Depois da realística conversa com Jauneval de Oms, Diretor da Inepar, proprietária do Autódromo Internacional de Curitiba (que inclui também o kartódromo anexo, o Raceland), onde ele deixou claro a necessidade de se vender o autódromo (leia a matéria aqui), o Projeto Nobres do Grid abriu duas “frentes de ação”: A primeira, trabalhando com uma difícil, mas não completamente descartada – ao menos por parte de alguns grupos envolvidos com atividades e eventos – de redirecionamento do destino, não apenas do autódromo, mas também do kartódromo, através de uma ação combinada envolvendo interesses públicos e privados, em mais de uma esfera governamental. A segunda, buscando alternativas em parcerias privadas com interessados e procurando, áreas próximas à região metropolitana da Grande Curitiba (Capital do estado e cidades vizinhas) com potencial disponibilidade para a instalação de um novo complexo automobilístico, capaz de atender as necessidades daqueles que hoje fazem uso das instalações da cidade de Pinhais. A região da "grande Curitiba" e vizinhanças (Google Earth) foi alvo de busca de áreas potenciais para uma alternativa ao AIC. Neste processo de pesquisa, acabamos por encontrar um projeto que está dando seus primeiros passos e que, potencialmente falando, pode vir se tornar realidade. Tanto por parte do proprietário da área, bem como pela concepção do projeto, uma vez que não se trata apenas de se construir um novo autódromo, mas de se fazer todo um complexo residencial, comercial e dentro de uma visão ‘ecologicamente correta’, criar um núcleo urbano integrado ao meio ambiente. A implantação de um autódromo junto com um núcleo residencial e comercial não é uma ideia nova. Nos anos 20, no estado de São Paulo, um projeto como este (logicamente sem a mesma ótica ambiental) foi apresentado e implantado a partir da ideia do engenheiro britânico Louis Romero Sanson, dono da empresa de construção Auto-Estradas, visto como um futurista, planejou a construção de um resort entre as represas de Guarapiranga e Billings. Dentro deste espaço, foi projetada a construção de um autódromo. Juntamente com ele entrou na empreitada o urbanista francês Alfred Agache, que acabara de trabalhar no Plano para Remodelação, Expansão e Embelezamento do Rio. E foi justamente Agache quem viu uma semelhança da região sul de São Paulo com Interlaken, na Suíça, de onde se originou o nome “intra lagos”. A filha de Sanson então sugeriu um nome um pouco diferente: “Interlagos”! Existe na cidade de São José dos Pinhais uma área de 8 milhões de metros quadrados, de propriedade de uma única pessoa (a qual, por enquanto, não divulgaremos o nome) que vem há algum tempo tratando com o arquiteto Otávio Urquiza Chaves sobre a implantação de um projeto urbano em sua propriedade, enquadrando-se no modelo de “Ecovila”, com construções dotadas de soluções ambientais para o impacto que sua implantação causará, buscando a compensação da mesma. Área demarcada do município de São Josédos Pinhais (Google Maps) Dentro do projeto foi inserido uma pista de pouso para aviões com 1.500 metros, a fim de atender uma outra demanda em curso: a possibilidade de desativação das instalações do Bacacheri, onde funciona hoje o Aeroclube de Curitiba. A pista, no projeto, fica há 8 Km da pista do Aeroporto Internacional Afonso Pena e, na concepção do projeto, haverá hangares para os proprietários das aeronaves junto a mesma como se fossem garagens. No anteprojeto apresentado, consta a implantação de mais de 600 lotes com 600 metros quadrados cada um, duas pequenas represas com capacidade para geração de energia para o complexo, implantação de um centro de convenções, de hotéis e áreas comerciais. Em meio às discussões, surgiu a ideia de se implantar um autódromo, tendo em vista o cenário de desfecho do AIC. O dono do terreno gostou da ideia, o arquiteto, que foi mecânico voluntario de kartistas amigos e que também deu suas voltas, idem e algumas pessoas que vieram acompanhando o projeto também consideraram viável a implantação deste novo componente. Na primeira reunião do grupo de trabalho que se reuniu para falar sobre o projeto, no dia 16 de julho, depois de apresentados os pontos, surgiram muitas perguntas e uma nova reunião foi marcada para o dia 29 deste mês. Vista aérea da região de São José dos Pinhais (Google). A área do município permite possibilidades... A discussão em torno do projeto é o primeiro passo de uma longa caminhada até que ele venha a se tornar realidade. Um dos maiores empecilhos quando se pensa em implantar um projeto arquitetônico de porte como este, que cria um núcleo habitacional, instala um pequeno aeroporto e um complexo automobilístico, com autódromo e kartódromo, é a obtenção da “licença ambiental”. No caso da pista de aviação, tem que haver a aprovação da ANAC. Como foi dito no começo da matéria, os primeiros passos ainda estão sendo dados e em busca de maiores esclarecimentos, fomos conversar com o arquiteto Otávio Urquiza Chaves, um curitibano que morou por muitos anos no Rio Grande do Sul (formou-se na Unisinos no final dos anos 70) e que, como ele disse, “inspirado pelos conceitos de Jaime Lerner”, arquiteto e urbanista, ex-prefeito e ex-governador do estado, abraçou a arquitetura e vem trabalhando neste conceito de integração com o meio ambiente para desenvolver projetos sustentáveis. NdG: No papel o projeto apresentado é extremamente interessante, mas hoje todo projeto que venha a atingir uma área não ocupada precisa passar pelo licenciamento ambiental. Como está este processo? Otávio Urquiza: Nós ainda estamos em uma etapa de prospecção do projeto, todos os aspectos, inclusive a implantação do autódromo no projeto ainda está em fase de estudos. Contudo, da forma como o projeto está sendo concebido e a sua integração com a natureza, mesmo envolvendo um autódromo, nós acreditamos que não teremos problemas em obter as licenças. O problema é que o Brasil tem grandes contradições neste campo devido a politização das instituições. Tecnicamente não tenho receio nenhum, nem com relação a ocupação nem da forma como biologizamos as áreas. Biologizar é o ponto de inflexão onde depois de tanto destruir a natureza para expandir as construções, hoje a busca é a de construir de forma que a construção ajude a complexidade biológica. Antes de chegar no estágio de buscar as licenças precisamos construir um projeto econômico, consolidar as parcerias para a construção do autódromo, dos hotéis, das barragens, da pista de pouso e das habitações e da infra estrutura que vai se instalar ali. É uma área total de 8 milhões de metros quadrados e uma ocupação de 3,5 milhões de metros quadrados. NdG: O projeto não foi concebido, inicialmente, com a implantação de um autódromo dentro dele. O que levou os interessados a fazer isso, “enfiar” um autódromo no projeto? Depois de 35 anos, Otavio Urquiza Chaves está voltando a morar em Curitiba, com seus projetos de arquitetura biosustentável. Otávio Urquiza: Risos... agora a culpa é do Arnaldo. (Nota do NdG): No nosso encontro com Otávio Urquiza Chaves, estava presente o empresário Arnaldo Wrublevski, um dos interessados e integrante do grupo de empresários interessados no investimento do projeto. Arnaldo Wrublevski: Quando eu tomei conhecimento do projeto e vi o espaço que o mesmo vai ocupar, associei com a questão que estamos vivendo com o problema do AIC e eu perguntei para o Otávio se não caberia aí um autódromo, por que a área é muito grande e uma parte não tinha a ocupação de terrenos para casas. Poderia se colocar ali um traçado muito bonito e ele disse: “deixa comigo”! Depois eu fiquei pensando: acho que falei besteira... aquilo é um projeto residencial, onde as pessoas vão querer silêncio e as pessoas vão querer justamente o oposto. Eu pensei até em pedir para ele desconsiderar o que eu falei, mas aí ele veio todo empolgado, dizendo que a ideia era boa e que o traçado poderia ser implantado sem atrapalhar o projeto. O proprietário também adorou a ideia e disse que dentro do que foi pensado, nenhuma árvore precisaria ser removida e tem como fazer as correções do terreno com a própria movimentação de terra do terreno. Daí eu fui falar com alguns chefes de equipe que conheço sobre o projeto e eles acharam fantástico por não estarem vendo uma solução para o problema do AIC. Alguns clubes que promovem eventos no autódromo também se interessaram. Eu já tinha corrido todas as prefeituras da região metropolitana, buscando alternativas para o fim do AIC e não vinha encontrando nada que pudesse tomar vulto e ir em frente... este projeto tem um desafio muito grande pela frente e na primeira reunião