A vista aérea atual não consegue mais definir com exatidão o traçado do primeiro circuito de corridas da Europa... Quando os trens passam fazendo barulho pela velha passagem de nível em seu interminável e duro trabalho de levar do condado de Surrey, em Woking, e Guilford para Londres, a visão daquilo que parece ser uma coleção de aviões abandonados e de um grande local com piso de cimento recoberto com heras, provavelmente nem se lembram mais do que fora aquele local antes da segunda grande Guerra, hoje recortado por uma via importante de acesso, mas que um dia foi o berço daqueles que voaram… com e sem asas! Seguindo pela rodovia 13, o distrito importante industrial de Brooklands é claramente sinalizado. Localizado no circuito londrino é bastante facilitado pela malha viária do entorno da cidade. Ao se aproximar, placas secundárias indicam o caminho para chegar as antigas instalações e o museu. Após virar à direita na rotunda, tomando a direção de Surrey, chegará ao “banking” cortado e com o nome do circuito entalhado no concreto. A história do circuito de Brooklands precede a sua própria construção. Em uma época em que não existiam autódromos. As provas na Europa eram realizadas em trechos de estradas ou em circuitos urbanos, feito nas ruas. Foi na Sicília, assistindo a prova que viria a ser uma das mais famosas da Itália e de todo o continente – a Targa Florio – que, em 1906, o entusiasta Hugh Fortescue Locke-King (que em seguida, no mesmo ano, assistiu o Grande Prêmio da França) retornou ao seu país com o propósito de fazer com que a Grã Bretanha também entrasse para o mundo da velocidade. O circuito original (traçado em vermelho) lembrava um hipódromo... mas, ao invés de grama, o piso era de concreto. Contudo, suas intenções esbarravam em um obstáculo de formato arredondado, branco e com um bem legível número “20” escrito no meio: Era a placa que indicava a velocidade máxima para os veículos motorizados nas ilhas britânicas. Não havia como nenhum fabricante inglês de automóveis realizar testes de velocidade em seus carros. Locke-king precisava encontrar uma alternativa que o permitisse transformar seu sonho em realidade e foi junto a Weybridge, em Surrey, que começou a construção do sonho... e foi muito rápido! Apenas nove meses depois de um duro trabalho que o circuito de 3,25 milhas (5,23 Km) ficou pronto. Era o primeiro circuito construido para a realização de corridas de automóveis. Sua família era proprietária da área onde o circuito foi construído e o lorde não poupou esforços (e nem dinheiro) para transformar seu sonho em realidade. Na época, foram investidas £150.000 (cento e cinqüenta mil libras). Em valores de hoje, algumas dezenas de milhões. As curvas inclinadas e o piso de concreto, com alguns "bumps", eram um desafio para os pilotos e os frágeis carros da época. Com um formato ovalado e com suas curvas principais sendo de raios diferentes, uma bem maior que a outra, caso fosse visto do alto reportaria imediatamente a um hipódromo, uma similaridade interessante para um país que já possuia uma consolidada tradição nas corridas equestres. Uma volta em Brooklands com John Cobb. Para descrever o traçado de Brooklands usaremos as palavras de um dos pilotos mais vitóriosos de sua existência: John Cobb. “A maior curva do circuito é a ‘byfleet banking’, que deve ser tomada no ponto mais alto de sua inclinação para permitir manter a aceleração plena e a velocidade alcançada na ‘railway straight’. Contudo, não é possivel fazer toda a volta acelerando ao máximo: Entre a saida da ‘byfleet banking’ e a tomada da ‘members banking’ existe uma curva sem inclinação e para a direita (Brooklands tinha sentido antihorário), a ‘Vickers’. Esta curva precisa de um contorno preciso para se poder contornar a ‘members banking’ na maior velocidade possível”. "Em alguns pontos dos 'bankings', ficamos com as 4 rodas no ar e o retorno a pista é duro para a suspensão". Cobb “Apesar de ser semelhante à ‘byfleet’, a ‘members’ é completamente diferente: É preciso encontrar o ponto certo para iniciar o seu contorno. Se iniciá-la num ponto mais alto ou mais baixo certamente irá perder velocidade. Outra diferença é que ela não deve ser feita de ‘pé em baixo’ devido especialmente a um ponto específico, localizado num pequeno trecho de cerca de 50 jardas, no meio da curva. Este ponto, extremamente peculiar, produz uma sensação de perda de controle devido a alguma ondulação ou ‘bump’... que simplesmente não existe! E o carro tende a sair em tangência, indo para o alto da curva de forma surpreendente, especialmente na primeira passagem. Por mais estranho que possa parecer, ali parece que estamos fazendo uma curva dentro da curva, como se fosse uma curva numa estrada. Ali se começa a colocar o carro para tomar o ponto mais alto possíveel, acelera-se fundo e sai da passagem sob a ponte da estrada de ferro em direção à reta no ponto em que a subida termina. Caso o vento esteja vindo de uma certa direção, o carro tente a ir mais para fora da curva e se perde velocidade para entrar na ‘railway straight’”. “A pista não tem um piso perfeito. As placas de concreto tem solavancos maiores e menores em suas emendas. Em alguns pontos, mesmo nas curvas, é normal ficar-se com as quatro rodas no ar (comentário: ele não pode estar, falando sério... será? A foto acima mostra que sim!) e o retorno ao contato com a pista costuma ser duro para a suspensão. No final da ‘members banking’ tem o que eu considero ser o maior deles. Fica praticamente embaixo da ponte, mas precisa ser feito com o ‘pé no fundo’. Caso contrário, toda a volta seguinte estará comprometida”. A primeira corrida. A primeira corrida em Brooklands ocorreu em 18 de juho de 1907. Tendo sido feita uma divulgação bem eficiente, aquele estranho esporte onde se corria em carros ao invés de cavalos, conseguiu atrair um bom público. Contudo, alguns problemas apareceram e foram sendo motivos de queixa e esvaziamento progressivo, evento após evento, e que quase levaram a idéia de um circuito de corridas a um retumbante fracasso. Os preços dos ingresso, mesmo sendo mais baixos nos eventos seguintes não isentavam os organizadores das queixas. A maior delas era de que, depois de um número de voltas, eles não tinham mais idéia sobre a posição dos competidores visto que haviam carros iguais em modelo e pintura e a única coisa que distinguia os competidores eram os trajes, que tinham cores como as dos jóqueis. Este problema foi remediado de pronto quando Albert White convenceu os membros do Automóvel Clube de Brooklands a fazer com que fossem pintados números nas laterais dos carros, o que ocorreu a partir de 1909.
Cartazes eram distribuidos por toda Londres para chamar a atenção do público para aquele novo esporte no país. Tentando atrair mais público e participantes, 1908, foi realizado o primeiro encontro de “pilotos amadores”. Nestes torneios as tomadas de tempo eram feitas pela manhã e as corridas eram à tarde. Depois de pedidos, a organização de corrida em Brooklands passou a adotar números para identificar os carros na pista. Onze competidores se inscreveram e a corrida foi de tamanha disputa que os sete primeiros terminaram separados por apenas 15 segundos e o vencedor chegou apenas 9 metros à frente do segundo colocado. As regras criadas em Brooklands serviram de base para a criação do estatuto do Automóvel Clube Britânico. Vendo o sucesso da corrida, os proprietários do circuito decidiram investir em provas do gênero, para pilotos amadores, estabelecendo regras para isso, criando um regulamento bastante rígido. * O piloto privado não deve ter nenhum interesse ou envolvimento direto com a indústria automotiva e/ou de acessórios. *O piloto privado só poderá disputar uma corrida com o seu próprio carro ou o carro de uma outra pessoa que não possua nenhum interesse ou envolvimento direto com a indústria automotiva e/ou de acessórios. *O piloto privado não deve receber nenhum pagamento ou recompensa de qualquer tipo, seja direta ou indiretamente de qualquer empresa ou pessoa para competir. Estas regras instituídas para os encontros e corridas em Brooklands foram certamente a base para o estatuto do Automóvel Clube Britânico. O espírito do esporte acima do desenvolvimento tecnológico e do homem sobre a máquina pode parecer um eufemismo nos dias de hoje e mesmo naqueles tempos, mas esta era a visão dos homens do novo esporte e que perdurou por décadas. I Guerra Mundial: A primeira interrupção. Brooklands recebeu antes da I Guerra Mundial inúmeras corridas – de curta, média e longa duração – assim como eventos de quebras e tentativas de quebras de recordes de velocidade. Em 1910, Stanley Edge estabeleceu uma média de 66 milhas por hora (106,22 Km/h) para 24 horas, percorrendo 1581 milhas (2544,30 Km). Em 1913, Percy Lambert estabeleceu pela primeiravez uma marca acima das 100 milhas por hora – 103, 84 – (167,10 Km/h) para o circuito externo. Ele achava que poderia ser ainda mais rápido e, alguns meses depois, ele tentou superar seu recorde. Faltavam poucas semanas para o seu casamento e Lambert prometeu a noiva que não faria mais provas de velocidade após o casamento. Durante a tentativa, o estouro de um dos pneus traseiros fez o piloto perder o controle próximo a Weybridge e sofrer o grave acidente que lhe tirou a vida. Até o instante do acidente a média de velocidade de Perci Lambert superava as 110 milhas por hora (177 Km/h). A I Guerra mundial interrompeu a crescente atividade do subúrbio londrino por quase seis anos, tendo sido o último evento realizado na pista exatamente na véspera da declaração de guerra. Em 1915 ainda ocorreram duas corridas com motocicletas, mas os carros só voltariam às inclinadas curvas em 1920. Foi neste ano que o “Junior Car Club” realizou a primeira edição de uma prova que ficaria famosa com o decorrer dos anos: as 200 milhas. Malcolm Campbell, que tinha sido um dos pilotos de maior destaque antes da guerra, estava de volta depois do serviço às forças armadas e era considerado um forte competidor. Contudo, não conseguiu conter o ímpeto dos novos pilotos que surgiam, como Henry Seagrave, o vencedor da I edição da prova, ao volante de um Talbot. No ano seguinte, Douglas Davison não apenas venceu, mas estabeleceu a primeira vitória em uma corrida fazendo uma média de velocidade acima das 100 milhas por hora (160,9 Km/h).
Malcolm Campbell e Henry Seagrave disputaram ferozmente a vitória na volta das corridas a Brooklands... Seagrave venceu. Em 1922, o circuito de Brooklands foi palco da quebra de recorde mundial de velocidade em terra. O feito foi de Kenelm Lee Guinness atingiu 129,17 milhas por hora (207,83 Km/h). Sendo esta a última vez que se quebrou este recorde em um circuito fechado. O cricuito de Brooklands precisou sofrer uma alteração para receber o GP Britânico... foi o primeiro dos circuitos alternativos. Com a Europa se recuperando da guerra e as corridas acontecendo nos quatro cantos do continente, o Automóvel Clube Britânico assumiu o desafio de organizar o primeiro GP da Grã Bretanha e o palco não poderia ser outro que não o primeiro circuito do reino. Com apoio financeiro da Vickers (que veio a tornar-se a BAC – British Aircraft Corporation) o Grand Prix aconteceu em 1926, reunindo mais de 40 mil expectadores.
