Jayme Silva nasceu em São Paulo, no dia 16 de julho de 1936, no bairro da Liberdade. Interessado desde cedo pela mecânica, foi se especializar nesta área quando cursou o científico (atual ensino médio). Interessante contradição, conseguiu um emprego no departamento de botânica (tudo a ver) de uma universidade. Ele certa vez contou que, uma das vezes em que o pessoal do departamento foi coletar algumas espécies na mata atlântica. Na hora de voltar, o carro sofreu uma pane e foi Jayme quem resolveu o problema. Ele ia sempre que podia a Interlagos, participava de provas de finais de semana para amadores (se bem que naquela época, todos eram “amadores”) em motos, lambretas e carros. Desta vez ele não estava correndo, era início dos anos 60 e entre tantas idas, conheceu um engenheiro da Simca do Brasil: George Perrot. E em uma das vezes em que estava lá, observando um treino do Zoroastro Avon, com um Simca Chambord, comentou com o engenheiro que o piloto estava forçando a embreagem nas curvas lentas para aumentar a rotação do motor! Aquele comentário chamou a atenção de Perrot e acabou por render ao curioso jovem uma visita à fábrica da Simca. Após a visita, Jayme foi convidado para ser piloto de testes da fábrica, chegando a rodar cerca de 1000 Km por dia na região ao redor da fábrica, em São Bernardo do Campo. A antiga estrada da subida de santos era um grande desafio e foi uma excelente escola para Jayme Silva e a Simca. Em 1961, após assistir a participação da equipe nas Mil Milhas Brasileiras no ano anterior e também nas 24 horas. A experiência adquirida como piloto de testes da fábrica foi fundamental e naquele ano ele iniciava sua carreira como piloto e corria suas primeiras Mil Milhas, ao lado de Lauro Bezerra. A primeira vitória não demorou a tardar, veio nas 6 horas da Barra da Tijuca, ao lado de Danilo de Lemos. Com Danilo de Lemos, Jayme Silva conquistou sua primeira vitória pela equipe que defendeu até que ela fechasse. Considerado "prata da casa", ele foi evoluindo dentro da fábrica a tal ponto que passou a ser referência como piloto, tendo como companheiro principal o experiente Ciro Cayres, muito conhecido no meio automobilístico. Mais tarde, a Simca contratou Chico Landi, que passou a coordenar o departamento de competições. Dessa forma, Jayme Silva teve mais tempo para dedicar-se às pistas de competição. No ano seguinte, foi para Brasília apresentar o modelo Simca Presidence nos Mil Quilômetros e logo depois lançaram o modelo Rally, vencendo os 1.600 Km de Interlagos. Ambas as corridas aconteceram em dupla com Ciro Cayres e os Simcas passaram a duelar na categoria diretamente com o Alfa Romeo/JK. Paralelamente Jayme Silva corria com o Fórmula Landi Bianco equipado com motor Simca. Em seis corridas obteve três vitórias na categoria mecânica nacional até 2.5 litros. Nos anos de 1963 e 1964, o automobilismo brasileiro foi amplamente dominado pelos Willys Interlagos, que começaram a ter seu potencial ameaçado com a chegada de carros importados como o Porsche Carrera 2 de Marivaldo Fernandes, o Alfa Romeo Giulia TIS de Piero Gancia e o Fiat Abarth de Eugênio Martins e Paulo Goulart.
Foi em função da ameaça do poderio de sua esquadra que a Willys iniciou no primeiro semestre de 1964 o processo de importação de três Alpine A-110 equipados com motor Renault R-8 de 1100 cm³.
Já a Simca, em flagrante inferioridade com seus ?pesadões? carros de Turismo, decidiu reagir, e, por sugestão de Ciro Cayres, o Chefe do Departamento de Competições da montadora George Perrot convenceu o Presidente Jacques Pasteur a formar uma equipe competitiva, objetivo rumo ao qual o primeiro passo foi dado com a construção de um protótipo com mecânica Simca nacional e chassi Maserati, o que aconteceu em paralelo à importação de três unidades Abarth As máquinas recém-importadas eram carros fantásticos para a época, equipados com motores de quatro cilindros com duplo comando e dupla ignição, 2000 cm³ e 192 hp.
A estréia dos Abarth aconteceu na 3 Horas de Velocidade disputada em Interlagos no dia 30 de agosto de 1964, quando Ciro Cayres usou uma unidade com câmbio de 6, enquanto Jayme Silva tinha um com câmbio de 4 marchas em seu carro.
Na prova onde o que se viu foi um verdadeiro passeio das máquinas vermelhas da Simca, Ciro manteve a liderança até restarem 10 minutos para o final, quando teve de parar em função de problemas com as luzes traseiras, algo que lhe custou três minutos, e permitiu que Jayme assumisse a liderança.
Porém, na última volta, Jayme Silva praticamente parou o seu carro no Retão, esperando o companheiro para que os Abarth cruzassem a linha de chegada praticamente juntos, com ligeira vantagem para Jayme. No final de novembro de 1964, os Abarth dominaram a primeira edição da 6 Horas de Brasília, disputa que foi marcada pela estréia de Chico Landi, o chefe de equipe que “fabricou” a vitória do protótipo Simca TGT.
