No ano passado, depois que a Stock Car adotou os pneus Pirelli em substituição aos Goodyear, havia uma esperança de que os problemas vividos em 2012, com o excesso de problemas com pneus furados (na verdade “quebrados”, uma vez que acontecia uma ruptura da estrutura de construção dos mesmos) tivessem fim, os problemas – mesmo em menor escala – persistiram. O trabalho em conjunto da fábrica italiana com a JL, de Zeca e Zequinha Giaffone, que constroem o carro para solucionar o problema para esta temporada acabou por dar aos promotores, às equipes, aos pilotos e especialmente ao público o retorno que todos queriam, com o fim dos problemas em 2014. A imperceptível mudança para olhos menos sagazes esteve na construção de um novo pneu, com uma largura 10 milímetros maior e 15 milímetros mais alto, além de alguns detalhes técnicos que por compromisso que assumimos com os representantes da Pirelli no autódromo, garantindo o sigilo industrial, não podemos revelar, proporcionou para equipes e pilotos novas possibilidades. Conversamos com o chefe da equipe Pirelli, Jonathan Wells, com Zequinha Giaffone e com alguns pilotos e chefes de equipe. Afinal, eles entendem do assunto muito melhor do que nós. Jonathan Wells – Engenheiro Chefe da Pirelli Como conversamos no ano passado, os pilotos e equipes que tiveram problemas foram aqueles que foram além das especificações que passamos para todos sobre calibragem e cambagem. Por outro lado, fomos vendo que era possível fazer algo da nossa parte também para melhorar a performance dos carros e do nosso produto. Além disso, com o novo regulamento da categoria, com corridas em duas baterias, seria preciso que o pneu fosse mais resistente para resistir a um aumento de 50% no seu tempo de utilização. O que nós fizemos foi uma alteração de dimensões do pneu, aumentando um pouco sua área de contato com o solo e o aumento de diâmetro proporcionaram um ganho de eficiência mecânica, mas o composto da borracha permaneceu o mesmo. A mudança nas dimensões também proporcionou uma alteração nos limites de calibragem e cambagem, favorecendo o desempenho dos carros. O que tenho percebido são as equipes trabalhando de forma mais parecida entre elas e de forma relativamente cautelosa com relação a utilização dos pneus. Estamos muito felizes com isso, pois ele estão utilizando o pneu bem, na melhor forma e tirando o que de melhor o produto pode oferecer. Logicamente que todos estão estudando formas de conseguir mais performance e isso é uma equação delicada e interessante. O importante é que este ano não estamos tendo problemas. Duda Pamplona – Chefe da equipe Pro GP A ideia era resolver os problemas que passamos todos no ano passado. As mudanças foram positivas e isso aumentou o limite de utilização dos compostos. Logicamente as equipes também procuraram aumentar o seu limite de utilização no ajuste da cambagem e da calibragem. O pneu deste ano permitiu um aumento na cambagem e que pudéssemos trabalhar com um pouco menos de pressão e desta feita sem que a gente “quebrasse o pneu por dentro”, por que o que acontecia era a quebra da estrutura de construção do pneu. Até o momento, isso não está acontecendo e para a competição é muito bom. Logicamente, não existe uma receita pronta. Cada pista tem uma característica que vai exigir mais ou menos dos pneus. Cascavel e Tarumã, por exemplo, são pistas muito críticas, devido às curvas em alta velocidade e mais curvas para um lado do que para o outro, Se a equipe “forçar a barra” vai ter problemas. Como o pneu dá um ganho de aderência,de estabilidade como veio a dar, é possível se fazer alguma coisa no acerto do carro para que ele tenha uma melhor performance. O regulamento da Stock Car é muito rígido no que diz respeito a molas e barra estabilizadora, mas dentro do que é possível trabalhar no setup de geometria, mas não dá pra fazer grandes mudanças. Em termos de cronômetro houve um ganho... pequeno, mas houve. O melhor, até agora, temsido o ganho da resistência. Daniel Serra – Piloto da Equipe A.Mattheis Red Bull Racing Em termos de guiada não mudou muito. O pneu, com uma área de contato maior logicamente deu uma melhor estabilidade, uma melhor resposta de tração, mas não ao ponto de alterar de forma substancial a forma de guiar o carro, apesar de ter sido percebida uma mudança na forma do carro reagir. Foi uma mudança positiva. No ano passado todos nós, em todas as equipes tivemos muitos problemas com furos de pneu, que não eram bem furos, mas o pneu quebrava ali no ombro e dechapava total, diferente deste ano que, até esta etapa, pelo menos, resistiu bem. No ano passado, quando a gente recebeu os pneus Pirelli importados criou-se uma grande expectativa em torno de resistência e performance, mas com o passar do ano foi meio decepcionante ver os pneus furando. Este ano, até agora, está tudo correndo bem. As provas de fogo serão Cascavel e Tarumã. Se eles resistirem, estaremos realmente bem de pneus. Zequinha Giaffone – Construtor dos carros da categoria Foi uma ação muito importante da parte da Pirelli para resolver, como resolveu, os problemas de pneus que vimos no ano passado. Em relação ao nosso carr, as mudanças foram pequenas, assim como foram as mudanças do pneu em termos de dimensões. O que nós observamos analisando as telemetris das equipes e as imagens, que sempre usamos como ferramentas de análise de performance, foi que o carro passou a ter um pouco mais de grip, o que deixou o carro um pouquinho mais “longo”, mas em termos de performance geral, ficou bem parecido. O grande benefício foi mesmo a resistência estrutural do pneu. Como o regulamento é bem rígido em termos de mola e barras estabilizadoras então os chefes de equipe, engenheiros e pilotos estão tendo que buscar outras alternativas para tirar algo a mais deste pneu que é melhor do que o de 2013. Eles tem trabalhado com alinhamento, altura do carro e o que eu tenho achado mais interessante é essa alteração no equilíbrio de forças, com, novas equipes se sobressaindo, vencendo corridas e dando uma nova cara pra categoria e um novo gás para o campeonato. Ricardo Maurício – Piloto da Equipe RC Eurofarma O desenvolvimento deste pneu foi algo que foi feito meio que de última hora por conta dos problemas que os pneus apresentaram ao longo da temporada de 2013. Não era apenas uma questão de pneus estourarem, a durabilidade mostrou-se um ponto fraco e a fornecedora tinha que fazer alguma coisa. Eles foram rápidos e encontraram uma solução que, até o momento, tem se mostrado eficiente, mas as duas grandes provas, os dois circuitos onde estes pneus serão mais exigidos, que são Cascavel e Tarumã e que vão dar a real dimensão de quão bom este pneu é e se eles vão precisar aperfeiçoar alguma coisa. Se tiver calor em Tarumã, que a corrida é em novembro, o pneu será mais exigido do que em Cascavel, onde a temperatura no meio do ano costuma ser mais amena. Em termos de comportamento, se usarmos o mesmo acerto do carro que era usado com o pneu anterior, o carro fica mais lento. Ele “dobra” mais que o pneu anterior e isso tira velocidade. Mas com alguns ajustes esta perda é compensada. O mais importante é que se o pneu não estoura, a corrida fica mais segura e segurança é o fator mais importante. Se tudo correr bem nesta temporada, acredito que os pneus continuarão os mesmos até a mudança do carro em 2016. Aí vai mudar tudo e nós vamos ver como é que vai ficar uma vez que o pneu vai ser completamente diferente e teremos que iniciar todo um trabalho. Maurício Ferrerira – Chefe da Equipe Full Time Foi uma mudança muito pequena, é verdade, mas toda alteração deste tipo, onde no caso aumentou-se a área de contato do pneu e deu-se a ele uma capacidade de trabalhar lateralmente maior do que a que havia no ano anterior, logicamente o comportamento do carro mudaria e nós percebemos isso desde os primeiros testes. Estas mudanças se mostraram eficientes e solucionaram o problema de quebra dos ombros dos pneus que víamos com frequência no ano passado. De certa forma, foi possível trabalhar isso com a redução da altura do carro, mas em cada circuito veio sendo feita uma análise particular em função das características de cada pista. Uma solução para Interlagos provavelmente não será a mesma para Goiânia. Caso a caso não só eu, mas todos os chefes de equipe e os engenheiros temos buscado o equilíbrio certo entre a convergência e a cambagem, além da inclinação do chassi para que o carro fique o mais rápido e estável possível e permita um ganho de tempo. Mas tem sido um trabalho interessante este que estamos tendo este ano onde as referências do ano passado de pouco tem valido e que até o momento vem proporcionando à equipe e que vai servir para o ano que vem. Que continue dando certo e que possamos poder confiar no pneu que temos. Mauro Vogel – Chefe da Equipe da Vogel Motorsports É preciso reconhecer e neste aspecto elogiar o pessoal da Pirelli. O pneu melhorou muito do ano passado para este ano, embora ele ainda continue restringindo alguns acertos. Se uma equipe tentar um acerto mais agressivo, ele também não resistirá, como o do ano passado não resistia. O que eu chamo de acerto “agressivo” seria uma combinação mais audaciosa de cambagem e calibragem. Se você coloca uma cambagem grande e uma calibragem baixa isso é muito bom para o carro, mas é muito ruim para o pneu. Contudo, o pneu deste ano já nos permite trabalhar com uma cambagem maior que a do ano passado e uma calibragem mais baixa que a do ano passado. Os estudamos diversos acertos em relação a altura do carro, uma vez que o regulamento da Stock Car não nos dá muitas possibilidades de ajustes. Molas, por exemplo, e a mesma e igual pra todo mundo. Com isso é preciso fazer com que o carro fique mais rápido e mais estável de outras maneiras. O que nos foi passado é que o composto da borracha da banda de rodagem continua o mesmo e isso a gente viu na prática, pois o grip do carro nas pistas por onde passamos continuou o mesmo e a outra coisa, que é a temperatura de trabalho, este pneu tem uma boa faixa de trabalho e não tem criado problema. |