Entre os dias 21 a 24 de Abril foi realizada a quarta etapa do WRC na vizinha Argentina. E mais uma vez nossos hermanos deram um show de organização e amor ao automobilismo, comprovando que não sabem venerar apenas o futebol, como infelizmente ocorre no Brasil. A etapa realizada nas cercanias da Villa Carlos Paz, na província de Córdoba, é conhecida entre os pilotos por ser uma das mais duras da temporada, tendo 1361 km de distância total e 364 km de especiais contra o relógio. Os primeiros quilômetros foram de especiais com médias de velocidade bastante altas, testando a coragem dos pilotos. Mas aos poucos, o cenário foi mudando, até chegar aos trechos finais, realizados em montanhas com mais de 2.400 metros de altitude, sendo os realizados na maior altitude de toda temporada, com paisagem que lembram a superfície lunar e temperaturas muito baixas. Inclusive, havia previsão de neve para o último dia de prova, o que acabou não se confirmando, mas em seu lugar apareceu uma forte neblina, tornando o final da prova ainda mais eletrizante. Jari Matti Latvala posa com a camisa da Argentina em frente ao público Por falar em prova, conforme era esperado, a VW iniciou na frente novamente, mas desta vez com o finlandês Jarí Matti Latvala, com seu companheiro de equipe e líder do campeonato, Sebastien Ogier, ocupando a segunda colocação, sendo seguido de perto pelo neozelandês Hayden Paddon da Hyundai. Outro piloto da Hyundai, o espanhol Dani Sordo, também vinha obtendo um bom desempenho, apesar de cometer alguns erros de pilotagem, consolidando-se na quinta colocação, logo atrás do VW Polo de Andreas Mikkelsen. A montadora coreana, inclusive, melhorou muito seu desempenho, aproximando-se bastante da até então dominante Volkswagen com seu imbatível Polo WRC, firmando-se como a segunda força do campeonato, visto que a francesa Citroen optou por fazer apenas algumas etapas deste campeonato e priorizar o desenvolvimento de um novo modelo para a temporada de 2017, já dentro da nova normatização estabelecida pela FIA, assunto que tratarei em uma próxima coluna, assim como o tão esperado retorno da Toyota para o próximo ano. Sebastien Ogier na briga por sua primeira vitória em terras Argentinas Mas no Sábado tudo acabou mudando de maneira inesperada: o então líder, Latvala, acabou exagerando ao "cortar" demais uma curva e arrebentar a suspensão dianteira direita de seu carro em uma pedra na lateral da estrada, capotando por várias vezes. Quase que simultaneamente, e para surpresa geral da torcida, a jovem promessa Hayden Paddon com seu Hyundai i20 superava o favorito Sebastien Ogier, finalizando o Sábado com uma vantagem de 29.8 segundos. O Carro de Latvala após o forte acidente depois de bater em uma pedra E na bolsa de apostas dos fanáticos pelo WRC a grande pergunta era se a jovem promessa, vinda de um país sem nenhuma tradição na modalidade, iria suportar a pressão do experiente tricampeão mundial Sebastien Ogier. Ainda mais se levarmos em conta que dos 3 trechos restantes que seriam realizados no Domingo, a temida El Condor - Copina seria realizada duas vezes! Para complicar ainda mais a situação de Paddon, uma forte neblina apareceu no trecho, reduzindo o alcance da visão para alguns poucos metros, tornando a função do navegador mais importante do que nunca, visto que há milhares de pedras postadas na lateral do trecho, bastando um único erro, por menor que seja, para levar os competidores do céu ao inferno. Mais de 65.000 pessoas acompanharam a disputa final pela vitória na famosa El Condor Na abertura do dia estava a primeira passagem por El Condor, e Ogier usou toda experiência e conhecimento de anos anteriores sendo 7,3 segundos mais rápido que Paddon, colocando uma pressão enorme no novo candidato a estrela do WRC. O penúltimo trecho foi a não menos desafiante Mina Clavero - Giulio Cesare, e nesta especial Ogier, foi 19.8 segundos mais rápido que Paddon, transformando em cinzas a liderança até certo ponto tranquila do neozelandês, reduzindo a diferença entre eles para ínfimos 2,6 segundos. Paddon: O novo homem de gelo do WRC Com isso tudo, a decisão ficou para o ultimo trecho, uma repetição dos temidos 16,32 km da Condor - Copina, com o diferencial que desta vez a neblina não se fez presente, para alivio de todos. E os mais de 65.000 espectadores que marcaram presença neste gelado trecho, presenciaram um duelo de arrepiar, um final de prova como a muito não se via em terras argentinas. E para delírio e surpresa de todos, o novato Paddon mostrou porque é a maior revelação dos últimos tempos do WRC e foi 11,7 segundos mais rápido que Ogier, obtendo sua primeira vitória na carreira, feito até então inimaginável até mesmo para a própria equipe. O neozelandês Paddon com seu navegador comemorando a vitória com seu Hyundai i20 A grande dúvida do momento é saber se a Hyundai terá um carro para fazer frente ao marasmo imposto ao até então inquestionável domínio da VW, e se Paddon irá assumir o papel de protagonista e se contrapor ao talento de Ogier, devolvendo um pouco mais de emoção ao campeonato. Só nos resta aguardar às cenas dos próximos capítulos... Até a próxima, Marcos Tokarski
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