Realizado pela nona vez na América do Sul, a única lembrança africana que o rally Dakar carrega atualmente é seu nome, uma referência ao seu antigo local de chegada, a capital do Senegal. Mas para esta edição a organização procurou, também, relembrar às dificuldades encontradas nas primeiras edições, levando tanto máquinas quanto competidores ao seu limite extremo. Para isso foram realizadas algumas alterações, como por exemplo, a inclusão pela primeira vez do Paraguai no roteiro. Com isso, a largada foi realizada na capital Assunção, diante de um público estimado de mais de 200.000 pessoas, para só então tomar o rumo da Bolívia e Argentina, os outros dois países presentes no roteiro. Fato que chamou a atenção, foi a presença dos presidentes do Paraguai e Bolívia na rampa de largada, os quais mesmo sob uma forte chuva, deram a bandeirada simbólica de partida para alguns dos competidores. Aí que fica a pergunta, como o maior e mais importante país da América do Sul "conseguiu" ficar de fora do roteiro do maior rally do planeta mais uma vez? A largada do Dakar ocorreu este ano em Assunção, no Paraguai. Mais uma vez o Brasil ficou de fora. Se consideramos que o Brasil é um país com dimensões continentais, opções de roteiro é que não faltam, prova disso é o Rally dos Sertões que já contou com vários roteiros diferentes ao longo dos anos. Além disso, o Brasil é um dos maiores mercados automotivos do mundo, portanto, o que falta é apenas interesse político e também por parte da CBA em buscar viabilizar a prova em nosso país, o que iria injetar milhões de Dólares na nossa economia, além de mostrar o Brasil para mais de 200 países a um custo infinitamente menor do que foi gasto em estádios para a Copa do mundo de 2014 que hoje viraram verdadeiros "elefantes brancos". Mas falando da competição de em si, e atendo-se basicamente ao assunto carros, visto que o rally conta também com motos, quadricíclos, caminhões, e este ano passou a contar também com UTV´s, a disputa foi acirrada desde o início. Com uma enlameada primeira etapa, os pilotos tiveram uma amostra da dureza que teriam pela frente. As dificuldades apareceram desde a largada, pois mesmo com o trecho inicial tendo apenas 39 km, disputado em meio a muita lama, os concorrentes perceberam que a prova formatada pelo ex campeão das motos, o experiente Marc Coma, não seria nada fácil. E com isso, logo na sequência, vários favoritos foram dando adeus a chance de conquistar a vitória nesta edição. Dos cerca de 10 pilotos com chance de subir ao lugar mais alto do pódio, o primeiro a ficar pelo caminho, foi o espanhol Xevi Pons, que danificou sua Ford Ranger de maneira irrecuperável em um acidente. O Dakar não respeita nem a nobreza. Nasser Al Attiyah deu adeus a prova após danificar a Suspensão em uma pedra Outro favorito que deu adeus ao sonho de conquistar mais um titulo do Dakar, após arrebentar a suspensão traseira de sua Toyota Hilux em uma pedra, quando disputava a liderança da prova durante a terceira etapa, foi o príncipe do Qatar Nasser Al Athyah. E assim, sucessivamente, os favoritos foram, um a um, enfrentando problemas, o que acabou por comprovar o quão dura estava a prova organizada por Coma. "El Matador, Carlos Sainz, também ficou pelo caminho, assustando seu filho, piloto da F1, com o acidente. O próximo a ver seu castelo de areia desmoronar morro abaixo durante a quarta etapa, foi "El Matador", Carlos Sainz, o qual chegou muito rápido em uma curva e acabou protagonizando um capote espetacular com seu Peugeot 3008 DKR, dando adeus ao seu sonho de conquistar mais uma vez este desafiante rally. Depois de saírem do calor acima dos 40 graus de Assunção, os competidores chegaram ao altiplano boliviano, onde além das dificuldades de se competir em altitudes acima dos 4000 metros, enfrentaram temperaturas negativas, neve e rios transbordando, após um verdadeiro dilúvio que ocasionou, inclusive, o encurtamento e até mesmo o cancelamento de algumas etapas. Na largada, todos tem esperanças, mas o sonho de vitória da Toyota foi virando areia com o passar dos dias. Diante de tantas dificuldade encontradas nesta edição, a Toyota e a Mini não conseguiram manter o ritmo de prova imposto pela esquadra francesa da Peugeot. Com isso, a disputa ficou polarizada entre os mitos franceses Sebastien Loeb, Stéphane Peterhansel e Cyril Despres. Assim como a Toyota, a Mini não conseguiu acompanhar o ritmo dos Peugeot e seus carros foram ficando pra trás. Mesmo com o 3008 DKR contando apenas com tração traseira, os Peugeot se mostraram superiores aos concorrentes com tração 4x4 nos lamaçais que tomaram conta de boa parte da prova e até mesmo nas dunas. E conforme o final da prova se aproximava, a disputa pelo título ficou polarizada entre dois dos maiores nomes da história do automobilismo francês. De um lado Sebastien Loeb, simplesmente o maior vencedor da história do WRC com nove conquistas. De outro, Stephane Peterhansel, maior vencedor da história do rally Dakar com 12 títulos entre carros e motos. Conhecido como "Mr. Dakar", Stéphane Peterhansel não teve moleza. Sebastien Loeb chegou a liderar alguns dias. Em um final eletrizante, que em teoria, o favorecido seria Loeb, visto que alguns trechos seriam os mesmos em que por anos Loeb disputou, e venceu, provas do WRC nas cercanias de Córdoba, Peterhansel usou toda sua experiência para superar a velocidade de Loeb e vencer a prova por uma diferença de de 5min13s, o que é pouco se levarmos em conta que foram duas semanas e mais de 9.000 quilômetros de belas disputas em condições totalmente adversas. Com mais essa vitória, o interminável Stephane Peterhansel conquistou seu décimo terceiro título, algo inimaginável até pouco tempo atrás. Se vencer o Dakar uma única vez , já é considerado um feito grandioso, que adjetivo superlativo poder-se-ia utilizar para definir Peterhansel? Qual seria a receita para tantas vitórias? Teria Peterhansel caído dentro do mesmo caldeirão que garantiu super poderes a Obelix, melhor amigo de Asterix, tradicional personagem francês de revista de história em quadrinhos? Stéphane Peterhansel venceu mais uma... e mostrou grandeza! Socorreu o motociclista que ele bateu em uma etapa. Outra possível explicação poderia estar na água que os franceses bebem. Será que o segredo para tantas vitórias está na famosa água mineral Perrier, um ícone do país? Bom, se nenhuma das alternativas estiver correta, a resposta talvez esteja na competência e no talento natural dessas lendas vivas do automobilismo, nada além disso. Competência e persistência que levaram o Brasil a conquistar, pela primeira vez na história, uma das cinco categorias que compõe a competição (motos, Quadriciclos, carros, caminhões e UTV´s). E foi justamente na categoria UTV que a dupla brasileira formada por Leandro Torres e Lourival Roldan conquistaram a vitória para o Brasil, com direito até a destaque no Jornal Nacional. Parabéns Leandro e Lourival pela inédita conquista. Além deles, a dupla formada pelos estreantes Sylvio de Barros e Rafael Capoani, a bordo de um Mini, acabaram o rally em uma excelente décima oitava colocação. Leandro Torres e Lourival Roldan conquistaram algo inédito: pela primeira vez vencemos numa categoria no geral. Agora só nos resta esperar, com certa ansiedade, pelas novidades e disputas da edição de 2018. Teremos 350 dias para sonhar com uma improvável inclusão do Brasil no roteiro. Não irei planejar meu próximo roteiro de férias ao menos por enquanto, afinal, sonhar não custa nada! Até a próxima, Marcos Tokarski
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