Existem coisas nesta vida que a gente e nem ninguém explica. Uma delas é a morte. Tem gente que morre do nada, “sem avisar” (como se a morte mandasse aviso, não?). Mas tem gente que, no sentido oposto, escapa da morte por um ato destes que só depois de um fato ocorrido é que a “ficha cai”. Este foi o caso de Wilsinho Fittipaldi em 1987. Os irmãos Fittipaldi, segundo o próprio Barão, foram incentivados à pratica de todos os esportes, entre eles o s aquáticos. Emerson e Wilsinho velejaram na adolescência e juventude – tendo um desempenho não tão glorioso quanto o obtido nas pistas – além de terem feito muito esqui aquático nos anos 70 em companhia de vários pilotos nos canais de Bertioga e na baixada santista. Neste caso, com barcos a motor, que também atraia os pilotos pela velocidade. Wilsinho Fittipaldi inclusive chegou a chefiar um estaleiro onde eram construídos iates de luxo para um público diferenciado e, é claro, barcos com enorme potência e velocidade e para um piloto de corridas, velocidade é algo que está no sangue... seja na terra, no ar ou na água. E foi justamente na água que uma nova tragédia nacional esteve perto de acontecer. Acredito que todos os nossos leitores – pelo menos os com mais de 40 anos – lembram e/ou sabem quem foi Didier Pironi. Piloto técnico e muito rápido, tinha tudo para ser o primeiro campeão mundial de Fórmula 1 francês, antes mesmo no ‘pau de venta torta’ do Alain Prost caso não sofresse o gravíssimo acidente que quase tirou-lhe a vida e que precipitou o encerramento de sua carreira na Fórmula 1 e no automobilismo em Hockenheim, na Alemanha, em 1982. Na ocasião, Pironi tinha uma boa vantagem sobre os outros competidores e a Ferrari, apesar de ser um carro considerado perigoso de se guiar, vinha dando ao francês tudo o que ele pedia. Fora do automobilismo, Pironi encontrou outro meio de viver a vida em alta velocidade: o campeonato de lanchas offshore! Eram lanchas velocíssimas, que atingiam velocidades acima dos 80 Knots (milha náutica por hora), algo perto de 150 Km/h (1 milha náutica=1853 metros) e que tinham três tripulantes: o piloto, que comandava o volante; o ‘throtle’, que era homem que comandava os motores, dando potência nos mesmos da forma certa e na hora certa quando os hélices estavam na água (porque em boa parte do tempo a lancha estava ‘voando’) e o ‘tático’, uma espécie de navegador de rally, que passava as informações da prova para o piloto, sobre o posicionamento dos adversários. Em 1982, Didier Pironi tinha tudo para se tornar o primeiro campeão francês na F1. O grave acidente na Alemanha encerrou sua carreira. Durante um GP de F1 em Mônaco de 1987, mesmo estando afastado das competições desde desde o fechamento da equipe Fittipaldi, em 1982, começava a voltar a frequentar o circo da categoria. Neste retorno a Mônaco, Wilsinho encontrou com Didier Pironi e os dois tiveram uma animada conversa sobre a categoria offshore. Pirroni competia em um barco chamado ‘Colibri’, em companhia dos também franceses Jean-Claude Guénard e Bernard Giroux. A categoria de competição contava com personagens como o ‘consorte’ Stefano Casiraghi, marido da princesa Caroline. Pironi disse para o brasileiro que, para a corrida seguinte, o time estaria desfalcado, pois o Bernard Giroux não poderia correr e convidou o brasileiro para juntar-se ao time para a etapa que seria corrida em Southhampton, em agosto. Depois de voar pelos autódromos do mundo em um Fórmula 1, Didier Pironi investiu em voar mais uma vez, sobre a água. Wilsinho ficou todo empolgado com a ideia e topou imediatamente. Durante os dias que se seguiram, falou com diversas pessoas no principado sobre o assunto... até encontrar com o belga Jacky Ickx... que depois de ouvir atentamente tudo que o amigo brasileiro falara, fez uma pergunta: - Você quer morrer? Você tem ideia do risco que são estes barcos e esta competição? Ickx deu uma pequena mostra para Wilsinho, relatando fatos e dados sobre a quantidade de acidentes e mortes nestas competições que fez o brasileiro repensar tudo que tinha dito para Didier Pironi. Ainda naquele dia, procurou o francês e disse que estava desistindo da ideia de correr, que tinha visto que, tinha compromissos profissionais no Brasil que o impediriam de estar presente na Europa na data da corrida. Pironi lamentou a desistência do amigo e tratou de procurar outro integrante para o time. No final das contas, Giroux acabou conseguindo participar da etapa. No dia da prova, 23 de agosto de 1987, a tripulação do Colibri foi notícia no mundo inteiro: devido a uma onda maior e ao impacto do barco na mesma, o Colibri capotou e os três integrantes da tripulação morreram instantaneamente, fato que provocou a interrupção da competição! Após o acidente, o regulamento da competição mudou e todos os barcos tiveram, obrigatoriamente, de serem dotados de um cockpit fechado, rígido e resistente à impactos. A lancha Colibri após a capotagem. os três tripulantes tiveram, segundo os médicos socorristas, morte instantânea. Wilson Fittipaldi, segundo pessoas próximas, ainda embarga a voz todas as vezes que relembra este assunto. Felicidades e velocidade, Paulo Alencar |