O grande assunto extrapista desde o final do ano passado está sendo o projeto de lei 705 da prefeitura de São Paulo que coloca à venda o Autódromo Internacional de Interlagos e, ao contrário do que inicialmente o prefeito da cidade havia falado, sem nenhuma garantia da continuidade das atividades do autódromo (onde há a menção de haver uma “pista para corridas”, mas sem garantir que seja o traçado atual) e com a condenação ao desaparecimento do kartódromo, que está sendo combatida por uma comissão de dirigentes, promotores e ex-pilotos. No mundo existem diversos complexos autódromo-kartódromo que são privados ou que foram privatizados e mantidos funcionando sem prejuízo da prática do esporte e com o uso do espaço para diversas atividades além do automobilismo que são rentáveis para os proprietários, mas o projeto da administração paulistana passa pela instalação de um novo bairro dentro do autódromo e um duvidoso projeto de um centro comercial no interior no traçado. Conversamos com diversos profissionais envolvidos com o automobilismo sobre o assunto para saber o que eles pensam sobre o assunto: privatizar Interlagos de ser bom? É ruim? Interlagos está condenado? Com a palavra, alguns dos mais renomados profissionais da mídia nacional. Alan Magalhães – Diretor e Sócio da Revista Car Eu sou um defensor das privatizações, eu sempre defendi a privatização do Autódromo de Interlagos, apesar de que hoje ele é, na prática, um bem público pseudo privatizado, uma vez que ele tem uma administração mista. Eu era um defensor dessa ideia do, na época, Prefeito João Dória, de que o Autódromo deveria ser privatizado. Mas depois de tomar conhecimento do formato que se deu a esta iniciativa de privatização, fica muito claro que existe um interesse, talvez, escuso por trás disso tudo e muito maior do que o nosso entendimento público permite alcançar. A priori, qualquer privatização feita às pressas é uma coisa deplorável. Obviamente existe algum interesse por trás disso e eu espero que não prosperem essas tentativas de se fazer com que este projeto do Arco de Jurubatuba acabe retalhando um bem tão grande e tão importante como é o Autódromo de Interlagos e eu estou muito apreensivo com o que pode acontecer. Espero poder confiar no bom senso dos vereadores da cidade de São Paulo para não aprovarem um projeto que vai impactar na vida de tanta gente que gravita em torno do automobilismo e depende diretamente dele. Américo Teixeira Jr. – Dono do site Diário Motorsport e Representante no Brasil de Helio Castroneves Começando de trás pra frente, eu sou contra a privatização de Interlagos. Um autódromo novo, na atual realidade brasileira, saindo do papel para ser construído, eu tenho muitas reservas para ele ser público. Parto do pressuposto que um novo empreendimento tem que ser da iniciativa privada. Mas Interlagos, um patrimônio existente, construído, funcional e histórico tem que ser preservado. Interlagos não é simplesmente uma praça de esportes, é um parque público, com lei aprovada, e que atende não só quem faz corridas, mas também uma região que é carente de espaços. Um outro ponto é a total e absoluta dissociação da ideia do ex-prefeito com a realidade. Ele usou não só o autódromo como outras propriedades da cidade com o discurso de privatização e uma velocidade que não é a mesma na iniciativa pública como é na privada. Essa ideia de que um empresário experiente encaixa na administração pública é bobagem, salvo exceções. Na administração pública é impossível aplicar a mesma velocidade e se atropelar procedimentos, leis, regulações como um dono de empresa pode fazer no seu negócio. O discurso de manter o autódromo para amenizar o impacto, não tem fundamento. O desejo é transformar Interlagos em algo qu atenda outros interesses que não o automobilismo, atendendo sim, grupos poderosos e seus interesses. Eles querem transformar Interlagos em outra coisa que não o autódromo, apesar de estar escrito que o automobilismo será mantido. Não há nenhuma peça, e eu tenho lido muito sobre o assunto, que mostre um estudo técnico por alguma pessoa que tenha a garantia de manutenção do autódromo. E lembrem-se: eu vivi de muito perto, como assessor de imprensa da CBA, a manutenção do esporte no estado do Rio de Janeiro... e o que aconteceu? Não precisamos nos alongar. Além disso, há o plano diretor da região e mesmo com a vinda da construção do arco do Jurubatuba, lendo o projeto e a documentação deste projeto e o autódromo é citado de passagem e não há nada de concreto em relação a ele. Assim, eu não acredito – e já escrevi isso – na privatização por não haver projeto, fundamento técnico, um argumento sequer, que garanta a