A temporada da Stock Car terminou, com Rubens Barrichello conquistando um título depois de 23 anos. 2014 teve uma particularidade, que nunca tivemos na categoria. O sistema de rodadas duplas levou as equipes a pensar em diferentes formas de estratégia para conseguir o melhor resultado possível no final de semana, o que não significava – necessariamente – estar no lugar mais alto do pódio. Conversamos com alguns pilotos e chefes de equipe ao longo da segunda metade da temporada para que eles nos dissessem como eles estavam vendo esta nova variável na competição. Sérgio Jimenez, Piloto da equipe Voxx Racing. É uma experiência nova para todo mundo e tudo o que vimos até agora em termos de estratégia é que as possibilidades são muitas e variam tanto de pista para pista como em função da colocação em que você larga ou que está ocupando depois de algumas voltas na corrida. O que todos sabemos é que, em condições normais, é preciso reabastecer o carro para fazer as duas baterias e que o abastecimento tem que ser feito com bandeira verde e a corrida em andamento. Também tem a questão de que, pelo menos um pneu tem que ser trocado. E esta parada é dentro de uma “janela”. Como nas corridas da Stock Car os fatores de imprevisibilidade são muitos e grandes, com uma bandeira amarela podendo ser acionada por um acidente ou condição de pista, tanto o piloto quanto o chefe de equipe precisam estar muito atentos para tomar a decisão mais adequada para aquele momento. A comunicação com a equipe é vital para que se tome a decisão mais correta. Se formos considerar uma situação, partindo do zero, começo de prova, carros saindo para a largada lançada, o ponto principal vai ser a tua posição de largada. Se você está entre os primeiros, dá pra pensar em partir pra ganhar ou chegar o mais na frente possível. Se está largando atrás, tem que tentar colocar o carro em 9º ou 10º pra largar na primeira fila na segunda corrida e chegar na frente nesta. Carlos Alves, Chefe da equipe Carlos Alves Competições. O campeonato da Stock Car, tanto o de pilotos como o de equipes é decidido por pontos e não por número de vitórias. Na maioria das vezes, uma combinação de resultados entre a primeira e a segunda corrida pode dar mais pontos para o piloto e para a equipe sem que se consiga vencer uma das provas do que vencendo uma delas tendo a outra comprometida. A preparação da estratégia começa quando termina o treino classificatório. Sabendo em que posição estamos largando, traçamos uma estratégia inicial para que os nossos pilotos consigam chegar na melhor condição de combinação de resultados possível. Depois que a corrida começa, tudo pode mudar. Vai depender de como foi a largada, da posição em pista em que nossos carros estão e aí a gente vai tentar adivinhar o que os outros chefes de equipe estão pensando para ver se mantemos a estratégia que pensamos inicialmente ou se teremos que mudar. Temos mantido uma posição entre os primeiros no campeonato e chegando nesta reta final com chances de conquistar o título. Acho que estamos fazendo a coisa certa por aqui. Felipe Fraga, Piloto da equipe Vogel. Planejamento todas as equipes estão fazendo, mas a verdade é que durante a corrida tudo tem mudado. Aquilo que foi pensado no boxe, que a gente discutiu em reunião e que largou pensando em realizar até agora não fizemos nada daquilo. Tudo mudou e precisamos tomar outros caminhos. Eu, pessoalmente, prefiro partir pra vencer a primeira corrida e ver o que dá pra fazer na segunda. Ao longo do campeonato, tive algumas provas em que larguei numa posição boa, andando entre os primeiros e apostamos em fazer uma estratégia para marcar o maior número de pontos e nem consegui ganhar a corrida nem ir tão bem quanto se queria na segunda. Por mim, é partir pra vencer a primeira. Agora, se a gente não consegue largar entre os primeiros, o que foi o caso em algumas corridas, tem que se partir para buscar uma boa colocação, neste caso entre os dez primeiros para ter vantagem na inversão do grid e tentar conseguir mais pontos na segunda corrida. O trabalho da equipe na parada de Box é fundamental para que qualquer estratégia dê certo. A gente não pode perder tempo que se ganha andando rápido na pista e, neste ponto a equipe é muito boa. André Bragantini, Chefe da equipe RC Motorsports. Em relação ao que a gente fazia no ano passado mudou completamente a linha de raciocínio. A parada obrigatória continua, a “janela” de parada continua, mas agora é preciso pensar que temos 20 minutos a mais de corrida e que o combustível que cabe no tanque não dá pra fazer as duas corridas, então é preciso pensar em com quanto se vai largar e quanto vai ser colocado na parada, quanto será e quanto estará o consumo de pneu para ver se e quantos terão que ser trocados além da troca obrigatória de um deles. Além disso, de um circuito para o outro tudo muda e se eu disser que temos aqui na equipe um plano predefinido, uma estratégia inicial, eu vou estar mentindo. Possibilidades sempre teremos algumas, mas é só com a corrida em andamento e o posicionamento do carro na pista em relação ao todo e em relação aos adversários diretos na briga pelo campeonato que nós decidimos o que vamos fazer. A conversa constante entre o piloto e o seu chefe de Box é fundamental. No caso do Thiago [Camilo] por exemplo, ele e o Andrezinho [Bragantini] conversam o tempo todo e dependendo de como o piloto estiver sentindo o carro, o Andrezinho passa o que o piloto está vendo ou “lendo” do carro e da corrida e assim eu passo para os mecânicos o que, como e quando será feito na hora do pit stop. As vezes a visão que o chefe de Box tem da corrida é diferente do que o piloto tem de dentro da pista e com isso acontece alguma discussão entre eles, mas isso é normal. Mesmo porque, as vezes a condição da corrida obriga você a mudar totalmente a estratégia em menos de uma volta. Tanto o piloto quanto a equipe tem que ter muito sangue frio para tomar a decisão certa e não comprometer a corrida. Caca Bueno, Piloto da equipe A. Mattheis. Este ano está sendo um bom aprendizado para todo mundo em relação a esta regra nova e é um quebra-cabeça, onde não é só a equipe em que você corre tem que pensar uma estratégia, mas também é preciso ver, analisar e entender a estratégia que as outras equipes estão usando para ver se aquilo que foi pensado aqui vai ser o melhor ou não, se vai ser preciso mudar, como mudar e o quanto mudar. Além disso cada pista tem uma característica própria e para cada uma delas, uma estratégia que melhor se adapta a ela. Este ano não estamos na ponta do campeonato, não por problemas de estratégia, mas por outros problemas no carro, com batidas, furo de pneus, mas ainda assim não estamos longe. Uma coisa boa neste formato é que, mesmo com um ou outro problema, está todo mundo junto, tá embolado e isso aumenta a competitividade no campeonato. Acho que é uma tendência deste regulamento impedir que um piloto dispare na pontuação e com isso a disputa pelo campeonato vá até a última etapa. Neste aspecto esta mudança e a necessidade de se pensar uma estratégia antes da corrida, uma estratégia que quase sempre muda ao longo da corrida e que tem permitido com que o campeonato fique mais disputado é uma coisa boa para a categoria e um desafio a mais para todo mundo. Todo mundo tem as mesmas possibilidades. Amadeu Rodrigues, Chefe da equipe Hot Car. O trabalho de montagem da estratégia começa pelo teu cálculo de combustível. Perdemos uma vitória numa das etapas em Santa Cruz do Sul – RS por conta de um erro de dois litros de combustível que colocamos a menos. O outro fator vai estar no consumo de pneus que o carro vai consumir, dependendo da tocada do piloto, da colocação dele na prova, da variação de temperatura no asfalto entre o que foi medido nos treinos e na corrida. Estes dois pontos vão determinar quantos pneus terão que ser trocados e o tempo que será gasto no total entre trocas de pneu e abastecimento. A estratégia é uma coisa que muda durante a corrida e que vai depender da colocação dos carros da equipe na pista. Existem combinações de pontos em que você pode abrir mão de vencer para ter uma combinação de resultados que no final da etapa vão te dar mais pontos do que se você vence uma corrida e não chega tão bem na outra. Não dá para estabelecer uma estratégia antes da largada e seguir sem mudar. Até agora isso não aconteceu e já estamos na reta final do campeonato. Tem sempre uma coisa, um imprevisto, um safety car que entra e, dependendo da hora que entra, pode ajudar ou atrapalhar tua estratégia, mas isso é da corrida e é pra todo mundo. A decisão é na hora, é tudo corrido como a corrida! Bia Figueiredo, pilota da equipe Pro GP. Quando corri na Fórmula Indy havia algumas etapas em rodada dupla, mas com uma corrida no sábado e outra no domingo. Aqui, com um intervalo tão curto, de apenas 20 minutos entre uma corrida e outra está sendo algo novo não só pra mim como para todo mundo. A gente até pensa uma estratégia antes da corrida em função da posição de largada, mas aqui na Stock ter uma confusão na largada é sempre comum ter alguma batida e com isso a gente pode ganhar ou perder muitas posições. Com isso, a estratégia já muda. Dependendo também da tua posição de largada, você pode optar por uma parada mais longa no pit stop e colocar mais pneus novos, mais combustível para a segunda corrida. Quando o safety car entra, muda tudo, dependendo do número de voltas que ele ficar na pista, dá até pra não abastecer... Do jeito que é a pontuação da Stock, é possível se fazer mais pontos no somatório das duas corridas com dois resultados intermediários do que vencendo uma corrida, o que deixa as coisas meio estranhas... ser melhor não ganhar é estranho, mas é uma coisa da regra e no final, a gente tem que somar mais pontos que os outros. É isso que dá o título. Mauricio Ferreira, Chefe da Equipe Full Time. Se você vem observando como os times vieram trabalhando isso da estratégia ao longo da temporada podemos ver que foi havendo uma evolução no real entendimento da regra. Na primeira etapa, em Santa Cruz do Sul – RS, era tudo meio novidade e se vermos os pilotos que mais pontuaram no somatório daquela etapa, nas outras que vieram acontecendo, os maiores pontuadores foram conseguindo cada vez mais pontos. Teve uma etapa que o Thiago Camilo fez mais de 30 pontos. O momento chave para se decidir o que fazer e como fazer é a situação que está o carro da equipe, no caso os carros, no momento da abertura da janela para as paradas obrigatórias de Box. É ali que se tem a maior possibilidade de conseguir ganhar posições sem ser na pista, sem usar o botão do “push to pass”. A referência é a décima posição. No momento da abertura dos boxes, qual a posição dos nossos carros em relação a esta colocação. Se estamos na frente, se estamos atrás, isso vai definir quantos pneus trocar, quanto de combustível colocar, também analisando o que os outros estão fazendo para que se consiga ter vantagem na parada e não perda. Este é o ponto chave para se buscar a maior pontuação em um final de semana e temos buscado isso.
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