Pedro, o Grande Print
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Wednesday, 09 December 2020 23:06

Caros Amigos, Apesar da minha formação na área de ciências exatas, desde a infância tive a minha “paixão paralela” pelas letras, sendo um leitor destes “devoradores de biblioteca”, e com a felicidade de ter um terreno fértil por herança do meu pai e do meu avô.

 

A história da humanidade sempre foi um dos meus maiores interesses e esta tem alguns personagens que me impressionaram muito. Dois deles se chamavam Pedro. O primeiro, Simão Pedro, o primeiro “Papa”, a quem – segundo os evangelhos da Bíblia – Jesus determinou que “Pedro, tu és pedra e sobre esta pedra edificarás a minha igreja”. E Pedro assim o fez.

 

O outro ficou conhecido como Pedro, o Grande. Czar do império russo do final do século XVII e primeiras décadas do século XVIII. Pedro nasceu em 9 de junho de 1672, perto de Moscou, na Rússia. Ele tinha cerca de quatro anos de idade quando seu pai morreu. O meio-irmão de Pedro, Fiódor, se tornou Czar, mas morreu em 1682. Pedro e outro meio-irmão, Ivan, tornaram-se czares juntos. A irmã de Ivan, Sofia, governava o país enquanto Pedro crescia em uma cidade perto de Moscou. Pedro tomou o poder de Sofia em 1689, aos 17 anos. Em 1696, Ivan morreu e Pedro se tornou o Czar único da Rússia aos 22.

 

Além das vitórias na “grande guerra do norte” contra os suecos onde expandiu o território russo e quebrou o controle dos nórdicos no mar Báltico, também avançou contra os persas, expandindo as fronteiras para além do mar Cáspio. Mas não foi apenas militarmente que Pedro foi grande. Entre 1697 e 1698, Pedro viajou pela Europa ocidental disfarçado de carpinteiro de barcos. Seu objetivo era aprender o máximo sobre o modo de vida no Ocidente e levar essas ideias para a Rússia. Incentivou a indústria e o comércio, além de construir escolas e hospitais. Também tentou fazer com que os russos adquirissem uma aparência mais ocidental, criando impostos para aqueles que usassem barbas e roupas orientais.

 

Não vou esquecer nem desprezar os “nossos Pedros”, imperadores do Brasil no século XIX, mas – ao menos nesta coluna – deixarei para falar deles em outro momento para falar de outro Pedro, que nesta semana teve um ato de extrema grandeza ao expor-se de forma como só quem é grande seria capaz de fazer, honrando seu nome e o de sua família, os Piquet Souto Maior.

 

Terminada a temporada da F2 no último domingo, na segunda-feira eu recebi através de um dos nossos leitores a reprodução de uma postagem do jovem herdeiro do Clã Piquet sobre sua despedida da categoria, informando que não faria uma segunda temporada na mesma por não ver perspectivas de conseguir se impor tecnicamente ante a brutal força do capital para se dar o salto entre a F2 e a F1. Ele foi preciso e transparente como um verdadeiro Piquet!

 

Nós últimos 3 anos Pedro disputou duas temporadas na F3 e uma na F2. Nos dois primeiros anos chegou a vencer algumas corridas, mas não conseguiu ir além da 5ª posição no campeonato, sempre correndo em equipes médias. Este foi o caso na F2 em 2020. A Charouz não era uma equipe de ponta e mesmo como média, era algo difícil (Igor Fraga, outro brasileiro, na mesma equipe, na F3 que o diga) em uma categoria de base onde os resultados precisam aparecer para o piloto “sobreviver”.

 

Pedro comentou de forma objetiva que, mesmo correndo em uma equipe de ponta e sendo um dos melhores, ele viu pilotos nestes anos serem preteridos em função dos poderosos cifrões. Foi assim em 2019 com Nick De Vries, campeão da temporada e que não teve uma oportunidade, enquanto Nicholas Latifi foi para a Williams com a fortuna de seu pai, Michael, que garantiu a sobrevivência da equipe, além do lugar do filho. Em 2020, Callum Ilott, o vice campeão, também ficou sem oportunidade porque o 5° colocado (Nikita Mazepin somou 20 pontos como vice campeão da antiga GP3 em 2018 com os 20 da F2 este ano, conseguindo a Superlicença), foi beneficiado pela fortuna do pai que comprou uma parte do controle acionário da equipe Haas e garantiu um “contrato por vários anos”.

 

Frio e calculista, Pedro foi direto ao ponto: não conseguia ver alguma empresa brasileira – ou mesmo um grupo delas – investindo 25 milhões de Euros (mais de 150 milhões de reais) para se conseguir colocar um piloto brasileiro em um carro minimamente competitivo na F1 por um contrato de dois anos (talvez apenas um). Um alerta para Felipe Drugovich, que em 2021 vai correr em uma equipe mais forte, mas vai precisar desta fortuna caso consiga a Superlicença para dar o passo seguinte.

 

Para o esporte é profundamente lamentável que casos como o de Pedro, Callum, Nick e de tantos outros voltarão a se repetir. A FIA procurou, através do critério de pontos para se chegar à Superlicença diminuir o poder dos aportes financeiros para se chegar à F1. Ao invés disso, fez com que o peso financeiro se tornasse igualmente brutal nas categorias de acesso, ampliando o problema e inflacionando o acesso à F1.

 

Parabéns pela sua grandeza, Pedro. Você teve a coragem de falar aquilo que certamente estava preso na garganta de muitos pilotos pelo mundo. Brasileiros ou não.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva

 

  
Last Updated ( Thursday, 10 December 2020 09:21 )