No dia 20 de janeiro deste ano um novo presidente tomou posse para um quadriênio à frente da Confederação Brasileira de Automobilismo, depois de uma eleição disputadíssima, cercada de polêmicas e parecia que dividiria o país em dois. Waldner Bernardo de Oliveira, pernambucano e candidato da situação, com o apoio do então presidente, venceu o pleito por 10 votos a 7, assumindo o cargo com todos os olhares sobre seus ombros para ver o que seria a nova administração, depois das inúmeras promessas que ambos os candidatos fizeram durante o período pré-eleitoral, duas verdadeiras campanhas, com cabos eleitorais, propagandas em redes sociais, alguns programas com entrevistas e até um debate. Passados os primeiros meses da administração Waldner Bernardo, perguntamos a três grupos de pessoas ligadas ao automobilismo, presente em três eventos distintos, o que eles esperavam desta nova gestão da CBA e o que eles realmente achavam que o novo presidente iria fazer. Concluímos ouvindo as pessoas ligadas ao evento da VICAR e suas categorias. Andreas Mattheis – Proprietário da Equipe A. Mattheis na Stock Car. O que a gente sempre espera é uma maior profissionalização do automobilismo, algo que vem acontecendo progressivamente, em algumas gestões mais, em outras menos, e nós, muitos de nós, acreditamos que o Dadai vai conseguir dar alguns passos à frente neste processo tão necessário de proficionalização. Para que isso se concretize, é preciso investir na construção, na montagem de uma estrutura técnica e profissional, algo que passa pela montagem da equipe que comandará as comissões que existem dentro da CBA, na capacitação e aperfeiçoamento dos comissários, tanto na parte técnica quanto na parte desportiva. Um ponto que a CBA precisa olhar com muita atenção e encontrar meios de melhorar é a situação dos nossos autódromos em termos de estrutura de segurança e de modernidade. São autódromos construídos, em sua quase totalidade, há mais de 20 anos e a CBA precisa encontrar meios para que estes autódromos se modernizem. Betão Fonseca – Proprietário e piloto da Equipe Sambaiba no Mercedes Challenge. Eu tive oportunidade de conhecer o Dadai e sugeri que tivéssemos mecanismos que pudessem fortalecer as categorias de base. Quais seriam: Não cobrar taxa de inscrição para ser mais acessível e aumentar a exposição do nosso automobilismo criando a CBA Sports, ou a CBA TV, um canal de TV onde com 20 federações podemos ter 20 repetidoras e uma rede nacional com uma programação voltada para o automobilismo. 24 horas do dia, 12 horas podem ser sublocados para programas independentes, cultos, vendas via TV, etc. as outras 12, das 18:00 às 06:00, corridas que acontecem no país. Isso divulgaria os patrocinadores de cada localidade que podem anunciar nos carros, nos comerciais, que vão fortalecer este automobilismo de base. Ele é uma pessoa inteligente, que começou como bandeirinha e chegou na presidência da CBA. Tem capacidade, tem visão, mas tem muito o que fazer e quatro anos é pouco. Tem que dar mais quatro. Em oito ou 10 anos podemos fazer do nosso automobilismo algo como é na Argentina, com 80, 100 mil pessoas assistindo uma corrida no autódromo. Eles tem 1/3 da nossa população e 3 vezes mais público. Tem alguma coisa errada. Se tivermos categoria de base, o automobilismo cresce a médio prazo. Mas tem que fazer tudo. Parcerias, abrir canais, não cobrar taxas na base, apenas das consolidadas como a nossa. Outra coisa é algo que eu não quero me incluir, eu não preciso, mas que a CBA tivesse olhos para os donos de equipe. Não existe categoria forte sem equipes fortes e é dinheiro que fortalece as equipes. Tem que haver uma forma de isentar de impostos as equipes, não apenas as corridas. Uma categoria com equipes fracas, com carros fracos não atrai público. Quantas equipes fecharam por não conseguirem mais manter seus carros na pista e equipes que foram vencedoras. Flavio ‘Nonô’ Figueiredo – Piloto na Copa Petrobras de Marcas. A verdade é que o automobilismo brasileiro está esquecido há muito tempo em termos federativos. O que acontece no automobilismo nacional são os eventos profissionalizados, promovidos por empresas independentes como é o caso da VICAR e a Porsche, por exemplo. O que eu espero como piloto e profissional do automobilismo é uma gestão focada na reconstrução deste esporte no país, desde a base até as categorias top. Quando eu falo em reconstrução falo em absolutamente tudo, em criar novas praças para a prática do esporte, em criar mecanismos para o fortalecimento e o nascimento de categorias de base, criar modelos sustentáveis para os campeonatos regionais, coisa que praticamente nos últimos 20 anos eu vi as pessoas fazendo com muita dificuldade. Boa vontade eu sei que ele tem, mas é preciso apoio para que ele possa por em prática qualquer coisa que ele esteja planejando. Evidentemente as transformações, se vierem, não acontecerão da noite para o dia, mas é preciso começar e trabalhar muito para que possamos ter resultados. Felipe Toso – Piloto na Copa Petrobras de Marcas. O automobilismo é um esporte bem difícil de ser gerido. A gente, como piloto, muitas vezes temos várias ideias que acabam encontrando algum tipo de empecilho e esbarra em alguma coisa. O que eu considero primordial é que as pessoas que forem gerir o automobilismo sejam antes de tudo apaixonadas por ele. Quando você tem pessoas que estão lá por outros interesses e não estou falando aqui de alguma gestão específica, e nisso pode se incluir qualquer sistema de gestão, do mais baixo ao mais alto cargo, em qualquer nível. A gente vê kart clube, automóvel clube, com pessoas que não gosta, tem pouco conhecimento e interesses sobre automobilismo e isso muitas vezes faz com que decisões não atendam aos interesses dos praticantes do automobilismo. É preciso que os gestores do automobilismo olhem para os reais problemas do nosso automobilismo e trabalhem para resolvê-los. Precisamos de autódromos melhores e mais seguros, facilitar a vida das equipes, que raras exceções tem uma condição financeira mais consolidada. Basicamente precisamos mais comprometimento. José Cordova – Proprietário da Equipe Cordova Motorsports no Mercedes Challenge. Eu gostaria de ver as categorias de base do nosso automobilismo voltarem a ter força e importância como um dia já tiveram. Alguns passos já foram dados neste sentido como a criação do Campeonato Brasileiro de Marcas 1600, que está acontecendo em diversos estados e que o promotor é um pessoal que precisa de muito suporte. Eles são pequenos, são de Goiânia e se não tiver suporte não vai ter como continuar. A mais importante que a CBA pode conseguir é trazer as fábricas para este campeonato. Se vierem algumas seria fantástico, se vier uma e fizer do campeonato um torneio monomarca, com uma estrutura melhor, também vai ser bom, mas que permita que se corra com baixo investimento e que pode ir mais além com, por exemplo, a F1600 e a FVee em São Paulo, que são monopostos de baixo custo e que poderiam, se apoiados, sair do estado de São Paulo e toenar-se uma categoria nacional. Se a CBA fizer um bom investimento em projetos de automobilismo de base, toda uma cadeia será alimentada e teremos formação de pilotos para as categorias acima. Mauro Vogel – Proprietário da Equipe Vogel Motorsport na Stock Car. Eu não conheço as contas e os custos da CBA, mas sei dos custos que as equipes as categorias estão tendo e que só aumentam. É preciso que se faça algo para que haja uma diminuição nestes custos que estão dificultando a vida das equipes e das categorias. O que pagamos de taxas à CBA é algo muito oneroso. Quando acontece uma corrida temos que pagar tudo. Além da homologação das categorias, das equipes, da carteira dos pilotos, temos que custear os comissários e diretor de prova que vão para o autódromo. O promotor acaba repassando este custo para nós. A CBA andou divulgando balanços dizendo que está com dinheiro em caixa. O que eles estão fazendo com este dinheiro? Se tá entrando dinheiro pra ficar com dinheiro em caixa, é possível reduzir estas taxas e diminuir nossos custos. Outro problema é que não se vê investimento em criação de categoria de base. Estas categorias não costumam ter público, transmissão de TV, grandes patrocinadores e precisam de ajuda para poder se estruturar. Essas categorias não tem dinheiro para pagar taxas na CBA. Isso é o que está levando os nossos melhores kartistas a irem correr fora e isso tudo é fruto do custo da CBA. Raijan Mascarello – Piloto no Mercedes Challenge. A CBA precisaria trabalhar para conseguirmos parceiros e levantar o automobilismo e investir muito no kartismo porque é no kart que os pilotos são formados. Também é preciso dar mais atenção para aquele automobilismo que não aparece tanto. Eu comecei a correr na terra e ninguém fala de velocidade na terra, pouca gente conhece o que é a velocidade na terra. O mais importante e que eu e todos certamente esperam da nova gestão da CBA é seriedade. É preciso trabalhar com profissionalismo e isso só vai acontecer se ele for uma pessoa séria. Se ele for este tipo de pessoa, ele pode conseguir fazer um bom trabalho. Espero que ele consiga montar uma grande equipe para trabalhar com ele, porque sozinho ninguém faz nada. Se a nova direção da CBA se dedicar a trabalhar sério e não pensar em ganhar dinheiro, eles farão uma boa gestão. Rodrigo Mathias – Diretor Executivo da VICAR. Eu preciso ser honesto. Eu não tenho nem um ano, apenas alguns meses como Diretor da VICAR e estando assim envolvido diretamente com o automobilismo. É muito pouco tempo para falar sobre história do automobilismo, sobre como foi a gestão ou as gestões anteriores da CBA e opinar sobre o projeto de gestão que o Dadai está aplicando neste seu primeiro ano de mandato. Este é o primeiro ano dele e o meu primeiro ano também como dirigente das entidades de automobilismo aonde temos cargos máximos. O que eu acho que posso falar é algo num âmbito esportivo como um todo. Quando a gente olha as gestões esportivas no Brasil, o que costumamos ver são gestões pouco profissionais e sem conseguir extrair o maior potencial que aquele esporte pode dar, o que pode gerar em termos de formação de talentos, de retorno econômico e tudo que o esporte pode proporcionar para quem dele faz parte. Assim, eu espero que ele se espelhe nas boas referências do que é bem feito no exterior, numa boa relação com as federações estaduais, que ele tenha um projeto de médio e longo prazo para que se possa construir algo duradouro para o esporte e se os promotores puderem ter a chance de fazer este trabalho junto com a CBA, poderemos fazer algo positivo juntos e em alguns anos possamos colocar o Brasil num outro platamar no automobilismo mundial. Sergio Jimenez – Piloto na Stock Car. Eu espero que ele tenha um projeto para fomentar o automobilismo brasileiro e que este projeto comece pela base, pelo kartismo. Se conseguirmos ter um kartismo forte e acessível, poderemos termais pilotos em condições de ir competir no exterior, de vir para as categorias nacionais. Para as categorias já existentes, é preciso que sejam dadas condições delas se tornarem mais fortes. A Stock Car vem se renovando, encontrando meios de se fortalecer, mas o automobilismo brasileiro não é apenas a Stock Car. Tem que ter mais força nas outras categorias e nisso tem quem haver uma categoria de acesso intermediária entre o Brasileiro de Turismo e o kart, uma categoria de entrada, de preferência com um parceiro forte, uma montadora como fazem algumas empresas na Europa. Tem que se fazer um trabalho profissional, com pessoas do meio e com administradores competentes para que o dinheiro vá para o lugar certo e no que ele precisar, pode e deve ouvir os pilotos. Tenho certeza que todos tem interesse que o automobilismo cresça e ele faça uma boa gestão. Thiago Marques – Piloto e proprietário de Equipe no Brasileiro de Marcas e Promotor da Sprint Race. Eu acho que os primeiros atos do Dadai