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A caça aos “dinossauros” PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Friday, 14 July 2017 23:56

Quando a Stock Car disputou sua primeira corrida, em Tarumã, Rio grande do Sul, em 1979, a categoria foi a única capaz de reunir em torno de seu nome os maiores pilotos do automobilismo nacional, que por um motivo ou outro, não corriam em categorias no exterior.

 

Desde a primeira vitória, conquistada por Affonso Giaffone e o primeiro título (primeiro de quatro) conquistados por Paulo de Melo Gomes, um grupo que poderia ser chamado de “a nata da nata” estabeleceu um domínio na categoria que mesmo com o tempo, recebendo pilotos rápidos e competentes, derrotar estes grandes campeões poderia ser considerada uma “missão impossível”!

 

 

Eles saíram dos anos 70 e por mais de 20 anos continuaram sendo os “homens a serem batidos” e que, com o passar impiedoso do tempo, passaram a ser chamados de “os dinossauros da Stock Car”. Verdadeiros T-Rex, capazes de devorar todos os adversários e manter sua hegemonia pelas selvas de asfalto deste país. Pareciam ser simplesmente intermináveis!

 

Foi apenas em 2003, quando David Muffato, filho do lendário piloto cascavelense Pedro Muffato, venceu o campeonato que esta hegemonia foi quebrada. A seguir vieram os dois títulos de Giuliano Lossacco e o primeiro dos cinco títulos de Cacá Bueno. Finalmente uma nova geração conseguia se impor sobre os decanos de nossas pistas.

 

O domínio desta nova geração não tem sido algo tão esmagador como o da geração passada. Cacá Bueno, Valdeno Brito, Max Wilson, Ricardo Zonta e Ricardo Maurício poderiam ser chamados de “os novos dinossauros”. Pela sua idade e anos de automobilismo, Rubens Barrichello também poderia ser considerado como um deles, mesmo com apenas 4 temporadas na categoria.

 

Acontece que o automobilismo brasileiro mudou e se nos anos 80/90 era praticamente impossível ser um piloto profissional e remunerado no Brasil, hoje são raros os pilotos da Stock Car que não são profissionais, com contratos com suas equipes, com patrocinadores, com diversos compromissos profissionais ligados à sua atividade, fazendo com que uma nova geração de pilotos, que há bem pouco tempo andavam de kart ou estavam tentando uma categoria base de Fórmula fora do país voltasse seus olhos para a Stock Car e investissem seus esforços em se tornar profissionais no automobilismo brasileiro.

 

 

É nas mãos de pilotos com pouco mais de 20 anos que está o futuro da maior categoria do automobilismo brasileiro. Nomes como Guilherme Salas, Gustavo Lima, Gabriel Casagrande e Felipe Fraga não são mais promessas, já são realidade e não estão no grid para “fazer figuração”. Estão para derrotar os atuais “dinossauros” e serem os novos donos das nossas pistas. O “primeiro tiro” já foi dado: Felipe Fraga sagrou-se em 2016 o mais jovem campeão da categoria, com apenas 21 anos de idade.

 

Essa luta entre os jovens velociraptors e os quarentões T-Rex ainda está começando e nós fomos atrás deles para saber o que eles pensam desta disputa durante a Corrida do Milhão em Curitiba.

 

Para Cacá Bueno é o ciclo natural da vida. Quando a minha geração chegou na Stock Car a gente chamava esses pilotos como o Ingo, o Paulão o Chico, o Carlão, o Giombelli, o Adalberto de os Dinossauros mais pelo medo que eles impunham na gente, pelo tamanho que eles tinham, eram muitos anos dominando a categoria e há mais de duas décadas.

 

Ser um Dinossauro hoje é uma honra e essa geração que está com mais de 40 anos continua andando forte e se impondo para essa geração nova que está chegando. Alguns vão se estabelecer, outros apenas passarão, mas esta renovação vai acontecer cedo ou tarde... no que depender de mim, bem tarde. Pelo menos por mais uns 5 ou 6 anos ainda estaremos dando trabalho e andando forte.

 

Gabriel Casagrande não tem dúvidas de que essa caça sempre existiu e vai continuar existindo e que agora é a vez deles serem caçados. Essa caçada nunca para e no ano passado Felipe Fraga já conseguiu conquistar o campeonato derrotando os “dinossauros”

 

Tem muitos pilotos de alto nível na Stock Car e que vão continuar pilotando em alto nível por muitos anos e a minha geração que está chegando, que tem eu, o Felipe fraga, o Guga Lima, o Guilherme Salas tem que enfrentar não somente os dinossauros, mas também tem muito piloto na categoria como o Thiago Camilo, o Átila Abreu, o Daniel Serra que ainda vão correr por pelo menos 10 anos e a gente tem que andar na frente desta turma.

 

Valdeno Brito, que no final de semana da Corrida do Milhão completou 43 anos deixou bem claro que essa molecada que está chegando não vai ter moleza para conseguir e lembrou que está na sua décima quarta temporada na categoria e que se chegar na Stock Car é difícil, manter-se nela é mais difícil ainda. Ele entende que é natural e desafiador estes meninos estarem chegando com muito preparo e muita vontade de vencer, mas querer é uma coisa, conseguir é outra.