Em 1926 foi organizado o primeiro Grande Prêmio Britânico. Brooklands entrava para o seleto grupo de provas da época. Contudo, o tradicional circuito externo foi considerado inadequado – motivo pelo qual o evento não ocorrera alguns anos antes – devido a presença de pilotos de outros países. Assim surgiram as primeiras alterações no circuito, com a criação do “GP Circuit. Neste traçaco, a saída da “byfleet banking” dava em uma reta que seguia até encontrar a “members banking” já próximo a “weybridge”, fazendo uma curva aguda para entrar no “banking” e daí seguir para a “railway straight”. Nesta reta que foi criada, para reduzir a velocidade dos carros antes de chegar a curva que passaram a chamar de “home banking” (porque levava os carros de volta “para casa”, o traçado original) foram feitas duas chicanes provisórias, com sacos de areia na parte final da mesma no sentido de evitar uma “possível decolagem na members banking”. Catorze carros foram inscritos para a prova mas apenas nove largaram: 3 Talbots, 3 Delages, 1 Bugatti (com Malcolm Campbell), 1 Aston Martin e 1 Halford Special, pilotado pelo seu criador, Frank Halfort. Após 110 voltas e 286 milhas percorridas (pouco mais de 460 Km), a vitória coube ao Delage conduzido por Robert Senechal e Louis Wagner. Brooklands de vários traçados...
Apesar do novo traçado e do GP Britânico, o traçado original não caiu em desuso, pelo contrário, continuava a desafiar homens e mulheres que buscavam a glória, fosse vencendo as corridas para os pilotos privados ou estabelecendo recordes de velocidade.
Os anos 30 foram efervescentes em Brooklands e não só isso: os autódromos começavam a surgir pelas ilhas britânicas. Em 1931 Kaye Don venceu o “Daily Harald Trophy”, prêmio concedido ao piloto que contornasse a volta mais rápida durante a prova patrocinada pelo periódico. Após uma acirrada disputa com Tim Birkin, Kaye Don estabeleceu uma passagem com 137,58 milhas por hora (221,37 Km/h). Na volta seguinte, Tim Birkin superou-o com uma volta a 137,96 milhas por hora (222,09 Km/h). Outros viriam depois e outras tecnologias também tiveram lugar em Brooklands, como o primeiro carro com motor Diesel a superar a barreira das 100 milhas por hora (em 1933 George Eyston atingiu 104,86 milhas horárias – 168,72 Km/h). Contudo, em termos de velocidade, John Cobb foi simplesmente insuperável. Vencedor constante nas provas em Brooklands nos anos 30, em 1935, ao volante de um Napier-Railton, estabeleceu impressionantes 143,39 milhas por hora (230,71 Km/h). Seu carro permanece em perfeito estado de conservação e funcionamento no museu do autódromo. Ainda nos anos 30, foram criados outros dois traçados no circuito de Brooklands: Percy Bradley criou o “Montain Circuit”, que era bem simples e curto. Uma reta em aclive “escalava” “members banking” e, no final, virava a direita, seguindo em sentido horário pela “members banking” até a Vickers e retomando a reta em um harpin. Tinha apenas 1,25 milhas (2,01 Km) e era mais usado em testes do que em provas propriamente ditas. O recorde deste traçado foi estabelecido em 1936 por Raymond Mays, com 84,3 milhas por hora (135,69 Km/h). Um outro traçado, exigente e interessante, foi o desenhado por Malcolm Campbell, que acabou recebendo o seu nome como homenagem a um dos mais consagrados pilotos naquele circuito. O “Campbell´s cicuit tinha 3,37 milhas (5.421 metros). Os carros contornavam apenas a “members banking” indo para a “railway straight” Na metade do que seria toda a extensão da reta, um harpin feito à esquerda leva para a nova parte, seguindo na direção da “test hill”, em subida para virar a direita e entrar na “sahara straight”, uma pequena reta e tomar novamente à esquerda (“Howe´s corner”) que levafa a um outro harpin, desta vez para a direita, e retornando ao traçado original com a “banking Bend”. O "Campbell's circuit" era o que mais exigia dos pilotos, com curvas para ambos os lados, subidas, descidas e "bankings". Neste traçado, adotou-se a largada lançada, como era feito em Indianápolís, e foi nesta configuração que Brooklands atraiu os maiores públicos para as corridas. O desenho da pista, junto com o relevo, proporcionava excelente visão de vários pontos e o “members Hill” era uma arquibancada natural. Cuidados com a melhoria do piso, especialmente na parte nova, propiciavam maior segurança e velocidade aos carros e pilotos. Foram usadas as técnicas mais modernas da época em matéria de construção de estradas.
