#400, o menino da bolha e o futuro Print
Written by Administrator   
Wednesday, 18 March 2020 21:18

Caros Amigos, em meio ao caos que estamos vivendo no mercado financeiro, devido ao coronavírus e a guerra do petróleo, estabelecida entre Rússia e Árabia Saudita, estamos vendo o mundo de uma forma que acredito totalmente nunca o vimos. Nenhuma crise anterior, como a da Rússia ou o estouro da bolha imobiliária teve um efeito tão devastador quanto este, que pode se prolongar por meses.

 

Meu filho veio me dar os parabéns hoje. Ele contabilizou e viu que esta é minha coluna de número 400. Eu preferia poder celebrar este feito (porque é um feito) de outra forma, tratando de algum assunto positivo e sem estar me sentindo como o menino da bolha de plástico, um garoto que nos anos 70 vivia isolado do mundo por falta de imunidade. Com este coronavírus, minha família praticamente me transformou no garoto. Foi até feito um filme sobre ele.

 

Sendo a nossa coluna de esporte a motor, não de economia, mercado mobiliário ou medicina, mesmo estando nossos esportes sujeitos ao que vem se passando com estes assuntos e o efeito que estes vem causando, pretendo nesta semana fazer uma análise, com base no que tenho lido no meio e conversado com alguns especialistas para tentar apresentar algo para meus estimados leitores.

 

Após o frustrante cancelamento do GP da Austrália, que não se sabe se virá a ocorrer em outra data ou não, tivemos a suspensão de outras etapas. Com a não realização nas datas previstas do GP do Barein, previsto para este próximo final de semana (e que foi anunciado como um evento a se realizar com portões fechados e que seria a etapa de abertura da Fórmula 2 e Fórmula 3), Vietnã, 5 de abril, China, 19, já previamente adiado, também por causa do COVID-19, Holanda, 3 de maio, Espanha, 10, e Mônaco, 24. A abertura do campeonato ficaria para a etapa de Baku, no Azerbaijão, se nada mais der errado.

 

Como mencionei no início, a questão financeira está intimamente ligada ao esporte a motor e um vírus invisível está causando um enorme problema ao Grupo Liberty Media, algo da ordem de 300 milhões de dólares caso o cancelamento das etapas mencionadas no parágrafo anterior deixem de ser disputadas. A FOM está entre a cruz e a espada. 60% do que ela arrecada vai para as equipes e estas fizeram e fazem enormes investimentos no desenvolvimento de seus carros. Mesmo a perda de receita vindo a ser dividida proporcionalmente entre todos, o prejuízo não será pequeno.

 

Se eu já estou me vendo a beira da loucura com a instabilidade do mercado financeiro netas últimas semanas, não gostaria tampouco de estar no lugar de Chase Carey e Ross Brawn, que estão tendo que lidar com este gigantesco problema. A única coisa certa é que todas as equipes de corrida que estiveram em Melbourne estão em quarentena auto-selecionada até 28 de março. Com isso foi feito um acordo com as equipes e as férias de agosto foram oficialmente antecipadas (algo duro, mas necessário de se aceitar pensando na viabilidade de ainda termos um campeinato.

 

Quando todo mundo começar a trabalhar novamente em 29 de março – e ninguém sabe se isso vai poder ser feito com a situação do vírus como variável na equação – uma ideia que vem ganhando alguma força seria a de um campeonato com 18 etapas em seis meses (Algo como fazer um tiro de Fórmula Indy, mas viajando por todo mundo ao invés de apenas entre Estados Unidos e Canadá). Mas qual seriam as 4 etapas que seriam cortadas do atual e já não mais exequível calendário?

 

Países com Barein, Vietnã – que estreia este ano – China, Azerbaijão, Singapura, Abu Dhabi pagam, pelo menos, 60 milhões de dólares para a FOM a cada edição do seu GP. A Rússia paga 50 milhões. Estes GPs são corridas custeadas pelo respectivos governos, de forma direta ou indireta. Apesar de serem números “conhecidos”, há uma clausula de confidencialidade nos contratos e os promotores não podem dizer – oficialmente – mas há um critério histórico e sabe-se que as corridas tradicionais na Europa pagam 25 milhões, algo que o Brasil pagaria, mas contou com um “abono não assumido” por parte de Bernie Ecclestone para os últimos 3 anos do contrato, que foi “herdado” pelo Grupo Liberty Media e que está sendo um entrave no processo de renovação do contrato do GP Brasil.

 

Todos tem contrato e certamente todos vão querer realizar seus GPs (ou talvez serem financeiramente compensados para abrir mão de realizar a corrida este ano, quem sabe com um aceno de um contrato melhor na renovação. Isso talvez deva ser algo que passa pela cabeça dos promotores privados. Passaria pela minha se fosse o caso.

 

E para completar o cenário, ainda temos a negociação do próximo “Pacto da Concórdia” a ser assinado este ano para começar a valer em 2021, ano que a categoria terá um regulamento completamente novo. Este é um assunto que ainda renderá muitas colunas este ano.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva


Last Updated ( Wednesday, 18 March 2020 23:48 )