A Mercedes Benz deu início a construção de carros há mais de 120 anos. Ao longo desta trajetória, destaca-se no mercado mundial e desportivo como uma marca sinônima de alta qualidade, alta performance e vitórias, tendo sido dominadora no campo esportivo em todas as categorias a que se propôs enfrentar marcas concorrentes. Durante décadas os seus carros, por serem importados e a importação de veículos no país era um processo extremamente complexo – e caro – a Mercedes Benz, assim como outras marcas, eram “carros para milionários”. Uma realidade que começou a mudar há cerca de 25 anos, com uma maior abertura para a importação de bens de consumo. Categoria monomarca que começou em 2011, o "colorido" Mercedes Benz Challenge tem um grid de encher os olhos. Demorou um pouco, mas a marca da estrela de três pontas chegou às pistas de corrida ainda na década de 90, com pilotos usando modelos Mercedes Benz em corridas de longa duração e Gran Turismo no Brasil, mas ainda sem envolvimento oficial da Mercedes Benz. No início da década a Mercedes Benz do Brasil apostou em criar no Brasil o Mercedes Benz Challenge, uma categoria monomarca voltada para os chamados “Gentleman Drivers” (não profissionais em sua essência) e em 2011 deu partida no seu projeto com um Sedan Classe C (o C-250). Em 2014, um novo carro da “família”, o CLA 45, com preparação do braço desportivo da marca, a AMG. Na última temporada a categoria alinhou mais de 40 carros em alguns dos seus grids, com os pilotos separados em quatro classes (CLA AMG Cup; CLA AMG Master; C-250 Cup; e C-250 Master). Desde 2014 fazendo parte do quadro de categorias que alinham nos eventos da VICAR, a categoria vem aprimorando sua expertise e planejando novas ações para breve, tanto na relação com os chefes de equipe e pilotos como também com seus convidados dos HCs, rede de revendedores, potenciais e fieis clientes. Entendendo a categoria. Conversamos com Dirlei Dias, Gerente Senior de Vendas e Marketing da marca alemã para conhecer melhor a categoria que reúne o maior grid do país entre as categorias nacionais. NdG: Quando uma montadora decide ingressar no automobilismo de competição, há toda uma estratégia por trás. No caso de uma categoria monomarca como é o Mercedes Benz Challenge, qual foi a estratégia da marca? Para o Diretor Senior de Vendas Marketing, Dirlei Silva, a estrategia da marca é mostrar um produto com desportividade. Dirlei Dias: A gente tem que começar pelo “DNA” da Mercedes. Uma das maiores vitoriosas do automobilismo mundial, que tem uma história de vitórias desde antes da Fórmula 1, que venceu Le Mans e outras corridas longas, que é a dominadora da Fórmula 1 e também protagonista no DTM, um dos campeonatos mais importantes da Europa, demonstrando que temos condições e competência para fazer automobilismo. No caso específico aqui do Brasil, criar uma categoria monomarca de competição foi a forma escolhida para fazer um alinhamento com a estratégia mundial da Mercedes de mostrar um rejuvenescimento da marca, mostrando a esportividade dos nossos carros. Ou seja, tirar da cabeça do nosso cliente e do potencial cliente com a nova classe C e toda a nova geração de carros a imagem de ser um “carro tradicional” ou um “carro pra velho” – não do sentido pejorativo, mas como para um público com mais idade – e passar a imagem de que é um carro mais desportivo, mais bonito, mais arrojado em termos de design e sem perder aquilo que também acompanha a marca que é a segurança, confiabilidade e garantias que um cliente Mercedes Benz possui. Assim, para 2011, pegamos uma Classe C de série, a C250, e preparamos o carro para se tornar um carro de competição. NdG: Além do Brasil, há um projeto semelhante em outro mercado? Uma categoria monomarca dentro do automobilismo com carros similares aos carros de rua? Entre as categorias nacionais, é no Mercedes Benz Challenge que vemos o maior grid de uma categoria nacional. Dirlei Dias: Não, é uma estratégia brasileira. A Mercedes não possui categorias similares a esta e foi uma um trabalho de sucesso e que nos incentivou a colocar um novo produto, que é o CLA45, preparado pela AMG. Enquanto a C250 foi preparada aqui no Brasil, com uma parceria de uma empresa que não existe mais e há alguns anos contamos com a JL como nossa parceira. A CLA45 foi preparada na Alemanha, exclusivamente para a nossa categoria no Brasil. NdG: Em 2017 a C250 está indo para sua 7ª temporada. É um sinônimo de sucesso, mas é um carro que a Mercedes parou de fabricar. Vocês pretendem usar a categoria para algum lançamento em substituição à C250? Dirlei Dias: Vamos por partes: A C250 é montada numa plataforma que não é mais de série, mas dentro de uma visão mercadológica, nós fizemos um “face lifting” nas C250, modernizando o seu visual e se você pegar uma foto de 2011 e uma de 2016, vai ver que os carros são bem diferentes em sua estética. Foi uma parceria com as equipes, num investimento que dividimos meio a meio para deixá-la com um visual mais arrojado. Usamos