Para familiarizar os amigos da velocidade que não estão acostumados com o rally de velocidade, nesta primeira coluna tentarei explicar um pouco sobre o surgimento e a evolução desta que considero a modalidade automobilística mais completa de todas devido às derrapagens, variações de superfícies e inúmeras situações inesperadas que podem surgir durante a disputa de uma prova. A primeira disputa de um rally que se tem notícia, ocorreu por volta de 1875 entre as cidades de Le Mans e Paris. Como as estradas daquela época estavam adequadas basicamente apenas ao trânsito de carroças e cavalos, a prova possuía características mais semelhantes a uma prova de rally de regularidade, visto que era impossível desenvolver altas velocidades devido às limitações tanto mecânicas quanto de terreno. Com a evolução das estradas e dos automóveis, diversos campeonatos foram surgindo em diversos países, com o rally a cada dia ganhando mais adeptos e aficcionados, ávidos em acompanhar os carros derrapando em alta velocidade nas curvas nas mais variadas superfícies, como por exemplo, asfalto, cascalho e neve. Esta foto, de 50 anos, retrata como o Rally de Monte Carlo é um dos mais tradicionais e charmosos até hoje. Até que em 1973 surgiu o primeiro campeonato mundial de rally, com a primeira prova sendo realizada em Monte Carlo e a vitória ficou com a dupla francesa Jean Claude Andruet e Michele Petit, a bordo de um Renault Alphine. Até 1979 eram utilizados apenas carros com tração traseira, mas a partir deste ano o regulamento permitiu também a utilização de automóveis com tração integral. Apesar disso, os construtores alegavam que o aumento de peso ocasionado pela sua colocação não compensaria o beneficio proporcionado por ela. Foi quando surgiu o lendário Audi Quattro, com tração integral. Quebrando todos os paradigmas, o Audi Quattro logo de início provou ser imbatível, pois a tração integral permitia transferir mais potência ao solo, além de possibilitar maior aderência nas curvas e uma melhor distribuição de peso. O Audi Quattro, com tração integral, destacou-se ante a concorrência e dominou a categoria. Com um regulamento mais liberal elaborado pela então FISA (Federação Internacional de Esporte Automobilístico), em relação ao número mínimo de unidades produzidas para homologação, em 1982 surgiu o lendário grupo B, carros equipados com motores que geravam mais de 600 cavalos de potência, e que poderiam ser tanto de alimentação natural quanto turboalimentados. E a carroceria poderia ser monobloco ou tubular. Com uma motorização forte e pesando menos de uma tonelada, esses bólidos tinham um desempenho impressionante, ficando conhecidos como os F1 dos rallys. Apenas a título de comparação, em 1986 o piloto finlandês Henri Toivonen, deu uma volta no circuito de Estoril em Portugal, com seu Delta S4 em 1min18s1, sendo que Ayrton Senna, conquistou a pole Position daquele mesmo ano em 1min16s7 Mas a partir de 1985 uma sequência de acidentes fatais colocaram em cheque a continuidade desta classe de carros. Nas imagens registras nos Rallies é comum vermos os carros com as quatro rodas no ar... isso sim é "voar baixo", Ao final do citado ano, o piloto Attilio Bettega e seu navegador Maurizio Perissinot sofreram um grave acidente a bordo de seu Lancia Beta 037, logo nos primeiros km do rally da Córsega na França. Após saírem da estrada, acabaram colidindo fortemente contra inúmeras árvores, o que acabou causando a morte imediata do piloto italiano, seu navegador escapou ileso. Segundo informações da época, a principal causa do acidente foi a dificuldade das duplas em obter o aquecimento ideal dos pneus no início dos rallys. No dia 05 de março de 1986, durante o rally de Portugal, o campeão português Joaquim Santos, perdeu o controle de deu Lancia S4, causando a morte de 03 espectadores e ferindo outros 30. Na época, a preocupação com a segurança da multidão que se espremia à beira dos trechos para assistir às provas era mínima. Menos de dois meses depois, no dia 02 de Maio, durante o rally da Córsega, na França, o piloto finlandês Henri Toivonen e seu navegador, o americano Sergio Cresto, a bordo de um Ford S200, saíram da pista, colidiram contra algumas árvores e caíram em um vale. Devido ao fato do tanque de combustível estar cheio para cumprir o longo trecho que teriam pela frente, o carro acabou explodindo e os dois morreram carbonizados. Esta tragédia acabou por gerar uma greve de pilotos e navegadores e o imediato abandono da competição por parte da Ford e da Audi. Esta última, admitiu que tinha pronto um novo motor com cerca de 1000 cv de potência, o qual nunca chegou a ser utilizado. Foi o fim do grupo B. Durante muitos anos, os carros Mitsubishi Lancer dominaram a principal categoriado WRC. Por determinação da FISA, a partir de 1987 o chamado grupo A, com carros mais "mansos", assumiu os holofotes antes destinados ao grupo B. As novas estrelas foram a Lancia e seu Delta Integrale com as cores da Martini, e a Toyota, com seu modelo Celica, os quais dominaram as temporadas seguintes. Mas a partir de 1996 a FIA decidiu que era hora de voltar a investir em automóveis mais potentes e com linhas mais agressivas. Foi quando surgiu o WRC com as regras e carros que hoje vemos no rally. Vieram novas montadoras com modelos que podemos encontrá-los nas ruas ou te-lôs em nossas garagens, casos do Mitsubishi Lancer Evolution, Subaru Impreza, Ford Focus, Citroen DS3, VW Polo entre outros. Atualmente o WRC conta com um calendário composto por 13 etapas e é disputado por quatro montadoras diferentes; VW, Ford, Hyundai e Citroen. O World Rally Championship é considerado pela FIA a segunda competição mais importante do mundo, atrás apenas da F1, e continua levando uma multidão de aficcionados nas suas provas mais tradicionais como, por exemplo; Portugal, Finlândia, Itália, Espanha, França, Monte Carlo e Argentina. A Hyundai é uma das novas montadoras, a primeira sul coreana, a competir no WRC. Sim, temos uma etapa na Argentina, a única realizada na América do Sul, a qual deve ser considerada uma das mais importantes do calendário,visto que leva anualmente mais de 2 milhões de aficcionados para os gélidos trechos nas cercanias de Córdoba. Esses loucos se reúnem, antes do nascer do sol, muitas vezes tendo a neve como companheira, para apreciar este que é um dos maiores espetáculos do automobilismo mundial. E dentre eles, ano após ano, está este colunista que vos escreve. Muito obrigado e até a próxima, Marcos Tokarsky |