Em um automobilismo onde, independente da categoria, os pilotos parecem pensar 3 vezes antes de falar qualquer coisa com receio de falar o que não deve, comprometer alguma relação comercial ou incomodar alguém no meio onde está inserido, conversar com alguém sem papas na língua como Jacques Villeneuve não é apenas divertido, é ter a chance de voltar um pouco no tempo, onde os pilotos eram destemidos tanto dentro quanto fora das pistas. Aos 44 anos, campeão de Fórmula Indy em 1995 e da Fórmula 1 em 1997, Jacques Villeneuve poderia perfeitamente “viver do passado” e de suas glórias nas pistas, como ter ganho as 500 Milhas de Indianápolis ou ter “sobrevivido a um ataque kamikaze” de Michael Schumacher. Contudo, o canadense dotado do DNA de uma família com tanta velocidade nas veias (Não apenas o pai, o MITO Gilles, mas seu tio, também chamado Jacques, aceleraram fundo) não consegue ficar muito tempo longe das pistas... e acreditem: ele ainda quer correr regularmente, e não “eventualmente”, como foi na abertura da temporada da Stock Car no Brasil. E foi lá em Goiânia que Jacques Villeneuve teve uma divertida conversa conosco. Na verdade, foram três momento em que conseguimos falar com ele ao longo do final de semana... e ele falou tudo, sem cerimônia! NdG: Jacques, você nasceu e cresceu na Europa, começou correndo lá, mas foi nos EUA que “o mundo descobriu você”, apesar do mítico sobrenome que você carrega. Como foi ser piloto nos EUA onde eles mal sabem que existe a F1? Ter um sobrenome famoso não vai fazer de você um grande piloto. Eu precisava escrever a minha própria história. Jacques Villeneuve: Eu cresci na Europa, corri de kart muito pouco. O que apurou meus reflexos foi o esqui, acredite se quiser. Logo fui para a F3 italiana e depois na F3 japonesa antes de ir para a F. Atlantic nos EUA. Já cheguei lá com uma boa quilometragem e acostumado com campeonatos duramente disputados. Ter um sobrenome famoso não vai fazer de você um grande piloto. Quando comecei a correr o que mais me perguntavam era se eu ia “daria sequência ao que meu pai fazia”. Meu pai tem um nome, uma história e é reconhecido, reverenciado por tudo o que fez, mas eu precisava escrever a minha própria história e eu não dizia o que os jornalistas queriam ouvir... e continuei fazendo isso por anos (risos). Eu dizia que estava correndo por gostar de automobilismo e não por meu sobrenome ser Villeneuve. Se você não tiver vontade ou vocação para ser piloto, seu sobrenome não vai fazer o seu trabalho. Correr nos Estados Unidos, nos campeonatos da Fórmula Indy foi uma boa escola na minha formação como piloto. São muitas variáveis, como circuitos ovais variados, que tem diferenças entre eles, pistas de rua e circuitos mistos. Não há uma grande diferença entre as equipes e isso dá mais chances ao piloto de mostrar seu talento. NdG: Depois de três anos correndo nos Estados Unidos você não apenas foi para a Fórmula 1, mas entrou em uma equipe de ponta na categoria como era a Williams àquela altura. Como foi a sua adaptação ao “mundo da Fórmula 1” e que diferenças você viu em relação ao ambiente da Fórmula Indy? Jacques Villeneuve: As categorias de monopostos dos Estados Unidos eram em algumas corridas mais rápidas do que as categorias que seriam a sequência para se chegar na Fórmula 1 e a Fórmula Indy em si era mais rápida que a Fórmula 1 por conta das corridas em circuitos ovais. Portanto, tecnicamente, não houve nenhum problema em termos de velocidade ou pilotagem. Como eu cresci na Europa, sabia como o pessoal do automobilismo europeu pensava, então isso não foi problema também. A diferença foi a mídia. Nos Estados Unidos eu era o Jacques Villeneuve e na Fórmula 1 veio toda aquela coisa de ser filho do meu pai e comparações que nada tinham a ver. NdG: A primeira corrida da temporada foi na Austrália, uma pista nova para todos e você foi o mais rápido nela. Você esperava por isso? A Equipe esperava por isso? Jacques Villeneuve: Era a primeira corrida naquele traçado então não havia conhecimento prévio, não havia parâmetro inicial para acertar o carro e aí todos tiveram que trabalhar muito para encontrar a melhor forma de virar rápido. Consegui marcar a pole e liderei a corrida na maioria das voltas. Infelizmente tive aquele problema no sistema de lubrificação e precisei reduzir o ritmo de corrida. Na verdade, depois de tudo o que ocorreu naquele final de prova, tive sorte em conseguir terminá-la. NdG: A Williams é “famosa” por estabelecer regras dentro de sua filosofia para privilegiar pilotos. Nos anos 80 tentaram impor isso com Alan Jones sobre Carlos Reutemann. Nelson Piquet teve sérios problemas com Nigel Mansell, que depois teve tudo para si com Ricardo Patrese. Havia alguma instrução para você não “atacar” Damon Hill? Eu me adaptei rápido à F1. As categorias dos EUA eram mais rápidas em certas codições e eu comecei no automobilismo europeu. Jacques Villeneuve: Não, de forma alguma. Na corrida da Austrália ele só passou por conta do problema que tive. Do contrário, não passaria, nem com ordem de boxes. Acontece que nas corridas seguintes eram todos circuitos onde ele já corria há anos e eu estava indo pela primeira vez. Ele tinha referências que eu não tinha e conseguiu ser, naturalmente, mais rápido. Não houve nenhuma ordem de equipe para favorecê-lo e nós tínhamos um ótimo ambiente la dentro. No ano seguinte, mais adaptado à Fórmula 1 e com mais conhecimento dos circuitos europeus e asiáticos, consegui ter um desempenho melhor, vencer mais corridas e ser campeão. NdG: Há uma pergunta sobre aquela corrida em Jerez que se falou na época e depois dela que pareceu estranho. Saiu uma matéria em algumas revistas dizendo que teria havido uma combinação nos boxes entre Ron Dennis e Frank Williams para você “abrir caminho” para as McLarens uma vez que eles teriam “ajudado muito” naquela corrida. Você pode falar algo sobre isso? Jacques Villeneuve: Eu não sei se isso aconteceu e eu não recebi nenhuma comunicação de Box via rádio ou placas para fazer isso. O que aconteceu é que a batida do Michael [Schumacher] pode nem ter parecido grande coisa na transmissão da televisão. Eu cheguei a ver depois as imagens, mas o comportamento do carro mudou e eu percebi que alguma coisa estava errada e como eu poderia conquistar o título até com uma posição fora do pódio, procurei manter o carro na pista. Avisei a equipe nos boxes e ficamos torcendo para nada acontecer de errado. Quando tiraram a carenagem do carro vimos que a bateria estava segura apenas pelo cabo elétrico. Foi uma sorte ela não desconectar e eu parar na pista antes da bandeirada. Com a aproximação das McLaren o que eu recebi de orientação foi para não brigar, que o importante era garantir o título... e foi o que eu fiz. NdG: Você era o campeão do mundo e poderia partir para ter mais conquistas na Williams ou em outra equipe, mas você fez, com apenas dois anos de Fórmula 1, investir num projeto de uma equipe, onde você seria dono e piloto. O que o levou a isso? Jacques Villeneuve: Eu sempre fui movido por desafios e aquela decisão foi um grande desafio que eu resolvi encarar. Nos Estados Unidos, na Fórmula Indy, eu vi alguns pilotos serem donos de suas próprias equipes e eles estabeleceram os meios como elas deveriam funcionar e muitos tiveram sucesso. Na minha cabeça, fazer com que a BAR viesse a ser uma equipe vencedora era algo possível na Fórmula 1. NdG: Você foi dono de equipe e a gente vê hoje em dia muitas queixas sobre os autos custos do automobilismo não apenas na F1, mas em qualquer categoria. Como você lidava com isso? Você ganhou dinheiro como dono de equipe? Eu sempre fui movido por desafios e ter uma equipe própria era um. Nos Estados Unidos muitos pilotos fizeram isso. Jacques Villeneuve: Automobilismo sempre foi caro e sempre vai ser caro. Proporcionalmente talvez os custos de algumas categorias talvez tenha aumentado mais do que outras, como pode ser o caso da Fórmula 1, mas sempre foi caro. Eu ganhava o meu salário como piloto da equipe BAR. Eu tinha um contrato onde eu era pago para correr, mesmo sendo dono da equipe. Como dono da equipe, não ganhei nada. A equipe corria para conseguir pagar suas contas, os membros da equipe e não sobrava dinheiro. Além disso, eu não era o único dono e tinham alguns aspectos políticos dentro da equipe que se formos falar levará horas. NdG: Como assim, “aspectos políticos dentro da equipe”? Foi por isso que vocês venderam a equipe ou você vendeu sua parte? Jacques Villeneuve: Eu não vendi minha parte. Nós não vendemos a equipe. Um dia meu gerente e sócio (Nota do NdG: Craig Pollock) chegou para mim e disse que a equipe não era mais nossa e que teríamos que ir embora. Eu perguntei se ele havia vendido a equipe e ele disse que não, que simplesmente a equipe não era mais nossa. E assim acabou minha participação na Fórmula 1 na BAR. NdG: Depois da Fórmula 1 você correu em diversas categorias, disputou algumas corridas nelas e chegou perto de vencer nas 24 Horas de Le Mans. Hoje você está aqui, correndo no Brasil mais uma vez. Quão alto o automobilismo ainda fala dentro de você? Jacques Villeneuve: Muito alto. Ainda sinto muito prazer em pilotar e estou trabalhando para fazer uma nova temporada completa na Fórmula Indy. Queria ter fechado para este ano, mas não foi possível. Agora estou trabalhando para ver se consigo isso para o ano que vem... ano as 100ª 500 Milhas de Indianápolis. Será fantástico se eu conseguir estar lá e com chances de vencer. No ano passado eu consegui voltar a Indianápolis, larguei em 27º e cheguei em 14º com um carro da Schimidt Peterson e foi uma sensação incrível. Eu sinto que ainda posso andar entre os primeiros. Minha vontade de vencer continua a mesma só que agora tenho a vantagem de ser mais experiente. Essa maturidade te ajuda a tomar as decisões certas nos momentos mais difíceis. Quando você é jovem é mais fácil cometer erros e cm o passar do tempo ficamos mais críticos e atentos para tomar a decisão certa na hora certa. NdG: os pilotos gostam de usar o termo “divertir-se” para quando estão pilotando com prazer. Onde você mais se divertiu nestes anos pós Fórmula 1? Jacques Villeneuve: Em praticamente tudo que andei pilotando. Andar em Indianápolis foi fantástico, mas as corridas no RallyCross foi incrível. É muita adrenalina, o piso muda, o carro voa... de alguns anos para cá, vários pilotos do mundo inteiro participaram de eventos do RallyCross. Eu vi algo antes pela televisão e depois pessoalmente e me interessei em fazer. Eu tinha feito umas corridas no gelo na França e pensei: porque não? Foi super divertido. Perdi algumas corridas por conta das corridas de F1 que comentava pra televisão, mas foi uma das coisas mais legais que fiz ao volante. NdG: Você esteve comentando a F1 para um canal de TV na Europa. Falando as coisas no “seu estilo”, direto ao ponto doa a quem doer ou pensando bem para colocar as palavras? Eu não vendi a BAR em 2006. Um dia, meu manager chegou e disse que a equipe não era mais nossa. Jacques Villeneuve: Eu tinha liberdade total para falar o que tivesse que falar, do jeito que eu achasse que devesse falar. Se eu tivesse que ficar medindo as palavras, evitando críticas ou colocações que pudessem ser consideradas polêmicas, tendo que “ser político”, mentindo, fingindo, não teria aceitado o convite. No Paddock tem diversos pilotos trabalhando como comentaristas e é bem legal encontrar alguns deles e trocar uma ideia. NdG: E como Jacques Villeneuve vê a Fórmula 1 nos dias de hoje? Jacques Villeneuve: Chata! Não gosto do que vejo nem do que ouço. Os pilotos não tem mais a capacidade de trabalhar o carro, a começar que quase não se treina mais. Sempre achei os aspectos mecânicos do automobilismo muito importante. Hoje tem sensor pra tudo no carro da F1. O piloto, a equipe