manutenção do autódromo. Por outro lado, os interesses do ex-prefeito e do seu grupo, que agora fica numa posição diferente com sua saída para ser candidato ao governo do estado, o seu vice parece ter outra visão sobre a questão. Ele recebeu a Comissão Pró-Autódromo, tiveram uma reunião muito positiva e agora há um ambiente onde o diálogo é possível. A comissão é liderada por Sergio Berti e Orlando Sgarbi, pessoas sérias, competentes e confiáveis. O documento que o ex-prefeito enviou à câmara dos vereadores sobre o assunto é de um vazio, que mesmo sem ser advogado, eu consultei advogados e o que eu vejo é que o atual prefeito tem menos força política que seu antecessor. Com isso, o travestido de salvador da pátria, tendo deixado para trás a desordem que deixou e o prefeito Covas tem um nome para honrar e com isso eu espero que ele não permita a destruição de um patrimônio público para benefício de alguns grupos de interesse. Castilho de Andrade – Diretor de Imprensa do GP Brasil de F1 e Colunista da Gazeta Esportiva Já houve uma tentativa de privatização do autódromo de Interlagos no passado, durante a gestão do prefeito Celso Pitta. Na época foi feita uma sondagem sobre a possibilidade de privatização não só do autódromo, mas também do complexo do Anhembi e do estádio do Pacaembu. No caso do estádio, nem seria uma privatização, mas uma cessão em comodato para o Corinthians. Isso ficou pra trás quando veio o plano da copa e construíram o estádio em Itaquera. Quando a privatização do autódromo, primeiro temos que ver se vão aparecer interessados, algo que ainda estar no ar. Segundo, temos que ver as regras dessa privatização, que não foram divulgadas e só serão apresentadas depois da segunda votação na câmara dos vereadores e sanção do prefeito. A ideia é que o autódromo permaneça como autódromo, ou seja, o novo proprietário teria que manter o autódromo e todas as suas atividades relativas ao automobilismo. Algumas das coisas previstas que eu acho muito difícil de acontecer é a implantação na área do autódromo em um polo de construção de empreendimentos com prédios comerciais, residenciais, restaurantes, shopping Center e isso é um pouco complicado. O autódromo é fechado e tem os seus eventos. Como seria o acesso? Seria complicado conciliar os interesses de públicos tão diferentes dos frequentadores de shopping com os frequentadores de autódromo. A ideia de um hotel é interessante. Abrigaria as pessoas que participam dos eventos. O prefeito Bruno Covas, que assumiu recentemente a prefeitura, tem dado uma abertura ao diálogo com a comissão que defende os interesses do autódromo e a família tem um histórico jundo a comunidade de automobilismo. Mario Covas era um entusiasta, o seu tio Mario Covas Neto, o Zuzinha, foi piloto... eu vejo as coisas caminhando para um consenso. Caso a privatização venha a acontecer, ela não vai deixar órfã a comunidade que vive do automobilismo no entorno do autódromo, principalmente. Eu acho que o formato atual da administração do autódromo é o ideal. A Fórmula 1 traz um grande retorno para a cidade, as grandes competições que acontecem em Interlagos também trazem este retorno, além dos eventos que não são de automobilismo. O autódromo também é um parque público e a prefeitura tem que se preocupar com a conservação e ampliação de áreas de lazer para a população. Eu vi alguns artigos sobre o GP do Canadá e como a Fórmula 1 tirou o defict financeiro de Montreal. Isso mostra como um evento de visibilidade mundial como é a Fórmula 1 pode ser importante para a economia de uma cidade e uma região. Celso Miranda – Narrador e Apresentador do Bandsports Nós temos uma questão que está acontecendo há muito tempo aqui no Brasil. Os nossos governantes tem colocado gente incompetente à frente de uma empresa pública para provar que aquela empresa tinha que ser vendida, e com o apoio da população! Isso tem feito a população perder muitas das propriedades do estado brasileiro. Quando falo estado brasileiro me refiro ao seu povo e este parece não lembrar disso, de que ele é o dono das coisas. Tudo o que foi privatizado foi vendido para alguns interessados que, de forma interessante, investiram em alguma coisa e hoje tem todo o lucro. E quem vendeu, claro, teve algum benefício com isso. Veja como é fácil buscar apoio de campanha – dinheiro – nessas empresas que hoje estão nas mãos de gente que eles, os políticos, conhecem. É assim que tudo o que é público em São Paulo está sendo tratado. Privatização do Anhembi, do Sambódromo, de Interlagos, do estádio do Pacaembu... até o parque do Ibirapuera! Tudo em detrimento do que é do povo. A bola da vez é Interlagos. E pode ter certeza: é um negócio para uma “meia dúzia” ganhar dinheiro com a especulação imobiliária. Interlagos continuar como autódromo? Esquece! Eles não querem. Eles querem um parque, com algumas áreas verdes e colocar prédio em tudo. O projeto que está sendo mostrado para a população é uma vergonha em todos os sentidos. Além de mal feito, não prevê novas saídas para o bairro, transporte público ou privado foi pensado. Não prevê um plano de preservação, com os lagos e a represa, fazendo só a separação dos prédios dos ricos da favela dos pobres aqui do lado. As pessoas da região deveriam se unir para defender não a pista, mas o bairro inteiro. Felipe Mota – Apresentador do Fox Sports e Jornalista do Portal Motorsport.br Sobre a que nível de intenções isso está sendo conduzido eu não posso falar sem saber os detalhes do que eles estão planejando, agora, a gente pode analisar o que seria destruir Interlagos e o que seria privatizar Interlagos,o que são coisas diferentes. Eu sou contra a destruição desse patrimônio esportivo e cultural que é Interlagos. É preciso ver a questão do dinheiro público de outra forma. Tem-se um dinheiro para investir. Vou construir o que: um autódromo, escolas, hospitais, moradias... existem questões públicas mais importantes que um autódromo, mas Interlagos está construído e funcionando. É um lugar que gera lucro, com o automobilismo e outros eventos, que tem mais a oferecer para a cidade do que um amontoado de prédios. Mesmo que fosse para construir outro autódromo, diferente do que aconteceu no Rio que ficou na promessa e não vai acontecer, seria um crime destruir Interlagos e o cidadão paulistano não tem ideia do que é Interlagos para o mundo. Sobre privatização, eu não tenho elementos – acho que as pessoas na prefeitura possam ter, já que estão trabalhando nisso – para avaliar se Interlagos funcionaria melhor sendo privatizado. Se um projeto preservar Interlagos como ele é, hoje, com a pista como é hoje, vindo a ter melhorias se for o caso e mostrar que ele funcionaria melhor sendo privatizado, eu gostaria de ter acesso a estes estudos para ver se isso é verdade. Sendo verdade, eu não seria contrário à privatização. Lito Cavalcanti – Jornalista e Comentarista do Sportv A forma como as coisas estão acontecendo é para deixar profundamente preocupado todas as pessoas que estão no meio do automobilismo porque o que estamos vendo é mais um caso do descompromisso dos que governam o país não apenas com o esporte, mas com o país como um todo, com a história e também com a sua palavra. Diante desta postura que estamos vendo dos políticos da cidade de São Paulo, nós corremos o risco de ver acontecer aqui em Interlagos a mesma coisa que aconteceu no Rio de Janeiro com o autódromo de Jacarepaguá. Mas aqui é o país do risco. A gente corre o risco de ser assaltado na próxima esquina por falta de segurança pública, de adoecer por vírus que em outros países já foram erradicados, todos os dias lemos sobre um novo escândalo de corrupção porque somos governados por pessoas que não tem o mínimo compromisso político com a sociedade. Com isso, todos esses temores, e outros tantos, mostram que somos órfãos. A privatização não é um mal. Os custos de manutenção de um autódromo são altíssimos e quase proibitivos. Veja o que aconteceu em países sérios como a Alemanha em que pistas privatizadas perderam eventos como a Fórmula 1, imagina isso numa baderna, numa casa de mãe Joana como é o Brasil? Marcos Micheletti – Jornalista do Portal Terceiro Tempo Está claro que esse risco existe. É bem real. Eu achava que a gente jamais iria perder o Autódromo de Jacarepaguá, que não iria acontecer o que aconteceu e não podemos ficar simplesmente achando que não pode e não vai acontecer a mesma coisa com Interlagos. Lógico que sou totalmente contrário a qualquer iniciativa neste sentido porque não é apenas uma are pública, uma pista de corrida. O Autódromo de Interlagos é um patrimônio histórico e é preciso se preservar a memória, a história. É preciso levar em conta o que significa Interlagos para a cidade de São Paulo e para o Brasil. Interlagos não é restrito à Fórmula 1 como muitos pensam e falam, que ele só existe e é utilizado por conta da Fórmula 1 e desconhece o que acontece no entorno de um autódromo. Basta olhar aqui para a vizinha Argentina, onde os autódromo existem e eles tem um automobilismo muito forte sem que tenham a Fórmula 1 correndo por lá, mostrando que autódromos podem existir sem Fórmula 1. Qualquer pessoa que andar aqui nas redondezas de Interlagos pode constatar a quantidade de atividade que existe em torno do automobilismo por causa do autódromo. Eu não tenho números para quantificar a quantidade de empregos diretos