a referência da C Coupé Black Series AMG, que é um carro de linhas muito bonitas. A C250, carro que está na pista desde a primeira temporada, sofreu uma "modernização de visual" para se atualizar. Uma coisa que nós fizemos e temos por compromisso é a garantia da longevidade da categoria. Quem compra um carro para correr no Mercedes Benz Challenge tem uma garantia de que não vamos mudar o modelo, o carro, por um período de três anos. Sabemos que o investimento do carro é dos pilotos ou das equipes e quem comprou o C250 em 2011 ou CLA45 em 2014 comprou com esta garantia, de que teria um carro para competir por pelo menos 3 anos. A partir de 2017, passaremos a manter este compromisso de ano em ano. No final de 2017 reuniremos as equipes, pilotos, a VICAR, a Pirelli e a JL para traçar as estratégias para 2018. NdG: Por falar na VICAR, porque a Mercedes Benz do Brasil passou a integrar a programação do seu evento em 2014? O que levou a esta decisão e o que mais pesou para isso? Dirlei Dias: A VICAR é, na nossa visão, a maior e melhor organizadora de eventos de automobilismo no Brasil. A Mercedes tem um histórico em termos de competições, mas em termos de organização de um evento esportivo, de negociar com autoridades, com CBA, donos de autódromos, prefeituras, televisão, patrocinadores, montar um evento como é a Stock Car, controle de público, bombeiros, ambulância... procurar um parceiro era a melhor opção e nós procuramos o melhor parceiro possível para desenvolver projetos nas áreas que não somos especialistas. Tivemos reuniões com pelo menos quatro empresas antes de decidir nos unir a VICAR e eles mostraram muita experiência e seriedade na organização deste tipo de evento e estamos muito satisfeitos. Temos uma relação muito profissional e aberta com eles e uma parceria muito consolidada. NdG: De 2011 até o final de 2016, foi feito algum estudo do que o Mercedes Benz Challenge possa ter impactado na exposição e incremento dos negócios da marca Mercedes Benz no mercado automobilístico brasileiro? Dirlei Dias: Não é possível isolar o efeito que o Mercedes Benz Challenge possa ter impactado nas nossas vendas. Não tem como responder esta pergunta, mas posso dizer que em 2011 nós tínhamos um platamar de vendas de 10 mil carros por ano e neste período nós chegamos a 18 mil carros por ano, um crescimento de 80% em vendas no pico de negócios de 2015, que teve uma queda com a retração econômica do país como um todo. Obviamente este aumento é provocado por inúmeras coisas: renovação de portfólio, de carros de entrada, investimento em marketing, desenvolvimento de serviços para nossos clientes, abertura e expansão da rede de concessionárias, investimento em eventos de relacionamentos e isso tem nos lavado a brigar pela liderança de vendas no seguimento Premium. Em todas as etapas, a Mercedes Benz instala um Hospitality Center para seus convodados em todas as etapas do campeonato. O Mercedes Benz Challenge tem se mostrado um excelente meio de relacionamento com clientes, potenciais clientes, com nossa rede de concessionárias que nos eventos de automobilismo é feito em um lounge que montamos e que, em etapas como Interlagos, já recebemos 250 convidados. Nossos pilotos são em sua grande maioria clientes da marca e que usam veículos Mercedes Benz no seu dia a dia. Nas cidades que vamos com as etapas do campeonato, trabalhamos em parceria com nossos concessionários, convidando clientes, personalidades e celebridades locais, potenciais clientes, jornalistas e mesmo clientes da concorrência, e muitos vão para a “volta rápida”, que é uma experiência fantástica. NdG: Manter uma categoria no automobilismo requer um investimento e muito se fala que automobilismo não dá lucro. Quanto a Mercedes Benz investe na sua categoria? Dirlei Dias: Eu vou dizer o seguinte: pode perguntar para qualquer chefe de equipe ou piloto e ele vai dizer que é a categoria mais competitiva e mais barata do país. O carro não quebra. Só quebra se o piloto quebrá-lo ou deixarem de fazer a manutenção. Em 7 anos dá pra contar nos dedos os problemas de câmbio ou de motor. Ou seja, mesmo investindo em uma CLA 45, a relação custo/benefício é muito boa para o piloto. Temos nossos HCs nas etapas, transmissão ao vivo das corridas em TV por assinatura e pela internet. Em termos de mídia, o retorno é 10 vezes maior do que o investimento feito pela Mercedes Benz. Por dentro dos boxes. Na ação extrapista nós vimos como a Mercedes promove a categoria e seu produto, mas quem vai ao autódromo ou liga a televisão para assistir corridas quer saber mesmo é da disputa, de quem freia mais dentro da curva, de quem tira o melhor desempenho do carro, o que é difícil em carros iguais. Para nos contar como funciona a categoria de dentro do ambiente da competição, conversamos com José Cordova, Dono da Cordova Motorsport e com um histórico de sucesso e conquistas, dentro e fora das pistas. NdG: O Mercedes Benz Challenge é uma categoria monomarca, mas que tem equipes distintas