriores ter prejuízos com a corrida.

 

O custo do investimento para se manter um GP de Fórmula 1 é consideravelmente alto, mas o retorno pode ser satisfatório caso haja um bom planejamento. Algumas cidades estão na mira do Grupo Liberty Media que tem um interessante foco em regiões potencialmente turísticas – e nisso o Rio de Janeiro é um cenário dos sonhos – e alguns destes países enxergam o potencial de retorno de se investir na realização de um GP de Fórmula 1, como é o caso do Vietnã, onde Hanoi deve receber uma etapa no próximo ano, em um circuito urbano (algo que também enche os olhos dos novos dirigentes da categoria), como é o caso de Baku, no Azerbaijão, com longa extensão, retas largas e pontos de ultrapassagens, o que falta em alguns autódromos, como em Barcelona.

 

Se por um lado, o governador Wilson Witzel e o prefeito da capital do estado, Marcelo Crivella uniram forças para levar a Fórmula 1 para o Rio de Janeiro, de forma até surpreendente – em vista dos fatos recentes – o governador paulista, João Dória, que apresentou um projeto onde a própria existência de Interlagos como autódromo ficou ameaçada, numa “defesa dos interesses do estado e da capital”, uniu-se ao seu ex-vice prefeito e atual mandatário, Bruno Covas para defender a permanência do GP em Interlagos e (pasmemos todos), o prefeito pediria o arquivamento do projeto envolvendo o circuito, sua área e sua consequente destruição.

 

A contabilidade pode chamar atenção, mas requer cuidados. Segundo o prefeito Bruno Covas, em 2018 a F1 movimentou 334 milhões de Reais na capital, um valor 20% superior ao ano anterior. Apenas em termos de comparação, o carnaval no Sambódromo movimentou 220 milhões e a parada LGBT, 288 milhões de Reais. O que o prefeito não revela é o quanto é necessário se investir para se manter um autódromo no padrão FIA 1 e assim receber a categoria, valor este que deveria ser “descontado” deste montante movimentado. Em todo caso, se uma cidade tem um retorno líquido na casa de 100 milhões de reais, mesmo que ela invista outros 100 milhões anualmente, o investimento vale a pena.

 

Certamente esta conta passa pelas mesas do governador e do prefeito do Rio de Janeiro, assim como deveria passar pelas mãos do prefeito da cidade do México, que pode deixar o calendário em 2020 por não estar mais disposto a investir 20 milhões de dólares por cada etapa a ser realizada no autódromo Hermanos Rodriguez.

 

Não posso deixar de mencionar que em Brasília, um grupo de investidores do qual faz parte o ex-deputado, ex-senador e ex-presidiário Paulo Octávio, empresário da construção civil, político e com uma longa lista de processos por corrupção, interessado em assumir as obras de conclusão do autódromo do Distrito Federal, visando interesses puramente imobiliários no terreno que, por lei, não pode ser usado para outro fim que não o atual, onde pretende alterar a pista e fazer uma ampliação do setor hoteleiro sobre a área do setor esportivo, o que não é permitido devido ao tombamento da cidade.

 

Infelizmente esta não será a última abordagem sobre este assunto. Afinal, quando temos questões políticas envolvidas, o traçado da pista passa a ter mais curvas do que o circuito de Hungaroring.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva