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A CBA está cumprindo o seu papel? (3ª parte: Dirigentes e promotores) PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Thursday, 20 March 2014 22:13

Há décadas, entra presidente, sai presidente, a Confederação Brasileira de Automobilismo é alvo de críticas. As vezes mais duras, em outros momentos nem tanto, mas sempre sob críticas. A CBA tem cumprido ou deixado de cumprir o seu papel como órgão gestor do automobilismo brasileiro? As críticas tem fundamento? São infundadas? O que a CBA pode, precisa ou deveria fazer para realmente cumprir seu papel?

 

Paulo Scaglione – Ex-Presidente da CBA.

Essa é uma questão muito complexa e abrangente. Cumprir o que está previsto no estatuto da Confederação, que é supervisionar e incentivar a prática e o desenvolvimento do esporte a motor, por muitas vezes esbarra na limitação do poder de atuação que a mesma tem, deveria ter e não consegue ter.

 

Um exemplo disso passa pela utilização dos autódromos: A Confederação e a FASP podem utilizar o autódromo de Interlagos a 100%? Não! Porque? Porque este pertence à Prefeitura da cidade de São Paulo e se eles desejarem fazer alguma outra atividade no autódromo, esta irá acontecer em detrimento do automobilismo.

 

Outro exemplo é o que está acontecendo em Curitiba, onde há uma notícia correndo de que o dono do autódromo tem a intenção de vendê-lo. A CBA ou a FPRA pode fazer alguma coisa em relação a isto? Não! Porque o autódromo é um bem privado e sendo assim, o dono não pode ser impedido de fazer o que ele quer com sua propriedade.

 

Um outro problema é interno, porque a base foi mal feita. Dentro da CBA existem diversas federações estaduais que não tem a menor condição de estar funcionando. Quando eu era o presidente, no meu segundo mandado, informei a todas que, em caso elas não estivessem 100% regularizadas, seriam desfiliadas. Daí formou-se um grupo de 12 ou 13 federações que acabou por apoiar uma outra candidatura, a do Cleyton Pinteiro.

 

Eu não considero correto uma federação como, por exemplo, a da Paraíba, que não tem um autódromo, que não tem um kartódromo e que tem um número insignificante de pilotos ter o mesmo peso, o mesmo voto de uma federação como a do Paraná, que tem três autódromos, diversos kartódromos e centenas de pilotos filiados.

 

O que mantém a estrutura da CBA, há muito tempo, é um jogo de interesses políticos e enquanto este modelo persistir, além das limitações que ela tem por não ser um órgão que tenha dinheiro para ter um autódromo ou custear projetos, não vai ter como fazer muito mais do que é feito hoje. Este modelo precisaria ser mudado.

 

Quem tinha uma ideia e um projeto para uma profissionalização do modelo de gestão no automobilismo brasileiro era o Carlos Col, que foi promotor da Stock Car. Caso um modelo como o que ele pensou fosse implementado, a curto prazo a gestão da CBA esta melhoraria em 10, talvez 20%, porque para se consertar as distorções existentes hoje não seria algo que uma pessoa faria em pouco tempo. Acho que até mesmo um mandato seria pouco.

 

Zeca Monteiro – 3º Vice-Presidente da CBA.

Eu acho que a CBA não tem deixado de fazer o seu papel, muito pelo contrário. Especialmente nestes últimos 5 anos, quando houve a mudança da diretoria da Confederação. Mas é preciso ver que mudanças nem sempre são simples de ser feitas e levam tempo para acontecer.

 

Eu vejo as criticas de forma construtiva. A CBA, assim como qualquer entidade, está sujeira a erros, mas também tem como objetivo evitá-los. Mas eu acho que esta gestão da CBA tem acertado mais do que errado. Hoje as pessoas que criticam a CBA a criticam porque ela faz. Antes eu via criticas à CBA porque ela não fazia. Uma coisa é você fazer as coisas por fazer, outra é traçar planos e segui-los para atingir um objetivo.

 

É claro que nós gostaríamos de poder fazer mais, mas é preciso lembrar que a CBA tem um orçamento pequeno e com ele fazemos o que é possível fazer. Uma das coisas que temos investido muito é na formação e no aperfeiçoamento dos comissários desportivos. Há mais de 10/15 anos não se investia na formação de novos comissários. Eram sempre os mesmos. Isso é algo que a CBA tem feito, mas que não aparece.

 

Já faz algum tempo que o Brasil deixou de ter uma categoria de formação de pilotos para o estágio seguinte de suas carreiras após o kart. A CBA tem procurado alternativas para que nossos jovens possam continuar o desenvolvimento de suas carreiras. Há no momento um investimento forte na Fórmula 3, onde por meio de incentivos e isenções a CBA conseguiu, junto com os promotores e as equipe reduzir o custo da categoria e, com isso, acreditamos poder aumentar o grid e a competitividade.

 

Foi feito ainda o investimento em uma categoria ainda mais barata, levando os carros da antiga Fórmula Brasil, que inicialmente pensamos em fazer a F. Universitária, com as equipes servindo como laboratório de formação de engenheiros e mecânicos, para o Rio Grande do Sul e junto com a Federação Gaucha de Automobilismo fazer a Fórmula Jr. E estado tem 4 autódromos e os pilotos tem a chance de aprender muito.

 

Além disso, tem havido um investimento no desenvolvimento do automobilismo regional, fortalecendo os campeonatos de turismo regionais e, no final do ano, realizando a Copa Brasil, 1600, com os melhores pilotos destes campeonatos. A CBA tem disponibilizado carretas para transportar estes carros, cruzando o país, de graça, para correr. Assim como foi feita a Copa das Federações de Kart, promovendo um torneio brasileiro com baixo custo, com equipamento igual para todos, estimulando a competitividade. Como vocês podem ver, estamos procurando fazer automobilismo. Gostaríamos de poder fazer mais, mas não se pode dizer que não fazemos nada.

