Em meu ramo profissional, a indústria offshore, procuro passar para as pessoas com quem trabalho, independente da função que exercem, que nós temos dois patrimônios para cuidar: um deles, é mensurável: São os equipamentos com os quais lidamos, os riscos profissionais da nossa atividade, o meio ambiente e o risco de poluição. O outro, é imensurável: São as vidas de cada um que está ali, trabalhando pelo pão de cada dia, que tem familiares separados de nós por semanas com os quais podemos falar apenas por telefone ou pelo computador. Para quem vê um familiar partir deste período que ficamos aqui neste mundo, o sentimento de perda não pode ser traduzido em gestos, números ou palavras. Nesta sexta-feira, na noite de julho – aqui no Brasil – início da madrugada de sábado na França, a família Bianchi viu esvair-se a última chama, a esperança de um milagre. Jules está agora na eternidade. Gostaria de saber o que deve estar passando agora na cabeça do senhor Charlie Whiting neste momento. Talvez ele só fique sabendo ao acordar na manhã deste sábado... caso eu tivesse seu telefone, ligaria para ele, no meio da madrugada, para tirar-lhe o sono e fazê-lo refletir pelo ocorrido naquele chuvoso domingo de outubro em Suzuka, no Japão. Será que ele realmente acredita naquela nota dada pela investigação onde as autoridades empurraram para o piloto a culpa pelo acidente e o diretor de prova – ele mesmo – colocou a bandeira verde no posto que ficava apenas 5 metros à frente do acidente, quando poderia – e deveria – colocar no posto seguinte? É preciso ser muito Homem (com H maiúsculo) para assumir um erro como este e as implicações que adviriam disso... mas não cabe a mim, um simples fã de automobilismo, julgar ninguém, mas confesso que o sentimento de indignação é forte. Depois do acidente, agora fatal, de Jules Bianchi, medidas foram tomadas para que a velocidade da corrida inteira fosse reduzida... o tal do “Safety Car Virtual”, que obriga todos os pilotos a reduzirem o ritmo de corrida enquanto o “ponto crítico” não for liberado. Um dos mais críticos colunistas do site escreveu, duramente, sobre o assunto e o "relatório da investigação do acidente" (Leia Aqui). Precisou, 20 anos antes, dois pilotos morrerem na pista (SIM, NA PISTA) em Ímola para que as células de sobrevivência dos carros de Fórmula 1 fossem extremamente modificados, que as laterais do cockpits dos carros subissem até a altura dos olhos dos pilotos. Agora, com a morte confirmada de Jules Bianchi, certamente a executiva burocrata da FIA, da FOM e – talvez – as equipes do Grupo de Estratégia venham se manifestar e buscar alguma medida a mais. Contudo, nada que vier a ser feito trará Jules de volta, consolará Philippe, Christine, Tom e Melaine. Gostaria muito que estas pessoas que se viram envolvidos em acidentes como o de Jules Bianchi, de Roland Ratzemberger e de Ayrton Senna, apenas para citar os três últimos, tivessem mesmo remorsos pelos seus atos, por suas omissões e que isso tirasse o sono deles pelo resto da vida... eles mereciam isso! Em 2013 tive a oportunidade de conversar algumas vezes ao longo do final de semana no kartódromo do parque Beto Carrero, durante o final de semana do Desafio Internacional das Estrelas. Sempre sorrindo, sempre acessível, falamos sobre três carros na mesma equipe de F1, sobre a paixão pelo Kart, sobre hobbies e lazer... Em um dos nossos papos, junto com o Beto Monteiro, ele ficou espantado e bem impressionado quando falamos sobre aquele caminhão de quase 5 toneladas chegar no final da reta dos boxes de Interlagos a 230 Km/h... ele ganhou uma miniatura do IVECO #88 e os seus olhos de piloto brilharam quando falamos em, “quem sabe você não vem por aqui e dá uma voltas sem compromisso?” A gente conversava por redes sociais e ele seria nosso entrevistado no site em 2014, mas uma queda de skate e uma trinca no antebraço cancelou sua vinda para o Brasil. Nos falamos algumas vezes em 2014, a última foi depois dos pontos do GP de Mônaco... Pessoas bacanas, como Jules deveriam viver para sempre, e ele viverá! Flavio Pinheiro
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