E agora Tamas? Print
Written by Administrator   
Wednesday, 29 July 2020 21:02

Caros Amigos, este assunto tem sido recorrente da minha parte há algumas semanas. Usei de alguns pontos de abordagem para tratarmos da complexa questão que dizia respeito ao iminente cancelamento do GP Brasil de Fórmula 1, o que se deu (oficialmente) na última sexta-feira, mas que estava mais do que evidente pelas colocações que expliquei nas minhas colunas.

 

Não era preciso ser um expert em automobilismo ou um jornalista profissional. Uma corrida como a Fórmula 1 gera um volume de negócios em torno do evento que extrapolam as linhas que definem os limites da pista ou os muros que delimitam o perímetro de um autódromo. Todos os anos a Interpub, empresa promotora do evento no Brasil e a prefeitura da cidade de São Paulo tomam uma série de providências nos meses que antecedem o evento, como a abertura de licitações para prestações de serviços, os ingressos, que são colocados à venda com meses de antecedência, não foram anunciados. Empresas de serviços terceirizados por parte da empresa promotora, que tem contratos definidos e assinados com antecedência não foram chamadas. Esta situação já mostrou suas fragilidades em março, desde o cancelamento do GP da Austrália.

 

A questão do GP Brasil tem uma particularidade toda especial que não é vista de forma positiva pelo Grupo Liberty Media. A Interpub não paga pelo evento como acontece nos outros países desde a edição de 2018, quando Bernie Ecclestone ainda era o CEO da categoria e concedeu essa benesse para Tamas Rohonyi, o dono da Interpub. Os norte americanos herdaram isso e não conseguiram reverter esta situação. Isso certamente pesa contra negociações para a Interpub.

 

Algumas semanas atrás, quando eu levantei a possibilidade de uma negociação poder ter lugar no sentido de, em caso de impossibilidade da realização do GP Brasil em 2020, com um acordo entre as partes para a realização da corrida em 2021, confesso que fui de uma ingenuidade infanto-juvenil. Diante da relação entre o Grupo Liberty Media e a Interpub, um acordo como esse não traria benefícios para ninguém.

 

Para os norte americanos, postergar um desconforto daria mais tempo para seus contestadores terem algum conforto e, por outro lado, para a Interpub, esta postergação poderia dar um fôlego de um ano inteiro para quem quisesse tentar tirar a F1 de São Paulo, com tempo para ter um autódromo em condições em 2022 e não em 2021. Nisso a Rio Motorpark, de JR Pereira, que sonha em construir um circuito para receber a categoria no Rio de Janeiro, ganharia um tempo precioso, apesar de, pessoalmente, considerar o plano, o projeto e o orçamento da obra irreais.

 

Não se sabe dos detalhes do contrato entre FOM e Interpub, mas se realmente há uma cláusula de possibilidade de cancelamento “por motivo de força maior”, a alegação da pandemia do coronavírus foi a desculpa perfeita para a Fórmula 1 não cruzar o atlântico, somado a isso o fato do cancelamento de todas as corridas nas Américas sob a mesma alegação.

 

Ao longo dos últimos dias Tamas Rohonyi deixou claro sua posição de contraposição sob o argumento utilizado pela FOM não se sustenta e que em novembro, quando a prova deveria ser realizada, as taxas do coronavírus estarão menores do que em alguns dos locais em que a F1 confirmou presença. Inclusive a região da Catalunha, mais especificamente em Barcelona e cidades vizinhas o número de casos levou o governo a estabelecer novas medidas de restrições e a Grã Bretanha impôs nesta semana medidas restritiva no tráfego de pessoas entre seu território e a Espanha, com a exigência de cumprimento de quarentena de 14 dias para quem chegar de lá para poder transitar em território britânico. Tamas Rohonyi tem razão em questionar esta justificativa. Daqui há duas semanas todo o aparato da F1 estará em Montmelló, justamente onde foram impostas medidas restritivas.

 

Apesar de não ter que pagar pela vinda da categoria ao Brasil e de, ter as vantagens da negociação de boa parte da publicidade, da totalidade das arquibancadas e de HCs, em uma corrida sem público e com as despesas decorrentes das demandas que uma corrida de F1 exige, até onde haveria vantagem econômica em realizar a corrida em Interlagos? Em meu entendimento, esta é a maior das muitas perguntas sem resposta nessa disputa.

 

Faço minhas as palavras do meu conterrâneo Carlos Drummond de Andrade: E agora, Tamas? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, Tamas?

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva