A resistência do Reich Print
Written by Administrator   
Wednesday, 20 May 2020 20:48

Caros Amigos, a Alemanha, como nós conhecemos hoje, poderia ser considerado um país mais jovem do que o Brasil, caso levemos em conta suas fronteiras nos últimos 200 anos, mas eles tem uma história milenar e ao longo destes séculos, existem três períodos que a história mundial: os seus impérios. Em alemão, os Reich.

 

Em 2 de fevereiro de 962, o saxão Otto foi coroado imperador do Ocidente pelo papa João XII, em Roma. Aos 49 anos, Otto I fundava o Sacro Império Romano Germânico ou simplesmente o 1º Reich Alemão (a palavra alemã “reich” significa reino ou império). O Reich alemão era herdeiro do Sacro Império Romano fundado, em 800, por Carlos Magno, rei dos francos. O império, contudo, não sobreviveu por muito tempo após a morte de Carlos Magno e acabou dividido entre três de seus netos (Tratado de Verdun).

 

A partir do século XI, a aliança Roma e Império Germânico começou a sofrer desgastes. Papa e imperador defrontaram-se para saber quem devia dominar, quem era o verdadeiro senhor do mundo, quem fazia o outro.
o Império Romano Germânico, mesmo enfraquecido, manteve-se por quase mil anos sendo abolido por quem também desejava ser o senhor do mundo: Napoleão Bonaparte.


O II Reich é um Estado Federal com 25 estados soberanos, que conservam as suas instituições, leis e poder de decisão em inúmeros assuntos (ensino, finanças, obras públicas, justiça, etc.). Um imperador aparecia à sua cabeça, sendo ao mesmo tempo rei da Prússia. Nomeava um chanceler do império que dirigia a diplomacia, o exército, o correio e as fronteiras.

 

O primeiro imperador foi Guilherme I que leva a cabo uma política de uniformização da economia, finanças e justiça, sob a direção do chanceler Bismarck. Foi um período de rápida industrialização que converteu a Alemanha na primeira potência da Europa em 1913, criando uma poderosa classe operária ligada ao socialismo e contrária à monarquia. Esta pujança econômica foi acompanhada de uma ativa política exterior, que torna o país o árbitro da Europa, para além de isolar o seu irreconciliável arquirrival, a França.

 

Após o final da I guerra mundial, com o país em ruínas, no final dos anos 20 e início dos anos 30 do século passado, surgiu uma nova curva de ascensão, com Adolf Hittler e seu desejo de conquistar a Europa e o mundo, criando aquele que ele chamou de “um império de mil anos”, que muitos historiadores chamam o período do nazismo de, “o terceiro Reich”, que caiu com a derrota na II guerra mundial.

 

Esta longa introdução histórica é para falarmos do “quarto Reich”. A indústria automobilística alemã tem mais de 100 anos de liderança e referência no mercado. Mercedes e Auto Union (que originou a Audi), além da BMW, Porsche e Volkswagen, possuem um peso fortíssimo no mercado e no âmbito das competições, centenas de vitórias e títulos, mas quando falamos de pilotos, especialmente depois do surgimento da F1, os alemães não conseguiram se impor até a chegada de Michael Schumacher (apesar de Wolfgang Von Trips e Stefan Bellof).

 

Desde então as coisas mudaram. Olhando bem, nas últimas 20 temporadas, tivemos 10 conquistas alemãs (5 de Schumacher, 4 de Vettel e 1 de Rosberg). Se considerarmos de 1994 a 2016, são 12 títulos em 23 temporadas. Contudo, o legado de Michael Schumacher, com seus 7 títulos e 91 vitórias, que levou diversos alemães para o grid parece que não tem mais o mesmo impacto sobre a categoria. É bom lembrar que, pós Fittipaldi-Piquet-Senna, com 8 títulos em 20 temporadas (1972 a 1991), passados menos pouco mais de 20 anos do trágico domingo de Ímola, o Brasil deixou de ter um piloto na F1.

 

O anúncio da não renovação do contrato de Sebastian Vettel para 2021 pode – em teoria – ter o mesmo efeito nos fãs alemães, com o país ficando sem nenhum piloto no grid para a próxima temporada. Mas será que isso vai acontecer? Pessoal e particularmente, acho pouco provável e tenho uma série de razões para pensar assim.

 

Primeiro porque a Alemanha é uma potência da indústria automobilística e, diferente dos norte americanos, que tem um pensamento muito regionalizado em termos esporte a motor, o impacto de uma participação alemã, seja com marcas, seja com pilotos, tem um peso considerável e o “efeito Schumacher” no esporte de seu país foi algo de grande impacto. Segundo porque com um mercado amplo e globalizado, um piloto alemão acaba “puxando” outros pilotos alemães para a categoria, apesar de vários não terem chegado ao título, dois que se seguiram – Vettel e Rosberg – conquistaram campeonatos.

 

Sebastian Vettel é, hoje, o último dos “discípulos” de Michael Schumacher a permanecer na categoria e apesar dos últimos anos e dos erros cometidos, não podemos desconsiderar o fato dele ter marcado pontos em sua corrida de estreia, de ter ganho um GP de F1 ao volante de um carro da Toro Rosso e que na segunda metade de 2009 enfrentou de igual para igual os carros da Brawn. O tetracampeão não é tetracampeão por acaso! Será que ele realmente ficará fora da temporada de 2021? Honestamente, não creio. E não se surpreendam se ele vier a vestir não um macacão amarelo e preto, mas um prateado quase branco. Não descarto uma troca de pilotos no segundo carro da estrela das três pontas. Seria uma sombra para Lewis Hamilton e uma forma de pressioná-lo a acelerar mais na pista e diminuir a velocidade em relação ao caixa da montadora alemã.

 

Não podemos descartar o futuro. Pelo contrário, é preciso leva-lo em conta e este tem o sobrenome Schumacher. Michael, que é chamado de “Mick”, disputará (se e quando esta ocorrer) a sua segunda temporada da Fórmula 2 em 2020. Em 2018, ao vencer o campeonato europeu de F3 ele conquistou 30 pontos para a superlicença, mas somou a estes 10 pontos do vice campeonato alemão da F4 e outros 10 do vice no italiano, ambos em 2016. ao contrário de Lance Stroll e Max Verstappen, não se lançou à F1, optando por adquirir uma maior quilometragem.

 

De alguma maneira, deveremos ter pelo menos 1 piloto alemão no grid. Resta saber em que condições: se como postulante ao título ou como “figurante” no grid. De uma forma ou de outra, o Reich não cairá!

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva