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Um campeão em todos os sentidos! PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Monday, 08 December 2014 01:56

Quando a equipe do site montou a pauta para o trabalho a ser feito durante as 6 Horas de São Paulo, o item final dizia: “seguir o ‘Homem’”! A pergunta foi inevitável... como fazer para seguir um ‘Homem’ que Jackie Stewart, Jacky Ickx, Ronnie Peterson, Niki Lauda e outros tantos não conseguiram fazer? A missão seria dura!

 

Nosso trabalho no autódromo começou na quinta-feira, onde Emerson Fittipaldi passou a tarde entre reuniões e ajustes junto à organização do Campeonato Mundial de Endurance. Foi apenas na parte da tarde que ele pode deixar o lado do empresário e promotor da corrida e se concentrar em ver a parte relacionada a um dos momentos mais emocionantes na vida de qualquer fã do automobilismo no Brasil: voltar a ser o Emerson Piloto.

 

 

O telefone do nosso eterno campeão não parava e ele também não entre uma conversa e outra e uma série de tomadas de decisão, sempre assessorado pelo imparável Fernando Paiva (Nota do NdG: Não se trata do Gestor do Projeto, mas de um homônimo). Um dos projetos do dia estava atrasado: a adesivagem do carro e isso poderia atrasar a apresentação de Emerson com o carro para a imprensa. Era preciso correr!

 

O primeiro compromisso de macacão e capacete não foi nos  boxes, mas numa sala que a equipe da emissora local, responsável pela transmissão da corrida aqui no Brasil, conseguiu por alguns minutos para que fosse feita uma apresentação do retorno do nosso campeão nos programas de esportes e nos telejornais.

 

 

A assessora de imprensa, Sueli Gomes, da Spin Comunicação, garantiu a nossa entrada e assim, pudemos assistir – em primeira mão e com exclusividade – a gravação deste reencontro de Emerson Fittipaldi com seu capacete azul e vermelho (Logicamente nos comprometemos com o responsável pela gravação, Bruno Almeida, a não divulgar nada nem publicar nenhuma imagem antes da emissora). Contudo, desta vez o macacão vermelho teria um significado especial: seria a primeira vez que nosso campeão correria sob as cores da Ferrari! As primeiras de muitas lágrimas rolaram.

 

 

Gravação feita, macacão colocado, era hoa de ir para os boxes já como piloto e cuidar do que precisaria ser feito para a corrida. Os fotógrafos já estavam de prontidão e os flashes dispararam enquanto Emerson deu uma primeira olhada na Ferrari #61, que estava terminando de ser adesivada e seguiu para fazer a assinatura dos documentos junto aos comissários da prova. Na verdade, teve que assinar mais do que os documentos regulamentares. Os comissários também pediram autógrafos para ele!

 

 

Retornando para os boxes da equipe AF Corse, era hora de travar o primeiro contato com o carro para ajustar a altura do banco e ter uma aula com o chefe da equipe do carro #61 Hughes Lardy sobre a eletrônica embarcada na Ferrari 458, uma operação que durou quase uma hora, tamanha a complexidade e as variáveis possíveis que um piloto tem à sua disposição para fazer e tudo o que ele tem que fazer, ajustando o carro para cada trecho da pista para percorrê-la o mais rapidamente possível. A sexta-feira prometia muita ação, trabalho e emoção.

 

 

Emerson Fittipaldi já estava em Interlagos antes das 9 da manhã. Deu uma entrevista no box da Porsche GT3 Challenge Cup, evento preliminar das 6 Horas de São Paulo e, contando com a boa parceria com o promotor da categoria, Dener Pires, teve colocado à sua disposição um Porsche para participar também dos treinos e corridas da categoria e, com isso, ambientar-se ainda mais com o traçado do hoje mutilado circuito.

 

 

Emerson seguiu para o bloco administrativo onde a Fittipaldi Promotions tinha um escritório e onde também estava o escritório do ACO e da WEC. Era preciso se dividir entre o Emerson piloto e o Emerson empresário enquanto os carros não iam para a pista, o que só aconteceria no período da tarde.

 

 

Saindo do bloco administrativo, Emerson Fittipaldi seguiu para box número 4 onde estava o time da LMGTE Am da AF Corse para rever alguns pontos com o Hughes Lardy, seu chefe naquele final de semana. Dali, nosso Campeão seguiu para a sala de briefing para a reunião que os pilotos tem com o diretor de prova.

 

Após um almoço leve (Emerson Fittipaldi segue uma rigorosa dieta macrobiótica e que, pelo visto, funciona fantasticamente), era chegado o momento que ele tanto esperava: ir para a pista ao volante do carro com o qual correria as 6 Horas de São Paulo.

 

 

A equipe trabalhava nos dois carros, colocados no pit lane, em frente ao box da equipe enquanto os pilotos conversavam sobre como eles fariam o procedimento de treinos. O italiano Alessandro Pier Guidi, que é o principal piloto do time (no WEC os pilotos são divididos em 4 ‘classes’: Platina; Ouro; Prata; e Bronze), que é “Platina” no ranqueamento do WEC, foi o primeiro a ir para a pista. Enquanto Emerson concentrava sua atenção nas informações passadas pelo outro piloto do time, o norte americano Jeffrey Segal.

 

 

Após 20 minutos se passaram com o italiano na pista quando Hughes Lardy avisou: “você é o próximo”! Emerson Fittipaldi estava prestes a pilotar uma Ferrari pela primeira vez em sua vida em uma competição oficial sob chancela da FIA. O ar sereno do Campeão contrastava com a ansiedade que todos nós estávamos no box #4. Uma equipe de produção estava a postos para filmar e fotografar tudo... e nós também.

 

 

Eram 13:32 quando a Ferrari #61 parou nos boxes e Emerson Fittipaldi trocou de lugar com Alessandro Pier Guidi. Certamente o coração do Campeão acelerou enquanto os integrantes da equipe reabasteciam o carro... quase tanto quanto o nosso, que estávamos ali, como testemunhas deste momento.

 

 

Carro pronto para sair e o integrante da equipe dá o sinal. Emerson acelera e deixa os pits cumprindo o limite de velocidade para contornar a sinuosa saída dos boxes e apontar na reta oposta.

 

Com calma, sentindo as reações do carro, ele passa na reta e começa sua primeira volta cronometrada. 1m39s984. Era um tempo alto, mas era apenas a primeira volta. Na segunda volta, 1m38s386... na terceira, 1m35s836. o tempo de volta caia rapidamente, quase tão rápido quanto as lágrimas rolavam em alguns rostos petrificados diante das telas onde eram mostradas as parciais da cronometragem. Jeff Segal e Alessandro Pier Guidi acompanhavam atentos.

 

 

 

Quando Emerson Fittipaldi cravou 1m34s004 em sua 10ª volta no carro, abraçar o nosso Nobre do Grid Alex Dias Ribeiro foi instintivo, automático! O nobre servo do Senhor, que faz um maravilhoso trabalho junto a vários atletas de diversos esportes, sorria com os olhos marejados.

 

 

Em seu primeiro ‘stint’ Emerson completou 13 voltas cronometradas. Na volta para os boxes, foi a vez de Jeff Segal assumir o volante. Hughes Lardy conversou com nosso campeão sobre sua performance e, ainda sem tirar o capacete, Emerson Fittipaldi foi trocar suas impressões com Alex Dias Ribeiro, que não conseguia conter o sorriso de satisfação.

 

 

Mas a conversa séria foi com Alessandro Pier Guidi. Emerson passou as impressões que teve com o carro nas voltas que deu e, humildemente, pediu conselhos para o piloto italiano sobre sua guiada, em especial no primeiro trecho, onde – vendo as parciais de tempo de cada volta – percebeu estar perdendo muito tempo.

 

 

Após o final do primeiro treino livre, Emerson conversou longamente com Jeff Segal também sobre o primeiro trecho da volta. Sabem aquela gesticulação que os pilotos fazem enquanto conversam nos boxes de como estão fazendo a volta ou determinado trecho da pista? Emerson explicou o que estava fazendo para o americano que logo mostrou como ele estava fazendo a curva e compensando a força de aceleração do carro para tirar o máximo da Ferrari 458.

 

 

Naquelas três horas antes do segundo treino livre na sexta-feira, Emerson Fittipaldi ainda precisou voltar ao bloco administrativo para mais uma reunião. Na volta, recebeu a vsita de seu irmão, o Nobre do Grid Wilson Fittipaldi Jr. e do mestre dos kats – dos quais Emerson Fittipaldi foi construtor e fera nas pistas – Lucio Pascual Gascón, o ‘seo’ Tchê. Mas era hora de recolocar o capacete e ir pra pista.

 

 

Desta vez Emerson foi o primeiro a acelerar a Ferrari #61 pelos 4.309 metros de Interlagos. Enquanto o Campeão estava na pista, Alessandro Pier Guidi e Jeff Segal acompanhavam atentamente a performance do nosso herói. Eles, e nós... junto com Wilsinho e Alex Dias Ribeiro.

 

 

A primeira volta cronometrada já foi na casa de 1m35s... alto, mas a cada volta completada o tempo ia baixando. Na 5ª volta, Emerson começou a virar na casa de 1m34s e o tempo das voltas continuava baixando, especialmente com ganhos no primeiro setor da pista. Na 9ª volta ele marcou seu melhor tempo do dia – 1m33s678 – Wilsinho Fittipaldi fez força para segura as lágrimas... nem todos conseguiram!

 

 

Ao final de 11 voltas Emerson passou o carro para Jeff Segal e acompanhou o restante dos treinos no box, conversando com Alex Dias Ribeiro e seu irmão. O homem estava que não se continha dentro do macacão. Ele acabou voltando a colocar o capacete para um treino importante, já com o carro parado: o treino para trocar de lugar com o piloto que estava no carro o mais rápido possível.

 

 

Ao final das atividades, Emerson, o chefe de equipe e os outos dois pilotos conversaram longamente ainda no box. Depois foram todos foram todos para a sala de reuniões da equipe para fazer uma avaliação do dia e estabelecer o plano de trabalho para o sábado, onde haveria mais um treino livre e a classificação.

 

A palavra do Campeão: “Estou muito satisfeito com este primeiro contato com o carro. A Ferrari tem uma estabilidade incrível e uma retomada simplesmente impressionante. Acho que fui bem para este primeiro dia, mas preciso melhorar algumas coisas. Está faltando freada e aproximação de curva. Estou perdendo tempo com isso e preciso fazer o primeiro trecho cronometrado mais rápido. Do primeiro para o segundo treino livre a equipe mexeu no carro, alterando a asa e a suspensão dianteira. Melhoramos todos, andamos mais rápido e amanhã, no ‘P3’, vou poder dar umas 10 voltas antes da classificação, o que vai ser muito importante para mim”.

 

 

Emerson chegou cedo no sábado a Interlagos, antes das 9 da manhã. Desta vez não haveria nenhuma reunião. Os pilotos da equipe conversavam com o Hughes enquanto Emerson checava seu equipamento. O treino livre começaria pontualmente as 10 horas da manhã. Desta feita, Jeff Segal foi o primeiro a entrar no carro.

 

 

Enquanto o norte americano dava suas voltas, Emerson aproveitava para trocar informações com Alessandro Pier Guidi. Depois, ficou observando as voltas e o tempo das parciais ao lado de Wilsinho Fittipaldi e Alex Dias Ribeiro antes de se preparar para entrar no carro. Era hora também de ver se o treino de troca de pilotos do dia anterior tinha sido proveitoso.

 

 

A pista estava mais fria pela manhã, os tempos de quem já havia entrado marcado tempo estava mais alto do que os da tarde de sexta-feira, mas a primeira volta cronometrada de Emerson Fittipaldi foi bem perto da feita no P2: 1m35s829... e a partir daí foi só baixando e baixando e baixando. Na 3ª volta o Campeão já passou a virar na casa de 1m34s e na 5ª volta, pela primeira vez, na casa de 1m33s. Todos na equipe festejaram... e não foi uma volta isolada. Das 9 voltas cronometradas, 3 foram na casa de 1m33s, sendo a mais rápida em 1m33s274.

 

 

A equipe se reuniu antes da classificação, onde dois dos três pilotos fariam volta rápida e o somatório dos tempos definiria a posição de largada. Emerson Fittipeldi não faria a classificação, mas era a grande personalidade dos boxes de Interlagos, com todos querendo uma foto e um autógrafo. Desde os próprios membros da equipe a um dos fiscais da competição. Durante a classificação, mesmo sem Emerson na pista, a reporter Louise Becket e o narrador do autódromo para a transmissão internacional, Marc Arnoldi, passaram boa parte do treino no Box #4.

 

 

Após a classificação a equipe reuniu-se novamente para avaliar como foi o dia e a classificação para a corrida, mas antes, Hughes reuniu a todos em torno do carro para uma foto que certamente cada um dos membros da equipe guardará por toda a vida. Afinal, estavam ao lado de uma lenda viva do automobilismo!

 

 

A palavra do Campeão: “Este sábado foi muito especial para mim. Meu irmão estava aqui comigo nos boxes como foi em toda a minha vida nas pistas. Estou muito feliz com o desempenho de hoje. Consegui ser mais rápido no S do Senna e consegui virar um tempo melhor com a pista mais fria. A equipe continuou melhorando o carro e eu espero poder andar ainda mais rápido na corrida. Não posso perder muito tempo em relação a eles para não comprometer suas corridas. Eles estão no campeonato, eu não. Foi importante poder andar com o Porsche também. Troquei ideias com os pilotos da categoria para poder fazer um melhor traçado de volta. Estou muito animado para amanhã e com uma grande expectativa de ver Interlagos com bastante público”.

 

Descobrimos depois que Emerson Fittipaldi chegou para o piloto Constantino Jr. – que disputava o título da Porsche Cup – e perguntou como ele  fazia a aproximação, freada e contorno do S do Senna. Constantino reagiu com algo do tipo: “você quer saber o quê? Você é o Emerson Fittipaldi! Eu é que tenho que perguntar as coisas pra você.”

 

O Domingo amanheceu bonito. Com sol entre nuvens e praticamente nenhuma possibilidade de chuva. Emerson Fittipaldi chegou aos boxes pouco depois da 9 horas da manhã, cercado de admiradores, como sempre, o Campeão distribuiu simpatia e sorrisos com a esposa e o filho Emmo.

 

 

Nos boxes, esperando por ele estava uma visita surpresa. Na verdade, duas. Os Nobres do Grid Bird Clemente e Luiz Evandro Águia. Emerson ficou muito feliz em receber os amigos de praticamente meio século. Ele fez questão de mostrar a equipe para o velho mestre da equipe Greco, onde andou algumas vezes e apresentou, orgulhoso os nossos ‘pássaros’ aos pilotos da equipe, contando um pouco da vida de ambos nas pistas.

 

 

A visitação aos boxes começou pontualmente às 10:30 horas, com uma enorme multidão tomando o pit lane de Interlagos. Nos dois anos anteriores, o público presente nem se comparava ao que foi visto no domingo. Um sinal de que a presença de Emerson Fittipaldi como piloto no evento foi um grande sucesso.

 

 

A equipe precisou fazer um cordão de isolamento improvisado – e reforçado – para impedir que o box da AF Corse fosse invadido. Emerson precisaria ter uns 200 braços para dar tantos autógrafos ao fãs que se espremiam para fazer uma foto... e muita gente ficou sem, infelizmente. Acabamos descobrindo que havia muita gente de fora do país em Interlagos e um grupo de fãs do Japão vieram até os fundos do box na esperando ter uma chance de ver nosso campeão. Eles traziam fotos de diversas fases da carreira de Emerson Fittipaldi nas mãos. Chamamos o Campeão para dar esta atenção especial a fãs de tão longe... ele ficou muito emocionado.

 

 

Esvaziado o pit lane, era hora dos carros seguirem para alinhar diante do público que encheu as arquibancadas de Interlagos num emocionante espetáculo. Emerson era o mestre de cerimônias de uma linda festa, que mesmo longe de ser perfeita em termos de organização, esteve muito além do que pudemos ver nos anos anteriores.

 

 

Emerson falou para o público pelo microfone do polivalente Kaká Ambrósio, narrador brasileiro da corrida para o autódromo, e circulou entre os carros, cumprimentando autoridades e pilotos, parando para dar entrevistas para televisões e rádios de diversas partes do mundo antes de todos terem que esvaziar o grid para o início da corrida. Enquanto os carros aguardavam a largada, a Esquadrilha da Fumaça, da força Aérea Brasileira presenteou o público com um belo espetáculo, dando rasantes em formação sobre o autódromo.

 

 

O box da equipe AF Corse ficou bem concorrido. Até o Major Brigadeiro Damasceno da FAB preferiu assistir as primeiras voltas da corrida ao lado do nosso Campeão, sempre na companhia de Alex Dias Ribeiro. Coube a Alessandro Pier Guidi fazer o primeiro ‘stint’ da Ferrari #61, com Jeff Segal escalado para o segundo e Emerson para o terceiro, cada um com cerca de uma hora de duração.

 

 

Ao longo daquela primeira hora, depois que o box deu uma “esvaziada”, Emerson sentou ao lado de Jeff Segal que estava acompanhando a conversa de Hughes Lardy com Alessandro Pier Guidi no carro e passando como estava o comportamento da Ferrari naquela primeira hora de prova para Emerson Fittipaldi.

 

 

Amigos mais chegados conseguiram ir até o Campeão para pedir um autógrafo e tirar uma foto. A equipe de TV brasileira que fazia a transmissão ao vivo também esteve por lá para uma rápida entrevista. Quando Alessandro Pier Guidi cedeu o lugar para Jeff Segal, conversou com Emerson sobre o carro e como estava o tráfego em ritmo de prova àquela altura.

 

 

Eram quase três horas da tarde quando Emerson deixou os boxes e foi para a sala de reunião com os pilotos fazer uma oração antes de entrar no carro. Depois de ter “nascido de novo” por duas vezes (no acidente com Greg Moore em 1996 e depois do acidente de ultraleve com o filho Luca alguns anos depois), Emerson ficou ainda mais próximo de Deus e o convívio com Alex Dias Ribeiro tem um grande papel neste processo.

 

 

Hughes Lardy deu as últimas instruções para Emerson Fittipaldi enquanto o Campeão terminava de se aprontar para entrar no carro. Alex Dias Ribeiro e o mecânico Fabietto ajustaram os detalhes do plug do rádio e as tiras do ‘hans’ enquanto Emerson fixava o capacete.

 

 

Emmo, o filho de 7 anos, os sobrinhos e amiguinhos do filho cumprimentaram o nosso piloto enquanto Emmo mandou um “boa sorte, pai, manda ver”! O grande momento chegara e certamente um milhão de coisas passavam pela cabeça do nosso campeão, prestes a acelerar em uma corrida, algo que não fazia desde 2008, quando disputou o Brasileiro de Gran Turismo.

 

 

Eram 15:03 quando a Ferrari #61 entrou nos boxes. Os treinos para trocar de lugar com Jeff Seagal deram resultado. Foram dois minutos de parada e Emerson Fittipaldi arrancava no pit lane para escrever mais uma página em sua história. A arquibancada levantou quando o narrador informou que Emerson Fittipaldi assumiria o carro naquele momento.

 

 

A primeira volta cronometrada após o retorno aos boxes foi em 1m36s387. Em seguida Emerson passou a virar constante na casa de 1m35s2/1m35s3. Na sua oitava passagem fez a sua melhor volta daquele ‘stint’, com 1m34s845. Contudo, na 10ª volta a Ferrari do brasileiro percorreu lentamente a descida do lago em direção ao laranjinha... havia algo errado.

 

 

Emerson conseguiu chegar aos boxes e o carro foi puxado para dentro da garagem. Abriram o capô dianteiro e a tampa do motor enquanto a encarregada da eletrônica coletava os dados do carro. Emerson permanecia amarrado ao banco, aguardando instruções quando, minutos depois, veio a ordem para ele deixar o cockpit.

 

 

Jeff Segal procurou passar para Emerson o que havia sido diagnosticado enquanto a equipe iniciava uma corrida contra o tempo para tentar recuperar o carro e devolvê-lo à pista. Logicamente a imprensa lotou o local e Emerson acabou fazendo uma entrada ao vivo na transmissão da televisão.

 

 

Diagnosticaram um problema de câmbio, na 4ª marcha e não havia outra saída para a equipe, caso eles quisessem continuar correndo, que não fosse a troca do conjunto. Os mecânicos abriram a caixa de câmbio, trocaram as engrenagens e a remontaram em menos de 30 minutos. Voltar para a pista agora era apenas uma questão de respeito para com os torcedores que estiveram presentes em Interlagos. Enquanto os mecânicos trabalhavam, Emerson acompanhou a ação por um tempo, indo depois reunir-se com Alex Dias Ribeiro.

 

 

Eram 16:12 quando a Ferrari #61 voltou para a pista com Jeff Segal ao volante. Emerson sentou-se em frente aos monitores e ao lado de Alex Dias Ribeiro acompanhou a performance do companheiro até que chegasse a sua vez de voltar para a pista, que seria o 5° ‘stint’ como havia sido programado. Eram 17:10 quando a Ferrari entrou novamente para a troca de pilotos e Emerson Fittipaldi retornou para o carro.

 

 

Quem pudesse imaginar que, após ver a corrida “ir para o vinagre” o nosso Campeão estaria desmotivado enganou-se completamente. Emerson saiu dos pits com serenidade, mas na primeira volta cronometrada já mandou um 1m35s397 e na seguinte marcou 1m34s621. Ele estava de volta no melhor estilo, fazendo lembrar o retorno à corrida como no GP Brasil de 1979, quando retornou depois de um problema no motor quando ocupava a 4ª posição.

 

Trabalhar dentro do tráfego pesado das corridas do WEC não é fácil e num circuito curto como Interlagos é ainda mais complicado. Emerson acabou se tocando com o Toyota de Stéphane Sarrazin e retornou aos boxes para ver se não tinha havido um dano mais sério. Como estava tudo em ordem, retornou para a pista.

 

 

Na volta, Emerson voltou a virar na casa de 1m34s, logo em seguida, passou a virar na casa de 1m33s. Ele estava correndo em ritmo de disputa e tão rápido como os outros pilotos “bronze” das demais equipes. Quando alguém poderia achar que ele tinha chegado no limite, em duas voltas com menos tráfego, Emerson Fittipaldi marcou 1m32s883 e 1m32s930. Era um tempo 1s4/1s5 acima da melhor volta de Alessandro Pier Guidi!

 

 

Após 21 voltas completadas, Emerson Fittipaldi retornou aos boxes e entregou o carro para Alessandro Pier Guidi para que este fizesse os últimos 50 minutos de prova. Quando retirou o capacete, ficou os olhos em um certo cidadão de macacão preto que permanecera ali, no Box #4, desde as 10 horas da manhã e abriu um sorriso que “pagou o quatro dias” tentando fazer o impossível: “seguir o Homem”!

 

 

Enquanto Emerson Fittipaldi ainda estava na pista, chegou ao box os oficiais da Esquadrilha da Fumaça que realizaram o show na abertura da corrida. Eles trouxeram um quadro para presentear o nosso Campeão que os recebeu na parte interna dos boxes e posou para uma foto com os ases do céu.

 

Antes de se retirar para o escritório da Fittipaldi Promotions no bloco administrativo, Emerson Fittipaldi falou conosco sobre o final de semana e a sensação de estar de volta a uma corrida.

 

 

A palavra do Campeão: “Este final de semana foi marcante na minha vida. Poder voltar a pilotar foi uma sensação maravilhosa e eu só posso agradecer a todos que me apoiaram e que estiveram comigo ao longo deste mês, desde que confirmamos a minha participação, acompanharam toda a preparação e estiveram aqui nestes dias. Nem tudo saiu como nós queríamos, é verdade, mas a oportunidade de poder estar ali,com pilotos que disputam um dos maiores campeonatos do mundo e ao volante de uma Ferrari foi emocionante. Eu queria muito poder fazer mais do que consegui, mas cheguei perto do meu objetivo que era ser apenas 1 segundo mais lento que meus companheiros de equipe, a quem tenho muito que agradecer por tudo que me ensinaram neste final de semana, bem como a todo o pessoal da equipe que me recebeu de braços abertos. Esta não foi a última corrida. Ainda pretendo voltar para a pista em outras oportunidades. Vamos estudar possibilidades de fazer algo no futuro, quem sabe com outros membros da família correndo junto. Eu continuo com o exemplo do Paul Newman que venceu as 24 horas de Daytona aos 70 anos de idade. Eu ainda tenho um tempinho para tentar igualar o feito”.

 

Pensaram que acaba aqui? Nada disso! Guardamos para o final alguns momentos que registramos ao longo dos três dias em que Emerson Fittipaldi esteve na pista. Ele foi a estrela do espetáculo (desculpe Tom Kristensen). A categoria LMGTE Am é a menos badalada do WEC, mas com Emerson Fittipaldi estando em uma equipe da categoria, é lógico que atrairia mais atenção do que o normal.

 

 

Marc Arnoldi, o narrador oficial do WEC e das 24 horas de Le Mans esteve várias vezes fazendo a sua narração lá dos boxes da AF Corse. A super repórter de campo e nossa amiga de anos, Louise Becket, parou para ver Emerson Fittipaldi em ação. Ela apenas disse: “incrível, não”? Realmente incrível Louise...

 

 

Mas foi a presença da família que trouxe um ar todo especial para o Box da AF Corse ao longo destes dias. Ver os irmãos Fittipaldi reunidos em Interlagos tem um significado muito especial, mas que “roubou a cena” foi mesmo o pequeno Emmo, que aos 7 anos já dá suas primeiras aceleradas no kart. Ele acompanhou uma grande parte da corrida de dentro do Box da equipe, perguntou sobre o comportamento do carro ao pai e comentava as ultrapassagens que via no monitor. Pelo visto, o sobrenome mais famoso do nosso automobilismo ainda será muito falado nas próximas décadas.

 

Durante o final de semana, conversamos com Hughes Lardy, Alessandro Pier Guidi e Jeffrey Segal sobre a experiência de ter Emerson Fittipaldi com eles. Antes de ouvi-los, pedimos enfaticamente que não nos vissem como um veículo de mídia brasileiro, que não fosse dada uma “versão politicamente correta” sobre aqueles dias... foram belos depoimentos.

 

Jeffrey Segal.

“Assisto corridas desde criança e o nome de Emerson Fittipaldi – Emmo para nós nos Estados Unidos – é quase mítico. Ele foi campeào da Fórmula 1, foi campeão da Fórmula Indy, vencu as 500 Milhas de Indianápolis duas vezes... lembro-me das disputas contra Mario e Marco Andretti, Al Unser Jr., Nigel Mansell... era fantástico vê-lo pilotar. Jamais imaginei que um dia teria a chance de correr ao seu lado. Eu queria muito ter uma foto sua autografada quando criança, agora estou aqui, dividindo o carro com ele.

 

Fiquei impressionado com a sua capacidade de aprendizado. Este carro é muito complexo, tem muita eletrônica embarcada, diferentes possibilidades de ajustes e muitos que precisam ser feitos durante a volta para o carro poder andar mais rápido. Ele ouviu tudo o que eu e o Hughes dissemos atentamente e quando foi pra pista, fez tudo certo já na primeira vez! Como isso é possível, eu me perguntava. Ele mostrou porque é um dos melhores plotos de todos os tempos.

 

A cada vez que ele deixo o carro depois de andar, vinha perguntar, pedir orientações de como fazer determinado trecho, determinada curva, tratando-me como se eu fosse seu professor, com uma humildade impressionante. Fiquei ainda mais fã seu ao final deste inesquecível final de semana para mim”.

 

Alessandro Pier Guidi.

“Quando a equipe começou a negociar a participação do Emerson Fittipaldi para participar das 6 Horas de São Paulo, comentei com minha família que talvez corresse com ele no Brasil/ Todos na família – acho que na Itália inteira – acompanha o automobilismo e eles me perguntaram se era ‘o filho do famoso piloto brasileiro’, campeão da F1. Quando eu disse que não, que era o próprio Emerson Fittipaldi foi um misto de surpresa e curiosidade sobre como ele estava, se estava bem, se não estava correndo risco voltando a correr depois de tantos anos.

 

Eu e toda a equipe ficamos impressionados com o foco que ele colocou neste final de semana, como ele aprendeu rápido a usar os recursos do carro, como virou tempos rápidos já no P1. Ele tinha a gana de um novato, mas com a serenidade de um piloto experiente. Ouvia tudo que nós dizíamos atentamente, perguntava sobre como poderia melhorar sua guiada...

 

Para mim, este final de semana será inesquecível. Vou poder dizer para todos que tive a honra de correr ao lado de um dos maiores pilotos da história. Que corri ao lado de Emerson Fittipaldi”.

 

Hughes Lardy.

“Quando tive a confirmação de que Emerson Fittipaldi correria conosco, minha sensação foi de excitação e apreensão. Desde menino assistia corridas na televisão e a figura de Emerson Fittipaldi era muito marcante. Ele era um dos meus ídolos na infância. Era o Gênio, o Mestre... e agora eu teria a responsabilidade de orientá-lo durante um final de semana inteiro, passar instruções. Como é que se ensina alguém que tem uma vivência e uma história no automobilismo como a dele?

 

Fiquei encantado com sua humildade. Perguntava as coisas e tinha uma atenção que mais lembrava um novato do que um piloto com uma história como a dele. Quando fui mostrar a parte de eletrônica do carro para ele, ele nem piscava os olhos. Ouviu tudo atentamente. No dia seguinte, veio com uma série de perguntas para mim sobre mudanças e aplicações de ajustes como se tivesse passado a noite estudando o sistema.

 

Suas voltas na pista mostraram um piloto técnico e aplicado. Seus tempos de volta foram caindo e caindo a cada passagem. Ele ia encontrando seus limites e os do carro. Quando saia, perguntava como tinha ido, perguntava como poderia melhorar, não reclamava de nada, nem quando o ar condicionado parou de funcionar no P2 ele continuou acelerando.

 

Fiquei muito triste quando tivemos o problema no câmbio na corrida, o que nos tirou da disputa. Isso poderia desanimá-lo, mas quando ele voltou para a pista andou mais rápido ainda. Fazer um tempo 1.4s do tempo do Alessandro [Pier Guidi] foi impressionante. Acho que se ele fizesse uma temporada inteira chegaria ao seu final andando tão rápido do que os dois... talvez até mais rápido! Guardarei o que vivi nestes dias com um enorme carinho. Obrigado Emerson”.

  

 

Last Updated ( Thursday, 18 December 2014 05:15 )