e indiretos que Interlagos sustenta e se transformarem o autódromo num condomínio de prédios, num loteamento, a quem isso vai beneficiar? A comunidade do automobilismo e a sociedade paulistana precisa se mobilizar para que Interlagos não tenha o mesmo destino de Jacarepaguá. Otávio Mesquita – Jornalista e Apresentador do SBT Eu tenho uma relação com o João dória que é muito boa e eu acredito que ele vai rever esse assunto e mesmo depois da sua saída da prefeitura para disputar o governo do estado e esse assunto sobre o autódromo de Interlagos não está definido. Eu não acredito que ele vá fazer algo que coloque em risco o autódromo internacional de Interlagos. Interlagos não é apenas uma referência para São Paulo, Interlagos é uma referência para o automobilismo do país inteiro, mais que isso: é uma referência para o mundo inteiro. O mundo conhece Interlagos pela Fórmula1, a categoria que projetou nosso automobilismo e nossos pilotos para o mundo inteiro. Eu acredito que este assunto, esse projeto vai ser revisto esou a favor que se forma uma comisão para viabilizar a ideia que o João Doria teve para Interlagos. Ele tem boas ideias, mas precisa que pessoas do meio trabalhem com ele para que essas ideias sejam moldadas para que se faça algo ainda melhor. Acho que, inclusive já tem uma comissão trabalhando nisso e fora do Brasil existem autódromos dentro de cidades e de parques em outros países que tem casas e apartamentos. Quem compra sabe que ali acontecem corridas. Eles compram porque gostam, mesmo sabendo que vai ter barulho. Eu não sou a favor de que se destrua o kartódromo ou mudem o autódromo, mas é possível se fazer uma composição interessante para todos. Tem espaço pra todo mundo. Sergio Lago – Jornalista e Narrador de automobilismo e membro do programa Curva do S Eu tenho um princípio: eu prefiro autódromo privado a autódromo público. Acho que essa poderia ou deveria ser a resposta em um país onde tantas coisas não funcionam em todas as esferas de governo. Eu sou do Rio de Janeiro, um estado onde pouco ou nada funciona. Agora, sobre o processo que está em tramitação sobre a privatização do autódromo de Interlagos, eu confesso que não estou por dentro de todos os detalhes, mas no caso de Interlagos, eu sou totalmente contra qualquer iniciativa que destrua o kartódromo ou desfigure o autódromo. Interlagos é o mais importante e mais tradicional autódromo do país, ele não deveria ser modificado, mas sim, tombado. Tem tanta coisa tombada nesse país que está caindo aos pedaços, lá no Rio tem aos montes, onde ninguém faz nada pra preservar. Tem que tombar Interlagos e fazer com que ele seja ainda mais usado. Como eu acho que autódromo privado é que dá certo, tinha que se encontrar um grupo de investidores que, com um pacote de incentivos, assumissem Interlagos e profissionalizassem a gestão. A privatização de Interlagos teria que ter regras bem claras. Quem assumisse teria que preservar suas atividades de automobilismo e kartismo, sem desfigurar o autódromo e o kartódromo, criando maneiras do autódromo ser usado todos os dias, dando retorno financeiro todos os dias. Investir, fazer um hotel no autódromo, realizar eventos que não sejam só de automobilismo e que tenha garantias para a prefeitura. Se abandonar, volta pra prefeitura. Wagner Gonzalez – Jornalista e colunista do Estadão, sites Sportmotor e Autoentusiastas Primeiro é que o Sr. João Doria, que foi prefeito de São Paulo e agora tem sonhos de ser governador do estado ou mesmo presidente da república mostrou-se uma pessoa desonesta, enganadora, que como todo político, que ele diz não ser, faz promessas e não as cumpre. Ele promete uma coisa e depois distorce na medida do que lhe interessa. O Arco do Jurubatuba, que é o projeto que poderia justificar o adensamento populacional na região de Interlagos não existe e a falácia de dizer que vai fazer do autódromo de Interlagos um autódromo no padrão do autódromo de Abu Dhabi é um absurdo. A maneira como ele e o presidente da câmara de vereadores estão conduzindo o processo, com audiências públicas para decidir como tratar o assunto é uma maneira simplesmente inaceitável uma vez que em momento algum a comunidade que vive do autódromo de Interlagos foi consultada ou convidada para uma audiência específica. Tudo não passa de uma negociata, com interesses espúrios e uma situação de comportamento deplorável. Não bastasse o comportamento do chefe do executivo, o comportamento dos vereadores, em particular do presidente da câmara, Milton Leite, que quer fazer do autódromo um condomínio para 100 mil pessoas mostra apenas ganância, egoísmo e oportunismo.
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