No dia 20 de janeiro deste ano um novo presidente tomou posse para um quadriênio à frente da Confederação Brasileira de Automobilismo, depois de uma eleição disputadíssima, cercada de polêmicas e parecia que dividiria o país em dois. Waldner Bernardo de Oliveira, pernambucano e candidato da situação, com o apoio do então presidente, venceu o pleito por 10 votos a 7, assumindo o cargo com todos os olhares sobre seus ombros para ver o que seria a nova administração, depois das inúmeras promessas que ambos os candidatos fizeram durante o período pré-eleitoral, duas verdadeiras campanhas, com cabos eleitorais, propagandas em redes sociais, alguns programas com entrevistas e até um debate. Passados os primeiros meses da administração Waldner Bernardo, perguntamos a três grupos de pessoas ligadas ao automobilismo, presente em três eventos distintos, o que eles esperavam desta nova gestão da CBA e o que eles realmente achavam que o novo presidente iria fazer. Começamos pelo evento da Porsche GT3 Cup Challenge e da F3 Brasil. Alceu Feldman – Piloto da Porsche GT3 Challenge Cup. Eu estou começando na Porsche este ano e nos últimos anos e por muito tempo eu estive participando das competições da VICAR, tanto na Stock Car como na Copa Petrobras de Marcas e o que eu vi nos últimos cinco anos foi uma queda no padrão dos eventos de uma forma geral. As equipes empobreceram, os pilotos passaram a ter mais dificuldades, as relações com patrocinadores ficou mais difícil, a TV aberta, a Rede Globo saiu fora e por aí foi. Se vier uma nova administração melhor do que a anterior, vai ser melhor. Se você tiver um automobilismo forte, pujante, como a gente tinha 10 anos atrás, com categorias fortes, muitos campeonatos, com promotores trabalhando bem, as coisas vão se acertar. Se a administração for boa e o automobilismo se reestruturar, ele vai crescer. O Dener aqui na Porsche é um exemplo de boa gestão e que devia ser mais visto pelos demais. Tomara que o novo presidente da CBA consiga fazer as coisas melhorarem. Carlos Col – Consultor convidado da F3 Brasil. Eu estive em uma reunião em São Paulo no final do ano passado, que foi um debate de ideias e onde estiveram presentes os dois candidatos e ao final eu pus as mãos nos ombros de ambos e disse que não sabia quem seria o vencedor, mas que, quem viesse a ser eleito, fizesse uma gestão transparente, mais moderna, mais profissional e mais participativa com as pessoas que realmente fazem o automobilismo. Eu entendo que a CBA tem uma administração pouco profissionalizada para um grande grupo de profissionais que depende de uma boa gestão, de uma gestão profissional. Como tem muita coisa a ser feita, eles tem um campo enorme para trabalhar. Resta saber agora, no trabalho do dia a dia, se quem venceu a eleição vai executar de fato. Uma sinalização muito positiva foi a forma como a CBA abraçou a F3 Brasil, que não é uma categoria comercial, que não tem promotor, que é uma categoria de enorme importância estratégica para o automobilismo como um todo e que terminou o ano de 2016 cheia de incertezas. A CBA me pediu para estar aqui, para prestar uma consultoria, gratuita, e eu estou aqui de bom grado por acreditar na importância da categoria e foi criada a categoria Academy, para ser a porta de entrada para os pilotos e o formato que vai ser aplicado nela, com formação para os pilotos onde haverá convênios com outras academias na Europa. Eu espero que todo este esforço frutifique e seja positivo para o automobilismo como um todo. Dárcio dos Santos – Dono da Equipe Propcar na F3 Brasil. Eu acredito muito na gestão do Dadai [apelido do Presidente Waldner Bernardo] e estou muito confiante com este passo que está sendo dado na Fórmula 3 com a criação da categoria Academy, nos moldes que ela está sendo criada, com o nivelamento dos carros, com a redução da potência do motor e sua equalização para ser uma categoria atraente para os pilotos que sairão do kart. Eu espero que a recém criada ANEF, Associação Nacional das Equipes de Fórmula, possa concretizar algum patrocínio para a categoria e assim possamos baratear o custo cada vez mais. Um patrocínio de transporte, de combustível, de hospedagem. Isso reduziria custos para todos. Se fizermos boas ações e conseguirmos isso, possamos voltar a ter um grid com 20 carros ou mais. As outras categorias estão se acertando. A Porsche está aí com mais de 30 carros no evento, a Stock Car terá também 30 carros este ano, os campeonatos regionais estão fortes e vamos ter a volta do campeonato brasileiro 1600, com um custo baixo e que movimentará muitos pilotos. Eu acredito que o automobilismo brasileiro vai crescer nestes próximos quatro anos. Dener Pires – Promotor da Porsche GT3 Cup Challenge. Eu acredito que a forma de se gerir o automobilismo brasileiro precisa ser renovado e que esta gestão que está começando tem isso em mente. Um quadro de mudança implica em uma série de coisas a começar pela simplificação do trabalho para que todos nós, promotores, equipes, preparadores e pilotos possamos fazer nosso trabalho de uma forma mais prática, segura e eficiente. Existem coisas que precisam ser observadas e se buscar um meio de fazer melhorias. As condições dos nossos autódromos precisam melhorar. Temos poucos autódromos em condições no país e isso é primordial, a começar pela integridade física dos pilotos, para que os carros possam ser exigidos como devem ser e por fim, para que o público tenha um grande espetáculo. Segurança e infraestrutura são primordiais. É preciso que o automobilismo cresça, que tenhamos mais categorias e que as categorias que conseguiram se manter nestes últimos anos se fortaleçam e tenham grids maiores, que possamos formar mais pilotos, elevar o nível de competitividade, cuidar bem para que todas as federações estejam em ordem e avançar no que precisa ser feito. É o que espero da CBA para estes próximos quatro anos e prefiro acreditar no melhor, que eles vão conseguir. Luiz Alberto Trisci (Dragão) – Chefe de equipe na F3 Brasil. Pra começar eu gostaria que a CBA tivesse uma atuação maior nas categorias de base do nosso automobilismo, desde o kart aos meninos que estão indo para as categorias de Fórmula regionais e aqui pra Fórmula 3. Eu acredito muito neste novo presidente, apesar dele ter sido uma indicação e ter sido apoiado pelo presidente anterior, onde muito pouco foi feito pelas categorias de base e isso que está sendo feito hoje com a Fórmula 3, criando essa categoria academy, ajudando os pilotos em sua formação é um passo muito importante. Se a gente tiver um apoio bom, nosso trabalho na categoria vai dar resultado podemos assim formar pilotos para as categorias consolidadas como a Stock Car e para outras se consolidando, assim como preparar estes jovens para ir tentar correr no exterior. Se tiver menos política e mais trabalho a gente pode conseguir fazer um bom trabalho. Eu tenho certeza que com o comprometimento e o trabalho de todos a gente vai conseguir fazer o que se propôs na Fórmula 3 e também pode ser feito no automobilismo do Brasil inteiro. Lico Kasemodel – Piloto da Porsche GT3 Cup Challenge. Espero mais seriedade. Isso é o que todos os dirigentes das categorias, promotores, e pilotos esperam da Confederação Brasileira de Automobilismo. Eu acho que esta falta de seriedade e de competência foi o que levou o nosso automobilismo ao ponto que chegou, com categorias sumindo, grids diminuindo, a Fórmula 3 quase acabou e por aí tem ido. A consequência disso é a falta de pilotos brasileiros correndo no exterior, que hoje são muito poucos e raras são as vitórias e a perspectiva para a Fórmula 1 é não termos mais ninguém. Categorias com sucesso e força como é a Porsche, que tem o Dener como promotor é uma exceção. A Stock Car tem conseguido se manter com muito sacrifício e as demais categorias que ainda restam estão em crise. Alguns regionais tem tido bons grids, mas isso é muito pouco. A nova direção não é tão nova assim, pois já fazia parte da diretoria anterior, mas é um trabalho que eles estão dizendo que vão começar e eu espero que fortaleça o automobilismo, desde o nordeste até o sul, que consigam fazer com que autódromos