Entre as imensas frases que li na tarde de domingo deste GP de Singapura na minha "twittersfera", fixei as frases ditas pela minha amiga venezuelana Serena Navarrete (recomendo uma visita do seu blog, o Café Serena) onde ela dizia, quando falava que o público fartava de assobiar Sebastian Vettel sempre que ele sobe ao lugar mais alto do pódio, que o piloto alemão, tricampeão do mundo - e é cada vez mais evidente que vai a caminho de um quarto título mundial - deveria ter a sua conta pessoal no Twitter, como (quase) toda a gente. A razão pelo qual ela diz isso é simples: Vettel é um dos dois pilotos que não têm conta oficial no Twitter. O outro piloto é Kimi Raikkonen. Ela defende que Vettel, ao ter a sua conta, poderia sair do seu “torre de marfim” e mostrar o seu lado mais humano, como faz Fernando Alonso quando se mostra receptivo a responder a perguntas ou a mostrar o que faz no dia-a-dia fora das pistas. E com a amostragem desse lado mais humano, segundo diz ela, provavelmente não haveria tantos fãs a assobia-lo no pódio e os seus críticos não diriam tanto que ele é uma “criatura” do Helmut Marko e que ganha só porque é Adrian Newey que desenha o seu carro. Nestes tempos de redes sociais, Facebook, Youtube e outros, onde esta geração cumpre em pleno a profecia da "aldeia global" ditada 50 anos antes pelo professor canadiano Marshall McLuhan, sabemos que não aparecer por aí quase significa "estar morto para a sociedade". E é para que nos mostremos quem somos e o que fazemos por aqui que temos toda esta parafernália: escrevemos em blogs, colocamos fotografias em Instagrams, dizemos os nossos estados de alma no Facebook e no Twitter, para que os nossos amigos, familiares e fãs nos saibam o que estamos a fazer. E o fazemos quer no nosso computador, quer cada vez mais frequentemente, nos nossos "smartphones" celulares, que na sua outra face mais nos viciam, tornam-nos escravos do instante. Sebastian Vettel: beijo no troféu sob vaias. Ele prefere a privacidade às redes sociais. Inevitavelmente, toda a gente quer lá estar nas redes sociais, e a Formula 1 não é excepção. Os pilotos têm, as equipas têm – quer em termos oficiais, quer em termos oficiosos, como o “Horse Whisperer”, da Ferrari; e o “Red Bull Spy”, da marca austríaca; os jornalistas; os canais de televisão; os blogueiros e até os humoristas. Sim, existem falsas contas de pessoas famosas só com objetivos humorísticos! Todos eles estão no Twitter, e eles estão todos mais acessíveis do que nos poderiam fazer imaginar. Para o ser humano dito “normal”, ter os seus ídolos do outro lado e interagir com eles sem intermediários é algo extraordinário. Mas este também é um mundo totalmente novo para muita gente e não tem aquilo que os meios de comunicação ditos “normais” têm: filtros. E os filtros os impedem de cometer uma “gaffe” do qual milhares farão “retweet” (RT) e do qual será tema de conversa por dias a fio, por exemplo. Ou de serem politicamente incorretos com uma mensagem inapropriada, como já aconteceu no passado com outros desportistas, de outras modalidades. No Twitter, ao contrário de outras redes sociais, são eles mesmos que falam, e logo, têm de haver mais cuidado, onde no Facebook, por exemplo, as suas páginas oficiais podem ser feitos por alguém contratado por eles. Kimi Raikkonen também não mantém perfil em redes sociais. O finlandês preza por sua privacidade. Contaram-me uma história há uns tempos atrás em que Bernie Ecclestone esteve bastante interessado em ter uma conta no Twitter, onde pudesse dizer o que pensava sobre os assuntos da atualidade, mas que foi persuadido pelos seus advogados de desistir da ideia, se calhar pelo facto de isto ser um meio cujo controlo daquilo que falamos é absolutamente impossível. Talvez seja por isso que Sebastian Vettel ou Kimi Raikkonen não se atrevem a mostrar-se nas redes sociais. O alemão porque preza imenso a sua privacidade e desliga-se da Formula 1 quando sai do circuito, o segundo porque não está interessado no mundo lá fora e não quer saber o que os outros pensam dele. E provavelmente se aparecesse por aí, iria ser sem filtros, sabendo que sairia mais prejudicado do que beneficiado. Bernie Ecclestone pensou em abrir uma conta em uma rede social: foi desaconselhado. Em suma, nem toda a gente se quer mostrar ao mundo. E quanto às vaias de Vettel, o Luis Fernando Ramos, vulgo o Ico, colocou uma citação de Nelson Rodrigues: “A vaia é o aplauso dos desanimados”. De uma certa maneira, é verdade. Saudações D’Além Mar! Paulo A. Teixeira
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