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O futuro do Brasil nas pistas pelo mundo: a fonte secou? (Parte 3 - Pilotos que correram na F1) PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Saturday, 28 September 2013 23:04

 

Há algum tempo o número de pilotos brasileiros que estão indo correr no exterior vem diminuindo. Pior, é cada vez menor o número daqueles que conseguem se destacar nas categorias de base. A consequência disto é que está cada vez mais difícil chegar nas categorias Top do automobilismo mundial.

 

Os custos para se correr estão cada vez mais altos e não dá mais para contar apenas com o “paitrocínio” ou a “ajuda dos amigos”. É preciso um esquema profissional para levar um piloto a se tornar um piloto de automóveis.

 

O que está acontecendo no Brasil é um problema técnico ou financeiro? Está faltando dinheiro para nossos pilotos conseguirem correr ou estamos carecendo de um trabalho de formação, de base, se é que este trabalho algum dia existiu. A fonte de talentos secou?

 

Será que a nossa perspectiva futura é a de ver o Brasil sair do cenário automobilístico internacional?

 

Ricardo Zonta

 

O problema que eu vejo hoje está nas categorias de base no Brasil. Não tem como a gente formar pilotos sem categorias de base fortes e só poderemos ter categorias de base fortes se tivermos pilotos em condições de correr nelas, custos acessíveis e apoio financeiro, patrocinadores que banquem parte dos custos destas categorias. Assim, o piloto passa a ter duas opções: tentar a carreira na Europa logo depois do kart, que requer um investimento muito alto hoje em dia ou ficar pelo Brasil e tentar fazer carreira aqui nas categorias de turismo, onde hoje temos o Brasileiro de Marcas e a Stock Car para ele chegar, mas é um mercado muito limitado, não são muitas categorias, muitas vagas.

 

Conseguir patrocínio para correr não tem sido fácil mesmo para correr aqui no Brasil. Para quem busca uma carreira internacional, pensando em dólar ou em euro fica ainda mais difícil e se o objetivo é chegar na Fórmula 1, que requer um investimento muito grande. Hoje não dá mais para chegar só com o talento, mostrar serviço e conquistar chefes de equipe, patrocinadores lá fora ou mesmo aqui, como foi na época em que corri. Hoje para se conseguir algumas dezenas de milhões de dólares, é preciso ter uma estrutura muito grande por trás. Hoje, se um piloto aqui da Stock Car chegar com 20 milhões de dólares numa equipe de Fórmula 1, ele vai conseguir uma vaga e vai correr na Fórmula 1.

 

Quando a realidade no mundo do automobilismo passa a ver o lado financeiro com mais intensidade, com mais importância do que do lado técnico, do talento do piloto, isso deixa de ser esporte, passa a ser puramente negócio e hoje a Fórmula 1 é muito mais negócio do que esporte, infelizmente. Com isso, certamente o piloto fica frustrado, pois o seu talento tem menos importância do que o tanto de dinheiro que ele pode ou não levar para uma equipe, de que ele vai conseguir ir mais longe porque tem dinheiro, não por que é bom. Além disso, para nós, aqui no Brasil, temos a diferença da moeda. O dólar vale mais de dois reais, o euro vale quase três. Fica difícil competir quando se tem que conseguir muito mais dinheiro do que o piloto que o país tem uma moeda mais forte.

 

 

Alex Dias Ribeiro

 

A fonte não secou, mas a gente deu um tiro no pé. A base, o início de tudo, que é o kart ficou tão caro, mas tão caro, que hoje a gente não tem mais como escolher pelo talento, mas por quem pode pagar pra correr. A “produção por atacado”, por assim dizer, de pilotos passou a ser uma coisa muito seletiva, e não pelo critério que deveria ser a seleção, que é a técnica, a habilidade, a capacidade do piloto, mas sim pelo seu “paitrocínio” ou pelo quanto de dinheiro ele consiga com patrocinadores para bancar sua carreira.

 

No tempo em que eu e o Nelson [Piquet] corríamos lá em Brasília, nós éramos mecânicos, a gente conseguia, com o dinheiro do nosso trabalho, comprar o equipamento, o combustível, os pneus e ir correr de kart, e andar na frente, vencer corridas. Hoje em dia isso é impossível. O piloto tem 10 motores, não sei quantos chassi, preparador físico, preparador psicológico, manager, assessor de imprensa, massagista... e o custo, a sofisticação do equipamento elevou os custos a tal ponto que nós perdemos a produção em massa.

 

Para que se faça um trabalho renascer na base, é preciso investimento, é preciso que uma grande empresa nacional apoie este início de carreira. A Petrobras tem um patrocínio na seletiva de kart que faz todo ano, mas muitos pilotos que a disputam já correm lá fora, vem aqui tentar buscar mais este dinheiro. Há também o investimento, que é pequeno em pilotos já prontos, que já estão há algum tempo no mercado.

 

Precisava existir um “kart social”, uma maneira de se custear, se subsidiar o kartismo para podermos ter um volume de praticantes considerável para a gente ter como garimpar talentos e a gente dar chance àqueles que não tem tanta condição financeira. O que estamos vivento hoje é a colheita daquilo que plantamos, na verdade do que não plantamos, nos últimos anos.

 

Temos ainda exceções, temos os dois Felipes, o Nasr e o Guimarães aí nas categorias de base, trilhando o caminho para tentar chegar na Fórmula 1, mas isso é muito pouco. Com isso, as perspectivas que se apresentam, não vejo muito como a gente continuar no cenário internacional. Também tem a questão de que o brasileiro é muito imediatista, quer aquilo que está pronto e ainda tem aquelas pessoas que falam, “ah, depois que o [Ayrton] Senna morreu, eu não vi mais F1”. Essas pessoas não viam F1, não torciam pelo esporte, não é o fã de automobilismo. Parece aquele torcedor de futebol que pensa em futebol na copa do mundo, de 4 em 4 anos. Se a gente não mudar a base, não despertar a paixão em mais torcedores pelo esporte que gostamos e não tiver um apoio forte, fica difícil.

 

 

Rubens Barrichello

 

Eu não acho que a fonte tenha secado, não. Hoje o kartismo brasileiro está muito forte, nossos garotos que estão começando estão chegando cada vez mais bem preparadas nas categorias mais à frente, só que uma coisa mudou ao longo destes anos: antigamente nós tínhamos uma quantidade de gente, de pilotos, tentando muito maior. Se a gente tem 100 tentando chegar, dez chegarem é um número bom. Se temos apenas 10 tentando, se chegar 1 chegou, mas pode não chegar nenhum.

 

Esta proporção é a realidade do que acontece no automobilismo e atualmente, com a questão financeira tomando uma importância, um peso cada vez maior, aumentando ainda mais a dificuldade para o piloto conseguir iniciar e se estabelecer no automobilismo internacional, em particular na Europa, tem feito com que os Estados Unidos tenham se tornado uma opção, mas mesmo lá o número de pilotos também diminuiu e hoje, muita gente não sai nem do Brasil, optando por tentar fazer uma carreira como piloto profissional aqui no Brasil mesmo, na Stock Car.

 

Eu não critico nem diminuo a importância daqueles que não conseguem ou nem tentam ir para a Europa e tentar a Fórmula 1. As coisas aqui são diferentes. O bom seria se tivéssemos um esquema semelhante ao existente na Inglaterra, onde existe um programa de patrocínio desde o kart, se tivéssemos isso aqui, teríamos os nossos Lewis Hamilton por aqui também.

 

O mercado americano é mais acessível, correr lá não é tão caco quanto é correr na Europa, acredito que podemos nos manter em evidência por lá, mesmo depois que o Helinho [Castro Neves] e o Tony [Kanaan] pararem, agora, para a Europa, para chegar na Fórmula 1, há um risco de termos um período sem pilotos na categoria depois do Felipe [Massa] por uns 5, talvez 6 anos, caso tenhamos um trabalho bem feito aqui no Brasil para voltarmos à F1. Do contrário... a perspectiva é esta mesma.

 

 

 

Roberto Pupo Moreno

 

A quantidade de brasileiros competindo no exterior não é assim tão pequena quanto muita gente pensa. A Fórmula Renault 2.0, que é hoje a categoria de base melhor estruturada na Europa como sendo um primeiro passo para um piloto que sai do Brasil para correr no exterior tem brasileiros. A categoria seguinte, que é a Renault World Series 3.5, de onde já saíram pilotos para a Fórmula 1 e o [Sebastian] Vettel foi um deles, tem quatro ou cinco brasileiros se não me engano. Então, não faltam brasileiros correndo no exterior.

 

O problema, o centro da questão é: será que os nossos pilotos estão saindo daqui preparados para enfrentar os desafios que o automobilismo europeu os reserva? É esta preparação do piloto aqui no Brasil, antes dele sair para buscar uma carreira internacional é que está necessitando de um “upgrade”. O piloto brasileiro hoje está levando algum tempo para encontrar o “caminho das pedras”.

