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Entrevista: Dener Pires PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Sunday, 28 February 2016 16:51

Ser promotor de uma categoria de automobilismo não é uma tarefa fácil. Além de todas as dificuldades que o trabalho em si envolve, fazer qualquer empreendimento no Brasil tem pelo menos um complicador a mais.

 

Dener Jorge Pires, este paulista de 50 anos de idade não teve facilidade nenhuma para chegar onde chegou. Filho de mecânico, teve um envolvimento desde cedo com a parte de preparação de motores e como amante de esporte a motor, não se limitou a ficar nos boxes. Já correu de moto (adora motocicletas), fez Rally dos Sertões, enduros e depois decidiu se aventurar nos autódromos... com carros!

 

Nutrindo deste cedo uma fascinação pela marca Porsche, pela metodologia alemã de construção de automóveis, consolidou ao longo dos anos um currículo respeitável, tanto no Brasil como no exterior, como preparador de carros da Porsche.

 

Tendo a confiança dos alemães, estruturou o projeto de fazer a Porsche Cup aqui no Brasil e esta categoria que leva mais de 30 carros para o grid está entrando em 2016 em sua 11ª temporada. Dener Pires é nosso entrevistado deste mês.

 

NdG: São 10 anos de Porsche GT3 Cup Challenge no Brasil. 2016 é o início de uma segunda década. Como expressar isso na tua vida?

 

Dener Pires: Eu sempre tive um fascínio muito grande pela marca Porsche e pelo industria automobilística alemã de uma forma geral, mas com a Porsche teve uma relação de paixão. Eu corri de motocicleta por muitos anos, algo que eu amo muito, mas também corri de carro e foi numa categoria de pilotos amadores, a APICA – Associação de Pilotos de Carros Históricos – e eu corria com um Porsche clássico na época e neste meio de corrida com carros eu fui me aproximando mais das pistas e em 1995 fiz a minha primeira participação nas Mil Milhas Brasileiras e foi um carro que eu trabalhei a mecânica dele inteira para prepará-lo para a corrida e o resultado foi muito bom. Chegamos em 3º! Se a gente for pensar que era uma estreia, numa corrida de quase 12 horas, competindo contra pilotos como Nelson Piquet, Ingo Hoffmann, Christian Fittipaldi foi um resultado e tanto.

 

NdG: Você tem sua formação como mecânico e em sua estreia em uma grande competição teve um resultado fantástico. Isto acabou servindo como uma espécie de estopim para se lançar de vez no meio do automobilismo?

 

A minha grande paixão são as motocicletas, mas eu sempre tive uma enorme admiração pela Porsche.

 

Dener Pires: Depois desta corrida o meu envolvimento com a Porsche só aumentou e nossa relação ficou mais estreita, mais profissional. Eu passei a correr provas de longa duração e depois com toda a equipe com suporte da Porsche participamos de todas as Mil Milhas até 2006 e conquistamos três vitórias, três ou quatro segundos, agora não me lembro bem, e foram três ou quatro terceiros. Estávamos sempre no pódio. Isso abriu portas. Eu fui convidado para ser preparador nas 24 Horas de Daytona de 1994 até 2000 trabalhando como membro da equipe alemã. Em 1998 e em 2003 eu levei meu próprio time para os Estados Unidos e fui também, como convidado de uma equipe alemã, preparar um Porsche para as 24 Horas de Le Mans e na Europa também preparei Porsches para o FIA GT entre 1998 e 2000.

 

NdG: Como preparador você estava bem estabelecido, mas daí a comandar uma categoria, era um platamar bem longe do que seria uma “zona de conforto”.  Como veio a ideia, o desafio de se tornar um promotor de categoria?

