As visões políticas dentro do esporte Print
Written by Administrator   
Monday, 08 April 2013 01:12

 

Caros amigos, ao longo desta semana vimos três questões políticas tomarem as manchetes esportivas ligadas ao automobilismo de forma direta. Uma delas, apenas numa questão interna, brasileira, mas que pode ser determinante até mesmo para o futuro do automobilismo internacional no nosso país.

 

Comecemos pelo assunto mais delicado, para não dizer grave: o conflito político-social no Bahrein.

 

Desde o último trimestre do ano de 2010, os governos de países árabes do norte da África e do Oriente Médio vem enfrentando uma onda de protestos e de reivindicações pró-democracia. Inicialmente, três nações passaram por fortes mudanças: em dezembro de 2010, na Tunísia, Ben Ali foi deposto pela Revolução de Jasmim. Em janeiro de 2011, no Egito, Hosni Mubarak renunciou após 30 anos no poder. Em fevereiro; na Líbia, Muammar Kadafi morreu baleado na sua cidade natal, em outubro.

 

Daí em diante os levantes da população continuaram a acontecer, em outros países. O Iemen teve seu, governo deposto, Argélia, Iraque, Jordânia, Kuwait e Omã tem grandes protestos, a Síria está em estado de guerra civil e no Bahrein os protestos se prolongam há quase três anos.

 

A sociedade ocidental, de uma forma geral e ingênua, tem aplaudido estes movimentos tidos como libertários tem toda uma conotação político-social-religiosa que pode fazer com que o que o ocidente considera ruim, pode se tornar até pior, ainda mais com a mais poderosa das armas do mundo atual: a comunicação em tempo real via internet.

 

A grande maioria dos países árabes tem os seus governos controlados por uma minoria – os Sunitas. Dentro da religião muçulmana existem algumas vertentes de pensamento e ação. Os Sunitas têm uma ação política e religiosa mais conciliatória e pragmática. Preocupados com questões que extrapolam o campo da religiosidade, os sunitas empreendem uma interpretação mais flexível dos textos sagrados, estabelecendo assim um maior diálogo com outros povos e adaptando suas crenças com o passar do tempo.  Já os Xiitas tem uma visão menos flexível dos ensinamentos do alcorão, o livro sagrado dos Muçulmanos.

 

Independente de terem ou não a maioria da população, como os regimes nestes países não é uma democracia, os Xiitas tem estado longe do poder e agora, com os movimentos revolucionários, além das ações por trás das ações da Al Qaeda. Há sérios riscos de que um mundo com governos diferentes dos atuais na região sejam mais difíceis de lidar do que os atuais e o que seria um problema interno venha a se tornar uma questão mundial.

 

Aí o amigo leitor que ainda não desistiu de ler a coluna vai perguntar: e o que isso tem a ver com o automobilismo?

 

Na visão de Bernie Ecclestone absolutamente nada! Para o mecenas da Fórmula 1 não interessa que regime político o país onde ele queira levar a categoria. Se o amigo leitor lembrar, ou pesquisar, verá que nos tempos do apartheid na áfrica do Sul o circo da Fórmula 1 tinha Kayalami em seu calendário.

 

Este ano, mais uma vez, o Bahrein vive protestos contra a realização do GP de Fórmula 1, marcado para o dia 21 de abril. Em 2011 os protestos e as ameaças à integridade dos integrantes do circo levaram ao cancelamento da prova. O movimento contra o Rei Hamad bin Isa al-Khalifa, exigindo o fim das políticas de exclusão, maior igualdade e mais liberdade. Em pouco tempo, a praça Pérola, no centro da capital, Manama, transformou-se em um campo de batalha entre os manifestantes e as forças de segurança, que tiveram ajuda dos militares da Arábia Saudita. Em 2012, com garantias do governo do Bahrein, mesmo com todos os protestos acontecendo, o GP foi realizado e até o presente momento nenhum fato de diferente relevância surgiu para que a corrida não ocorra este ano.

 

A questão que deixo é: o esporte deve ficar à margem da política ou posicionar-se, seja contra ou a favor, tendências, regimes, ideologias, independente de seus interesses, seja como esporte, seja como negócio?

 

Enquanto isso, no balcão do cafezinho...

 

Continuando na questão política, tivemos, como disse no início, algumas posições políticas em relação à Fórmula 1 esta semana.

 

A primeira vem do governo russo, que decidiu bancar a continuação do autódromo de Socchi, para que a Russia possa receber um GP da Fórmula 1 ainda em 2014.  O ministro das finanças da Rússia garantiu que irá disponibilizar os recursos necessários (1,8 bilhões de dólares) para a conclusão das obras de construção do circuito de Socchi, que pode entrar no calendário da F1 já na temporada 2014 e também para o projeto olímpico da cidade, uma vez que o autódromo, projetado por Hermann Tilke, faz parte do parque olímpico (igual ao nosso, não é?). Lá tudo tem o apoio do prefeito da cidade, Anatoli Pakhamov e do governador da província de Kransnodar, Alexander Tkachev.

