No próximo dia 13 de setembro, em Pequim, começará a Formula E, a primeira competição de carros elétricos apoiada oficialmente pela FIA. A pouco mais de um mês para o seu inicio – decorrerá durante o inverno europeu, acabando em junho de 2015 – o pelotão é de respeito: dez equipas, vinte pilotos, boa parte deles com passagem pela Formula 1 ou com boas hipóteses nesse campo. E entre nomes como os brasileiros Lucas di Grassi e Bruno Senna, o espanhol Jaime Alguersuari, o português António Félix da Costa, o francês Nicolas Prost e o indiano Karun Chandhok, temos duas mulheres: a inglesa Katherine Legge e a italiana Michela Cerruti. A aparição de uma competição deste tipo, ideia do espanhol Alejandro Agag, antigo dono da equipa Addax na GP2, é simples: promover a eletricidade e a viabilidade do carro elétrico como uma competição automobilística viável. A competição é simples: duas corridas por cada fim de semana automobilístico, com 45 minutos de duração cada uma, e os pilotos saltam de um carro para outro, que está pronto e carregado para fazer outra corrida, de igual duração. Os carros durarão duas horas para serem carregados, daí eles terem dois carros, um para cada corrida. A ideia de uma competição elétrica atraiu muita gente interessante: entre os que quiseram ter a sua equipa nesta nova Formula está Richard Branson (Virgin), Alain Prost (e.DAMS), Jarno Trulli (Trulli GP, um reavivar do piloto dono de equipa que houve na Formula 1 nos anos 60 e 70), os americanos Jay Penske e Michael Andretti (Dragon Racing e Andretti Autosport), a indiana Mahindra Racing e a monegasca Venturi, que têm entre os co-proprietários o ator Leonardo di Caprio. Até o "Pace Car" será elétrico: o supercarro croata Rimac Concept One, capaz de proporcionar 1088 cavalos de potência e ir dos zero aos cem em 2,7 segundos. Os carros da Fórmula E já estão prontos para iniciar um campeonato revolucionário. É certo que os “puristas” enlouquecem e torcem para que isto seja um rotundo fracasso e que termine no final da temporada, pois acham que tudo isto é uma “aberração” devido à ausência de barulho nestes automóveis. Aliás, nunca se viu surgirem, vindos do nada, tantos puristas do barulho como esta temporada. Contudo, pouca gente sabe que estes carros podem fazer até 80 decibéis de barulho, menos 50 do que um carro de Formula 1. Portanto, de silencioso, não tem muito… A Formula E promete ser uma competição de baixo custo. O orçamento máximo será de 350 mil euros, e todos terão iguais, ou seja, é uma competição semelhante à IndyCar, por exemplo. Contudo, Agag deixou aberta a possibilidade das equipas desenvolverem tecnologia de forma a ajudarem no desenvolvimento dos carros elétricos. Isto surge numa altura em que a Tesla, a fabricante americana de carros elétricos, decidiu no passado mês de junho abrir as suas patentes – ou seja, estar disponível para todos – no sentido de impulsionar a concorrência e fazer com que a sociedade mude de hábito a comece a comprar automóveis elétricos. Fundada em 2003 pelo multimilionário americano de origem sul-africana Elon Musk, começou por construir um Roadster baseado no Lotus Elise antes de construir o seu primeiro modelo de raíz, o Model S. Apesar de ser de alto luxo, já se venderam desde meados de 2012 mais de 30 mil carros, e no ano que vêm outros dois modelos vêm a caminho: o modelo X e o modelo 3, que poderá ter um preço de venda de 35 mil dólares. O projeto está sendo uma das fortes apostas da FIA e um reconhecimento à necessidade de uma revolução neste sentido. O modelo S é provavelmente o primeiro carro elétrico de sucesso: sem o motor, e a bateria colocada numa posição protegida, o carro tornou-se no mais seguro no mundo, conseguindo uma classificação superior de cinco estrelas pela americana National Highway Traffic Safety