sejam recuperados, que categorias surjam. A gente precisa pensar positivo e acreditar que tenha gente com boa vontade por lá. Que as coisas podem mudar, podem, basta querer fazer. Luc Monteiro – Jornalista e narrador da Porsche GT3 Cup Challenge. Bom, o que eu gostaria de ver acontecer é algo meio óbvio. Tanto do Dadai quanto dos presidentes que o antecederam, o desejo é que as promessas feitas sejam cumpridas. Como todo candidato, ele lançou pretensos novos projetos, pretensa inovações. Vivemos aquela coisa do “tá ruim, mas tá bom” e vive versa. O automobilismo precisa se reinventar, sobretudo nesses tempos de crise que a gente tá olhando para frente e não está vendo perspectivas da situação melhorar. Se eu soubesse como fazer o automobilismo melhorar na contramão da crise eu também teria me apresentado para ser candidato. Um ponto positivo que estou vendo é a colocação de pessoas na nova administração que tem uma qualificação específica. Imagino que vai ser direcionado assim para todos os setores e isso é importante. É um ponto que acho estar sendo tomada a direção certa. Agora, da parte que envolve os pilotos, desde o kart, passando pelos colaboradores, promotores, jornalistas, é fazer com que o automobilismo consiga vencer a crise. Se o Dadai conseguir “reinventar a CBA” quem sabe. O que deixa a gente com o pé atrás é que ele vem da mesma corrente do seu antecessor, apesar dele não se apresentar como sucessor, como continuidade ou como afilhado político, tendo até procurado dissociar-se da imagem do Cleyton Pinteiro. Vamos ver se ele vai conseguir por em prática as promessas que todos lemos e ouvimos antes da eleição. Pedro Queirolo – Piloto da Porsche GT3 Cup Challenge. Para começar o que acredito ser desejo de todos os pilotos é uma melhor condição dos autódromos. Que fosse investido bastante na formação de pilotos, que se estabelecesse um programa efetivo e capaz de gerar resultados nas categorias de base para que possamos ter mais pilotos, indo para o exterior ou não, fazendo crescer também o automobilismo brasileiro, podendo fazer com que surjam novas categorias. Para o automobilismo internacional, fazer com que tenhamos mais pilotos e melhor preparados para quem sabe conseguir chegar numa Fórmula 1, mas é algo que precisa ser feito porque o que temos hoje é uma perspectiva de ficarmos sem piloto brasileiro por lá muito em breve. É preciso criar um caminho para uma renovação. Eu sou uma pessoa otimista então eu vou estar sempre querendo acreditar que as coisas vão seguir pelo melhor caminho para tudo que diz respeito as nossas vidas dentro e fora das pistas. Que o país seja passado a limpo com a lava jato que está em andamento e que nosso automobilismo retome o rumo de sucesso que teve um dia. Rodrigo Batista – Piloto da Porsche GT3 Cup Challenge. É uma pergunta complexa, difícil de responder. O Brasil deu uma piorada em todos os sentidos nos últimos anos. Seja no esporte em geral ou no automobilismo em particular, nas condições da sociedade, mas eu acho que está voltando. Parou de cair e está começando um processo de recuperação. A Porsche é uma categoria que continua forte, diferenciada, com mais de 40 pilotos para correr e a Fórmula 3 também está com um grid bem interessante, melhor do que no ano passado. Então eu penso que estes podem ser sinais positivos para que estava correndo fora do país, volta e vê o que está acontecendo. Se eu fizer um parâmetro com o tempo em que eu corria de Fórmula 3 aqui antes de ir para a Europa, melhorou bastante. Mesmo tendo começado com um grid razoável, no final da temporada a gente tinha grid de seis carros pra largar. Eu espero que o novo presidente da CBA consiga fazer as coisas que ele quer fazer e que precisam ser feitas pelo automobilismo brasileiro. O problema é que o último também falou coisas e estas não aconteceram. Que com o novo presidente as coisas possam acontecer, que sejam diferentes. Vamos esperar este primeiro ano de mandato para vermos se as coisas que foram prometidas vão começar a sair do papel. O início está indo no caminho certo.
|