É muito comum lermos e ouvirmos críticas à atuação da Confederação Brasileira de Automobilismo por parte de setores da mídia, de chefes de equipe e pilotos, independente da categoria. Decidimos então perguntar, dentro deste micro universo do automobilismo nacional, quem deles aceitaria um convite para sair candidato à Presidência da CBA, ou ser um dos Vice-Presidentes, ou mesmo assumir uma diretoria. O que eles disseram? Os leitores do Site dos Nobres do Grid saberão logo abaixo: André Bragantini – Chefe de Equipe da RCMotorsport na Stock Car. Com certeza eu aceitaria. Depois de tantos anos de vivência no automobilismo eu acho que poderia acrescentar algo, agregar conhecimento para termos uma melhor administração dos interesses do automobilismo. Eu acho que o automobilismo brasileiro e em particular a Stock Car está num nível de profissionalismo muito alto e o que eu penso que a CBA deveria ter como um ponto muito importante seria a profissionalização dos seus Comissários, especialmente os Desportivos, pessoas que só vivessem o automobilismo. Hoje em dia os nossos Comissários eles tem outras funções, trabalham em outras áreas e atuam como autoridade nos autódromos apenas nos finais de semana, como um “bico”, um “extra” e eu não vejo mais lugar para isso. Eu penso que os omissários tem que ser profissionais e extremamente profissionais, dedicados apenas a isto e assim poder estudar mais e ter um profundo conhecimento sobre legislação. Isso seria fundamental para que, por exemplo, decisões tomadas numa prova sejam tomadas nas demais e evitar as contradições que vemos acontecer eventualmente ou mais que isso. Uma coisa importante seria que estes comissários tivessem uma grande experiência prática, não apenas teórica. A leitura, a redação das regras eu até acredito que os atuais Comissários possuam, mas a vivência de pista de um piloto que viveu situações por anos e que não está mais em atividade seria fundamental neste processo de profissionalização. Augusto Cesário – Chefe e Proprietário da Equipe Cesário Fórmula na F3. Não, eu não acho que seria algo que eu faria bem por não ser a minha área de atuação, mas eu gostaria que a CBA se aproximasse mais do que ocorre nas pistas, se aproximasse mais das categorias do nosso automobilismo, especialmente as categorias de base, como é o caso da Fórmula 3. É preciso um especial cuidado e um investimento nas categorias de base no automobilismo brasileiro. Não apenas na Fórmula 3, mas nas categorias que vem antes dela. Só assim nós teremos condições de preparar nossos pilotos para tentar fazer carreira na Europa. A atual Presidência e sua Diretoria vem trabalhando muito neste aspecto e nos ajudaram muito no reerguimento da Fórmula 3 no Brasil e a aproximação deles com o automobilismo de base, cuidando como se fosse um bebê no berçário, é vital para que estas categorias se fortaleçam cada vez mais e garanta o processo de formação destes pilotos, seja no exterior, seja aqui no Brasil, como é o caso da Stock Car, uma categoria muito profissional. Se olharmos o grid da Stock Car, hoje, veremos que a grande maioria dos pilotos passou pelas categorias de base com carros de Fórmula aqui no Brasil e uma boa parte destes na Fórmula 3, que é uma escola onde o piloto aprende acerto, equilíbrio, aerodinâmica, conceitos e lições que ele vai aplicar em qualquer categoria que ele correr. Os dirigentes não podem ficar distantes do automobilismo de base. Fica ele, dirigente à deriva e as categorias também. Beto Cavaleiro – Proprietário da Equipe Cavaleiro Racing na Stock Car e Brasileiro de Marcas. De forma alguma! Eu não tenho interesse nenhum em assuntos referentes à política, eu não gosto de política e não tomo partido sobre qualquer disputa, nem sei se há disputa entre um grupo e outro lá dentro da CBA eu não sei e não me interessa ter envolvimento com isso. O meu negócio é trabalhar dentro do automobilismo, trabalhar a equipe, procurar fazer com que ela progrida, cresça. O que eu espero dos dirigentes é seriedade. É preciso ser sério, fazer as coisas pelo automobilismo e não por interesse próprio. Ninguém nasce sabendo ser dirigente de automobilismo, mas pode aprender e fazer as coisas com seriedade e responsabilidade. Outra coisa que é preciso fazer é trabalhar em sintonia, como equipe, em conjunto, tendo como preocupação o melhor para o automobilismo, mas no caso de ser o presidente, esta pessoa tem que ter liderança. Eu sou assim, eu gosto de administrar, de motivar, de levar projetos pra frente e é por isso que eu acho que não sirvo para ser um dirigente político, pois se eu tiver num lugar com uma pessoa que pense diferente e errado e ela tiver mais força do que eu, eu não vou ficar satisfeito. Dárcio dos Santos – Proprietário da equipe PropCar na Fórmula 3. Não. Eu não aceitaria, mas eu indicaria meu irmão para o cargo. É uma pessoa muito séria, tem uma postura profissional excelente, ele é mais velho do que eu tenho certeza que ele faria um grande bem para o nosso automobilismo, pois trata-se de uma profissional muito competente. A CBA precisa ter meios de impor a sua autoridade e conseguir ser respeitada. Mas isso só vai acontecer quando as pessoas do meio do automobilismo enxergarem que a CBA esteja fazendo um trabalho sério. Para isso, é preciso envolver mais os promotores de categoria, os donos de equipes, fazendo reuniões mensais ou bimensais para que pudéssemos discutir os problemas e buscar soluções juntos. Eu estou vendo esta gestão no seu segundo mandato e eu nunca tive oportunidade de ter uma reunião de trabalho com o Presidente da CBA para tratar de coisas relativas ao nosso automobilismo e este tipo de coisa não pode acontecer. O Presidente da CBA tem que estar próximo de quem está na pista que são as equipes. Djalma Fogaça – Proprietário da Equipe DF Motorsport na Fórmula Truck. Eu não tenho como assumir um cargo de Dirigente na CBA porque eu nãotenho temperamento para isso. Para assumir realmente e fazer alguma coisa efetivamente o cara tem que ter autonomia e o sistema de votação das eleições da CBA é ridículo e não se consegue mexer nisso aí. Então, para se eleger o cara tem que fazer um monte de conchavos e eu não concordo com este tipo de coisa. Por isso que eu acho difícil a gente pegar caras que tiveram história no automobilismo, que conquistaram as coisas com mérito e competência, não com conchavos. Isso aí é pra quem tem o dom. Um cara que é sério, que tem perfil para conseguir levar as coisas pra frente que deveria ser Presidente da CBA é o Ingo Hoffmann. É uma pessoa com um perfil sério, sério demais, muito profissional e que eu não sei até onde ele aceitaria ter que lidar com este meio por não ter esta coisa da política. Eu não sei se ele aceitaria. Eu, mesmo que quisesse, não acho que conseguiria entrar. Eu sempre bati na CBA, já fui muito chamado de radical, polêmico, mas tem outra coisa que me revolta: um país como o Brasil, onde um jogador de futebol dá um espirro é sai em tudo que é lugar na mídia e do automobilismo ninguém noticia nada ou quase nada é duro de aguentar. Eduardo Bassani – Proprietário da Equipe Bassani Racing no Brasileiro de Marcas e Stock Car. Não seria somente uma questão de aceitar, seria um sonho! No passado, alguns dos meus pilotos quando existia a Fórmula Renault tiveram uma oportunidade para começar no automobilismo e foi uma oportunidade que eu não tive e eu consegui dar esta oportunidade a eles que eles não teriam em outro lugar. Desde pequeno eu sou um amante do automobilismo. Hoje, para esta próxima eleição, não vejo condições de aceitar caso viesse um convite, mas daqui mais uns cinco ou dez anos, eu me sentiria em condições de colocar o meu conhecimento, a minha seriedade e o meu entusiasmo, porque eu acho que o cara que vem ficar à frente de um esporte precisa ser um cara nascido no esporte, tipo, ter o Zico ou o Platini substituindo o Blatter na FIFA. Na FIA a gente tem o Jean Todt, que esteve no esporte, no Rally, que sabe as necessidades das categorias, das equipes, ele que ficou anos na Ferrari. O importante para um dirigente ser bom é ele ser capaz de transcender a política e focar o bem da modalidade. Se eu puder um dia assumir um cargo diretivo e puder fazer algo positivo pelo esporte que eu gosto, do qual eu vivo, vai ser como o fechamento de um ciclo. Hoje eu estou com 50 anos, acho que ainda está cedo, mas com 55 anos ou mais, acho que dá para pensar no assunto de verdade. José Cordova – Chefe e proprietário de Equipe no Mercendes Challenge. Eu, pessoalmente, não gostaria de estar à frente de uma chapa ou fazendo parte de uma, mas eu apoiaria uma chapa que fosse feita por gente do esporte, com pilotos envolvidos, isso eu apoiaria. Nesta parte política eu não me vejo muito envolvido, mas gostaria de poder ajudar na parte técnica. Isso tem mais a ver comigo do que parte jurídica ou política. A gente precisa fazer um trabalho mais consistente em termos de categoria de base. Tivemos avanços nos últimos anos, mas precisamos de uma categoria de Fórmula que seja mais barata que a Fórmula 3. Além disso, precisamos de uma categoria de base de custo mais baixo no turismo. Uma categoria com carros 1.6, se possível com o apoio de uma fábrica como já tivemos alguns anos atrás. O piloto que corre num regional