Começo este mês a dizer que eu já sabia desde há umas quatro semanas a esta parte todas as movimentações que aconteceram no passado dia 16 de janeiro. Só errei na data, pois tinha indicações de que os anúncios iriam acontecer uma semana depois de ter acontecido, a 23 de janeiro. Lendo os “insiders”, as noticias, falando com outras pessoas, percebeu-se que tudo isto já se sabia desde há muito tempo. E acho que só não aconteceu antes por causa de pormenores burocráticos e outros negócios dos quais teriam de ser concluídos para que estes anúncios tivessem de ser feitos. Ao longo do dia 16, li coisas que eram desmentidas, pormenores. Um exemplo foi o relacionado com o contrato de Felipe Massa. Quando um site disse que ele tinha assinado tudo uns dias antes, alguém lembrou que isso não era verdade, que tudo tinha sido decidido no inicio de dezembro. E é verdade, porque eu me lembro de ter escrito algo na altura que corroborava essa chance. E com pormenores divulgados na maior rede social do mundo: o Facebook. De facto, Massa tinha um contrato para correr na Formula E a partir de 2017, para ajudar no desenvolvimento do carro. Um contrato feito após o final do seu contrato com a Williams, para correr a partir de 2017-18, a quarta temporada da competição de carros elétricos. Só que não se sabia a equipa. O Rodrigo Mattar forneceu essa peça que faltava: era a Jaguar. Contudo, com o interesse renovado da Williams, o contrato foi rescindido de forma amigável para que ele fosse correr por mais uma temporada pela Williams, que precisava de um piloto “maduro”, pois o outro piloto seria um adolescente: o canadense Lance Stroll, de 18 anos. E recordemos que a Williams é patrocinada por uma companhia de bebidas alcoólicas, e colocar um copo nas mãos de um jovem que meia dúzia de anos antes beberia leite achocolatado (coloque a sua marca favorita aqui) não é politicamente incorreto… A segunda peça do puzzle que foi completa – para além da confirmação de Valtteri Bottas na Mercedes – foi a presença de Pascal Wehrlein na Sauber. O anuncio era algo surpreendente, dado que não existe qualquer ligação neste momento entre a Mercedes e a equipa de Hinwill, na Suíça. Mas ver o piloto alemão numa escuderia que tem tradição, mas que está a passar por dificuldades, é uma boa maneira de o fazer crescer na Formula 1, ele que tem 22 anos de idade, mas já venceu no DTM, o campeonato de turismos alemão. Contudo, há quem veja a chegada de Wehrlein naquele lugar como uma espécie de “exilio”, pois ele foi superado por Esteban Ocon desde que o francês lá esteve, na meia temporada que ficou na Manor. E foi por isso que não foi não só para Mercedes, como também ficou numa equipa mais modesta que a Force India, o lugar onde Ocon irá correr na temporada de 2017. Com tudo isto completo, faltava a Manor. No momento em que se escreve estas linhas, a equipa de Banburry estava em negociações para mudar de proprietário, passando do Stephen Fitzpatrick para outros. Falou-se de americanos, com Tavo Helmund como “testa de ferro”, um grupo de ingleses liderados por… Ron Dennis, mas e mesmo que provavelmente o novo proprietário seria Ricardo Gelael, um indonésio que é o dono da franchise local da Kentucky Fried Chicken, a Janegoya Anam. Ricardo é pai de Sean Gelael, que correu na GP2 em 2016 pela Campos, sem grandes resultados, apesar de estar na segunda temporada nessa categoria. Caso ele viesse a ser o novo proprietário, teria um “testa de ferro” algo surpreendente: Graeme Lowdon, um dos ex-donos… da Manor, que está agora na Endurance, com um LMP2, a par de John Booth. É verdade que trabalhar com velhos conhecidos pode ser bom, mas ver a aventura a ser alargada a outras categorias é um pouco estranho nos tempos que correm. E pilotos? Poderia pensar no Rio Haryanto, mas ele abandonou há pouco tempo o patrocínio da petrolífera Petramina… E voltando atrás na questão da propriedade, não saberemos que chassis eles iriam ter. É que pediram autorização para correr com o chassis de 2016, modificado para os regulamentos de 2017, nas três primeiras corridas do ano – Austrália, Bahrein e China. Mesmo antes de saber se a FIA acederá e veremos o chassis novo em Sochi, no GP russo, talvez ainda na situação de “proteção contra credores” que estava, foi finalmente decidido que a equipa está fora do mundial de 2017. Por fim, falar da Liberty Media. Por estes dias, a FIA rectificou o acordo que deu na transferência da propriedade da CVC Capital Partners para eles, e compraram também a parte que pertencia à Delta Topco. Para quem não sabe, esse é o “trust fund” que pertence a Bernie Ecclestone, logo, a sua participação na Formula 1 poderá ter chegado ao fim. É verdade: tudo tem de acabar um dia, mas vê-lo fora do paddock da Formula 1 ao fim de meio século (começou como dono da Connaught em 1958 e depois foi-se embora por dez anos até voltar como “manager” de Jochen Rindt, em 1969) parece incrível. Aquele dia que muitos desejavam que chegasse está à nossa porta e vê-lo partir pelo seu próprio pé, depois de ter jurado vezes sem conta que só iria embora depois de morto, é uma sensação estranha. Muito estranha, mesmo… E a Liberty Media já vem ao que lhe interessa: começou a dizer que quer tirar os cem milhões de dólares que a FOM dá à Ferrari, ainda antes de eles fabricarem o primeiro parafuso do carro desta temporada. Vai haver muita briga, sem dúvidas. Saudações D’além Mar, Paulo Alexandre Teixeira
|