 

O piloto paraibano lembra que chegar não é fácil e que a dependência de resultados e bons patrocinadores é fundamental para se manter na categoria e dá este exemplo em casa, para o filho de 14 anos que está no kart. Ele lembra que as categorias de turismo permitem uma maior longevidade para a geração de quarentões da Stock Car, que não exige os reflexos tão rápidos de um carro de fórmula e que requer uma “manha” maior de quem pilota para virar rápido.

 

Felipe Fraga mostrou que piloto novo também pode pegar essa tal “manha” e diz que a nova geração não é promessa, é realidade. Tão realidade que ele foi campeão no ano passado derrotando na disputa um piloto dos mais experientes em termos de automobilismo, no caso de Rubens Barrichello, mas que só está correndo na categoria há quatro anos.

 

O campeão acha cedo falar em “aposentar os dinossauros” e diz que eles ainda tem muita condição de continuar pilotando forte e derrotar pilotos como Cacá Bueno, penta campeão da categoria, Rubens Barrichello, que correu tanto tempo na Fórmula 1 e que vencer esses pilotos não é tarefa fácil, que é preciso trabalhar muito para se manter em condições de fazer isso. Felipe diz que a experiência conta nesta categoria e que basta ver como estão os pilotos que disputam os campeonatos ano a ano. Ele reconhece que venceu o ano passado, mas que manter-se no topo é muito mais difícil do que chegar nele.

 

Quando se tem no currículo três títulos mundiais (F.3000, Mundial FIA GT e F. Renault 3.5), Ricardo Zonta encara com naturalidade essa chegada da nova geração e acha que além de ser o caminho natural das coisas, eles tem um papel muito importante nesta transição e na formação desta nova geração de pilotos e lembra que quando entrou na categoria ele tinha como referência justamente estes pilotos que eram os dinossauros da época.

 

O paranaense relembra que os carros eram bem diferentes na época e que eles evoluíram muito, ficaram mais rápidos de reta e principalmente de curva, que passaram a ter freios mais eficientes e que isso vem exigindo dos pilotos uma preparação física maior e mesmo não acreditando que seria capaz de se manter competitivo por tanto tempo como Ingo Hoffmann, garante que por pelo menos mais 5 anos vai continuar deixando os “caçadores” com fome.

 

Guilherme Salas, concorda com Felipe Fraga e dá sua reclamada, dizendo que os dinossauros não dão moleza e pegam pesado nas divididas, nas freadas e que ele e os outros pilotos novos não podem se deixar intimidar, que é preciso saber jogar o jogo e saber se impor. Se você não alivia quando dividir uma chicane como a do final da reta em Curitiba eles também vão te respeitar.

 

Mas não posso deixar de dizer que é muito legal ir para o grid e ver que estou alinhado o carro com o Cacá Bueno, com o Ricardinho Maurício, com o Rubinho Barrichello, pilotos que até bem pouco tempo eu assistia na televisão, que eu ia assistir corrida nos boxes, que quando eu estava no kart era torcedor. Hoje eu sou um deles, estou no grid com eles e um dia vou ganhar deles.

 

Com uma larga experiência internacional, tendo andado na “Stock Australiana”, Max Wilson lembra que independente do lugar ou da idade, no automobilismo “tem sempre alguém querendo estar no seu lugar” e que isso faz parte do esporte e que num mercado tão pequeno é muito difícil se manter competitivo por tanto tempo. No caso dessa mudança de geração, é diferente do que aconteceu quando a geração dele chegou na Stock. Eles eram pilotos de muita experiência internacional. Os pilotos novos de hoje andaram pouco fora do Brasil e vieram se profissionalizar aqui.

 

Uma coisa que joga “a favor” dos dinossauros é conhecer bem o terreno em que estão pisando e quando se tem muito conhecimento das pistas fica mais fácil “escolher os caminhos mais curtos” e mesmo vendo essa geração chegar bem focada, fisicamente bem preparada, Max não esconde que o plano é continuar dando uma “canseira” neles por muito tempo ainda. A experiência tem que pesar a favor.

 

Guga Lima reconhece que os dinossauros tem “os atalhos das pistas”, mas a gente tem que bater de frente com eles. Hoje falar em Stock Car a gente associa logo com Cacá Bueno e a gente quer ter o espaço da gente, colocar o nome lá, ver o público chamar teu nome, torcer por você e a gente está aqui pra ser profissional e deixar de lado de uma vez aquele sonho que todo piloto tem que é a Fórmula 1 e ser um multicampeão, um profissional realizado por aqui.

 

A gente não pode deixar de respeitar a experiência que pilotos como o Cacá Bueno, o Max Wilson tem, mas também não tem que se intimidar. É lógico que eles tem uma vantagem por conta de ter 10, 12, 15 temporadas na categoria para encontrar os “atalhos” da pista, mas na época que eles estavam começando não tinha o simulador e isso é uma vantagem pra gente, que mesmo não sendo a mesma coisa de estar andando na pista, é uma maneira de se aprender mais rápido.