A necessidade do compliance no automobilismo Print
Written by Administrator   
Wednesday, 07 August 2019 22:15

Caros Amigos, acredito que uma parte considerável dos meus estimados leitores já ouviu falar – no seu local de trabalho ou em algum meio de comunicação a palavra “compliance”. Mas o que ela realmente significa?

 

O termo compliance tem origem no verbo em inglês to comply, que significa agir de acordo com uma regra, uma instrução interna, um comando ou um pedido, ou seja, estar em “compliance” é estar em conformidade com leis e regulamentos externos e internos. Portanto, manter a empresa em conformidade significa atender aos normativos dos órgãos reguladores, de acordo com as atividades desenvolvidas pela sua empresa, bem como dos regulamentos internos, principalmente aqueles inerentes ao seu controle interno.

 

Este termo se refere a todos os estágios de gestão que uma organização pode ter. desde seu menor escalão até a sua presidência, com todos os padrões estabelecidos em suas normas de qualidade (ISO) e outras que sejam pertinentes as atividades daquela empresa. Será que o automobilismo – no Brasil ou fora dele – tem em seus respectivos modelos de gestão algum programa de “compliance”?

 

Em março deste ano aconteceu um grave acidente durante a 29ª Arrancada de Caminhões de Balneário Arroio do Silva, realizado em um “pista” que é preparada na areia da praia desta localidade. O piloto (Plínio Junior) participava da prova classificatória até 550 cavalos, quando antes de cruzar a linha de chegada, deslizou na pista, perdeu o controle do caminhão, vindo a capotar em seguida.

 

As imagens mostram claramente que o caminhão não tinha uma estrutura de proteção para o “piloto”, que no acidente (o mesmo pode ser visto em vídeo por canais de mídia na internet) é arremessado para fora do caminhão, ficando caído na areia enquanto o veículo de “desmanchava”, inclusive lançando óleos de combustível e lubrificação na areia do balneário.

 

Apesar rápida ação da equipe de socorro, que atendeu-o ali no local, onde ele foi entubado, estabilizado e encaminhado e levado em uma ambulância com recursos para mantê-lo vivo, mesmo em estado grave, ao Hospital Regional de Araranguá. Uma segunda ambulância deu suporte no deslocamento do balneário até esta cidade, que era a maior entre as mais próximas e com mais recursos.

 

Este não foi o primeiro acidente do gênero ocorrido neste evento. Há 5 anos, no mesma competição, o piloto Edson Beber, de 46 anos, capotou quando já havia cruzado a linha de chegada da prova. Ele não resistiu aos ferimentos e morreu no local. O mesmo cenário de 5 anos antes e filmado por espectadores, estando o vídeo nos canais de mídia da internet.

 

Na época, a entidade responsável pelo evento, a Federação de Automobilismo do Estado de Santa Catarina (FAUESC) abriu investigação e em seu relatório apontou uma série de deficiências e o então presidente da FAUESC, Sr. Almir Petris, prometeu rever os conceitos de segurança exigidos para a execução de provas. Em 2014, quando deste acidente, era exigido dos pilotos apenas o uso do cinto de segurança e sapatos fechados, enquanto nas provas de arrancada homologadas pela CBA, itens como macacão, sapatilhas, luvas de competição, colar cervical (protetor de pescoço) e capacete fechado, além da “gaiola”, que reforça a carroceria em caso de tombamento ou capotamento. 

 

Na época o presidente da FAUESC, que deveria ser o responsável pelas normas de “compliance” declarou que a organização do evento era da prefeitura de Arroio do Silva e que a federação fazia “apenas a supervisão”... as declarações dadas à época, de que o uso de capacete sequer fazia parte do regulamento deixava claro que não havia nenhum gerenciamento neste evento e sua alegação de que “se for olhar o risco, não se faz, inclusive, futebol.”

 

Cinco anos se passaram e as cenas que vistas em 2019 foram semelhantes às 2014. o presidente da FAUESC é outro – João Alfredo Novaes, eleito em 2018, como candidato de oposição – mas as declarações iniciais após o acidente não diferiram muito das de seu antecessor. João Novaes declarou: “Vamos corrigir o regulamento, botar algumas coisas a mais. Talvez até a segurança e a gaiola em todas as outras categorias. Vamos exigir mais do piloto, capacetes novos, com vencimento. Então não vamos ser bem mais rigorosos sim.”

 

Mas estas medidas não teriam sido tomadas depois do acidente fatal de 2014? Se todas os itens de segurança previstos no regulamento foram vistoriados e ficou evidente que o caminhão de Plínio Junior não tinha uma “gaiola” de proteção, que melhorias de regulamento foram feitas? Plínio Junior ficou quase dois meses hospitalizado, está em uma cadeira de rodas, fazendo fisioterapia para tentar recuperar ao menos parte dos movimentos.

 

Neste último final de semana tivemos mais um acidente fatal em uma competição sob supervisão da FAUESC. O piloto da arrancada, Ivan Possamai Junior, colidiu no final da pista depois do paraquedas do seu carro não abrir ao final da distância estipulada para a prova. Até o momento o processo de investigação onde a análise vai incluir a estrutura do evento e as normas de segurança. As imagens do acidente, que também estão em canais de mídia, mostram uma pista cercada por uma tela semelhante as de uma tela de jardim e uma mureta baixa.

 

Uma vez que o presidente da CBA, Waldner Bernardo, fez promessa durante sua campanha ao cargo de realizar uma gestão profissional e é isso que toda comunidade do automobilismo espera que seja feito e o estabelecimento de uma política de “compliance” que vá desde o seu gabinete até o evento regional na federação com menos afiliados, com os mesmos padrões e procedimentos a serem cumpridos.

 

O automobilismo no Brasil não é apenas F1 e Stock Car.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva