Quando você estiver a ler estas linhas, já terá acabado a segunda sessão de testes coletivos desta pré-temporada, que acontecem em paragens barenitas. No circuito de Shakir, todas as equipas do pelotão tentam se adaptar os seus carros aos novos regulamentos dos motores V6 Turbo, de 1,6 litros, mas se os carros com motor Mercedes parecem estar contentes por terem os melhores tempos, e a Ferrari não tem muito motivos de queixa dos seus motores, o grande problema é a Renault, que se viu com problemas graves na refrigeração e resistência dos seus motores. Desde o primeiro dia de testes, em Jerez, os carros têm tido dificuldades atrás de dificuldades em fazer funcionar os seus motores. Existiam boatos nas semanas anteriores a estes primeiros testes que haveriam dificuldades nos primeiros motores Renault V6 Turbo, mas foi quando os carros é que andaram pela pista que se pode ver a extensão dos prejuízos. Principalmente na Red Bull, a campeã inconstestável desde a temporada de 2010. Com o novo chassis RB10, espera-se que a marca sediada em Milton Keynes pudesse ter um chassis e um motor capaz de se manter nos primeiros lugares, como acontece desde o inicio da década. Mas o teste de Jerez foi um desastre: constantes problemas de sobreaquecimento e discussões acesas entre Newey e o representante da Renault, fizeram com que o projetista regressasse a Milton Keynes um dia antes do final dos testes, com Sebastian Vettel e Daniel Ricciardo a rodarem ao longo daqueles quatro dias… 21 voltas ao todo. Cerca de um décimo que a Mercedes rodou no circuito espanhol. Dos três motores turbos que equiparão os carros da F1 nesta temporada, o Renault foi o último a ser apresentado. No passado dia 18, Adrian Newey admitia que as coisas iriam ser complicadas para a Red Bull, e fazia alguma “mea culpa” em relação à preparação do carro com vista aos primeiros testes, em Jerez: “O que nos fez parar em Jerez foi um problema onde a carenagem do local do exaustor começou a pegar fogo”, explicou num jantar em sua homenagem no Royal Automobile Club, perante 200 convidados. “Assumimos a responsabilidade, pois era um problema da Red Bull. Era, você pode argumentar, o resultado de um pacote agressivo. Nós sentimos que precisamos correr alguns riscos para tentar ter um bom pacote que minimizaria o dano aerodinâmico desta grande exigência de arrefecimento”, justificou. Na sua visão, a pressa em terminar o carro fez com que esses componentes não tivessem sido devidamente verificados nos dinamómetros da marca: “É um problema do qual esperamos que possamos resolver até ao Bahrein. Foi realmente por falta de tempo”, começou por comentar. “Era algo que poderíamos ter visto no dinamómetro se tivéssemos conseguido terminar tudo mais cedo”, reconheceu o dirigente. Desde a primeira ida para a pista, em Jerez, os carros da Red Bull, equipados com os motores franceses tiveram problemas. Newey também afirmou nesse jantar que os motores “Renault parecem ter uma grande exigência em termos de arrefecimento. Todas as três fabricantes de motores irão ter uma meta diferente em relação ao fluxo de ar quente que vai voltar para a câmara, e a Renault nos deu uma meta bem desafiadora, com todos os tipos de vantagens se conseguirmos chegar lá, mas do qual não é fácil de alcançar”, concluiu. Contudo, no Bahrein, os problemas continuaram. Para terem um exemplo, logo no primeiro dia, Sebastian Vettel teve de parar o seu carro após oito voltas(!), com um principio de incêndio, e na quinta-feira, conseguiu rodar 55 voltas, mas os tempos eram 5,5 segundos abaixo dos tempos do “rookie” Kevin Magnussen, o mais rápido desse dia. E os motores não aguentam: Kamui Kobayashi, o piloto japonês da Caterham, comentou que em linha reta, os motores Renault serão 20 a 30km por hora mais lentos do que Ferrari e Mercedes. Este ano, fazer os carros andar vai ser mais complexo do que jamais foi. “No momento, definitivamente, estamos muito fracos, então damos o máximo de oportunidades para eles trabalharem e depois vamos trabalhar no nosso carro. Estamos esperando pelo motor”, começou por dizer Kobayashi em declarações ao site brasileiro Grande Prêmio. “Durante os testes, encontramos outros carros e podemos ver claramente que os da Mercedes são muito mais rápidos nas retas, 20 a 30 km/h a mais, e isso significa pontos de travagem diferentes, tudo, se tivéssemos a potência correta”, comparou o piloto. “Vamos ver o que podemos fazer rapidamente. No momento, estamos bem atrasados”, concluiu o piloto japonês. Em suma, a Renault e as equipas que têm os seus motores irão ter muitos problemas. Assim sendo, parece que estamos a caminho de assistir a 16 de março, em Melbourne, a um pesadelo por parte das equipas com o símbolo do losango. Ver uma divisão entre os Mercedes e a Ferrari, com a Renault, poderá significar que, por exemplo, Sebastian Vettel seja uma carta fora do baralho na luta pelo título. E isso faz-me lembrar os primeiros tempos da Renault Turbo, onde o carro era “carinhosamente” apelidado de “chaleira amarela” (ou “bule amarelo”) devido ao facto da sua potência ser inversamente proporcional à sua resistência. Quem for ver as estatísticas da carreira de Jean-Pierre Jabouille, por exemplo, poderá ver que em 55 corridas, apenas acabou três nos pontos. Mas pelo menos em duas ocasiões, foram vitórias! Motores turbo na Renault com problemas. Uma reedição dos motores da era turbo dos anos 70/80? Contudo, em Vitry-Chatillon, a sede da Renault, corre-se contra o tempo para que uma nova evolução do motor Renault esteja pronto a tempo da primeira corrida europeia, em Barcelona. Contudo, isso poderá significar que essas equipas passarão o tempo a recuperar o tempo perdido, e mesmo com a ideia dos pontos a dobrar na última prova do ano, poderá significar que a distância seja irremediavelmente irrecuperável. Saudações d’além mar, Paulo A. Teixeira
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