Frederico José Carlos Themudo d’Orey nasceu em São Paulo, em 23 de março de 1938. O apelido de “Fritz” foi por conta do seu avô, que era alemão. Filho de um rico comerciante de automóveis, detentor dos direitos de importação dos Packard, Hudson e Renaults, Fritz cresceu no meio dos automóveis. Como qualquer jovem dinâmico e cheio de disposição, passar dos carros expostos para negócio até o meio das competições não demorou muito, apesar de não contar com o apoio da família. A primeira corrida de Fritz foi com um Porsche Spyder (corrida, digamos, “de verdade” porque o próprio piloto confessou ter feito uma corrida com um Jaguar XK em Interlagos quando tinha apenas 17 anos, em um evento extraoficial de final de semana), adquirido junto a Christian Heins e com o qual disputou algumas provas em São Paulo e no Rio. Contudo, a carreira como piloto, efetivamente, iniciou-se em 1958, quando tinha apenas 20 anos. Ele comprara a antiga Ferrari 375 F1 de Chico Landi, aquela mesma que o ‘seo’ Chico comprou do Comendador que – na época – já era de propriedade de Celso Lara Barberis e que tinha um motor Corvette V8 instalado no lugar do motor original (um sacrilégio!) e com o qual Celso Lara Barberis ganhara a primeira edição dos 5oo Km de Interlagos em 1957. Este carro era enquadrado nas competições brasileiras como um “Mecânica Nacional”. Um monoposto e que já havia disputados diversas provas no país e algumas no exterior. Com este Carro, venceu os 500 Km de Interlagos de 1958! Quando os pilotos europeus começaram a vir disputar provas na Argentina, nos anos 50, muito influenciados pela presença de Juan Manuel Fangio e José Foirlan Gonzáles, era comum eles acabarem por vender seus carros aos pilotos locais e fazer um bom dinheiro. Muitos destes pilotos – a fim de aumentar a vida destes monopostos – substituíam os motores originais por motores, em geral de fabricação americana, devido a facilidade de consegui-los e que tinham mais potência até que os originais e que, “segundo as más línguas” eram carros feitos para correr, não para parar! A prova seguinte foi a inauguração do “Circuito da Barra da Tijuca”, que vinha “tentar ser o substituto do Circuito da Gávea, o ‘trampolim do diabo’”. Fritz liderava com boa vantagem, mas uma parada nos boxes para pequenos reparos tirou-lhe a chance de vencer. Terminou em 2º, mas fez a melhor volta da prova. Fritz já chamava para si as atenções da mídia esportiva que acompanhava o automobilismo e também os seus adversários no Brasil... mas foi quando do “I Torneio Triangular Sulamericano” em Interlagos. A prova contava com pilotos dos três países inclusive com José Foirlan Gonzáles, contemporâneo de Juan Manuel Fangio na Fórmula 1 e que ainda participava de provas da categoria, nos anos 50. Fritz liderou a prova até o inicio da nona volta quando um pneu furado e que acabou dechapando pouco depois da entrada dos boxes o fez percorrer quase a pista toda (a original, com quase 8 km) em ritmo muito lento. Mesmo com todo o tempo perdido na volta completa e com a parada nos boxes para fazer a troca, conseguiu chegar em 4º lugar e fez a melhor volta da prova. Interessante passagem é narrada até hoje sobre esta corrida. Foirlan Gonzáles viu o velho carro de Fritz, com motor adaptado, e percebeu que o fechamento da carenagem do motor era improvisado... Virou-se para o brasileiro e perguntou se aquele carro andava alguma coisa... Fritz respondeu que “as vezes dava para o gasto...” Naquele dia deu e sobrou! Foirlan não conseguia sequer seguir de perto o jovem brasileiro. Em seguida faz sua última prova no Brasil, o “II Circuito da Barra da Tijuca”. Esta prova Frizt venceu, a bordo de uma Ferrari 750 Monza 3.0 da categoria esporte, cedida por José Gimenez Lopes.
Depois dessa prova no Rio, já em 1959 foi ao Uruguai e Argentina participar das etapas seguintes do “I Torneio Triangular” e acabou por chamar a atenção de ninguém menos que Juan Manuel Fangio. Fritz liderou a prova até que faltando 9 voltas quebrou o eixo de seu carro. Por conta desta atuação, Fangio o convidou a participar da equipe de Fórmula 1 que estava montando para correr na Europa: A “Scuderia Centro-Sud” que teria 1 piloto argentino, 1 uruguaio e Fritz seria o brasileiro. Dos três o único a correr foi Fritz, os outros não passaram dos testes.
Assim, Fritz D’Orey viria a ser o quarto brasileiro a correr na F1, antes dele foram: Chico Landi entre 1951 e 1956, Gino Bianco em 1952 e Hernando da Silva Ramos entre 1956 e 1957. Fritz foi inscrito para o GP de Mônaco de 1959, com uma Maserati 250F, correndo pela equipe argentina, mas nem chegou a tomar parte dos treinos. Fritz comprou uma Ferrari 250 GT (LWB Berlinetta Scaglietti, de chassi Número 0787GT) que pertencia a Elvira Vaselli e que fora originalmente construído para Oscar Parpais. Esta compra garantiria a Fritz realizar o sonho de tornar-se piloto profissional e que, segundo suas palavras, “não tinha a ver com dinheiro, mas sim pelo prazer de pilotar”! Com este carro ele disputou sua primeira corrida na Europa, em Monza, numa prova que não era do mundial de Fórmula 1 e ele terminou em 7º lugar. O fato interessante desta prova foi o encontro (o primeiro) de Fritz D’Orey e Enzo Ferrari. “Era o Grande Prêmio da Loteria de Monza, para carros esporte e grã-turismo. E eu fiz a pole, mas fiz um tempo absurdo, coisa de dois segundos mais rápido que os outros e com uma Ferrari 1957, enquanto as outras que estavam no grid eram 1959. Eu não conhecia ninguém de relevância a não ser o Fangio, mas estava namorando, na época, a filha do presidente da Pirelli (Cristina Gavacci). Eu estava sentado na Ferrari com ela, quando eu vejo no espelho vindo o Comendatore Enzo Ferrari junto com um senhor alto... Ele parou do meu lado e disse: ‘Franco, é esse o rapaz que eu acho que é muito rápido’. Eu olhei para ele estupefato, tinha 20 anos na época, e respondi: ‘não sou eu, Comendador. É o carro!’ Me lembro disso como se fosse hoje. Então ele deu uma risada e me apresentou o tal do Franco, que era o Franco Lini, o maior repórter de automobilismo da Itália". Uma semana após esta prova, Fritz finalmente estreava na Fórmula 1: No GP da França, em Reims, ele qualificou a velha Maserati 250F em 18º, num grid de 21 carros. Apesar de toda a dedicação de Fangio, dele e dos mecânicos, aquele carro estava muito defasado em relação aos concorrentes para que o brasileiro pudesse ter uma boa performance. Era o mesmo carro com o qual correra, 3 anos antes, Hernando da Silva Ramos! Nos treinos, Fritz marcou 2’34.0”... quase 15 segundos mais lento que o pole position, Tony Brooks, que marcara 2’19.4” com a Ferrari 246. Se servia de consolo, Fritz foi o mais rápido entre os que utilizaram carros Maserati 250F. Na prova, Fritz galgou posições dos outros carros que eram pouco mais rápidos que ele e no final da prova, acabou obtendo aquele que foi seu melhor resultado: 10º lugar... 10 voltas atrás do vencedor. Uma semana depois ele disputou a prova de subida de montanha com a sua Ferrari em Trento-Bondone, onde conquistou um excelente 2º lugar. A prova seguinte no mundial de Fórmula 1 foi o GP da Inglaterra, em Aintree. Ele alinhou a única Maserati na 20º posição do grid entre os 24 que largaram. Desta vez a diferença para o pole foi de “apenas” 7,6 segundos. Na prova, chegou a avançar até o 15º lugar, mas acabou tendo um problema de câmbio que o tirou da prova na volta 57. A prova seguinte seria em Avus. Apesar de ter sido inscrito, A equipe acabou decidindo não participar. Contudo, Fritz D’Orey teve a chance de desafiar o perigoso circuito alemão a bordo de um Porsche 1500 RS no início de agosto. Ele não terminou a prova mas na corrida de subida de montanha de Gaisberg ele conquistou outro 2º lugar com sua Ferrari. Estava claro que o problema não era o piloto e sim o equipamento. Ele também participou de algumas provas de Fórmula Junior, da qual participara também Christian Heins, tendo obtido a vitória na prova de Messina, em dobradinha com Bino. No final de 1959, a Fórmula 1 disputou a segunda prova em território americano (na época, as 500 milhas de Indianápolis faziam parte do calendário oficial, porém nenhuma equipe européia se deslocava até o continente americano para a disputa) naquela temporada, em Seabring. Nesta estada nos EUA Fritz disputou a prova na Fórmula Junior, onde obteve um 2º lugar e também voltou a disputar uma prova pelo mundial de Fórmula 1, desta vez ao volante de um TecMec (um carro baseado na mecânica da Maserati mas com alterações introduzidas pelo “Studio Tecnica Meccanica”, baseado em Modena e com apoio financeiro de Tom Meed), carro que o piloto considerava inseguro. Nesta prova obteve sua melhor qualificação, 17º, mas acabou abandonando na sétima volta por um vazamento de óleo. Foi a última prova que Fritz disputou na Fórmula 1. Em 1960 Fritz estava de volta aos EUA para disputar as 12 horas de Seabring, sendo a primeira vez que um brasileiro disputaria esta prova. Nesta prova ele pilotou a Ferrari 250 GT em parceria com o proprietário da mesma, William Sturgis. Terminaram em 6º na geral e 4º na categoria. Tal resultado alçou Fritz a uma condição privilegiada na montadora italiana. Ele faria parte da equipe de pilotos da “Scuderia Sereníssima”, que era o segundo time da Ferrari, para as provas de longa duração e com fortes possibilidades de pilotar para a equipe no mundial de fórmula 1. Largada do Grande Prêmio dos Estados Unidos em Seabring, 1959. A última prova de Fritz D'Orey na Fórmula 1. Contudo, durante os treinos para as famosas 24 horas de Le Mans, um acidente na longa reta do mítico circuito e uma colisão de lado, contra uma árvore quase tirou a vida do piloto brasileiro. Foram inúmeras fraturas e um sério traumatismo craniano que obrigaram-no a mais de oito meses de hospitalização. Alguns jornais chegaram, inclusive, a noticiar sua morte. Após recuperar-se fisicamente, Fritz D’Orey opta por encerrar a carreira com apenas 22 anos de idade. Após a alta, Fritz estabelece-se em Paris onde fica morando e veio a trabalhar como fotógrafo. Casou-se com a filha do embaixador da Suécia e retornou ao Brasil em 1962 para trabalhar na empresa do pai em São Paulo, onde ficou até seu pai falecer e em 1970. Decidiu mudar-se o Rio de Janeiro em 1971 e abriu uma construtora em 1975. Depois de aposentar-se, retornou a Paris para lá viver por mais 5 anos (1996 à 2001) antes de voltar ao Brasil, indo em Copacabana no Rio de Janeiro. Em recente homenagem, Fritz (de preto) ao lado de Jean Louis Lacerda. Apesar da curta carreira, Fritz D'Orey tornou-se imortal! Foi casado três vezes e tem cinco filhos, morou até 2010 no bairro de Ipanema. Segundo ele, não há vista melhor do que a paisagem do Rio. Fritz acompanha a Fórmula 1 até hoje, mas sem o mesmo prazer de outros tempos. Como ele diz, “hoje os pilotos são bons controladores de videogames”. Ele ocupa seu tempo entre a suas paixões: O Rio, computadores, fotografia e corridas de carros antigos. Atualmente morando em Cascais, Portugal, eventualmente, participa de eventos com pilotos e carros históricos e corridas de subida de montanha. Ele foi, sem sombra de dúvidas, um dos mais brilhantes pilotos de sua geração.
Fontes: Revista Mecânica Nacional, almanaque da Fórmula 1, Bandeira Quadriculada, CDO. |