Na noite desta última segunda-feira, 15 de agosto, o respeitadíssimo jornalista Reginaldo Leme publicou em seu blog (Sinal Verde), no portal globoesporte.com, a nota que se segue abaixo: “Exclusivo: a direção do Autódromo de Curitiba tomou a decisão de, em razão de mudanças positivas na economia do País, manter o circuito em atividade não apenas até o final desse ano, mas por tempo indeterminado. Quem ganha com isso é o automobilismo brasileiro que continuará realizando competições em um dos três melhores autódromos do País. Parabéns aos sócios Peteco e Fortunato e ao administrador Itaciano pela medida. O esporte a motor agradece!” Tem algo errado na nota! É justamente a estagnação na economia e a retração no mercado imobiliário nacional como um todo – e em particular na região da região metropolitana de Curitiba – o fator responsável por esta postergação da implementação do projeto imobiliário que foi planejado para tomar o lugar não apenas do autódromo, mas também do kartódromo localizado na cidade de Pinhais. Segundo matéria especializada publicada na revista Exame de junho deste ano, é importante entendermos que no meio das questões governamentais não há nenhuma modificação no cenário dos juros, ou seja: TAXA SELIC permanece em 14,25% a.a. Olhando pelo lado bom: os bancos agradecem, pois, suas operações de juros são lastreadas na SELIC e quanto mais alto for, mais juros o banco cobra e consequente mais lucro o banco consegue ter na mesma operação. E a TAXA SELIC já completa aniversário de um ano nesse nível de 14,25% a.a. Entretanto, com os juros altos as linhas de financiamento ficam inviáveis para as famílias, o consumo diminui, mesmo havendo muita demanda. Com a diminuição do consumo irreversivelmente o preço geral dos imóveis reagem na mesma razão, assim sendo, os preços estão apresentando retração em todas as praças analisadas que são elas: Belo Horizonte, Curitiba, Rio de Janeiro, Porto Alegre e São Paulo. Em matéria anterior na mesma publicação, na edição de abril deste ano, foi medido que o valor do metro quadrado nos últimos 12 meses teve uma redução da ordem de 8,12%. Em 36 meses a queda acumulada foi de quase 24%, havendo uma projeção feita por especialistas de mercado que o valor dos imóveis na grande Curitiba voltem em 2016 para o platamar que tinham em 2011. Diante deste cenário, qual conglomerado imobiliário partiria hoje, para um investimento num projeto da ordem de mais de 100 milhões de reais? Durante a etapa da Porsche GT3 Cup Challenge em maio deste ano, foi – oficialmente – comunicado que o autódromo, diante da incerteza no cenário econômico, o encerramento das atividades do autódromo, que estava previsto para junho deste ano para dezembro de 2016. Uma sobrevida, mas não uma solução para o problema para os que vivem do autódromo (e muitas famílias vivem do autódromo. São mecânicos, preparadores, comercio de autopeças). Conversamos rapidamente com Jauneval de Oms, que recebeu de presente um capacete todo autografado pelos pilotos da categoria, assim como conversamos com o vice-presidente do AIC, o advogado Fortunato Guedes, e de forma muito discreta, foi possível perceber que o futuro encerramento das atividades do autódromo era e é algo que nenhum deles gostaria de estar vivendo. Os integrantes da Sucursal Paraná do site dos Nobres do Grid já estavam fazendo um trabalho investigativo sobre a atual situação do que estaria acontecendo por trás deste adiamento de um semestre nos planos de início da implantação do projeto imobiliário e se esta postergação no “início do fim” seria de apenas um semestre ou não. Existem três coisas que nós, que por mais felizes que possamos estar ao comemorarmos a continuidade das atividades no Autódromo Internacional de Curitiba antes de apenas comemorarmos o fato de que teremos atividades de pista não apenas para quem corre com carros e motos, para quem participa dos eventos de arrancadas, os que fazem track days ou mesmo para as empresas que fazem uso do autódromo para eventos corporativos. Primeiro, é preciso lembrar que Jauneval de Oms não está “vendendo” ou fechando ou “matando” o Autódromo Internacional de Curitiba porque está simplesmente fazendo uma realização de lucro sobre um investimento que fez 20 anos atrás, ou porque ele não gosta de automobilismo ou mesmo para sacanear com aqueles que fazem uso do autódromo. O AIC será desativado e se transformará em um empreendimento imobiliário porque seu proprietário precisa do dinheiro que este empreendimento renderá para ser investido em áreas de suas atividades profissionais que exigem um aporte de capital. Segundo, a situação da economia do país não permanecerá nesta condição de incerteza, de estagnação e crise para sempre. Não podemos ser mesquinhos – ou inconsequentes – para torcer que esta situação perdure por anos e anos – ou para sempre – e assim o autódromo continuar funcionando. Vai funcionar mesmo? Sábado passado aconteceu uma etapa do campeonato metropolitano... e o grid estava pequeno em todas as categorias. A Stock Car e a Fórmula Truck estão passando por sérias dificuldades financeiras. A Moto 1000GP não aconteceu este ano. Se a situação econômica do país continuar com está, de que adianta termos um autódromo se não tivermos quem corra nele? E, terceiro, partindo do princípio que esta situação econômica não vai perdurar, consequentemente teremos o encerramento das atividades e a desativação do autódromo e, este impasse sobre quando e como isso vai acontecer tem impedido que os grupos que vem trabalhando em projetos alternativos para um novo autódromo na região são obrigados a ficar em compasso de espera sem um prazo definido. Afinal, nenhum grupo investidor vai comprar um saco de cimento sequer para construir um autódromo a 20, 30 ou 40 Km do AIC enquanto o AIC existir. Não podemos nos esquecer que o Autódromo Internacional de Curitiba é um empreendimento privado e que os seus proprietários não pretendem (ao menos não declaradamente, mesmo porque não faria sentido) investir parte deste capital que será auferido com a negociação da área do autódromo para a construção de um outro autódromo em um outro local. Assim sendo, a situação do AIC é diferente, por exemplo, do que aconteceu com o Autódromo Internacional Nelson Piquet, no Rio de Janeiro. Um autódromo público que teria que ser substituído por um autódromo igualmente público em um outro local. Nesta manhã, o Presidente do AIC, Jauneval de Oms, difundiu uma nova nota, que embasava a postagem do Reginaldo Leme feita no dia de ontem. Contudo, os motivos que levaram ao adiamento passam pela desistência de uma das partes investidoras envolvidas no projeto que seria implantado.
Então não devemos comemorar a continuidade das atividades no Autódromo Internacional de Curitiba? Devemos comemorar, sim... mas aliviados e ao mesmo tempo preocupados. Conscientes de que estamos vivendo uma condição temporária e que uma solução definitiva precisa continuar sendo pensada. Que este tempo a mais possa ser aproveitado de forma positiva, que os grupos interessados em criar uma alternativa ao AIC (alternativas realistas, não sonhos inexequíveis como alguns que foram apresentados) possam interagir, encontrar um projeto viável e comum, que atenda a seus interesses e aos interesses dos que fazem do autódromo e seus equipamentos um meio de vida antes de qualquer coisa. O nosso trabalho não vai parar por aqui. Continuaremos buscando agregar valores, pessoas e ideias para que o automobilismo possa se fortalecer.
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