de turismo, se quiser correr numa categoria nacional, hoje, vai precisar de muito dinheiro, pois são todas muito caras se comparadas aos regionais de Turismo. Além disso, tem uma diferença de potência muito grande, uma diferença de pneus muito grande. Em termos de valores é sair de um custo de 100 mil, se muito, para um de 500 mil. Precisava juntar um promotor que tivesse interesse em fazer um campeonato de turismo nestes moldes, ou um fórmula mais barato, com o apoio de uma montadora, porque um piloto que sai de um regional vai correr num Brasileiro de Marcas, vai enfrentar Rubens Barrichello, Vitor Meira e tendo que botar a mão pesada no bolso sem estar familiarizado com tanta potência. Não dá. Maurício Ferreira – Chefe e Proprietário da Equipe Full Time na Stock Car e no Brasileiro de Marcas. Olha, eu acho que para um cara da minha idade, com a minha experiência, assumir um cargo tão alto acredito que não seria a hora. Assumir um cargo com Presidente da CBA, do CTDN (Conselho Técnico Desportivo Nacional) ainda seria cedo, mas contribuir com um conselho técnico, uma diretoria de desenvolvimento, com foco na profissionalização, tomando menos tempo, seria algo bastante interessante para a gente poder contribuir com este lado das equipes e como elas funcionam. Há anos que eu comento isso e eu acho que a CBA foi fundada e deve funcionar em benefício do automobilismo e seus pilotos. Logicamente temos muito mais pilotos filiados do que equipes filiadas, mas as equipes são pessoas jurídicas, cadastradas com CNPJ no Ministério da Fazenda, no Ministério do Trabalho e isso implica em riscos. Riscos de acidente, riscos de morte, riscos financeiros, não desmerecendo os pilotos, mas mostrando um lado que nem todos enxergam quando se fala de automobilismo. O automobilismo cresceu muito em termos de profissionalismo no Brasil nos últimos 15 anos. O número de equipes cresceu muito, mesmo com a diminuição recente do número de categorias, isso foi também um reflexo deste aumento de profissionalismo no esporte. A questão dos custos passou a ser muito mais importante do que era em função das cifras movimentadas hoje em dia. Um dono de equipe, hoje, tem uma visão de toda a problemática do automobilismo muito mais clara do que todas as outras partes envolvidas. Acho que nós, não apenas eu, teríamos como ajudar em muito. Mauro Vogel – Chefe e Proprietário da Equipe Vogel Motorsports na Stock Car. Não. Este não é o meu negócio. Esta parte burocrática não me atrai nem um pouquinho. Eu sempre fui ligado às coisas técnicas. Eu vejo muita gente no meio do automobilismo, que tem além do conhecimento técnico, capacidade e talvez vontade de assumir um cargo como este, gente mais capacitada do que eu. Mas uma coisa é certa: precisava ter um de nós dentro dessa estrutura do automobilismo, com uma visão real do que o automobilismo porque tem gente dentro da CBA que não tem conhecimento para estar na posição que ocupa e tomando decisões sem ter conhecimento para tomá-las. Eu não consigo, daqui de onde estou, de dentro do Box da minha equipe, ver ou entender o que acontece dentro da administração da CBA. Tinha que ter pessoas como nós lá dentro, pessoas que vivem o automobilismo na sua prática. Eu não sei se isso é possível de acontecer, de se manter um quadro permanente, profissional, feito por pessoas do ramo, gerindo os interesses do automobilismo. O grande sonho seria esse. Não podemos ter pessoas que trabalham no automobilismo apenas nos finais de semana, que de segunda à sexta tem outra atividade profissional. Renato Martins – Chefe e Proprietário da Equipe RM Volksmagen na Fórmula Truck. Eu, hoje, não penso nisso, mas se fosse convidado eu até aceitaria, mas com a condição de que não iria me meter nas questões políticas. Eu estaria lá para trabalhar. Eu vejo hoje a CBA, muitas praças que tem suas entidades representativas que não trabalham pelo automobilismo. Você tem lá os automóveis clubes e as federações ligadas à CBA e eu vejo os pilotos muito “largados”, sem uma representação efetiva. A CBA precisava mudar seu perfil, sua atuação, sair daquela sede no Rio de Janeiro. A CBA parece, mesmo não sendo um órgão governamental, estar presa nesta mesma engrenagem que emperra a política do país. A gente tem visto o automobilismo brasileiro passando por dificuldades financeiras sérias, com categorias parando, com os donos de equipe tirando de onde não tem para manter suas equipes, com uma dificuldade enorme de se conseguir patrocínio. A gente está sofrendo isso na Fórmula Truck e a perspectiva é um ano ainda mais difícil em 2016.
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