foram bem positivos. Ele conseguiu lançar um campeonato nacional, o brasileiro de kart foi um sucesso, e ele é um dirigente que vem ao autódromo, que ouve as pessoas, ouve os pilotos, os chefes de equipe, os promotores de categoria e este diálogo é muito importante e isso tem dado abertura para pensarmos projetos juntos. Nós precisamos criar uma cultura de automobilismo nacional forte, olhar menos para essa coisa de formar pilotos para ir correr no exterior e fortalecer nossos campeonatos. Este sonho de F1 é algo que é quase irreal. Um piloto precisa de 40, 50 milhões de dólares pra chegar numa F1 em uma equipe razoável. Não basta ser competente. Se tivermos um brasileiro de endurance forte, como está vindo, um brasileiro de turismo 1600, com unificação das regras no país para os regionais serem uma base forte, é nisso que precisa se concentrar para fortalecer o automobilismo do país. Eu espero que ele mantenha essa postura e ao invés da gente pensar num piloto para daqui 5 anos, talvez, conseguir chegar em condições de estar na F1, ele concentre seus esforços em fortalecer o nosso automobilismo. Se o automobilismo nacional for forte, poderemos ter pilotos fortes. Formar um piloto forte e não ter um automobilismo forte não faz sentido. O automobilismo nacional é carente e ele precisa ser o foco. Vitor Genz – Piloto na Stock Car. Eu acho que no Brasil é difícil a gente falar alguma coisa. No ano passado eu tive o Nestor Giroloami como companheiro de equipe e ele me falava de como eram as coisas lá na Argentina e o que mais chamava minha atenção era o amor que o público de lá tem pelo automobilismo e aqui eu vejo apenas a Stock Car conseguindo atrair o público para os autódromos. Mas isso é mais coisa da categoria. Acho que é preciso que a gestão do novo presidente precisa renovar as demais categorias, criar meios para que elas também sejam atraentes para o público, rejuvenescer o automobilismo, vir com novas ideias. É possível a gente conseguir, com um tempo e com boas ideias, com uma ação parceira da CBA com os promotores, a gente conseguir renovar as categorias aqui no Brasil. Isso vai trazer um público novo e vem despertando mais interesse de quem já acompanhava. Temos coisas novas que já estão surgindo. Por exemplo, aqui na Stock Car nós temos a comissão de pilotos que vai visitar os autódromos antes das etapas para ver questões de segurança. Isso é algo muito importante. Fora da Stock a gente está vendo um crescimento de categorias regionais, o brasileiro de marcas 1600 que começou este ano, o brasileiro de endurance que é uma grande categoria, categorias muitos carros. Se for feito um bom trabalho, vai trazer mais competidores e vai trazer público. Zequinha Giaffone – Diretor Presidente da JL. O que eu e certamente todos desejam é que ele faça uma gestão capaz de gerar benefícios efetivos e duradouros. Ele ainda não completou nem um ano de mandato, o que é muito cedo para dizer que ele está indo bem ou indo mal, mas em algumas coisas que eu tenho conversado com ele vejo que ele está indo no caminho certo. Não é fácil você mudar as coisas do dia para a noite e que a estrutura tem uma certa inércia que precisa ser vencida. Eu acgo que ele é uma pessoa de boa índole, que já mostrou mais de uma vez que entend das questões do automobilismo e ainda tem muito tempo de trabalho pela frente para poder executar tudo aquilo que ele tem pensado. Eu acredito que ele pode ter uma boa gestão. Dentro o que eu gostaria de ver uma é uma profissionalização na entidade. Que tenha gente dentro da CBA que viva aquilo todos os dias, que compreenda a problemática de cada categoria e eu já vi que ele colocou pessoas lá que estão trabalhando neste caminho e eu sei que não é muito fácil fazer isso por não ter tanta gente disponível no mercado e capaz de ocupar uma função desta forma, de forma integral, mas ele está dando passos na direção certa e eu espero que continue neste caminho.
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