e carros distintos. Como se faz uma equipe para disputar os campeonatos? José Cordova tem uma histporia de sucesso no automobilismo e conseguiu traduzir bem a essência da categoria. José Cordova: Há mais de uma forma. As equipes tem uma estrutura, com engenheiros, mecânicos e equipamentos. Na Mercedes há a opção da equipe comprar o carro, que não é muito comum, e do piloto comprar o carro e levar para a equipe, o mais usual. O carro não é um carro barato e por isso é mais comum o piloto chegar com o carro e procurar você para prepará-lo. O custo de um carro ou dois, dentro do sistema de estruturação da categoria seria um investimento muito alto para a equipe ter um retorno. Neste formato, os custos ficam divididos e acaba gerando mais competitividade, mais empregos e se os carros da tua equipe andam bem, outros pilotos vão querer correr sob teu esquema, com a tua preparação. NdG: Como é a preparação dos carros? José Cordova:Temos duas situações distintas: quem corre com a C250, os carros são preparados no Brasil, toda a montagem dos itens de segurança, a transformação do carro de passeio num carro de corrida, com ‘santantonio’, volante, banco, tanque de combustível, eletrônica, etc. Este carro já está na pista desde 2011, é um tempo bastante longo se formos ver o histórico das categorias nacionais e continua com um bom número de carros no grid. Há uma perspectiva para que em 2018 os C250 sejam substituídos por outro carro da marca, mas ainda não temos informação sobre isso. Com seus carros competindo entre os CLA45, Cordova é claro ao dizer que o nível de pilotagem da categoria é altíssimo. Diferente do C250, o CLA45 AMG é um carro que vem pronto da Alemanha. O piloto que o compra já o recebe com configuração de corrida e todos os itens de segurança instalados. Inclusive, quando o carro chegou no Brasil os pilotos de teste do carro lá na Alemanha vieram para o Brasil para testar e comparar o comportamento do carro com os pneus que seriam utilizados aqui. Alguns pilotos brasileiros também foram contratados para fazer estes testes e depois disso é que o carro foi vendido. Na época custava 400 mil reais, isso para a temporada de 2014. NdG: O CLA45 é um carro que o brasileiro que tenha dinheiro e deseje comprar ele pode ir num revendedor Mercedes e comprar. O que aquele carro da loja tem de diferente do carro que vai pra pista em termos de equipamentos? José Cordova: Suspensão e molas são diferentes, as que temos aqui não para competição, são fornecidas pela KV. O freio também é diferente do original, foi todo trocado, apesar de ter sido mantida a eletrônica do sistema ABS. O motor tem uma potência um pouco maior do que a do carro de rua. O do carro de corrida tem 389cv (o do carro de rua tem 375cv), mas como o carro é todo aliviado, sem o peso dos equipamentos de conforto do carro de rua, a relação peso/potência se acentua. Um diferencial muito importante é relativo ao sistema de tração integral destes carros. No do carro de rua o sistema se adapta ao terreno e o controle de estabilidade faz este ajuste. No caso do carro de pista, foi colocado um ajuste determinado, com o que vai de tração nas rodas traseiras e dianteiras, sem a variação do controle de estabilidade. NdG: Tirando o custo do carro, sem sofrer acidentes, quanto custa uma temporada? A associação com a VICAR ajuda a mostrar a marca e os patrocinadores das equipes a um grande público. José Cordova: Somando tudo, transporte, equipe, pneus, combustível, as taxas de motores por conta do trabalho de revisão feito pela JL, sai uns 500 mil reais a temporada. Uma coisa interessante sobre motores nesta categoria é que não tem como fazer um “motor canhão”, aquele melhor que todos os outros. A eletrônica destes carros é muito moderna e não permite “dar aquele jeitinho”. É um motor turbo que trabalha com um limite de 2 Kg de pressão. Quando bate no limite, ele abre a borboleta. Não tem como burlar e, se tivesse, apareceria fácil na leitura da telemetria. NdG: Os pilotos no Mercedes Benz Challenge não são profissionais, como é o trabalho com eles e o que eles podem tirar deste carro? José Cordova: O CLA45 é um carro pesado, com 1460 Kg somando carro e piloto. Tem torque, tem tração nas quatro rodas, que não tem em outras categorias, o pneu dá uma limitada na performance por questão de economia. A Pirelli fez um pneu durável, confiável, mas que faz o tempo ser mais alto. Eles fizeram um pneu 3s mais rápido, mas optaram por este. Tudo isso faz com que a tocada seja diferente, mas o nível dos pilotos é bom e o piloto que andou três anos com este carro não vai tomar tempo de um piloto profissional que chegar aqui. O carro ajuda, compensa, o profissional vai virar mais rápido, mas não vai enfiar 2s ou mesmo 1s de cara dependendo do piloto, se for algum dos primeiros daqui com alguém do meio do pelotão, é pra virar mais ou menos a mesma coisa e a categoria permite 1000 Km de treinos livres por ano para cada piloto.
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