A primeira edição do Dunlop Jubilee Festival no "Campbell's circuit" foi a prova que mais público atraiu a Brooklands...
A primeira prova no “Cambell’s circuit” aconteceu em 1937, organizada pelo “Brooklands Automobile Racing Club” e que recebeu o nome "Dunlop Festival", havia uma premiação extra, o “Campbell’s Trophy”, concedido ao piloto que estabelecesse a volta mais rápida. Com 100 voltas de duração e aberta a carros de qualquer cilindrada, a prova foi alucinante... e trágica. A disputa pela liderança foi intensa, mas na segunda metade de prova ficou praticamente restrita a B. Bira (que era ninguém menos que o Príncipe Birabongse Bhanutej Bhanubandh, herdeiro da família real da Tailândia) com um Maserati de motor com 1500cc e o Lord Earl Howe, com um ERA. Após revezarem-se a liderança e trocarem de posições algumas vezes na passagem da “members banking” ele perdeu o controle, derrapou e colidiu contra a mureta da ponte sobre o rio Wey. O acidente provocou algumas costelas fraturadas e tirando-o das pistas por algum tempo. O Lorde Howe recuperou-se e voltou a correr em pouco tempo... mas acabou sofrendo um acidente ainda mais grave e que acabou dando nome a uma das curvas do circuito.
Entre 1907 e 1937 Brooklands foi o principal palco das corridas inglesas, tendo como rivais o circuito de Cristal Palace, também no subúrbio da capital inglesa e as corridas de estrada em Donington Park. Donington passou a criar uma maior rivalidade quando construiu o seu circuito, em 1935 e quando Brands Hatch, que já existia desde a década anterior, passou a sediar provas com automóveis em 1932.
A II Guerra Mundial mudou o destino de Brooklands.
Em 1939, aconteceu a última corrida do autódromo, utilizando o “Campbell’s circuit”, organizado pelo “Brooklands Automobile Racing Club”, em 7 de agosto daquele ano. Logo depois as corridas foram novamente interrompidas em Brooklands devido a II Guerra Mundial e desta vez, os efeitos seriam piores do que na guerra anterior. Com a Vickers sendo uma das mais importantes instalações industriais da Inglaterra e principalmente por ser um centro de desenvolvimento aeronáutico, a área foi um dos alvos preferenciais dos bombardeios alemães. Os danos no piso de concerto da pista foram severos.
O progresso e as necessidades fizeram com que o "byfleet banking" fosse cortado ao meio para a passagem de uma via. Após o final da guerra, a Vickers procurou outros espaços para ampliar suas atividades e a área do autódromo foi comprada à família de Locke-King, em 1946. O seguimento industrial cresceu vertiginosamente, assim como as necessidades de transportes. Isto levou a demolição de parte do “banking” da curva “byfleet”, em 1951. Era o fim de Brooklands como traçado original.
Durante anos, em várias oportunidades, entusiastas do automobilismo tentaram reativar pelo menos uma parte do autódromo de Brooklands, mostrando que a sua história não caiu no esquecimento... sem sucesso, apesar de, em 1987, o Conselho local ter conseguido a desapropriação do local antes que tudo viesse a ser demolido. O Museu de Brooklands funciona todos os dias, abrindo após as 10 da manhã. Diversas instituições o financiam. Se não foi possível restaurar o circuito, ao menos um museu foi criado em 1991 e lá é possível encontrar os registros de uma história de 30 anos de glórias e tragédias, de heróis vivos e mortos e este museu fica aberto todos os dias. The Brooklands Club House era a sede do automóvel clube do condado, hoje, faz parte do acervo do parque com o museu. Em 1996 a Vickers vendeu a área para a Mercedes Benz, que fez ao lado do antigo circuito um centro de desenvolvimento tecnológico. Segundo a diretoria da empresa alemã “nenhum lugar seria mais apropriado para desenvolver novas tecnologias que não o lendário Brooklands”.