nós saímos com mais perguntas do que respostas. É um projeto grande e vamos precisar de muita gente para concluí-lo. NdG: Integrar um projeto residencial e um autódromo. Em Interlagos isso foi pensado nos anos 20. Em Goiânia, a cidade cresceu na direção do autódromo e os moradores do condomínio, instalados décadas depois, reclamam do barulho do autódromo. Como não ter o mesmo problema neste projeto? Otávio Urquiza: É importante pensar em dois movimentos. Um é a questão de como inserir aviões e automóveis com o menor impacto possível. Eu ouvi do Cordova [José Cordova, chefe de equipe no Mercedes Challenge] que a “era do barulho” está no fim, que o futuro é termos motores menos barulhentos. O outro é que a história da arquitetura do sul do país é o de uma não preocupação com o conforto térmico e o conforto acústico. Então, dentro dos projetos das casas que serão implantadas a concepção de um projeto termoacústico vai ser empregue. O impacto do automóvel é muito grande no nosso meio e não adianta se pensar num projeto como este um espaço para 5 mil vagas de automóveis. A sociedade precisa aprender como usar alternativas. Aqui vai passar uma linha de trem e ela vai interagir com o projeto e em dias de evento, ter o transporte usando esta via ser usada para o transporte de pessoas. Um outro aspecto a ser observado é que se em Interlagos a cidade levou algumas décadas para chegar e envolver o autódromo, a velocidade hoje está dez vezes maior. O que precisamos fazer é com que as leis ambientais que não balizavam as construções no passado, guie os projetos atuais para que tenhamos sustentabilidade. Acho que mesmo tendo um autódromo inserido, teremos coisas boas ali implementadas. Arnaldo Wrublevski é um dos empresários que está investindo esforços na viabilização do projeto envolvendo o autódromo. NdG: Há um projeto com similaridades com este que vocês estão pensando, em Curvelo-MG, que está num estagio mais avançado. Vocês tem algum contato com eles? Arnaldo Wrublevski: Sim, nós temos conversado com eles e eles já se colocaram à disposição para nos ajudar no que for preciso. Além disso, estivemos em contato com a CBA e recebemos do diretor Johnny Bonilla um caderno de instruções de como construir um autódromo e no que conversamos com o Meinha [Rosinei Campos, Chefe de equipe na Stock Car] e com o [José] Cordova é que temos que pensar em um autódromo para atender as necessidades regionais, para corridas nacionais, que não é viável se pensar em algo para receber uma Fórmula 1. Reunião do dia 29 de julho de 2015 no Conselho de Arquitetura e Urbanismo. Nesta quarta-feira, dia 29 de julho, deu-se a segunda reunião na sede do Conselho de Arquitetura e Urbanismo, contando com a presença do presidente do mesmo, Jeferson Dantas Navolar, da representante no Brasil do Global Compact Citties Programme, Rosane de Souza, os empresários Arnaldo Wrublevski e Ruslan Carter, este último também ex-piloto, promotor de categoria e chefe de equipe, além dos colegas de mídia eletrônica Moacir Costa [Esporte a Motor] e Rafael Ferreira [Paddock Curitiba]. Rosane de Souza apresentou o que é o Global Compact Citties Programme, que é ligado à ONU, diretamente ao gabinete de Koki Annan, e mostrou o quanto um projeto ligado às preocupações de integração bio sustentável pode ter o seu caminho facilitado para ser aprovado e financiado em sua execução através deste “selo” da ONU. Reunião do dia 29 de julho de 2015 no Conselho de Arquitetura e Urbanismo. É bom deixar claro que o projeto inicial não contemplava um autódromo e nem mesmo a pista de pouso e para que tal projeto dê os passos seguintes, é necessário que a interface entre os investidores e o proprietário da área sejam feitas, sem pontos discordantes para se dar o passo seguinte: conseguir a aprovação do projeto junto às autoridades. É preciso ser otimista e acreditar que este projeto pode se concretizar... mas a caminhada será longa e dura. Ainda há muito o que se discutir antes da primeira pá ou trator chegar para começar este ambicioso projeto. Fomos convidados a participar das próximas reuniões que tratarão do assunto e manteremos um acompanhamento não apenas deste grupo de trabalho, mas também das demais frentes em busca de soluções para o automobilismo brasileiro e do estado do Paraná. Fotos da área: Arnaldo Wrublevski. |