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Diário de Indianápolis, Sábado 27/05 PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Saturday, 27 May 2017 21:40

Olá fãs do automobilismo,

 

Antes de entrarmos nos assuntos de hoje, temos que falar do jantar de ontem, com a família Andretti, com todos os filhos presentes alguns netos, Marco e, claro, Fernando Alonso.

 

Foi um jantar bem descontraído e, apesar do esforço para desviar o assunto das coisas do automobilismo, foi simplesmente impossível falarmos da qualquer coisa que não fossem relacionadas a carros e corridas. Foi bom porque o assunto não se concentrou em Indianápolis ou em Mônaco, falou-se também de Le Mans e do bom trabalho de parceria entre Chip Ganassi e a Ford no campeonato de endurance dos EUA e também no WEC.

 

Nessa hora a Maria deu uma “derrapada” e disse que se fosse convidada para trabalhar nesta área na Ford Competições, ela não pensaria duas vezes.

 

- Como assim? Alguém que não percebi perguntou...

 

Ela teve que responder e contar que trabalhava na Ford em Ontário, que era engenheira mecânica e a certa altura o Mario Andretti disse que iria apresentá-la ao Chip Ganassi e que, quem sabe ele não tornava este sonho que ela tinha em realidade... A Maria ficou pálida (modo figurado), pela primeira vez, pelo menos por alguns segundos, eu vi uma baiana perder o rebolado. Refeita do susto, ela disse que seria um prazer ser apresentada ao Mr. Ganassi.

 

Jantar com o Clâ Andretti na noite da sexta-feira. Uma reunião agradável e divertida, com Fernando como convidado.

 

Fernando estava bastante relaxado. Contentou-se em falar trivialidades como a forma carinhosa e bem menos curiosa que ele estava sendo tratado ao longo desta estada nos EUA. Também falou que, apesar de estar concentrado para a corrida, vinha mantendo contato com a equipe McLaren em Mônaco e que estava feliz com o desempenho de pista de Stofel Vandoorne e Jenson Button e que acreditava na chegada ao Q3 no treino classificatório... o que acabou acontecendo com os dois carros.

 

Uma hora o Michael resolveu “virar o jogo” pra cima de nós duas e perguntou por quem nós estaríamos torcendo para vencer as 500 Milhas no domingo. Eu usei – literalmente – da psicologia para escapar da pergunta dizendo que, como terapeuta de vários deles, inclusive de dois ali na mesa, eu não poderia dizer se teria uma torcida por alguém em especial. Não seria ético. Disse que minha torcida seria por uma corrida sem acidentes graves e sem interrupções por chuva, algo que estava me preocupando. A Maria não fez rodeios: “Tony! Afinal, ele é baiano como eu”! Arrancou risos de todos com sua franqueza. Deixamos o convívio dos Andretti pouco depois das 10 da noite. O dia seria longo no sábado.

 

Sábado é um dia diferente do que costumam ser os sábados, véspera de corrida, aqui na Indycar Series ou em qualquer lugar do mundo que a corrida seja disputada no domingo. Hoje não teremos nenhuma atividade de pista com os pilotos. Na pista, apenas ações promocionais, como voltas em carros de dois lugares, que tem como pilotos o tricampeão (1974/76/80) das 500 Milhas de Indianápolis, Johnny Rutherford, O campeão de 1967, Mario Andretti e o Tetracampeão (1979/84/88/91) Rick Mears, voltas com carros históricos, eventos para o público infantil e as sessões de autógrafos. Logo pela manhã, com os pilotos que correrão amanhã (no domingo tem outra sessão) e a partir do meio dia, pilotos que fizeram história correndo em Indianápolis também distribuirão autógrafos. A tarde eles participaram de uma reunião e seguiram para o desfile em carros abertos pelas ruas da cidade, algo que os norte americanos adoram: as “Parades”.

 

Para quem não tem ideia do tamanho que é i IMS, achei essa foto na internet para mostrar como ele é enorme!

 

Levamos um pouco mais de tempo para chegar no autódromo por conta do trânsito e eu já preveni a Maria que, amanhã, levantamos as 3 da manhã pra tentar estar antes das 7 no autódromo. No ano passado, quem leu a minha coluna (leia aqui) sabe que eu aluguei uma van e dormi a semana inteira dentro do IMS. Cheguei a propor isso, mas a Maria já tinha feito reserva num hotel e com o tamanho dela, ou alugávamos um trailer ou ela ia dormir encolhida!

 

O céu estava cinzento e assim ficou até o meio dia, quando o sol forçou a barra para aparecer no meio do cinza. Perguntamos a várias pessoas que trabalham no IMS se havia chovido na madrugada e disseram que apenas alguns pingos caíram, mas que não molhou a pista. Uma boa notícia, mas a preocupação para o domingo continua. Durante a tarde choveu forte ali perto, em Cincinnati e Louisville.

 

Quando chegamos, fomos direto para a Pagoda Plaza, onde os pilotos estariam distribuindo autógrafos para o público. As filas para tudo são intermináveis. O autódromo está completamente tomado e só quem veio aqui alguma vez tem ideia do tamanho que é o IMS. Para ajudar, encontrei uma foto na Internet algum tempo atrás e vou colocá-la na folha de hoje do diário para que os queridos leitores tenham uma ideia do que estou falando.

 

O tempo nublado pela manhã ajudou na hora da sessão de autógrafos, feita ao ar livre. Filas intermináveis!

