Quem lê o título da matéria deve pensar que a equipe de redação do site dos Nobres do Grid enlouqueceu... como é que uma categoria que alinha mais de 30 carros no grid pode estar “lutando pela sobrevivência”? O Mercedes Benz Challenge é visto por muitos como uma categoria de “Gentleman Drivers”, pilotos que não participam de campeonatos nacionais com esquemas mais caros, competitivos e que enquanto tiverem dinheiro para “brincar de ser pilotos”, vão comprar ou alugar carros, entrando em alguma equipe ou mesmo fazendo uma para correr. No início da década a Mercedes Benz do Brasil apostou em criar no Brasil o Mercedes Benz Challenge, uma categoria monomarca voltada para os chamados “Gentleman Drivers” (não profissionais em sua essência) e em 2011 deu partida no seu projeto com um Sedan Classe C (o C-250). Em 2014, um novo carro da “família”, o CLA 45, com preparação do braço desportivo da marca, a AMG. Um ano atrás fizemos uma matéria sobre a categoria e o que foi apresentado pela empresa era um plano de investimento na imagem da marca, com o então Gerente Senior de Vendas e Marketing, Sr. Dirlei Dias, esclarecendo que, no caso específico do Brasil, criar uma categoria monomarca de competição tinha sido a forma escolhida para fazer um alinhamento com a estratégia mundial da Mercedes de mostrar um rejuvenescimento da marca, mostrando a esportividade dos seus carros e afastar a imagem de “carro de velho” que a marca carregava no país e que ainda encontra alguns resquícios. Inicialmente usando o modelo C250, que já não é mais fabricada, em 2011 e a partir de 2014 contando também com o modelo CLA45, preparado pela AMG na Alemanha especificamente para o Brasil, a categoria tinha uma curva de crescimento e a categoria parecia ter planos – ou pelo menos colocava isso como perspectiva para os anos seguintes. Ainda segundo o Sr. Dirlei Dias, o Mercedes Benz Challenge tem se mostrado um excelente meio de relacionamento com clientes, potenciais clientes e sua rede de concessionárias nos eventos de automobilismo através de ações nos lounges e pista. A montadora tinha um platamar de vendas de 10 mil carros por ano em 2011 e neste período de existência da categoria, chegou a 18 mil carros por ano, um crescimento de 80% em vendas no pico de negócios de 2015. Nesta trajetória, a montadora associou-se a VICAR por considerar a empresa promotora da Stock Car a maior e melhor organizadora de eventos de automobilismo no Brasil. No momento em que fizemos o artigo anterior, entre o final de 2016 e início de 2017, a projeção da marca alemã era, a partir de 2017, passaremos a manter este compromisso de ano em ano. No final de 2017 reuniremos as equipes, pilotos, a VICAR, a Pirelli e a JL – que revisa e equaliza os motores da categoria – para traçar as estratégias para 2018. Como todos já leram nos sites de notícias sobre automobilismo no Brasil, ao invés de continuar como parte do evento da VICAR, tão elogiada pela Mercedes Benz, a categoria vai migrar para uma parceria com uma categoria nova, ou sobre um novo sistema de gestão, que é a Copa Truck, sob a gestão do ex-proprietário da VICAR, o empresário Carlos Col. A pergunta que todos devem estar se fazendo e que ninguém respondeu (até agora) é: se o “casamento” com a VICAR era uma relação positiva, porque mudar? A resposta é mais complexa e mais espinhosa do que o fã do automobilismo possa imaginar. A montadora alemã mudou sua visão sobre a categoria no Brasil e cortou em 90% (isso mesmo, noventa por cento) o volume a ser investido para a temporada de 2018 e isso ainda vai ser motivo para se erguer as mãos para o céu. A perspectiva era muito pior. Mas ainda existem peças a ser encaixadas neste quebra-cabeças. Ao longo deste ano, as reuniões com a VICAR, diante do duro corte de recursos investido pela montadora, não houve acordo de continuidade para a categoria, não apenas dentro do evento da promotora, mas colocando em risco a continuidade da categoria! O que teria acontecido para se chegar a este ponto? Até 2016, o homem forte da Mercedes Benz aqui no Brasil desde 2009 era Dimitris Psillakis, um funcionário de carreira dentro da empresa e que atualmente é o CEO da marca alemã na Coreia do Sul era um apaixonado por automobilismo e foi com ele à frente da empresa no Brasil que a categoria – e as vendas – atingiram seu ápice. Psillakis frequentava os eventos de automobilismo com prazer. Como todos ficaram sabendo, a Mercedes Benz deixou ao final deste ano o próprio campeonato local de carros de turismo, o DTM, realinhando seus interesses no meio das competições para a Fórmula E, a categoria de carros elétricos que está sendo vista como a forma de propulsão do futuro. Se a montadora deixou de investir em uma categoria na própria Alemanha, porque investiria ainda no Brasil? Para dar seguimento a esta nova visão gerencial, o novo executivo que comanda as ações da marca alemã no Brasil, Holger Marquardt, com 27 anos de empresa e que já teve passagens anteriores pelo Brasil em outras