 

Dener Pires: Em 2005 eu procurei e consegui estruturar a Porsche Cup no Brasil. Eu vi que aqui no Brasil havia espaço para se montar um campeonato para um perfil de piloto como o que tempos aqui na Porsche. Qual é este perfil: um piloto que tem uma performance muito próxima a de um piloto profissional, mas que não pode se dedicar exclusivamente ao automobilismo. Ele tem outro meio de vida, é um empresário, é um gestor, um executivo. A Porsche Cup é um campeonato prefeito para este perfil de piloto. Tem um carro rápido, equilibrado, muito seguro e que proporciona a ele a satisfação de pilotar em alta performance, já tendo uma equipe com preparador, mecânicos, tudo ao seu dispor sem ter que se preocupar com isso e que ele tivesse uma condição de competir igual a de seus concorrentes.

 

NdG: Mas um projeto como esse não se torna realidade do dia pra noite. O que você precisou mostrar para os alemães para conseguir ter o apoio deles para montar a categoria aqui no Brasil?

 

Eu fui convidado para preparar carros da Porsche em corridas de longa duração nos EUA e Europa. isso abriu portas.

 

Dener Pires: O trabalho de estruturação começou em 2003 e até termos tudo organizado. Foi um trabalho de muita dedicação, com a participação de pessoas a quem considero muito como o Beto Keller, que não está mais na conosco, mas que fez muito pela categoria nos primeiros três anos e o começo é sempre difícil e meu irmão, Douglas Pires, que está ao meu lado até hoje e que está comigo em todas horas. Contudo, nada teria dado certo se os pilotos que vieram correr não tivessem acreditado no projeto e vindo para a pista conosco, que fizeram da Porsche cup o campeonato que é.

 

NdG: Certo, mas correr com a os carros da Porsche obriga vocês a ter que tipo de relação (ou não) com a fábrica alemã? Há algum apoio? Suporte técnico?

 

Dener Pires: Sim, claro! Este é um campeonato oficial da Porsche na Alemanha, é o campeonato aqui no continente e o Brasil é o maior e um interessante mercado para eles e há toda uma relação que envolve visitas e vistorias técnicas, envio de nossos integrantes para fazer cursos de aperfeiçoamento na Alemanha. É uma relação estreita. Tudo que acontece em um final de semana aqui no Brasil é reportado para a Porsche na Alemanha, é analisado, comentado e retorna para nós. A categoria é um dos laboratórios da Porsche que tem em seu campeonato a maior categoria do mundo, estando a categoria em vinte países e sempre com o grid cheio, com 35, 40, 45 carros alinhando.

 

NdG: E nesses 20 países a categoria é igual? Tem o mesmo regulamento? Tem a categoria em outro país na América do Sul?

  

Dener Pires: Em termos de regulamento é praticamente igual. Pode mudar uma ou outra coisa, como o pneu, por exemplo, mas modelos e mecânica seguem o padrão da Porsche. No Brasil é onde a categoria existe há menos tempo, e estamos indo para o décimo primeiro ano. A Argentina é um mercado interessante e há algum tempo nós buscamos a internacionalização. Em termos de continente, se algum país quiser ter um campeonato da Porsche Cup este terá que ser organizado por nós.

 

NdG: A Porsche Cup Brasil já foi correr na Argentina, em Portugal, na Espanha. Como foi fazer isso? Em 2015 vocês ficaram só no Brasil. Em 2016 voltarão ao exterior?

 

Existe uma distorção no conceito de "Gentleman Driver" aqui no Brasil. Eles são muito competitivos e não dão espaço.

 

Dener Pires: Em 2010 o nosso campeonato tornou-se internacional, foi quando fizemos a primeira corrida fora do Brasil. Fomos para a Argentina e nos dois anos seguintes para Portugal, depois Portugal e Espanha... o nosso interesse era de mostrar a capacidade e a excelência da categoria e atrair mais e mais pilotos, elevar o nível, que sempre foi alto, da nossa competição e trazer para a Porsche Cup do Brasil pilotos argentinos, chilenos e mesmo europeus para correr aqui no Brasil e conseguimos isso. Já tivemos pilotos de mais de 10 nacionalidades disputando corridas na nossa categoria. Essa é mais uma das coisas boas da Porsche Cup. A integração dos campeonatos, a similaridade dos regulamentos permite a categoria se tornar atrativa à todos uma vez que a Porsche trabalha com a mesma qualidade de carros no mundo inteiro.