Administration (NHTSA), algo inédito até então. Testado até numa possível situação de capotamento, verificou-se que ele teria de suportar o peso equivalente a sete carros para que existisse alguma deformidade na estrutura. O carro elétrico têm óbvias vantagens: é silencioso e não emite gases para a atmosfera, mas também têm uma desvantagem: o seu alcance é limitado. As suas baterias raramente ultrapassam os 300 quilómetros (o modelo S da Tesla anda pelos 480 quilómetros), menos do que um carro dito “normal”, a gasolina, cujo depósito anda pelo dobro, consoante o modelo apresentado. Para além disso, carregar uma bateria demora tempo, entre seis a oito horas. Contudo, numa era onde o aquecimento global é uma realidade, e o abastecimento dos automóveis, e consequente preço da gasolina, é cada vez mais alto. Na Europa, em média, um litro de gasolina vale 1,70 euros. Em contraste, num carro elétrico, o abastecimento total da bateria poderá custar entre um a três euros. As corridas serão disputadas em circuitos urbanos, para tornar o espetáculo mais próximo das pessoas. Contudo, Musk chegou à conclusão de, mais do que ser bem sucedido, precisava de ver para o bem geral. E ele verificou que muito poucos na industria faziam carros. Tirando ele, o conglomerado Nissan/Renault fazia automóveis elétricos suficientes para responder às necessidades. Daí que ele tenha libertado as patentes para que os outros possam construir, ou para alguma "startup" queira construir um carro elétrico barato. Para além disso, Musk queria que existisse a possibilidade dos seus clientes poderem viajar de costa-a-costa, precisava de ter uma rede de abastecimento. Foi isso que fez com os seus "Superchargers", no qual as pessoas poderiam parar para abastecer os seus carros elétricos. Com uma nuance em relação aos automóveis ditos convencionais: é de graça, e ele pretende que isso seja para sempre. Esse é o grande desafio do século XXI: libertar o automóvel dos combustíveis fósseis. É certo que os criticos afirmam que as fontes de energia são poluentes, como os centrais térmicas a carvão ou a petróleo. Contudo, recentemente, descobriu-se que em Nova Iorque, os níveis de poluição do ar são os mais baixos em 60 anos. Se é assim agora, o que acontecerá quando o carro elétrico - ou os carros a hidrogénio, por exemplo - foram comuns? Os testes com os carros já começaram em Donington Park... Apesar das criticas de hipócrisia por parte dos céticos dos automóveis elétricos, retirar da equação uma fonte de poluição - estima-se em cerca de 35 por cento a poluição de origem automóvel - seria uma importante vitória para o meio ambiente e a libertação de um elemento importante da dependência de petróleo proveniente de paises de origem duvidosa ou zonas de conflito como o Iraque. Muitos poderão ainda torcer o nariz ao carro elétrico, mas está-se a fazer um enorme esforço para que este triunfe. E o momento em que iremos trocar um carro convencional por um elétrico estará mais perto do que imaginávamos. E a mesma coisa acontecerá no automobilismo pois este poderá ser um potencial rival da Formula 1, que todos sabem que uma determinada era, que dura há 40 anos, está a alcançar o seu término. ... e o elenco de pilotos que disputará as corridas é bastante respeitável. Daqui a poucos anos, a grande maioria dos seus protagonistas reformar-se-ão ou terão fisicamente desaparecerão, dado estarem na casa dos 60, 70 e 80 anos, como Bernie Ecclestone. Sem essa geração que ajudou a erguer a Formula 1 ao patamar onde está, dificilmente se conseguirá manter uma união no qual o dinheiro é a “cola” principal. E como já aconteceu no passado, uma possível cisão beneficiará sempre alguém. Jean Todt e Alejandro Agag e outros serão homens atentos neste futuro. Saudações D’além mar, Paulo Alexandre Teixeira |