podem dispor dos dados apurados pela telemetria e por eles decidir o que fazer ou não. Ao invés de sentar e andar, entender o comportamento do carro, o piloto senta ao lado do engenheiro e vai analisar a telemetria. Estão matando a F1 sem sentir. Regulamentos chatos, carros sem barulho, feios pra cacete, lentos... como pode os carros de hoje ser mais lentos do que os 10 anos atrás? Não sei como vai ser quando o Bernie [Ecclestone] morrer. Ele já está com mais de 80... por quanto tempo vai continuar ativo? A categoria parece perdida e não se tomam decisões corretas e as equipes tem responsabilidade nisso. Eles não querem competição, querem vencer. Querem fazer coisas que beneficiem a elas e não a categoria. A F1 é competição, é esporte de ponta e tecnologia, mas precisa de um gerente e está faltando comando. NdG: Você então acha que esta coisa de “Grupo de Estratégia” e participação das equipes não funciona? Jacques Villeneuve: Eu acho que se hoje a Mercedes está ganhando tudo as outras equipes tem que reclamar menos e trabalhar mais. Uma equipe ter supermacia sobre as outras, em qualquer campeonato que seja, em qualquer categoria que seja, é um mérito conquistado pelo trabalho que eles tiveram para chegar naquele estágio. Se a Mercedes está andando na frente e as outras não conseguem derrotá-los, que trabalhem para chegar no mesmo estágio. No ano passado os pilotos da Mercedes disputaram o título até a última prova. Isso é legal. Houve disputa. Sou contra se mudar as regras para que a Mercedes perca sua vantagem. Isso é depreciar o mérito de que fez seu trabalho corretamente, de quem foi competente. Não devemos premiar a incompetência. Isso é errado. As corridas estão artificiais. Essa coisa do DRS (asa móvel para facilitar as ultrapassagens). Adotaram o DRS e tivemos 50 ultrapassagens numa corrida. Reclamaram que era demais. O que querem então? Precisamos de corridas de verdade. É isso que está faltando. NdG: E tem como fazer isso hoje? Jacques Villeneuve: Se tiverem vontade e coragem... teriam que tirar a telemetria. Fazer o piloto trabalhar o carro, passar informação sem ler mapas ou ser guiado pelo engenheiro via rádio. Dar mais liberdade ao desenvolvimento, em especial dos motores. Hoje tem um limite de combustível, então se estabelece um limite de fala: façam um motor que empurre o carro o mais rápido possível e consiga chegar ao final da prova! Isso provocaria desenvolvimento tecnológico, motores eficientes e econômicos. Tinha que ter mais de um fabricante de pneus, isso também é desenvolvimento. NdG: Será que os pilotos de hoje se adaptariam a estas mudanças? A F1 está chata. Os pilotos não são mais pilotos. Não aprendem, não acertam os carros. São dependentes da telemetria. Jacques Villeneuve: Iriam sim... eles não são burros, mas há um problema na formação de uma geração inteira de pilotos. Eles estão lendo mapas de telemetria desde a F3, teriam que reaprender a pilotar como pilotavam no kart. Sem a telemetria o talento deles iria aparecer e sem impressões artificiais. Dizer que um menino saído da GP2 é um futuro campeão é algo ridículo. A categoria que era para ser o último passo também se perdeu. Seus campeões não conseguem entrar na F1 e não é só a questão do talento, mas também do dinheiro. É o tamanho da conta que está cada vez mais definindo quem vai entrar ou não na categoria. NdG: Falando sobre esta vinda aqui, mais uma vez para correr na Stock Car, desta vez não em Interlagos, um circuito que você conhecia da F1, mas em Goiânia, o que está achando da cidade, da pista, do carro... Como está se sentindo? Jacques Villeneuve: O Brasil é agora minha segunda casa, né? Estou casado com uma brasileira e Goiânia parece ser uma cidade muito bonita e sem aquela coisa de super metrópole como São Paulo. Gostei do autódromo. Muito bem cuidado, um traçado bom, seletivo. Tem uns remendos numas curvas que tem uma diferença de aderência, mas é assim pra todo mundo e cada um tem que se adaptar da melhor maneira possível. O carro mudou desde 2011 quando vim aqui da outra vez. O motor continua fraco. Um V8 deste tamanho tinha que ter mais cavalaria, mas a resposta dos freios e dos pneus permite que você vá no limite nas curvas. Não gostei deste banco, o tronco e as pernas estão praticamente em 90º. O cinto de segurança, quando o mecânico apertou, quase esmagou meu saco! Eu falei pra ele apertar menos, que eu tenho mulher e eu tenho que fazer o meu trabalho em casa também. Eu corri umas provas na V8 Supercars e na Top Race, mas este carro aqui, do meio pra trás a gente não vê nada! Nem sei pra que tem retrovisor... e no nosso carro ainda colocaram uma câmera apontando pra gente. Disseram que é “pra mostrar as reações do piloto”. Acho que ela pode sofrer um acidente durante a corrida e cair do suporte (risos). NdG: Você falou da sua esposa... você “derrapou nas curvas” de uma brasileira? Como foi isso? Jacques Villeneuve: (Risos) Foi mais ou menos isso... eu a conheci em 2011, quando vim correr aqui com o Ricardo [Zonta] a primeira vez. Depois vim ao Brasil algumas vezes para convencê-la a ter um relacionamento comigo. Tive que ser bem insistente, mas consegui. Hoje estamos casados, temos dois filhos, dois meninos e ela ainda tem os outros dois do meu primeiro casamento em casa. Quatro meninos! Não é fácil, mas ela tem se mostrado uma super mãe e uma grande esposa. NdG: Mas você tem como ajudar, tocando violão e cantando para eles... uma coisa que marcou sua chegada ao Brasil em 1996 para o GP de F1 foi a sua guitarra na bagagem. Você chegou até a gravar um CD, não é verdade? Como anda este lado musical? Jacques Villeneuve: Está complicado. Com quatro filhos eu preciso das mãos livres. Não dá para ficar tocando. Eles não param com música (risos). NdG: Se um ou mais de um de seus filhos quiser ser piloto, como você pretende agir? Se alguém chega pra mim e fala sobre o filho ser piloto, digo pra procurar outra coisa. Se um dos meus quiser, terá que se esforçar. Jacques Villeneuve: Se algum deles quiser, claro, vou ajudar, vou orientar, mas se eu tiver de pagar sua carreira não. Não acho que se deva dar uma chance para alguém só por ser jovem e a vida é difícil. Você tem que merecer ter esta chance, o que é diferente. Se ele se mostrar de verdade interessado, estiver disposto a correr os riscos, acordar cedo, submeter-se aos sacrifícios de ser piloto, sim. Se for isso mesmo, ele vai começar pelo esqui, como eu. Ali poderia entender sua mentalidade como enfrentar os problemas para se tornar mais rápido. Isso pode ser aplicado no kart, num fórmula ou qualquer outro carro. NdG: Quando seu pai morreu você tinha apenas 11 anos e era complicado falar, no início da carreira sobre “ser como seu pai” ou “continuar a trajetória do seu pai”. Mas hoje, homem maduro, campeão do mundo, piloto respeitado aonde vai e dono de fortes pontos de vista, como você vê Gilles Villeneuve? Jacques Villeneuve: Ele era um piloto muito rápido e talentoso. O fato dele ser piloto despertou meu gosto pelo automobilismo e ele incentivava isso. Aos 4 anos eu tinha uma mini moto e brincava de motocross, fazia saltos. Ele gostava disso! O fato dele ter morrido me obrigou a amadurecer mais rápido. Se estivesse vivo, conviver com o que ele representava poderia ter sido mais difícil no meu caminho como piloto e como homem. Tem coisas que acontecem nas nossas vidas que mesmo duras, vem para nos ensinar algo positivo. Tenho dele essa coisa de buscar o limite, desde a mini moto, depois no esqui e que levei para o automobilismo. As pessoas têm um amor por ele que vai além dos resultados que conquistava. As pessoas entendiam que fazia aquilo por paixão, isso era a coisa mais importante para ele. Meu pai fazia os torcedores sonharem, era uma época de heróis, assistiam à corrida e diziam a si próprios que não poderiam fazer aquilo, não poderiam assumir aqueles riscos. |