 

Dione Rodrigues de Souza – Ex-Presidente da FADF e Ex-Vice-Presidente da CBA.

Não, não tem e não uma questão de administração dos últimos quatro anos. O grande problema da gestão da CBA é a politicagem que é feita para se conseguir estar na posição de “gestor” do automobilismo.

 

O objetivo, a razão de ser das federações estaduais e da confederação é gerir o esporte,certo? Quem gere a Stock Car? A VICAR. Quem gere a Fórmula Truck? A Dona Neusa. Quem gere a Porsche Cup? O Dener, Quem gere o Brasileiro de Marcas? A VICAR. E a CBA gere o que? Não tem o que gerir porque os campeonatos disputados não são geridos por ela, são pelos promotores.

 

A CBA tem incentivado o automobilismo de base? Não. A CBA tem incentivado o kart? Não. O último brasileiro foi caótico. O que ela faz é administrar os interesses políticos que estão em torno do esporte. Ver o que interessa para a “federação A” ou a “federação B” e trocando favores.

 

É lógico que as federações estaduais ou mesmo a CBA não tem como fazer o automobilismo sozinha. É preciso buscar parcerias, órgãos e empresas que tenham interesse no desenvolvimento do esporte, mas a CBA não tem feito isso também e eu procurei lever isso ao ministério público porque se existe um estatuto e este estatuto não é cumprido, tem que se apurar porque ele não é cumprido. Alguma coisa está errada.

 

Rubens Gatti – Presidente da FPRA e da CNK.

Qual é o papel da CBA? É supervisionar, é fiscalizar e fazer cumprir os regulamentos do esporte e aí eu pergunto: alguém gosta de fiscal? Não. O fiscal pode ser o cara mais ‘gente fina’ do mundo, mas se ele chega pra fiscalizar algo que você está fazendo você não o olha deste jeito, o olha como fiscal, aquele cara que chegou para te cobrar coisas.

 

A maioria das pessoas não sabe exatamente qual a função da entidade e por isso muitas dessas críticas não cabem como críticas à CBA. A confederação não tem como sua obrigação promover pilotos, organizar campeonatos... a CBA tem trabalhado bem nas categorias de base. Ela está fazendo bem o kart. Agora ela não tem como fazer as categorias intermediárias. Se estas fossem economicamente viáveis haveriam pessoas e empresas interessadas em promovê-las.

 

Para que categorias como a Fórmula Ford, a Fórmula Renault ou a Fórmula Chevrolet existissem era preciso que estas montadoras estivessem por trás, mesmo quando não havia um interesse da matriz.

 

Eu penso que precisamos trabalhar num plano de gestão com todas as federações. Nós temos uma carência grande de autódromos, tanto em quantidade como em qualidade e precisaríamos para isso de um maior amparo do poder público para que os autódromos existentes sejam melhor cuidados, modernizados, e para isso a CBA não tem como fazer sozinha.

 

Neusa Felix – Promotora da Fórmula Truck.

Realmente, eu ouço muita gente fazer muitas críticas à CBA há muito tempo. Eu já estou lidando com automobilismo há 18 anos e também tenho as minhas críticas à CBA. Talvez nem todas tenha fundamento, que foi o termos que vocês usaram, mas algumas devem ter, sim. As minhas tem.

 

Uma coisa que eu tenho como crítica à CBA e é algo de muito tempo é que não há uma melhoria, uma renovação no quadro de comissários. São sempre os mesmos há muitos anos e sempre temos problemas com erros de julgamento. Tem sempre pilotos e chefes de equipe nossos reclamando de decisões. Nós já levamos dois dos comissários que costumam acompanhar a categoria para que eles conheçam melhor o equipamento, entendam melhor o caminhão, pois achamos que se eles entenderem melhor como o caminhão funciona teremos um trabalho melhor.

 

Outra coisa que foi algo assim, incompreensível foi perdermos o autódromo do Rio de Janeiro. A CBA tinha que ter feito alguma coisa para que isso não acontecesse. Além disso, eu acho que a confederação não tem um diálogo, um canal de abertura com os promotores de categoria para tratarmos de questões que dizem respeito a todos os interessados no crescimento do automobilismo brasileiro.

 

Eu fico frustrada quando tento implementar melhorias e não vejo o retorno por parte da confederação. A Fórmula Truck chega nos autódromos as vezes com um mês de antecedência pra fazer melhorias, obras em autódromos. Já fizemos muros, instalamos guard rails,melhoramos boxes e isso não tinha que ser uma coisa feita por nós e, sendo, ao menos deveria ser reconhecido.

 

Maurício Slaviero – Diretor Executivo da VICAR, promotora da Stock Car, Br. de Marcas, Br. de Turismo e Fórmula 3.

Eu penso que a CBA poderia fazer muito mais do que vem fazendo. É claro que não é simples enfrentar as dificuldades que eles enfrentam, mas se for ver a atual administração, eu penso que o presidente Cleyton [Pinteiro] tem feito coisas positivas como, por exemplo, a criação da comissão de autódromos que tem vistoriado os autódromos do país e apontado para os administradores que melhorias precisam ser feitas nessas praças.

 

Alguma evolução está acontecendo, mas as críticas sempre existirão. Afinal, é impossível se agradar a todos. Neste período em particular o automobilismo está passando por uma dificuldade extra em função da copa do mundo e do que vai acontecer daqui há dois anos, que são as olimpíadas. As empresas estão muito focadas nestes eventos e o automobilismo tem ficado um pouco de lado.

 

Last Updated ( Saturday, 22 March 2014 10:09 )