 

Enquanto isso, aqui em São Paulo, o prefeito Fernando Haddad disse que não vai fazer as reformas pedidas por Bernie Ecclestone no autódromo de Interlagos. Segundo o grupo de estudo da prefeitura paulistana, a reforma do jeito que foi solicitada, com a ampliação do paddock, construção de novos boxes na área da antiga reta oposta e mudanças estruturais em alguns setores da pista e para o público custaria 120 milhões de reais, o que estaria fora de propósito.

 

O contrato da cidade com a organização da Fórmula 1 vai até 2014 e com tantos candidatos em potencial para receber a categoria, a capital paulistana não estaria em boas condições de contrapor-se aos desejos do promotor. Por outro lado, São Paulo é um excelente mercado de negócios para o bom velhinho e se tem uma coisa que ele não faz é rasgar dinheiro.

 

Uma obra séria não custaria a fortuna que foi orçada e não teria que seguir exatamente os planos que um arquiteto como o Tilke cobra. Se deixarmos nas mãos do nosso querido Chiquinho Lameirão, o projeto sai bem mais em conta. Interlagos precisaria sim, aproveitar aquela área ao lado da reta oposta para construir um paddock decente. Mas isso poderia propiciar uma retomada, fora da F1, do traçado antigo, com algumas outras reformas diferentes do que fazer arquibancadas. Hoje em dia isso se monta e desmonta e com a entrada dos novos boxes sendo depois do S do Senna, a curva do Sol poderia ser refeita... mas esta é uma conversa longa.

 

Conversa longa talvez venham ter os patrocinadores de Ana Beatriz Figueiredo com a piloto brasileira diante do seu desempenho nestas duas primeiras etapas da F. Indy. A inatividade pode ser o maior motivo do desempenho tão defasado da brasileira em relação aos demais pilotos. Ela tem sido mais de um segundo mais lenta que o penúltimo colocado do grid e em ritmo de corrida, não consegue acompanhar o pelotão. Talvez o investimento para que ela faça todas as provas até as 500 Milhas de Indianápolis seja o melhor a ser feito por ela, mas a pressão e a cobrança irão aumentar até a corrida no Brasil.

 

Passadas duas semanas da polêmica corrida da Malásia, o clima para os lados da Áustria anda quente, apesar da neve. Christian Horner tratou de declarar que o assunto entre Sebastian Vettel e Mark Webber já está devidamente resolvido e que os dois tem consciência que os verdadeiros adversários estão nos outros boxes.

 

Contudo, a grande notícia do jornal alemão ‘bild’ foi a negociação entre Mark Webber e a Porsche para que o australiano venha a defender a equipe de Stutgart no mundial de endurance em 2014 e que isso estaria ligado à sua saída da equipe de Dietriech Mateschitz.

 

Até o presente momento, todas as partes – exceto o jornal, claro – não cofirmaram nada sobre o assunto, mas como em tudo na vida, ‘onde há fumaça, há fogo’, o dono da equipe disse que se Webber quiser ir embora é uma opção dele, mas que ele é forte candidato à piloto da equipe para 2014 (o contrato de Webber termina no final deste ano).

 

Mas a bomba mesmo foi o anúncio da mudança de rumos na carreira de Pietro Fittipaldi. Que Emerson Fittipaldi é um empresário de sucesso e visão, todos sabemos, mas a articulação com o envolvimento das partes para mudar o rumo da carreira do neto é algo de impressionar.

 

Por trás do esquema está ninguém menos que Carlos Slim, o homem que já colocou dois pilotos (Sergio Perez e Esteban Gutierrez) na Fórmula 1 e que tem grandes interesses no mercado de telefonia brasileiro, tanto fixa quanto móvel, com suas empresas e um sobrenome com o peso Fittipaldi pode ser não apenas o que o empresário precisa, bem como o que o piloto precisa para subir os degraus até a Fórmula 1.

 

Degraus por sinal que serão subidos sem pressa. Pietro vai começar correndo de Fórmula Renault e de Fórmula 4, para se adaptar aos monopostos com os quais teve muito pouco contato. No melhor estilo do avô, que já era um piloto formado e que foi para uma categoria pequena como era a Fórmula Ford em 1969, Pietro parece que vai seguir a mesma receita.

 

Se seu sobrenome fosse Silva, Souza, Santos ou outro destes comuns aqui no Brasil alguém apostaria tão alto?

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva