Rubens Maurílio Gatti é uma destas pessoas movidas à adrenalina... e kartismo é adrenalina pura! Como ele mesmo disse: “Esse cheiro do óleo 50 vicia a gente”! E é a mais pura verdade.Este jovem de pouco mais de 50 anos, engenheiro elétrico de formação e com atuação na área de projetos de eletrificação rural, também dedicou mais da metade de sua vida ao automobilismo. Desde a sua cidade natal, Rolândia, no interior do Paraná até os dias de hoje, como Presidente da Federação Paranaense de Automobilismo e da Comissão Nacional de Kart.Os Nobres do Grid tiveram a honra de ser recebidos durante a realização da etapa do 44º Campeonato Brasileiro de Kart, no Raceland, cidade de Pinhais, no Paraná, para uma entrevista de extrema relevância para o momento atual do automobilismo brasileiro. NdG: O senhor está a quanto tempo envolvido com o automobilismo de uma forma geral e com o kart em particular? Rubens Gatti: Estou neste mundo das pistas há 30 anos. E quando falo “das pistas” é porque também já pilotei e o kart sempre teve um lugar muito especial na minha vida. NdG: Então não foi sempre na área administrativa e/ou técnica. O senhor já esteve lá, na pista, competindo... Rubens Gatti: Sim, começando no kart há 30 anos atrás, quando ainda fazia faculdade de engenharia elétrica. Fiz cerca de 1 ano e meio de kart, depois mais um período um pouco maior no autocross e por fim mais um ano e meio de kart. NdG: E como se deu a transição para os bastidores? Rubens Gatti: Em 1986 fui convidado pelo Kart Clube do Café a assumir uma função na organização das provas e fui ocupando outros cargos até 1992. Quando inauguraram o autódromo de Londrina, fui convidado em 1994 para se o Diretor. Em 1997 veio o convite para concorrer e vir a ser Vicepresidente da Federação Paranaense e em 2001, para a Presidência. NdG: Em 2009 completam-se 50 anos da chegada do primeiro kart ao Brasil. Como o senhor vê este momento em vista de toda a nossa história e como o senhor se vê nsste momento? Rubens Gatti: O automobilismo é um esporte apaixonante e o automobilista, dentro e fora das pistas é um apaixonado pelo que faz. Este momento é realmente histórico e estar onde estou neste momento requer muita consciência e muita responsabilidade. NdG: Neste 1º ano de gestão Cleyton Pinteiro à frente da CBA, qual foi o algo mais, se é que houve, que implementou-se na área do CNK em relação as gestões anteriores?
Precisamos fazer com que o piloto tenha mais importância que o equipamento e para isso é preciso diminuir a oferta para reduzir custos. Rubens Gatti: A rigor, pouca coisa pode ser feita até agora em relação ao que gostaríamos. Como os regulamentos já estavam homologados, não dava para fazer muito. O que fizemos foi introduzir algumas limitações quanto ao número de pneus, chassis e motores por treinos. Ainda não tenho todos os números comigo, mas a economia em pneus na etapa de Goiânia foi de mais de 60% do total estimado. Em breve teremos todos os dados e todos serão informados. O objetivo que traçamos é de simplificar os regulamentos, baratear as taxas, ampliar o acesso e vemos que buscar a limitação do número de componentes e intercambiar equipamentos pode ser um início para que consigamos fazer com que o piloto tenha mais importância que o equipamento. NdG: Para este campeonato brasileiro, o número de inscritos por categoria atingiu as expectativas do CNK? Superou? Ficou aquém? Rubens Gatti: Ficou dentro das expectativas (A lista oficial, sem contar a categoria “parakart”, apresentava 114 inscritos). Se levarmos em conta a redução da oferta de patrocínio nos últimos meses, pode se dizer que atingimos um bom número de inscritos. NdG: O Presidente da CBA afirmou diversas vezes que é preciso fortalecer o automobilismo regional no Brasil. Como isso está ou será colocado em prática para o kartismo? Rubens Gatti: Estamos procurando incentivar a realização de eventos regionais, estaduais e reduzindo o número de eventos nacionais. Se não fazemos isso, os competidores ficam mais concentrados em competições nacionais e relegando a um segundo plano as competições regionais. NdG: O senhor afirmou já ter recebido mais de 1200 sugestões para a melhoria da categoria. O senhor já teve tempo de ler com calma estas idéias e elas são exequíveis? Rubens Gatti: Muitas delas são repetidas, outras tantas não tem condições de serem feitas, mas outras tantas vem de encontro até mesmo a algumas medidas que já tomamos. Por exemplo: Não reduzimos em 50% o valor da carteira de piloto. A resposta a isso foi que em 2009 já temos 280 pilotos filiados contra os 180 de 2008. NdG: Este campeonato está sendo o primeiro a se realizar após a crise econômica mundial que tão duramente afetou o automobilismo em todo o mundo. Como foi a reação da comunidade do kart a mais este desafio? Rubens Gatti: Como você mesmo falou, esta é mais uma adversidade. Mas é preciso levar em conta que – para nossa felicidade – a crise não foi tão dura aqui no Brasil como foi em outros países. Contudo, muitos potenciais investidores no esporte acabaram por preferir poupar. Isso gerou uma redução dos grids mas foi menor do que o esperado.