 

As filas não são por pilotos. Você chega na área onde estão as mesas e vai passando por elas. Claro que algumas ficam mais cheias que outras e as mesas da Penske, Andretti e Ganassi são as mais concorridas. Observamos que a grande maioria do público parecia estar mais curioso do que interessado em Fernando Alonso. Apesar de todo o trabalho de mídia que as emissoras de rádio, TV e a internet fez, ele ainda é um “estranho” nos EUA.

 

Ao fim da sessão nos separamos. Fui atender três dos meus pacientes (Helinho, Will e Montoya) – amanhã atendo os outros três – enquanto a Maria foi tentar visitar o Museu do IMS. Eu não quis desestimulá-la, dizendo que era o pior dia para fazê-lo, mas sugeri que ela tentasse o acesso como imprensa e dissesse que queria entrevistar alguém do acervo... qualquer desculpa para furar a fila e marcamos de nos reencontrar no North Chalet, para a sessão de autógrafos dos Nobres do Grid deles.

 

Andar no IMS não era uma tarefa facil. A quantidade de pessoas circulando era absurdamente grande.

 

Não estava fácil se locomover em Indianápolis. Tive a impressão de que tem mais gente este ano do que no ano passado. Cheguei no Noth Challet meio dia e meia... e nada da Maria. Conversei rapidamente com Mario Andretti e Rick Mears sobre o respeito que os norte americanos tem pelos feitos realizados no passado e eles disseram que em parte, isso acontece graças ao esforço dos organizadores em promover estes eventos e que é uma retribuição ao que eles fizeram. Ambos ficaram tristes quando eu disse que coisas como estas não são feitas para os pilotos que escreveram a história do automobilismo brasileiro, exceção ao Ayrton Senna, que morreu da forma como morreu.

 

Entre a primeira e a segunda sessão de autógrafos a Maria chegou. Disse que passou 1 hora e meia para conseguir entrar, ficou uma hora no museu e voltou para me encontrar. Estava difícil transitar pelo IMS. Era um formigueiro humano.

 

Antes de abrir a sessão de autógrafos conversamos com Matthew Metcalfe, produtor do documentário “McLaren”, que será lançado em breve retratando a vida do piloto Bruce McLaren. Ele falou sobre a pesquisa e o trabalho que foi reconstituir a carreira do piloto neozelandês que foi, por muito tempo, o mais jovem vencedor de um GP de F1 e que criou a equipe onde Emerson Fittipaldi e Ayrton Senna venceram campeonatos mundiais. Mas este não é seu único projeto. Ele e também está fazendo um filme com a vencedora história de Scott Dixon.

 

Na hora de honrar a história, os americanos sabem como fazer. Os grandes pilotos do passado são convidados.

 

Na sessão de autógrafos, puxamos a coisa para nosso lado e demos uma atenção especial para a piloto Lynn St. James, que correu a primeira de suas 17 edições das 500 Milhas exatamente 25 anos atrás. E não foi só isso. Ela terminou a corrida num excelente 11º lugar e foi eleita a “Rookie of the Year”, a novata do ano, mesmo concorrendo contra homens. Ela foi a segunda mulher a se qualificar para a corrida. A primeira foi Janet Guthrie, em 1977, 40 anos atrás.

 

Decidimos não ir para a “Parade”. Ao invés disso, fomos atrás de “descobrir” com a multidão presente se eles conheciam o Fernando Alonso e o que eles sabiam sobre o piloto espanhol.

 

Fernando Alonso distribuiu autógrafos como poucos ao longo destas duas semanas. Mas quem ele é aqui nos EUA?

 

É preciso levar em conta que desde que anunciou sua decisão em correr as 500 Milhas, a CBS (que vai fazer a transmissão costa a costa) e a ESPN deram uma grande cobertura ao fato de um piloto da Fórmula 1 em atividade vir correr a prova depois de algumas décadas, mas até onde o torcedor que vai para as arquibancadas, que vem para o camping e transita pela área interna do oval conhece Fernando Alonso?

 

Foram poucos que souberam dizer alguma coisa sobre a carreira do Alonso. A maioria disse que viu que ele estava correndo este ano as 500 Milhas mas não tinham ouvido falar dele antes do seu anúncio para a corrida deste ano e visto alguns programas. Quem mais sabia sobre ele eram os mexicanos e canadenses que estavam no circuito.

 

A festa não para em Indianápolis e o pessoal é criativo na sua forma de festejar... e "passar da conta" é comum.

 

Como o mundo é pequeno, já diz o ditado popular, encontramos um grupo de animados canadenses, residentes de Ontário como a minha querida parceira de reportagem, Maria da Graça, que ontem estavam fazendo uma “torre de latas”, como eles disseram e que iriam usar como vara para pular a tela e invadir a pista pra comemorar com o vencedor da corrida (isso não pode ser sério).

 

Assim como ontem, eles estavam loucos de bêbados e seguiam na direção do palco principal para os shows que já haviam começado e a festa que vira a noite de sábado para o domingo estava só começando.

 

A festa começou a tarde, já com um pouco de sol, e ia durar a noite toda para quem estava no camping.

 

Deixamos o IMS pouco depois das cinco da tarde. Decidimos comer algo decente, uma vez que só comemos bobagens o dia inteiro, quando deu tempo. Jantamos, voltamos para o hotel e nos preparamos para dormir. A noite vai ser curta e o dia de amanhã será muito longo.

 

Beijos e muito axé de Indianápolis,

 

Catarina Soares e Maria da Graça


Last Updated ( Sunday, 28 May 2017 00:52 )