 

NdG: Aqui no Brasil vocês fazem parte do programa do final de semana da F1. Nas corridas europeias, a Porsche Cup europeia faz diversas preliminares. Qual é a diferença entre a nossa categoria e a europeia?

 

Dener Pires: Como disse, os carros são idênticos. O carro que faz a abertura a abertura do programa do GP do Brasil é o mesmo carro que faz a abertura do GP de Mônaco ou da Áustria. Os pilotos tem a mesma equivalência e tanto pilotos que correm aqui podem correr lá quanto os pilotos que correm lá podem correr aqui no Brasil.

 

NdG: A Porsche Cup tem uma fama de ser uma categoria de ‘Gentleman Drivers’ e foi, pelo que você disse, criada para atender este perfil de pilotos. Mas a gente tem o exemplo do Miguel Paludo que saiu daqui para competir na NASCAR. A Porsche também pode ser uma escola?

 

 A categoria foi montada para aquele piloto que é capaz de andar no ritmo de um piloto profissional, mas que não o é!

 

Dener Pires: Existe uma distorção dentro deste conceito de ‘Gentleman Driver’ aqui no Brasil. O ‘Gentleman Driver’ não é aquele piloto que “abre a porta e deixa passar”. É aquele piloto que corre porque ama correr e não se enganem aqueles que pensam que eles não estão na pista para competir. Basta ver como são nossas corridas, as classificações com vário pilotos andando dentro do mesmo segundo. É disputa real, é corrida real, é competição pura. Eles só não vivem de automobilismo.

 

NdG: Estamos vivendo tempos de crise. Não só no esporte, mas em todos os seguimentos da economia do país. Vividos estes 10 anos de Porsche, como você está vendo o futuro? Que passos adiante a categoria pode dar?

 

Dener Pires: Eu penso que momentos de crise servem também como aprendizado para que possamos encontrar alternativas, novos caminhos, inovar. Costuma se dizer que tudo tem um lado bom na vida e a crise também tem seu lado bom. Aprender a adequar-se a este momento econômico do país, mesmo o automobilismo sendo um esporte caro, de ter uma dependência de uma moeda estrangeira, que acaba sendo a grande vilã, nos empurra a criar alternativas para combater estas dificuldades. Este formato que nós temos de haver uma equipe de trabalho que prepara todos os carros ajuda muito. É algo que outras categorias, mesmo tendo um equipamento não tão sofisticado quanto o nosso, acabam sendo mais caras para se correr do que a Porsche. Se formos falar de crise, o que passamos no automobilismo entre 2008 e 2009 foi muito pior do que está a situação agora. O negócio é trabalhar e fazer a categoria melhor.

 

NdG: Em 2015 a Porsche Cup foi para Cascavel e para Goiânia. Em 2016 retorna a Goiânia e vai ao Velocittà e a Termas de Rio Hondo na Argentina. O que podemos esperar da Porsche Cup para o futuro? Dá pra pensar em uma corrida no Nordeste?

 

Momentos de crise servem como aprendizado. Abrir oportunidades para novas praças pode ser muito positivo.

 

Dener Pires: Eu particularmente acho o nordeste muito legal e talvez isso fosse algo muito bom para a categoria em termos de visibilidade e tanto o público como a categoria ganhariam muito com isso. Numa região onde o turismo é muito forte, seria uma exposição muito positiva para a categoria por ser uma categoria internacional correndo na região e isso iria gerar uma movimentação de público e é uma ideia que pode ser considerada. O problema seria aonde fazer. Se os autódromos que existem hoje no nordeste apresentarem uma condição para nossos carros correrem em segurança, esta é uma oportunidade aberta à discussão. 
Last Updated ( Sunday, 28 February 2016 17:52 )