No mês passado, o nosso colunista Paulo Alexandre Teixeira comentou sobre esta nova metodologia de se fazer projetos ou gerir empresas no automobilismo: o “crowdfunding”, a nossa popular “vaquinha”, para se referir ao projeto que o empresário Patrick Choate que está tentando tirar do papel para – pela primeira vez na história do nosso automobilismo – termos uma participação de um carro brasileiro na categoria principal das 24 horas de Le Mans, bem como no Campeonato Mundial de Endurance. A referência de termos a “crowdfunding” no automobilismo é a lamentável situação da Caterham, que mesmo contando com a boa vontade dos fãs do automobilismo, que contribuíram para sua ida à Abu Dhabi, qualquer pessoa minimamente sensata sabe que não é possível se levar um projeto adiante amparado numa forma de sustentação sem uma base sólida. E onde é que o projeto do “Brazil Le Mans Team” se difere do que a Caterham fez? Quem nos explicou as bases do projeto da equipe brasileira para o Campeonato Mundial de Endurance foi o próprio Patrick Choate, que esteve em Interlagos no final de semana das 6 Horas de São Paulo e coversou conosco sobre como foi o desenvolvimento do projeto, em que estágio ele está e quais as suas perspectivas. Afinal, o tempo está passando e não espera por ninguém. NdG: Patrick, este formato de “crowdfunding” está funcionando para se transformar este projeto em realidade? Patrick Choate: Primeiro eu gstaria de separar as coisas: o que é o projeto e o que é o “crowdfunding”. O projeto nasceu da mente do engenheiro francês Nicolas Perrin – fundador da Perrinn.com, uma plataforma online, onde ele disponibiliza o projeto de seus carros para download para qualquer pessoa, de forma gratuita – que idealizou o carro quatro anos atrás. O desenvolvimento deste projeto teve como base um formato colaborativo, no estilo “opensource”, onde qualquer pessoa com conhecimento técnico podia opinar, sugerir pontos no seu desenvolvimento. Este sistema é, por exemplo, como é escrita a “Wikipedia” na internet, onde as pessoas colaboram para o seu crescimento e aprimoramento. Este processo atraiu mais de 200 colaboradores que, voluntariamente, contribuiram para o desenvolvimento do projeto do carro. Se fôssemos reunir e paar uma equipe técnica de 200 pessoas, isso custaria uma fortuna e não haveria como sair o campo das ideias. NdG: Como você conheceu Nicolas Perrin? Patrick Choate: Nicolas é uma referência no meio do automobilismo de competição. Ele trabalha com automobilismo há mais de 10 anos, tendo estado no projeto do LMP1 da Courage entre 2002 e 2004, quando foi para o que é o máximo do esporte a motor que é a Fórmula 1, onde esteve na Williams entr 2005 e 2010. Em 2011 ele iniciou sua própria empresa e no ano seguinte impressionou o meio do WEC quando fez modificações no motor e na parte aerodinâmica de um modelo Aston Martin LMP1 antigo e este modelo híbrido foi 8,5 segundos mais rápido em Le Mans do que os carros da Aston Martin Racing no ano anterior usando pilotos do mesmo nível e em em condições similares. Ele conseguiu, com a participação destes 200 colaboradores, desenvolver um projeto completo para um carro para disputar o campeonato da LMP1 no WEC. NdG: Então o projeto já está pronto... mas está pronto fisicamente ou apenas no Autocad ou num modelo de plástico? Nicolas Perrin e o protótipo Aston Martin adaptado por ele. Patrick Choate: Temos dois modelos prontos, um em escala 1:2 e outro em escala 1:1, ambos em Birgmingham. Com a entrada de patrocinadores no projeto, estamos redirecionando o “crowdfunding” para investirmos na questão operacional da equipe, uma vez que a parte da construção será financiada pelos patrocinadores com quem já conversamos. Temos um projeto com 8 “cotas”, das quais 6 já foram adquiridas. Conseguimos o patrocínio dos Correios/SEDEX, Riachuelo/Jeans Pool, Marksell, EMEDE, Amil, Grupo ORSA, Midway financeira, Itaim Asset, Radici, Embraer, Exclusive e BOXX. Esta participação não é necessáriamente em dinheiro. A Embraer, por exemplo, entrou contribuindo com um “x” de horas no túnel de vento, para nos isto não tem preço, mas um grande valor. NdG: Você falou em 8 cotas de patrocinadores e que 6 já estariam vendidos. Qual o valor do investimento em uma cota? Patrick Choate: O valor da “cota” é algo muito relativo. Ter a possibilidade de usar o túnel de vento da Embraer é algo que não tem preço. Hoje nos falta um pouco mais de 600 mil dólares para concluirmos o “Estágio 1” e cumprir com a metas de 2015. NdG: Este “Estágio 1” compreende ter o carro com todos os seus componentes, motor e sistema híbrido? O modelo do protótipo P1 está pronto para ir para o túnel de vento. Patrick Choate: Sim, inclui motor, câmbio e KERS. A primeira parte do projeto para 2015 prevê a construção, homologação e testes com o carro. No ano seguinte, 2016, testes e preparativos para a corrida. Um cenário extremamente positivo seria ir para a pista já em 2015, mas não conto com isso. Prefiro continar projetando expectativas para 2016. NdG: Mas se a viabilidade de se fazer um carro com sistema híbrido é tamanha, como que uma equipe bem estruturada como a Rebelion não consegue dar este passo adiante e passar a cometir diretamente com as equipes de fábrica? Patrick Choate: A diferença está na metodologia de trabalho. A Rebellion teria que gastar para desenvolver este sistema, nos preferimos utilizar a plataforma opensource (Imagine quanto não custaria ter 200 engenheiros trabalhando para eles por 4 anos?). Este valor não esta embutido no nosso preço/orçamento pois nos desoneramos do mesmo quando optamos por fazer o projeto atraves de uma plataforma “opensurce”. NdG: O que você poderia falar em termos de configuração do sistema Motor-Sistema Híbrido que será instalado no carro? Patrick Choate: No momento eu não tenho como dar uma descrição técnica precisa, mas é um projeto que é muito parecido com o da toyota em questão de distribuição ‘front/rear’. NdG: E o que falta hoje para se partir para a ação? Patrick Choate: O que precisamos agora é 1) amarrar uma parceria técnica/comercial com um fabricante de motor 2) testar o comportamento dos pneus no conjunto pronto 3) amarrar uma parceria comercial com o fabricante de pneu. ou então dos 600 mil dolares em dinheiro para custear esta etapa. No toral, o investimento será de pouco menos de 6 milhões de dólares. NdG: O projeto é e base francesa, mas e como vicê pretende estruturar a equipe? Patrick Choate: Brasileira, no mais que for possível! Serão pilotos, chefe de equipe, mecânicos, engenheiros, todos brasileiros. Já estamos conversando com dois pilotos brasileiros, com passagem pela Fórmula 1 para entrar neste projeto e ele se mostraram bastante entusiasmados. Por enquanto prefiro não revelar nomes. |