Mais um ano se passou... Não! Não vou escrever aqui a letra da canção a lua e eu, no entanto essas cinco palavras precisam ser proferidas quando se trata de fazer uma análise que, francamente me incomoda. Depois da divulgação dos calendários do Brasileiro de Turismo e da Stock Car, tive o cuidado de conversar com o diretor da Vicar (empresa que promove as duas categorias) Maurício Slaviero sobre o porquê das categorias não disputarem provas no Ceará, no Autódromo Internacional Virgílio Távora, na cidade do Eusébio. A resposta até que já sabia, mas o dever jornalístico me impede de publicar suposições como sendo verdade e aí percebi que aquele autódromo construído numa área de 33 hectares e que, em 1960 era o segundo autódromo homologado pela Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA), iria ficar mais um ano sem receber etapas de uma categoria nacional. A última vez que uma categoria nacional disputou etapas na pista cearense foi em 2009 com Fórmula Truck. Os velozes caminhões, que iniciam a temporada de 2014 no Autódromo de Caruaru, em Pernambuco, correu em solo alencarino nos anos de 2006, 2007, 2008 e 2009 e, pelo mesmo motivo que a Stock Car não põe seus carros por essas bandas, ela deixou de prestigiar o Ceará. Em comum as duas categorias reclamam da falta de áreas de escape adequadas para os seus bólidos. Tanto na Stock, quanto na Truck, as áreas de escape não oferecem a segurança devida, já que precisariam ser alargadas. Hoje a pista é segura para os carros quer nela correm. A potência dos motores 1.8 do Norte/Nordeste de Protótipo, 1.6 do Cearense de Marcas, e 1.4 do Cearense de Superturismo não geram velocidades superiores a 190 Km/h no fim da reta de 600 metros e a atual área de escape se mostra adequada para tais carros. Maurício Slaviero lembra ainda que os boxes precisariam ser ampliados, pois a Stock Car tem 33 carros enquanto que são apenas 26 boxes no autódromo cearense. A opinião do atual diretor da Vicar é a mesma de seu antecessor. Em uma entrevista ao site Carros e Corridas em junho de 2012, o ex-piloto e então “homem forte da Stock Car”, Carlos Col respondeu algo semelhante ao Slavieiro quando fiz a seguinte pergunta: a região Nordeste está nos planos da Vicar? Além da Bahia, há interesse em trazer provas para Caruaru (PE) e Eusébio (CE). Com essa nova estruturação da Fórmula Três, há chances de correr no nordeste, já que há vários pilotos em formação nesses estados? “Certamente a Vicar tem interesse em fazer automobilismo em todo o território nacional, existe porem alguns fatores a serem considerados. O automobilismo na região nordeste precisa de uma fase de desenvolvimento que o coloque no patamar que merece. Pelo menos um autódromo por estado e um número maior de kartódromos é altamente desejável, além de um projeto de fomento da prática do nosso esporte na região. Para isto é necessário um projeto bem estruturado e um forte apoio às federações locais para a sua implementação. Gostaria de ter visto a CBA fazer isso, mas não houve qualquer ação consistente neste sentido. Outra questão a ser considerada para que campeonatos brasileiros corram no nordeste é a barreira da distância e o consequente custo de logística para equipes e pilotos. Mas se existirem autódromos de bom nível, preferencialmente nas capitais, os patrocinadores se interessarão e as verbas necessárias surgirão”, afirmou Carlos Col. (veja a entrevista na íntegra: http://www.carrosecorridas.com.br/2012/06/carlos-col-faz-criticas-a-cba-em-entrevista-ao-carros-e-corridas/). Outro que entrevistei e pensa igual é o piloto Valdeno Brito. O paraibano respondeu a seguinte pergunta: A Stock Car realiza corrida na Bahia em uma prova de rua, enquanto que os autódromos do Eusébio (CE) e Caruaru (PE) não recebem provas desta categoria, apesar da Fórmula Truck correr em Caruaru e ter corrido no Eusébio até 2010. Você ache que esses dois autódromos carecem de maior estrutura? “Obviamente adoraria correr de Stock Car em Pernambuco, Ceará e, claro, Paraíba. O povo do Nordeste ama automobilismo e sente falta quando ele não vem. Prova disso é a corrida de rua em Salvador que a Stock faz e a que a Truck promove em Caruaru. O sucesso de público é garantido em ambas. Se fizermos a corrida, o público vem. Só que o carro da Stock precisa de certo nível de estrutura de autódromo para correr, e por isso que reformas seriam muito bem vindas nestas duas pistas”, disse Valdeno. (veja a entrevista na íntegra: http://www.carrosecorridas.com.br/2013/06/valdeno-brito-em-entrevista-ao-carros-e-corridas/) Procurei o presidente da Federação Cearense de Automobilismo, Haroldo Scipião Borges e o indaguei sobre o antigo projeto de reforma do Autódromo Virgílio Távora. Em resposta ele me disse haver um projeto da Federação, que encaminhou ao Governo do Estado, através da Secretaria do Esporte do Estado do Ceará (Sesport), já que o autódromo pertence ao Governo do Estado, para que fosse colocado dentro do Orçamento Estadual no exercício de 2014, que ainda deve ser votado na próxima semana na Assembleia Legislativa do Estado do Ceará. No entanto, de acordo com informações da assessoria de imprensa da Secretaria do Planejamento e Gestão do Estado do Ceará (Seplag), responsável pela elaboração da Lei Orçamentária Anual (LOA), não há dotação específica no texto da LOA 2014, mas, há verba para a Sesporte que pode ser utilizada em uma reforma, caso todo o orçamento seja aprovado pelos parlamentares cearenses. Aí é esperar para ver se a FCA conseguirá, junto ao Governo do Estado, destinar algum repasse para obras no Autódromo Virgílio Távora. Esta reforma tão esperada deve, segundo projeto que tive acesso, concluir a torre da direção de prova (que recebeu mais um andar em 2013) nova sala de imprensa, reforma e ampliação do número de boxes e a construção de um anel externo, o que viabilizaria provas da Stock Car, Fórmula Truck e Gran Turismo, por exemplo, evitando assim a utilização do traçado pelo “miolo” interno com várias curvas. É preciso entender que corrida de automóvel não é somente carro correndo dentro da pista não! Este tipo de evento atrai público, gera renda, empregos e aquece a economia. O Nordeste brasileiro pode ser encarado como um capítulo à parte no cenário automobilístico nacional. Uma região com mais de 54 milhões de habitantes, onde são registrados mais de 310.000 carros novos por ano só possui dois autódromos. Muito pouco para quem pretende entrar no cenário automobilístico nacional. A realização da prova da Stock Car nas ruas mostra que é possível viabilizar corridas na região, desde que se consiga atender às exigências no quesito segurança e infraestrutura. O GP baiano é uma grande jogada de marketing turístico. A área do Centro Administrativo da Bahia (CAB) fora a escolhida para receber a pista de 2.774 metros. Para deixar o traçado em condições de receber a Stock Car, são colocados seis mil metros de barreiras de concreto e o asfalto que dava passagem a ônibus e carros de rua foi recapeado para receber os bólidos com seus V8. Eu estive na Bahia em 2011 e, apesar de ter ouvido críticas ao circuito de rua, a prova atrai um bom público. Muitos torcem o nariz para corridas em circuito urbano, no entanto, é uma realidade em todo o mundo. Mas acredito que o público baiano merecia um autódromo, pois, em sua grande maioria, as corridas no CAB se assemelham a uma verdadeira procissão, lembrando um engarrafamento, um atrás do outro sem dar chance nenhuma de ultrapassagem. Confesso ao leitor minha inquietude ao relatar essas histórias e lanço alguns questionamentos. Não seria mais fácil e menos oneroso reformar os autódromos de Caruaru e Eusébio para receber categorias nacionais? Não tá na hora da CBA e das federações buscarem o instrumento das Parcerias Público-Privado (as PPPS)? Acho que esperar apenas pelos governos é um atestado da miopia que atinge os que dirigem o nosso automobilismo. Defendo o investimento governamental, pois há o retorno, no entanto, é preciso pensar o autódromo como um local não somente para corridas. Que tal criar uma parceria com o Serviço Social da Indústria (SESI) para montar uma unidade de formação de mecânicos de competição? E por que não alugar o autódromo para shows e apresentações musicais? Outra questão que sempre bato é com relação ao incentivo fiscal para as empresas que invistam em automobilismo. Um setor gigante como o automotivo nacional se investisse meio por cento do que investe em futebol ajudaria em muito a termos boas praças de corrida e, consequentemente bons campeonatos, mais pilotos, mais público, mais. É preciso pensar grande. É preciso pensar! Vou ficando por aqui, até o próximo mês. Robério Lessa
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