funções. Procuramos investigar que era o Sr. Marquardt e descubrimos que, além de um profissional extremamente qualificado, ele “não era um fã de automobilismo”. Alinhado com as decisões da sede, veio o grande corte para a categoria no Brasil. Conversamos com Sr. Carlos Col, que relatou ter sido procurado pelos proprietários de equipe da categoria e ter acompanhado as conversas entre a VICAR e a categoria, só tomando uma posição com relação ao Mercedes Benz Challenge após haverem sido esgotadas todas as negociações com a VICAR e a saída do evento ter sido definida. Carlos Col declarou que vai ser um desafio profissional fazer com que a categoria não apenas sobreviva, mas que volte a ter uma curva de crescimento. Ele adquiriu os direitos (naming rights) da Mercedes Benz Challenge, com a montadora passando a ter um novo papel, sendu uma patrocinadora do certame, cabendo a seu promotor fazer a categoria funcionar. Com toda a bagagem adquirida pelos anos em que fez da Stock Car o que ela é, criando a VICAR e agregando outras categorias ao evento, Carlos Col não vai enfrentar este desafio sozinho. As equipes criaram uma associação e estão trabalhando em nível gerencial e operacional para reduzir custos, aumentar a eficiência e estabelecer um programa de cooperação técnica entre os times para que a categoria mostre-se viável, competitiva e atraente para novos pilotos. Trabalhando neste processo para a temporada de 2018 estão Betão Fonseca, proprietário da maior equipe da categoria, a Sambaíba, e o ex-piloto e também dono de equipe, José Cordova, da Cordova Motorsport. Conversamos com ambos sobre as mudanças que acontecerão a partir de 2018. Para Betão Fonseca, proprietário, piloto, que foi escolhido como presidente da associação de pilotos e equipes da categoria, a Assomenz, o trabalho de união e fortalecimento com a iniciativa deles é fundamental não apenas para a sobrevivência, mas para o crescimento da categoria. Com orgulho ele demonstra que a categoria que chegou a ter um grid de 41 carros este ano, entre CLA45 e C250, foi a única categoria monomarca que continuou em atividade no automobilismo brasileiro. Encontrar um caminho melhor – e isso quer dizer economicamente mais viável – é fundamental e neste projeto, um carro CLA45, que na temporada que se encerrou custava 430 mil reais, vai custar a quem entrar na categoria 260 mil reais. Quem entrar na C250, ao invés de investir 280 mil reais para fazer a temporada vai poder fazer com 190 mil reais. Através da associação, em um outro modelo de gestão, pilotos e equipes estão buscando uma verdadeira revolução. “A Mercedes tem seus compromissos de gestão global e mesmo assim abraçou nosso projeto e está mantendo a parceria conosco, viu na mudança de promotor uma oportunidade de fazermos a categoria continuar e não podemos deixar de agradecer a VICAR, nossa parceira por estes anos todos, com seu esquema muito profissional, mas era preciso mudar as coisas. O nosso grid está fechando o ano com 12 CLA45 e 16 C250. Um grid com 28 carros é pouco e isso desmotiva. A categoria estava minguando. Com a experiência que o Carlos Col tem e com a ‘cabeça de piloto’ que ele tem, porque ele foi piloto e andava. E nós vamos fazer por onde motivar pilotos e chefes de equipe, donos de equipe para termos equipes fortes financeira e tecnicamente. Vamos fazer bem, vamos minimizar custos e vamos fazer a categoria forte. Nós queremos fazer três anos com estes carros, fortalecer a categoria e conseguir, em 2021, uma categoria com C63, com GTs e quem sabe os carros atuais fazer uma categoria de entrada porque esses carros são tanques de guerra, eles não acabam”, declarou o proprietário da equipe Sambaíba.
Diante da revelação do novo modelo da categoria, da criação da Assomenz, e do pacto pela categoria, procuramos José Cordova, proprietário da Cordova Motorsports, e indicado pelos integrantes da associação como um dos responsáveis pela parte técnica da categoria para entender como as coisas iriam mudar na parte técnica, especialmente com a redução dos custos. Ele confirmou as palavras de Betão Fonseca, sobre as questões de arranjo financeiro que inviabilizou a continuidade da categoria dentro do esquema da VICAR, mas que acreditava na capacidade da categoria fazer um grande evento junto com a Copa Truck, que com Carlos Col e os planos que estão sendo finalizados vão permitir a categoria ganhar um novo fôlego. Uma das coisas que trabalhava contra a categoria era o fato de fazer parte de um evento com diversas categorias, num complicado jogo de encaixes para treinos e corridas onde nunca era privilegiada. Com uma nova condição em um evento sob a gestão do mesmo promotor, uma grade mais interessante em termos do horários pode aumentar a exposição da categoria, que há alguns anos tem suas corridas transmitidas pela televisão. 2018 vai mostrar se o audacioso projeto dos proprietários das equipes e de Carlos Col vai dar o resultado desejado.
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