A Mercedes e o Ovo de Colombo Print
Written by Administrator   
Wednesday, 26 February 2020 21:13

Caros Amigos, eu sempre gostei das aulas de história que tive no chamado ginásio, hoje conhecido como ensino médio. Nosso professor era fantástico e viajávamos pelos séculos com ele.

 

Uma vez, isso jamais esqueço, ele chegou com um ovo na sala de aula (e como ele dava aula em outras classes, deve ter levado alguns para o colégio). Estávamos estudando o descobrimento da América, oficialmente um feito de Cristovão Colombo, e que foi de imensa importância para a Espanha.

 

Colombo era visto pela elite com muito desdém e desconfiança. Neste paradoxo de fama e repulsa, Colombo foi convidado a um banquete comemorativo pela descoberta da América organizado pelo Cardeal Mendoza. Nesta comemoração, Colombo foi indagado por um dos participantes sobre a descoberta da América. Sabendo de todo o preconceito em torno de sua pessoa preferiu não responder diretamente, mas sim através de uma metáfora. Desafiou todos a colocarem um ovo de galinha fresco de pé sobre uma das suas extremidades. Os presentes aceitaram o desafio sendo que todos falharam e, com isso, Colombo decidiu mostrar a solução: bateu o ovo contra a mesa de leve, quebrando um pouco a casca de uma das pontas, de forma que assim ele se achatasse e pudesse ficar de pé.

 

Um dos presentes teria questionado Colombo, dizendo que desta forma qualquer um poderia fazer, e Colombo responde que de fato qualquer um poderia, porém qualquer a que tenha lhe ocorrido de fazê-lo. Acrescenta que após ele ter mostrado o caminho para o Novo Mundo, qualquer um pode segui-lo, mas que antes foi necessário que alguém tivesse a ideia, e alguém depois precisou colocá-la em prática.

 

A história da Fórmula 1 está repleta de Colombos, que a cada tempo e de sua maneira, conseguiram colocar ovos em pé como o navegador italiano (sim, ele não era espanhol). Quando Colin Chapman usou o efeito da asa invertida para aumentar a eficiência e a velocidade dos carros em curva foi exatamente o que Colombo fez: teve a ideia e a colocou em prática.

 

Podemos dizer que a suspensão ativa da Williams nos anos 90 foi outro caso “colocar o ovo em pé”. Depois deste, lembro-me bem do difusor da Brawn, que antes de “colocar seu ovo em pé” alertou os conselheiros da FOM sobre o fato. Ninguém se opôs e o que se viu foi o restante do grid correndo atrás dos carros brancos naquele ano.

 

O novo “ovo de Colombo” da Fórmula 1, ao menos até o momento, uma vez que estou escrevendo minha coluna em meio a segunda sessão de dias de teste na Espanha, é o revolucionário sistema DAS (Dual Axes Steering). Traduzindo, dois eixos de esterçamento, introduzido pela Mercedes no W11, o que fez de Lewis Hamilton e Valtteri Bottas os mais rápidos e constantes na primeira série de testes em Barcelona.

 

Uma coisa “simples”, mas que ninguém havia pensado antes. Ao fazer as rodas dianteiras convergirem alguns poucos graus, algo que há vários vídeos na internet mostrando como as rodas convergem, mudando essa convergência com um movimento para frente e para trás, aproximando e afastando o volante como o manche de um avião. Essa mudança na convergência das rodas dianteiras reduz a área de atrito com o ar no deslocamento do carro e se há menos atrito, há menos arrastamento e, consequentemente, menos resistência ao movimento. O resultado é um ganho de velocidade.

 

Como o sistema de acionamento é totalmente mecânico, no atual regulamento da categoria não há nenhum impedimento para seu uso, mas diante da surpresa proporcionada pela equipe alemã, por regulamento, em 2021 esta “ovo” não poderá ser mais colocado de pé. Resta saber se outras equipes tentarão “copiar” a brilhante ideia dos alemães e se haverá tempo hábil para impedir que a estrela das três pontas conquiste mais um campeonato.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva