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A Stock e os pneus Pirelli: os mesmos problemas? PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Thursday, 28 November 2013 00:32

O ano de 2013 trouxe uma importante mudança na Stock Car: os carros da categoria trocaram de fabricante de pneus, adotando os “P Zero” da Pirelli. No ano anterior, a categoria sofreu muito com os pneus que eram utilizados (Goodyear) e nós chegamos a fazer uma coluna técnica nesta seção sobre o que estaria acontecendo.

 

Ano novo, pneu novo, vida nova? Inicialmente, nos testes feitos antes da primeira corrida da temporada, a empolgação foi geral. Os carros virando três segundos mais rápido do que com os pneus anteriores e apresentando um desgaste menor do que o visto em 2012. Contudo, ainda na primeira corrida, os primeiros pneus estouraram.

 

 

Ao longo da temporada, especialmente nas corridas onde a combinação “circuito de alta/alta abrasividade do asfalto/curvas predominantemente rápidas para o mesmo lado” fizeram-se presentes (Tarumã/Brasília/Cascavel) os carros da categoria tiveram uma maior incidência de problemas, mas longe dos problemas observados no ano anterior.

 

Isso nos fez questionar onde estaria o problema: seriam os pneus fornecidos adequados para os carros da categoria? Teriam os carros da categoria algum problema de construção ou configuração que nenhum pneu seria adequado para eles? Estariam as equipes extrapolando os limites de cambagem ou trabalhando com pressões fora das recomendadas pelo fabricante de pneus?

 

O site dos Nobres do Grid não vai julgar ou emitir pareceres sobre um assunto tão complexo. Afinal, com que profundidade de conhecimento poderíamos examinar ou emitir um parecer sobre os pneus da categoria? Por isso fomos ouvir os envolvidos. Conversamos com pessoas de todos os seguimentos envolvidos. Veja o que eles disseram.

 

Mauricio Slaviero – Diretor Geral da VICAR.

 

Da mesma forma que todas as questões técnicas são discutidas por todos os envolvidos na categoria, os pneus eram assunto no ano passado e continuam sendo assunto este ano. Pneu bem utilizado não tem problema. A Pirelli passa especificações para utilização para as equipes. Eles informam, a cambagem ideal, a calibragem ideal. Quem segue as orientações do fabricante, não teve problema nenhum até hoje.

 

O que está havendo é a má utilização por parte de algumas equipes. Quem não tem ultrapassado os limites, sim, porque não é uma questão de uma libra a mais ou a menos na calibragem, um décimo de ângulo a mais ou a menos na cambagem. Há uma margem para isso, logicamente. Trabalhar fora destes limites é assumir um risco.

 

Para o ano que vem, numa medida que nada tem a ver com o que aconteceu ao longo do ano, os pneus vão mudar. Serão construídos pneus com uma altura lateral um pouco maior e com uma banda de rodagem um pouco mais larga. Isso vai aumentar estas margens de utilização e permitie que as equipes trabalhem com mais possibilidades e estas alterações vão melhorar a performance do carro e como em 2015 teremos um chassi novo, este pneu vai ser uma evolução para aquilo que nós queremos para este novo projeto.

 

Valdeno Brito – Piloto da categoria pela equipe AM Shell Racing.

 

Eu acho que é algum problema de construção. Em comparação com os pneus do ano passado os pneus deste ano tem uma aderência muito maior. O fato dos pneus estarem estourando não é por um problema de desgaste. Já fiz várias corridas inteiras e depois da prova a gente examinar o pneu e ele não estar assim, “na lona”, com um desgaste excessivo.

 

Em autódromos como Tarumã, onde o desgaste é bem acentuado, mesmo lá não vimos um desgaste a ponto do pneu estourar, não por consumo. Eu acho que o problema está na lateral do pneu. O pneu tem um perfil muito baixo e o carro da Stock é muito pesado. Aí se o piloto e a equipe colocam uma calibragem muito baixa, acaba “dobrando” a lateral do pneu e ela acaba abrindo.

 

As equipes, na busca por uma melhor performance em prova e as vezes tem gente que força a barra, que decide correr o risco e entra naquela coisa da divisão entre a performance e o risco. Quando eles erram, mesmo que seja por pouco, a coisa dá errado. A questão é que a gente tem que procurar o limite. Não adianta pensar só em acabar a corrida, mas acabar a corrida bem, de preferência vencendo. Carro de corrida é pra andar no limite!

 

Daí a gente tem que usar o equipamento da melhor forma possível. Eu já estou sabendo que a Pirelli está trabalhando num outro pneu para o ano que vem e que os resultados foram bem positivos. Acho que com isso os problemas serão resolvidos. Vamos torcer para  que seja realmente encontrado e solucionado o problema para o ano que vem.

 

Mauro Vogel – proprietário da Vogel Motorsports.

 

O problema continua, a meu ver, no carro. O pneu deste ano continua sem resistir. O problema está em menor escala com a troca do fabricante, mas persiste. A maior prova disso é que o fabricante está mudando o pneu para o ano que vem. Vai mudar as medidas, tanto na altura da lateral como na banda de rodagem.

 

Todas as equipes tem trabalhando, ao longo da temporada, para adaptar suas condições, trabalhando mesmo dentro dos limites de cambagem e calibragem sugeridos pelo fabricante, a gente não consegue terminar a corrida com os pneus inteiros. Mesmo quando não há o estouro ou o rompimento da lateral ele apresenta bolhas.

 

No ano passado nós tínhamos problemas com a temperatura de trabalho dos pneus, problemas para refrigerar os pneus. Este problema não temos mais. O problema está no tanto que o carro exige dos pneus. O carro é pesado, as forças laterais que estão sendo impostas aos pneus está além da capacidade de resistência deles. A solução está na mudança das medidas dos pneus e eles, os fabricantes, já estão mudando isso para o ano que vem. Hoje a gente está trabalhando no fio da navalha: exigir o mínimo do pneu e ser rápido. Isso é uma coisa um tanto complicada e mesmo assim, é pra terminar a corrida no limite... podendo não terminar.

 

Zeca Giaffone – Diretor da JL, empresa construtora dos carros da categoria.

 

Na minha opinião é calibragem e cambagem. O fabricante passa para todos nós, variando de circuito pra circuito, quanto as equipes devem colocar de cambagem e de pressão nos pneus para terminar a corrida sem problemas. Claro que este valor tem uma tolerância, pra mais e pra menos. Quanto ao carro, em termos de construção, não nos foi trazido nenhum problema até agora.

 

Se você for levantar os dados do ano inteiro, vai ver que algumas equipes não tiveram problemas de pneus, e outras tiveram. Normalmente quem tem problemas tem problemas nos dois carros. É bem problema de acerto, as vezes também por conta da característica do piloto. Tem piloto que tem uma guiada mais agressiva e esse sempre vai exigir mais do pneu do que aquele que tem uma guiada mais suave.

 

No ano que vem a Pirelli vai trazer um pneu novo pra categoria, este pneu já está em teste, já foi pra pista com o carro deste ano e não teve problema nenhum. Pelo que se viu nos testes, o pneu vai ser mais durável. Ele tem um perfil maior e meia polegada a mais de banda de rodagem.

 

O carro da Stock, para seu peso e seu motor, que trabalha limitado, ele tem pneus que podemos considerar pequenos. Eles deveriam ser mais largos para ser compatível com a potência que tem, mas isso é pra todos e todos tem que se adaptar a isso. Em alguns casos o problema não foi o pneu, foi a pista, como Cascavel no ano passado. Eles melhoraram a pista e este ano já não tivemos tantos problemas.

 

Andreas Mattheis – Proprietário das equipes AM Red Bull Racing e AM Shell Racing.

 

Vamos analisar uma coisa: os carros estão sempre evoluindo e a partir do momento que eles ficam mais rápidos, especialmente em curvas, vão exigir mais dos pneus, que tem que evoluir também. Carros mais modernos, com um perfil similar aos nossos Stock Car tem pneus com perfil mais alto para que a carcaça possa absorver melhor as forcas, especialmente as laterais para que, quando o pneu deformar ele não se rompa quando o desempenho do carro exigir isso deles.

 

Na minha opinião houve um erro quando se quis manter o tamanho das rodas que estamos usando hoje quando mudou-se o fabricante. Chegaram para a Pirelli e falaram: “a gente tem esta roda e vocês tem que encontrar, que produzir um pneu para isso aí”. Eu acho que tinha que ter sido feito um trabalho no sentido de aumentar as rodas, especialmente o das rodas traseiras, adotando um perfil mais alto. Se isso tivesse sido feito, acredito que não teríamos visto os problemas que vimos este ano, que foram só nas rodas traseiras.

 

Agora, o que acontece também é que isso aqui é competição e em competição todo mundo busca performance. Então as equipes vão explorar a cambagem até o limite, baixar a pressão dos pneus até o limite. Na corrida, o piloto uma hora tem como poupar o pneu, outra hora ele vai ser mais agressivo, vai usar mais da zebra, vai forçar mais o pneu. Tudo isso tem que ser levado em conta. No ano que vem este problema do pneu tem um trabalho em andamento para que, no ano que vem, tenhamos um pneu mais alto e mais largo na traseira dos carros.

 

Jonathan Wells – Engenheiro responsável da Pirelli no Brasil designado para a categoria.

 

Ainda em 2012, quando já estava definido que nós iríamos ser a fornecedora de pneus da categoria para 2013, nós fizemos dois testes com um carro da JL para ver o que teríamos de desafio para a temporada. Nos foram passadas as medidas do pneu, da roda e nos foi pedido um pneu mais resistente.

 

Em 2013, antes da etapa de Interlagos, nós tivemos a oportunidade de por em prova o que tínhamos feito, baseado nas informações de telemetria recolhidas nós fizemos um pneu que mostrou-se muito bom. Os carros viraram mais rápido e mostrou que estávamos no caminho certo. Com a temporada iniciada, tínhamos 34 carros e não apenas um para analisar e melhorar o nosso pneu.

 

É lógico que, no início, a nossa referência para a construção do pneu era o pneu da fornecedora anterior, com suas virtudes e problemas. Mas foi a partir do trabalho inicial que fizemos que conseguimos chegar ao produto que temos hoje e que consideramos ser um bom produto. Logicamente, continuamos trabalhando para aperfeiçoá-lo e o retorno que temos das equipes é fundamental. Pistas onde os pneus são mais exigidos como Cascavel, Brasília e Tarumã continuam sendo um desafio a mais para nós e temos trabalhado duro para identificar os problemas e resolvê-los. Mas acho que, em relação ao que se viu no ano anterior, houve uma evolução.

 

Em relação a Cascavel, por exemplo, onde corremos duas vezes este ano, fizemos testes privados com o carro da JL e passamos uma série de recomendações para as equipes. A questão é: até onde eles seguem o que recomendamos. Não podemos obrigar os chefes de equipe a fazer aquilo que sugerimos, mas se eles decidirem ir além do que é recomendado, não podemos ser responsabilizados, isto é fato.

 

Não estou acusando ninguém de ter feito algo não recomendado, mas se há pilotos e carros e equipes que tem problemas e outros não, até mesmo vencendo as corridas ou chegando em boas colocações, isso é algo que podemos questionar. Em nossa análise, não há nada de errado com o nosso pneu.

 

Para 2014 estamos preparando um pneu com uma lateral mais alta e uma banda de rodagem mais larga. Isto deve melhorar a resistência do conjunto e aumentar a estabilidade do carro. Já fizemos alguns testes com este novo pneu e os resultados foram excelentes. Acredito que no ano que vem os carros ganharão bastante com o novo pneu, mas continuaremos fazendo recomendações e esperando que elas sejam seguidas.

 

 

Last Updated ( Thursday, 28 November 2013 23:25 )