O Protótipo "Vendaval" venceu as 6 horas de Brasilia... vitória que - segundo a concorrência - foi "armada" pela Equipe. Jayme Silva chegou a parar o seu Abarth no meio do circuito durante a disputa, comprar e saborear um picolé enquanto aguardava ser ultrapassado pelo protótipo, o vencedor da prova onde os modelos Simca “tradicionais” ficaram com a segunda e terceira posições. O domínio dos Abarth foi total, com o alcance de nove vitórias em doze participações em corridas, sendo que duas das derrotas foram arquitetadas pelo Chefe de Equipe Landi, o que permitiu que o protótipo TGT concluísse na frente a 6 Horas de Brasília e a 500 Km da Guanabara.
A Simca investia pesado no automobilismo. A equipe oficial desenvolvia os modelos de sua fabricação, cuidava da manutenção dos importados Abarth Simca e, além disso, confeccionou um protótipo nacional batizado de Tempestade - um híbrido com chassis nacional feito de canos de escapamento. O carro era arisco, difícil de pilotar. Mesmo assim, a Simca venceu os 500 km da Guanabara em trinca com Ciro Cayres e Pedro Jaú. Enquanto estiveram no Brasil, os Simca Abarth dominaram completamente as provas brasileiras, independente da distância. O ano de 1965 foi o ano de ouro da Simca e de Jayme. Eleito o melhor piloto da temporada no ranking brasileiro da revista Auto Esporte. A única derrota real dos Abarth aconteceu no GP IV Centenário do Rio de Janeiro disputado em 19 de setembro de 1965 no circuito da Barra da Tijuca, onde Jayme Silva até faltarem quatro voltas para a bandeirada, momento no qual o Abarth perdeu a roda dianteira direita, abrindo caminho para a vitória de Camillo Christófaro a bordo de um Ferrari 250GTO Drogo. Trazidos ao país por importação temporária, os Abarth acabaram tendo de retornar à França no final de 65, já que no processo de passagem acionária da Simca para a Chrysler, não houve interesse em regularizar a permanência dos carros no Brasil.
Durante algum tempo, os Abarth ficaram abandonados num porto europeu, até serem vendidos num leilão. No final de 1966, a Simca foi adquirida pela Chrysler e Jayme Silva despediu-se da marca vencendo em Lages, Santa Catarina. Ele contabilizou 41 corridas pela marca com 12 vitórias na classificação geral. Com o fim da Simca, ele passou a formar parceria com Ugo Galina pela equipe Camionauto, representante da marca Alfa Romeo, que também investiu no protótipo Fúria, todo nacional, concebido por Toni Bianco com motor 2 litros do Alfa JK. O Fúria em ação: um projeto de Toni Bianco e um piloto como Jayme Silva não poderia dar em outra senão vitórias. A estréia nos 1.000 km de Brasília foi fantástica. Chegando em cima da hora, sem ter feito qualquer treino e – por conta disso – largando em último, antes de completar a primeira volta o Fúria já estava na frente e lideraram durante toda a noite. Pela manhã, pequenos problemas fizeram com que terminassem a prova em quarto lugar. Com o Fúria Alfa foram nove corridas com duas vitórias. A melhor lembrança de Jayme foi a vitória na inauguração do Autódromo de Tarumã, no Rio Grande do Sul, em um duelo com o Bino, pilotado por Luiz Pereira Bueno. Copa Brasil de 1970. O Jayme e o Fúria em 3 momentos: Entrando nos boxes, lado a lado com Emerson e descendo o Retão. A partir de 1972, Jayme Silva passou a priorizar sua oficina e em 1973 participou de uma única prova com um Dodge Dart, na primeira edição das 25 Horas de Interlagos. Sua oficina passou a preparar o modelo Maverick da Ford, com o qual ele participou de 23 corridas em 3 anos - obtendo seis vitórias. Em 1978, passou a preparar o modelo Opala da GM e, em seguida, passou a chefiar sua própria equipe, tendo como principais pilotos os irmãos Afonso e José Giaffone. Aquele foi o início de uma categoria que existe até hoje: A Stock Cars! Com o Opala deram-se os primeiro passos da categoria, em parceria com a Chevrolet no Brasil. A equipe de Jayme Silva fez quase uma década de sucesso. Jayme Silva pode ser chamado, tranquilamente, como um dos pais da categoria de maior longevidade do nosso automobilismo. Um piloto espetacular e um excepcional, Jayme Silva destacou-se também como chefe de equipe e é considerado tendo sido um dos principais preparadores da Stock Car. Ele e sua equipe técnica mantiveram toda uma estrutura de uma equipe de competições, alugando o seu equipamento na categoria Pick-Up Racing para o campeonato brasileiro. Atualmente, nosso Nobre do Grid vive em Pinheiros, capital paulista. Fontes: Yellowpages; Site Obvio; Revista Autoesporte; Revista Brasileiros; Revista Quatro Rodas; CDO. |