 

Há quase quatro anos eu estou trabalhando com o Lucas Foresti e este trabalho de “coaching” vem dando resultados, mas é preciso entender que ir correr no exterior hoje é muito diferente do que foi na minha época, na época do Rubinho ou do [Felipe] Massa. Além de encontrar o caminho certo é preciso estar atento aos “espertos” que levam os pilotos por caminhos que não é o correto, o melhor.

 

Eu acho que sempre teremos pilotos brasileiros buscando o caminho do automobilismo internacional, seja na Europa, seja nos Estados Unidos.


 

Raul Boesel

 

Eu acho que é uma somatória entre o custo para se formar e sair do pais para correr e a formação dos pilotos, mas a formação, no meu entender, é o maior problema.

 

Não dá pra viver de “talentos natos” como tivemos alguns ao longo da história, é preciso formar e neste aspecto o kart tem um papel fundamental, mas, depois dele, tem que haver uma categoria de fórmula, para o piloto aprender, se desenvolver e isso não tem mais no Brasil. Eu não corri de Fórmula no Brasil e sofri muito para me adaptar a andar de Fórmula na Inglaterra.

 

As categorias de Fórmula que havia no Brasil acabaram. A última foi a que o Felipe Massa tentou manter, mas que não durou muito. A Fórmula 3 sulamericana tem custos altíssimos, é quase proibitivo para um garoto sair do kart e ir para ela por conta disso e este degrau está fazendo falta no amadurecimento do piloto.

 

Atualmente é mais viável – economicamente falando – o piloto que sai do kart tentar uma categoria fora do país, seja nos Estados Unidos ou na Europa que pode ser, financeiramente, mais barato, mas ele, para correr num lugar distante, sem exposição de mídia, como vai conseguir patrocínios para custear esta carreira? Se não tiver um esquema bem montado, não tem como levar adiante.

 

 

Ricardo Rosset

 

Tem uma questão financeira muito grave neste processo que é a falta de investimento no automobilismo de base, especialmente no kartismo. Correr de kart em alto nível no brasil custa muito caro e depois disso, o piloto não tem para onde ir porque também não há uma categoria de monoposto para o piloto correr depois de sair do kart no Brasil há um custo acessível.

 

Existem tantos mecanismos, leis de incentivo fiscal para tanta coisa no Brasil, existem estas leis para os esportes olímpicos, porque não pode existir também para o automobilismo? Quando eu corri, projetando uma carreira no exterior, depois do kart e antes da Fórmula 3 havia a Fórmula Ford. É um degrau na formação do piloto que está fazendo falta.

 

Um outro problema que temos e que afeta a formação de pilotos é a falta de infraestrutura. Quantos kartódromo temos em reais condições de receber competições de alto nível? Nossos autódromos estão com sérios problemas de infraestrutura e segurança. Sem categorias de base fortes, sem autódromos, não tem como formar pilotos.

 

As pessoas interessadas precisavam se unir para reunir empresas que se dispusessem a investir em um projeto, com participação das federações, da CBA para a criação de uma categoria de base de baixo custo que pudesse ser a base de formação dos pilotos saídos do kart. Daí o piloto pudesse ir melhor preparado para o exterior.

 

Se nada for feito, se não houver envolvimento das pessoas interessadas, envolvimento das empresas interessadas, a perspectiva de futuro é esta mesmo: não termos mais pilotos brasileiros na Fórmula 1. E isso já está prestes a acontecer este ano.

 

 

Chico Serra

 

Olha, trabalho de formação de pilotos aqui no Brasil nunca existiu! No passado, quando nós tivemos um kart mais forte, mais competitivo, havia em seguida para o piloto que saía do kart categorias como a Fórmula Ford e a Fórmula Chevrolet antes de se seguir para a Fórmula 3 e isso fazia o processo de formação dos pilotos, porque eram categorias fortes.

 

Hoje o grande problema do kart, que tem diminuído a competitividade da categoria é o custo. Correr de kart hoje está muito caro. Daí depois do kart, o piloto, sem categoria de monoposto aqui no Brasil, vai buscar a Europa, que também está muito diferente do que era quando eu fui pra lá. Antes havia um “caminho natural” que te levava à Fórmula 1. Hoje não existe mais isso.

 

Há um outro fator a se considerar que é a projeção das categorias de turismo, no mundo e também no Brasil. Isso também está mudando o foco dos pilotos e dando outras oportunidades de se profissionalizar como piloto, seja correndo no Brasil ou no exterior.

 

Em termos de Fórmula 1, no curto prazo, eu não vejo muitas perspectivas. É preciso que a CBA faça um projeto e leve este projeto a cabo para formar pilotos. Não adianta dizer que está filiando novos pilotos e cada vez mais pilotos se estes pilotos não tem onde e em que correr. É preciso fazer o kart ficar forte novamente, depois ter uma categoria de fórmula, básica, para depois o piloto tomar um caminho, seja no turismo, seja em Fórmula, seja no Brasil, seja no exterior.

 

Agora, se ele pensar em fazer carreira no exterior visando chegar na Fórmula 1, do jeito que estão as coisas hoje, vai ser preciso um super patrocinador, daqueles que invistam muito dinheiro para que o piloto possa dar todos os passos e chegar na Fórmula 1.

 

 

Ingo Hoffmann

 

Primeiramente, a fonte está secando... se já não secou, pois há muitos anos que não se faz um trabalho de base, de formação de pilotos no país. Não vou nem dizer que é algo que seja culpa da CBA que isso, não aconteça, embora a confederação devesse ser a primeira a buscar meios para que houvesse isso.

 

Paralelo a isso, outro problema sério é a questão financeira. As categorias estão cada vez mais caras e fica cada vez mais difícil o piloto conseguir reunir o dinheiro necessário para correr e andar na frente, com condições de competir. Apesar de tudo isso, a gente vem ainda conseguindo, nos últimos anos, ter alguns – vamos chamar de heróis – que tem encarado o desafio de tentar fazer uma carreira internacional. O problema é que, uns mais cedo, outros mais tarde, acabam parando por falta de dinheiro para investir na carreira.

 

Com a saída do Felipe Massa da Ferrari, vai ser muito difícil a gente ver novamente um brasileiro correndo num carro de ponta novamente na Fórmula 1. Podem até aparecer aqueles pilotos que vão chegar, andar numa equipe pequena, se muito média, mas de andar numa Ferrari, numa McLaren, numa Red Bull, eu acho que nunca mais!

 

Para que o Brasil volte a ter pilotos em equipe de ponta, só tem um jeito: que os interessados invistam pesadamente como algumas empresas de alguns países vem fazendo há alguns anos, patrocinando pilotos com potencial suficiente para andar bem. Quem é o maior interessado em que o Brasil tenha um piloto brasileiro andando na frente na Fórmula 1 e que ganha dinheiro com isso? A Rede Globo. Quanto ela fatura com a venda das cotas de patrocínio dos anunciantes? Se ela destinasse uma parte deste dinheiro das cotas de publicidade para que pilotos brasileiros pudessem conseguir um bom lugar na categoria.

 

Se um piloto brasileiro começa a vencer, disputar campeonatos, a audiência sobe e o valor da cota também e a TV ganha mais dinheiro. Ela vai se beneficiar disso. Só que eles fazem exatamente o contrário. Eles não dão retorno pra ninguém. Quem vê a transmissão das corridas da Stock Car, na hora que eles vão entrevistar um piloto, enquadram só o rosto, sem mostrar os patrocinadores do piloto, do carro, da equipe. Acontece a mesma coisa com os pilotos que correm lá fora.

 

Eu falei sobre isso em 1995/1996, depois da morte do Ayrton, com o Tamas Rohonyi, que era o promotor do GP do Brasil na época. Falei que a globo tinha que investir na carreira dos pilotos. Garimpar pilotos com potencial para se estabelecer, chegar na Fórmula 1, abrir espaço para este piloto para ele expor seus patrocinadores e assim ir fazendo uma troca, onde todos ganhariam.

 

Outra forma seria pegar estes anunciantes que compram cotas para anunciar nas transmissões de Fórmula 1 e aumentar em um pequeno percentual de valor e transferir este dinheiro para um projeto de investimento para manter um piloto numa equipe de ponta na fórmula 1 uma vez que não existe aqui um programa de formação de pilotos como a Red Bull tem na Europa. No Brasil nunca foi feito nada e hoje, ou se faz algo do gênero, ou não se consegue chegar numa equipe de ponta.

 

Isso pode ser uma visão muito estreita da minha parte, mas eu acho que quem mais tem a ganhar – e a perder – com isso é a Globo e ela não fez nada por isso, por manter pilotos nas categorias europeias até hoje, pelo contrário, ao invés de ajudar os pilotos a atrair patrocinadores, sempre trabalhou para esconder os patrocinadores dos pilotos.

  

 

 

 

 

 

Last Updated ( Tuesday, 22 October 2013 01:40 )