Aquilo que parecia ser uma possibilidade de recuperação do circuito, depois de algumas tentativas sem sucesso, redundou em um grande desapontamento para os que esperavam ver ao menos o “Campbell’s circuit” de volta aos tempos em que os motores roncavam alto. Colecionadores de todas as idades e de todas as marcas usam Brooklands para encontros e lembranças dos "bons tempos". Há alguns anos são feitos encontros de saudosos colecionadores e pessoas que ouviram as fantásticas narrativas sobre os feitos dos ases britânicos nas curvas inclinadas. O “750 Motor Club” reuniu seus associados, antigos pilotos e carros da época. Eles percorreram os trechos que restaram do antigo circuito, seguindo pelo “Campbell’s e contornando a “members banking”, que eles transformaram em paddock. Além destes antigos colecionadores, até mesmo outros bem mais jovens que admiram carros mais modernos vão até lá. As estórias e as estórias de Brooklands.
Os anos 30 foram áureos para o circuito de Brooklands. Aqui, em 1936, na edição do JCC Trophy, mais de 50 mil expectadores. No museu de Brooklands além dos carros e motos é possível encontrar boa parte da história da aviação na Inglaterra. A BAC foi criada nas cercanias do autódromo e as tecnologias desenvolvidas lá foram inclusive utilizadas no Concorde. Nos jardins do museu existe um exemplar em escala reduzida (40% do original) da aeronave que saiu de serviço há poucos anos. Além deste modelo, existe um exemplar restaurado do bombardeiro Wellington, da II Guerra Mundial, que foi resgatado do lago Ness em 1987, além de um exemplar do primeira aeronave construída, a “Vickers Viking” e também um Viscount, o promeiro avião a jato para passageiros. A Vickers, que posteriormente passou a ser chamada de British Aircraft Corporation (BAC) e depois British Aerospace e atualmente BAe Systems ajuda a manutenção do museu desde a sua fundação.
O visitante que for a Brooklands ver os carros e as motos do museu também poderá ver a história da aviação no país. Contudo, os saudosos preferem mesmo é as estórias sobre os carros... as que se pode encontrar no museu e as que se podem ouvir dos moradores das redondezas. Muitos pilotos perderam a vida nos perigosos “bankings” de Brooklands. Muitos consagraram-se e escreveram seus nomes na história. E muitos, segundo relatos, permanecem por lá! Na "members banking", a ponte da linha férrea passava sobre a cabeça dos pilotos e escondia uma "esquina"... Desde o final da II Guerra Mundial, quando já não haviam mais corridas em Brooklands, diversas pessoas desde então – até os dias de hoje – relataram ter passado por “estranhas situações”, como ouvir passos ou pneus cantando próximos a “Wey bridge”. Foi lá que Percy Lambert perdeu a vida. Lambert foi seputado em um “caixão aerodinâmico”, como era o seu carro. Uma vista noturna do complexo de Brooklands certamente permite que várias estórias possam surgir no imaginário polular... Diversas pessoas ouvem há décadas o ruído dos motores no meio da noite, contornando a “Vickers” e sumindo por trás das árvores no “members banking” sem nunca surgir do outro lado, na “railway straight”.
Estes não são os únicos relatos sobre coisas estranhas em Brooklands. Entre os mais impressionantes depoimentos existem os que afirmam ter visto a figura esguia, trajando a “touca-capacete” característica da época e um traje de corrida branco, hora caminhando no “home banking” ou sentado na pista, próximo a “Wey bridge”... Até o próximo autódromo (Till den nästa bilracen spåra)! Fontes: Brooklands Museum, arquivos pessoais. |