A Formula E terminou no passado dia 28 de junho em Londres em alta. Uma luta emocionante a três, com dois brasileiros na liça – Nelsinho Piquet e Lucas di Grassi – e o suíço Sebastien Buemi terminou com a vitória do filho de Nelson Piquet, numa espécie de redenção do “Crashgate” de 2008, onde bateu de propósito para beneficar o seu companheiro de equipa de então, Fernando Alonso. A corrida dupla de Londres foi um sucesso, apesar de acontecer num parque e com uma largura estreita. As corridas foram vistas na ITV britânica por uma média de 1,2 milhões de pessoas, apesar de se saber que o próprio site da Formula E ter um link onde possamos ver em direto as corridas. E de graça, ao contrário da Formula 1. Para além disso, algumas pessoas já acham que o sucesso que a Formula E teve no seu primeiro ano já é mais do que suficiente para ameaçar a Formula 1. Richard Branson, patrão da Virgin, chegou a dizer que em cinco anos, irá superar em popularidade a Formula 1. Branson é um eterno otimista, é certo, mas há razões para pensar nisso, especialmente por causa das politiquices existentes na categoria máxima do automobilismo. É mais do que sabido que a Formula 1 é avesso às redes sociais. São conhecidas as ofensivas para retirar vídeos no Youtube feitos por fãs, e o Twitter da Formula 1 por muito tempo não fez grande coisa, em comparação com a MotoGP ou a IndyCar. Para além da hostilidade que Bernie Ecclestone já teve, por mais do que uma vez, com as redes sociais. A Fórmula 1, apesar da força da velocidade de informação na internet, não explora como deveria este meio de comunicação. Só muito recentemente – este ano, para ser mais concreto - reagiu aos protestos, aparecendo mais no Twitter e no Youtube, e renovando o seu sitio oficial, mas continua muito longe de outras categorias. E ainda por cima, a Formula 1 tem uma estratégia de colocar as transmissões televisivas em canais pagos, escolhendo os seus públicos, “os senhores de 70 anos com Rolexs no pulso”, como disse certo dia o velho anão. E há uma grande razão porque a Formula 1 tem essas atitudes: quando és o maior, ficas cego com o sucesso e pensa-se que ninguém lhe dará lições de como se deve gerir o negócio. Se rende 1,7 mil milhões de dólares por ano, para quê andar à procura de novos públicos? Os emires do Golfo Pérsico e os autocratas do espaço da antiga União Soviética servem perfeitamente… A Fórmula E mostrou que a internet pode ser uma forte aliada para o automobilismo. Quem não votou para dar um ecoboost? Mas essa atitude – e não me prolongo muito sobre as atitudes do Grupo de Estratégia – mostram que eles têm vistas curtas. No médio prazo, eles perderão público caso não reajam. É certo e sabido que estão a perder na batalha geracional, são cada vez menos os jovens que querem ver a Formula 1 e o facto de não passar mais em canal aberto ajuda. Mas para além disso, a Formula E foi desde o inicio aberta ao mundo, pois não tinha nada a perder na sua mensagem ambientalista e sustentável. O espanhol Alejandro Agag teve sucesso ao apresentar a ideia de colocar corridas no centro das cidades, sem o barulho que os motores convencionais a gasolina fazem. E ao longo destas corridas, teve sempre o apoio da FIA, através do seu presidente, Jean Todt. Foram poucas as corridas em que ele não esteve presente, ao contrário da Formula 1, onde só me lembro de o ver no fim de semana do GP do Mónaco. Alejandro Agag vem com uma proposta inovadora de automobilismo e atraindo parceiros para seu projeto que já é sucesso. Para além disso, as marcas de automóveis estão crescentemente interessadas na electricidade. É sabido que a Renault/Nissan apostou fortemente nos elétricos, para não falar da californiana Tesla, de Elon Musk, a primeira marca de automóveis totalmente elétrica com vendas de carros superiores a algumas centenas de veículos. Este ano, houve apoios da Renault (e-dams), a Mahindra, e da Audi (Abt). E no ano que vêm, outras marcas, como a Citroen, participarão através dos seus chassis e das suas unidades de propulsão. E como se sabe desde os primórdios do automobilismo, no final do século XIX, a competição automóvel serve de laboratório para a evolução dos carros de estrada. E hoje em dia, as empresas automobilistas estão a investir milhares de milhões de dólares em tecnologia amiga do ambiente, quer através da electricidade, quer noutras alternativas como as células de hidrogénio. Para os anos seguintes, muitas montadoras já mostraram interesseem entrar na F-E enquanto a F1 luta para os times não fechar. Ao contrário do que muito falam, a Formula E não é uma fraude, e não se extinguiu ao fim de um ano. Bem pelo contrário, veio para ficar e vai atrair cada vez mais construtores. Mas em relação à “ameaça” profetizada por Branson, creio que é otimista. A não ser que a Formula 1 continue a dar tiros no pé em termos políticos, por exemplo… Saudações D’além Mar, Paulo Alexandre Teixeira
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