A crise econômica não foi tão dura no Brasil como foi em outros países... mas o investidor, o patrocinador deixou de investir no esporte. NdG: Independentemente desta crise financeira que tanto estrago fez no esporte, há vários anos existe uma grande preocupação na imprensa especializada, por partes dos pilotos mais antigos, dos pais e de demais pessoas ligadas ao meio com relação aos custos elevados para se competir no kart. Como o CNK vê esta situação e o que pode ser feito para que consigamos reduzir custos e tornar o esporte mais acessível? Rubens Gatti: Nós estamos trabalhando de forma a simplificar os regulamentos homologados, diminuir a oferta de equipamentos, buscando uma padronização. Por exemplo: Se o piloto tem à disposição 6 fabricantes de cubos de roda e cada um tem diversos cubos de diâmetro diferente, sai muito caro se testar tudo de todos. Se tivermos 2 fabricantes e 3 medidas, por exemplo, os custos cairão. Claro que o CNK não quer entrar em choque com nenhum fabricante de equipamento. Por enquanto temos que respeitar o que existe em vigor, mas a idéia é a que falei anteriormente. NdG: Isso não vai gerar um prejuízo técnico para os pilotos? Rubens Gatti: Para o piloto que tem suporte e pretende seguir carreira no exterior, infelizmente vai. Contudo, em contrapartida queremos com estas medidas permitam uma redução de custos e aumente a acessibilidade ao esporte. Ampliar a base para que apareçam novos valores, novos talentos. Se bem que, um piloto com suporte suficiente para ter acesso ao automobilismo internacional pode ter um kart “standard” e um outro dentro do que existir de “top” a nível de competir internacionalmente. NdG: Em maio passado estivemos rapidamente no Velopark, em Nova Santa Rita-RS, e ficamos maravilhados com o que vimos. Existem outros projetos como ele no Brasil? Alguma federação ou o próprio CNK já pensou em estabelecer ou tentou estabelecer parcerias com a iniciativa privada para que outras praças multiuso como o Velopark possam existir em outros estados? Rubens Gatti: É difícil convencer um investidor privado a investir tanto dinheiro para um retorno que, quando há, é pequeno. NdG: Na etapa de Goiânia, nas categorias menores, ocorreram alguns incidentes desagradávei, vários protestos de equipes, pilotos, imprensa... e não podemos negar que a repercursão foi negativa. Que providências foram tomadas para que o evento ocorra de forma mais tranquila aqui em Curitiba? Rubens Gatti: Na verdade, nós já esperávamos ter alguns problemas... só que eles foram maiores e em maior número do que poderiam ou deveriam ser. As restrições impuseram mais trabalho por carros, faltou pessoal de apoio com experiência por parte da organização local e houve um mal entendimento sobre as mudanças que ocorreram muito em cima do evento. Aqui as coisas estão correndo bem até o momento (a entrevista foi concedida na tarde de sexta-feira, dia 24 de julho). NdG: Para o senhor há tanto tempo neste meio, como é lidar com o, por vezes, digamos, “excessivo espírito de competitividade” fora das pistas... envolvendo staffs dedicados e “paitrocinadores” apaixonados? Rubens Gatti: É preciso se valer de um misto de psicologia, tolerância e firmeza. É preciso coibir os excessos e as vezes temos que ser enérgicos. Nos campeonatos regionais isso é mais notado do que nos brasileiros. E quando os pais vêem seus filhos, que são crianças, ali na pista, se expondo aos riscos do esporte... NdG: Isso nos leva a uma outra questão: Será que é o melhor a ser feito colocar crianças de 8 anos para correr? Será que o kart não deveria ser uma brincadeira, uma escola para eles até um determinado ponto e só então ele passar a ter um caráter de competição? Rubens Gatti: É algo a se pensar... mas se formos analisar o cenário mundial, na Europa as crianças tem começado a correr dom 6 ou 7 anos. Colocar um assessoramento psicológico nas categorias menores pode ser interessante. NdG: O Brasil é pródigo em produzir grandes kartistas. Temos vários jovens que recentemente estavam no kart e hohe estão na Stock, em categorias de base na europa e Estados Unidos. Tirando esta geração que já “decolou”, tem algum jovem piloto que tenha chamado sua atenção recentemente?
Como já é nossa tradição, O Presidente da Federação Paranaense e do CNK recebeu uma camisa dos Nobres do Grid. Rubens Gatti: Eu não vou citar nomes mas vi uns dois ou três que, caso tenham condições e continuidade podem vir a fazer uma carreira vitoriosa no automobilismo. NdG: Caso o senhor fosse procurado hoje por um jovem candidato a piloto de kart, que conselho o senhor daria para ele? Rubens Gatti: SIGA O SEU SONHO! |