O tênue limite entre a experiência e o vício Print
Written by Administrator   
Wednesday, 27 May 2020 20:17

Caros Amigos, costumo dizer aos meus filhos que eles devem sempre seguir bons exemplos. Sejam aqueles recebidos em casa, sejam estes recebidos pelos círculos de convívio. Entretanto, o maior desafio nesta análise é conseguir compreender o que seriam os bons exemplos. Como saber distinguir isso?

 

Quando ainda era estagiário e cursava meu curso universitário, vi um dos chamados “medalhões” da empresa onde eu trabalhava ser demitido. Na minha inexperiência, não conseguia entender como a nossa empresa estava abrindo mão um profissional com a capacidade dele. Usando o futebol como parâmetro, ninguém em sã consciência dispensa um craque do time.

 

Levei alguns anos para aprender esta lição. Mesmo o profissional que vi ser demitido sendo um “craque”, ele gerava uma quantidade de problemas para a administração e a operação da empresa a ponto de comprometer a sua performance como profissional de alto nível. O “verdadeiro craque” é aquele que sabe produzir e consegue fazer toda a equipe produzir. É aquele que agrega e não divide.

 

O preâmbulo da nossa coluna de hoje, estimados leitores, é uma avaliação profissional do que vemos hoje, a nível de mercado e opções para a Renault em 2021 com a saída de Daniel Ricciardo para a McLaren e as especulações entre um retorno de Fernando Alonso ao grid depois de dois anos distante ou a chegada de um tetracampeão como o alemão Sebastian Vettel, que convém lembrarmos, deixou a Red Bull após um ano ruim, após a mudança no regulamento em 2014, quando foi ofuscado por Daniel Ricciardo.

 

A capacidade técnica e a habilidade de Fernando Alonso são inquestionáveis. Acho pouco provável que alguém, agindo de forma imparcial e analisando apenas o trabalho do piloto espanhol ao volante. Entretanto, a quantidade de problemas gerados por ele com seu temperamento pouco agregador dentro das equipes onde trabalhou – ao menos fora do esquema Benetton/Renault – tornaram sua permanência na McLaren (por duas vezes) e na Ferrari insustentável.

 

No caso de Sebastian Vettel, a impressão que tenho é da criação de um pequeno monstro por uma sequência de atitudes dentro do sistema gerencial da Red Bull que acabaram por criar um piloto que não conseguia lidar com a competição interna e que tinha – ou deveria ter – tudo o que quisesse à disposição a qualquer momento e sem qualquer risco de ser ameaçado. A diferença de atitude das equipes Red Bull e Ferrari ante a um acidente na pista com os dois carros da equipe.

 

Caso a Renault opte por um dos dois ex-campeões para tentar levar a equipe a dar um passo adiante, o que não conseguiu com Daniel Ricciardo, terá que administrar m risco potencial: Esteban Ocon. O francês, em uma equipe francesa e com uma experiência e velocidade comprovada pode ser um problema para qualquer um dos dois que chegar para disputar o espaço com um jovem piloto veloz e ambicioso.

 

Voltando ao episódio que usei no início da nossa coluna, com o tempo aprendi que qualquer trabalho em equipe pode ter uma maior efetividade se tiver um equilíbrio entre seus membros e um forte espírito de conjunto do que ter dois ou três protagonistas disputando as atenções e comprometendo o trabalho da equipe. Um piloto menos problemático pode ser uma solução mais eficiente e produtiva para a Renault do que a aposta em uma estrela com um histórico como os de Sebastian Vettel e principalmente Fernando Alonso.

 

A resposta que talvez a Renault precise esteja novamente na Mercedes, origem de Esteban Ocon, que foi piloto do programa da equipe alemã: Caso Toto Wolff decida levar George Russell para a equipe, com o final do contrato de Valtteri Bottas em dezembro de 2020, o finlandês pode ser uma opção muito mais interessante para a Renault. Resta saber se os franceses, na ânsia de buscar dar um salto de qualidade apostaria em uma equipe mais equilibrada ou se vão preferir correr o risco de ter um ambiente conturbado e uma “estrela” que por maior experiência que possua, não é garantia de sucesso no projeto de elevar a equipe de platamar.

 

Quando um profissional altamente qualificado é dispensado de locais onde trabalha, a possibilidade de que sua expertise seja carregada de vícios é um problema maior do que os benefícios que seu conhecimento pode gerar.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva 
Last Updated ( Thursday, 28 May 2020 10:30 )