O carro da Stock Car trouxe algumas mudanças para a temporada 2016. O assoalho dianteiro foi redesenhado para otimizar o fluxo de ar. Antes confeccionado em madeira e fibra de vidro, o assoalho agora vira uma peça única em fibra de carbono, mais leve e resistente. Assim como as tomadas de ar, também em carbono, agora maiores para permitir uma refrigeração mais eficiente do motor e para os freios, direcionando mais ar para o radiador dianteiro e para os dutos que conduzem aos discos de freio das rodas da frente. A posição de fixação da parte frontal da “bolha” e cobertura do motor – capô – também mudou de posição, saindo da parte frontal, onde haviam dois pinos de fixação para a parte superior do próprio capô, com duas presilhas no mesmo, como em carros de outras categorias. Neste caso, a ideia é evitar os “capôs voadores” que surgiram em várias corridas depois de toques mais fortes entre os competidores. Algumas perguntas naturalmente surgem quando se faz uma modificação como as realizadas. As aletas que existiam na parte frontal dos carros, trabalhando como pequenos apêndices aerodinâmicos deixaram de existir. No que isso mudou o comportamento da frente do carro e o balanço entre a parte dianteira e traseira? A forma como o ar passou a passar sob o carro mudou em que sentido? Afetou a forma de pilotar de alguma maneira? Deixou o carro mais “dianteiro” ou “traseiro”? Em quanto impactou em termos de custo para a JL e para as equipes? Zequinha Giaffone – Proprietário e persidente da JL. Essa foi uma das mudanças feitas no carro para esta temporada, junto com o sistema de direção e também a que considero mais importante, a do tanque de combustível, por dizer respeito à parte de segurança. A mudança do assoalho dianteiro mostrou nos testes em computador e depois na pista que haveria, como nós constatamos, uma melhora na aderência da parte dianteira do carro, muito melhor do que a existente no conjunto anterior. Outro fator que nos levou a mudança era a fragilidade da peça anterior, que era feita em fibra de vidro e esta atual é feita em fibra de carbono. As asinhas foi mais um pedido das equipes do que minha vontade. Elas não faziam tanta diferença assim e eu preferia deixá-las. Mas havia o argumento dos toques e de deixar detritos na pista que poderiam cortar pneus e por isso nós as retiramos. A mudança do prendedor do capô foi algo que deu muito certo. Na abertura do campeonato nós ainda tivemos um capô voando, mas trocamos um suporte, com uma trava inglesa que é de aço, a outra era de alumínio, e o problema acabou. Após Curitiba não tivemos mais nenhuma perda de capô, mesmo com algumas batidas mais fortes. Julio Campos – Piloto da equipe C2 Team. Muitas equipes tiveram trabalho para se acertar com a nova configuração que foi exigida para se equilibrar o carro com a nova frente que ele recebeu, principalmente com relação a altura do carro para compensar o aumento de downforce e a perda de aderência na parte traseira. Nós mesmos tivemos alguma dificuldade no início com esse novo spliter, mas já encontramos o caminho e nosso carro está andando no mesmo ritmo dos carros que andam na frente. Lógico que não dá pra contar qual foi o caminho que nós seguimos, mas de uma forma geral, todo mundo teve que trabalhar na altura do carro por algum meio para encontrar o equilíbrio. O carro da Stock Car é um carro que aceita bem mudanças de configuração e você pode deixá-lo mais dianteiro ou mais traseiro dependendo do que e do quanto você mexe nele. Eu gosto do carro de neutro para um pouco dianteiro, daí tenho meu ajuste que pode ser diferente de outros pilotos e no caso da frente nova que melhorou a dianteira do carro, ficou bom de trabalhar. Rosinei Campos (Meinha) – Proprietário da Equipe RC Eurofarma e RC Motorsport. Na verdade a mudança que vemos nesta alteração sofrida pelo spliter dianteiro é mais do que estética, é funcional. A passagem de ar por baixo dele é mais eficiente do que era na peça anterior e isso provocou uma mudança no comportamento aerodinâmico do carro. A gente perdeu um pouco pela retirada das alhetas, mas ganhamos com o novo fundo, que também é mais resistente por ser feito em fibra de carbono. Como elas quebravam muito devido aos toques que os carros tinha em corrida, no final acabou sendo uma vantagem ter este ganho aerodinâmico da mudança do spliter dianteiro. O balanço do carro mudou com essa alteração, mas as equipes vem trabalhando nisso, com mudanças de ajustes para o carro voltar a ter o equilíbrio necessário em condições de corrida. Em termos de ganho, não foi feito um teste real de ganho ou perda porque como as condições de corrida variam de um ano para o outro e os tempos são muito próximos, é difícil afirmar que houve perda ou ganho significativo. O mais importante é continuar competitivo. O novo sistema do capô veio resolver um problema que carregávamos por anos. Vimos muitas corridas em que um piloto perdia o capô estando numa posição boa e que perdia muito por ter que ir aos boxes colocar outro. O sistema novo tem mais fixação, mas não é 100% garantido que vá segurar sempre o capô depois de um toque mais forte. Allam Khodair – Piloto da equipe Full Time. Quando anunciaram as mudanças – esta da frente do carro e também a da caixa de direção – criou-se uma expectativa na equipe para vermos o quanto o carro iria mudar e o quanto essas mudanças trariam de ganho de performance para nós. Depois dos primeiros testes não sentimos grandes diferenças de comportamento do carro. Houve uma mudança suave na inclinação como um todo e um pouco mais de downforce na parte dianteira, que para ajustar fomos trabalhando os ajustes de amortecedores e molas, mas foi uma coisa bem suave pelo que percebemos analisando a telemetria. O carro, antes de começarmos a mexer, ficou mais dianteiro e eu prefiro o carro com uma tendência mais traseira para a classificação e mexemos para deixá-lo “neutro” em condições de corrida. Com isso, tivemos que ir buscando este acerto desde a mudança do carro para conseguirmos chegar no nosso balanço e conseguimos. Os dois carros da equipe estão rápidos e competitivos. Quanto ao sistema de prender o capô, parece que essa solução que eles arranjaram desta vez resolveu o problema. Antes pequenos toques eram suficientes para soltá-lo e agora, mesmo em toques mais fortes ele está aguentando. William Lube – Chefe da equipe Cimed Racing. O trabalho feito pela JL para resolver o problema dos capôs que eventualmente se soltavam surtiu o efeito desejado e o não tivemos mais ocorrências de capôs se soltando. Salvo engano, tivemos um na corrida de abertura do campeonato e depois não tivemos mais. As aletas que tínhamos até o ano passado na parte frontal do carro e que foram retiradas é algo que eu não tenho como falar até onde tivemos perda de eficiência aerodinâmica porque não temos acesso as informações da JL, mas o assoalho dianteiro novo deu um downforce muito maior na frente do carro e isso aumentou muito o grip no eixo dianteiro. O ganho aerodinâmico foi muito grande e aí nós tivemos que passar a trabalhar a geometria do carro para reequilibrá-lo então todo mundo, as outras equipes também foram buscando na altura do carro, na cambagem, nas molas e amortecedores suas soluções para fazer o carro ficar o mais rápido possível e também ter um ganho na traseira, com ajuste de asa para o carro ficar o mais eficiente possível. Acho que nós encontramos um bom caminho, o resultado está aí na pista. Sergio Jimenez – Piloto da equipe Cavaleiro Racing. A introdução desse novo spliter dianteiro fez o carro melhorar muito de frente, não que fosse ruim, era boa, mas melhorou muito. Então isso exigiu um trabalho das equipes e dos pilotos para se adaptar melhor ao comportamento do carro. Em paralelo a isso, teve também a mudança no sistema de direção e os dois juntos trouxeram um ganho para a categoria. Com a melhoria da frente do carro seria natural, como foi, o carro passar a sair de traseira e isso obrigou todo mundo a buscar uma forma de reequilibrar o carro sem perder o ganho obtido com a instalação da nova peça e também sem prender demais o carro, deixando ele mais lento. Quando eu saí com o carro pela primeira vez eu senti o carro muito traseiro e com isso fomos trabalhar para ‘segurar’ a traseira, mexendo no carro usando outros elementos, outros recursos que temos, mas que certamente cada equipe está buscando um meio mais eficiente de conseguir isso seja com molas, amortecedores, cambagem e outras coisas. Nós fomos por um caminho que vem dando bons resultados. Eu que gosto de um carro que não saia nem de frente nem de traseira consegui um bom caminho neste novo acerto. |